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Participação no Conselho do Governo da Província

2. CAPÍTULO 2

3.1. Dr João Gomes Machado Corumbá

3.1.4. Participação no Conselho do Governo da Província

Durante o tempo em que permaneceu em Goiás, participou do Conselho Geral da Pro- víncia como conselheiro e também presidindo o mesmo.

66 A moeda vigente até 07/10/1833 era o Real pelo Alvará de 01/09/1808 – Nessa época de ouro de 22k. In: http://www.camara.gov.br. Acesso em 28 de maio de 2007.

67 Livro de Provisão de 1828. In: Museu das Bandeiras - Cidade de Goiás – Goiás.

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O cargo de presidente de província e os conselhos gerais de província foram criados por um decreto de 20 de outubro de 182369. O presidente deveria ser nomeado pelo Imperador70, e o conselho geral seria estabelecido em cada província onde não estivesse a capital do Império. Os seus participantes eram em número de vinte e um membros para as cidades mais populosas e, nas outras, treze71. Os conselhos deveriam reunir-se, para sessões, durante um período de dois meses por ano, podendo ser prorrogado mais um mês, caso houvesse necessidade72.

Durante as reuniões do Conselho Geral da Província de Goiás era discutido tudo o que acontecia na Província: prisões, saúde pública, escravidão, instrução, indisciplina dos alunos nas aulas, dentre outros. O conselho era composto de Presidente, Vice-Presidente, Secretário e representantes de diversas comissões cujo número variava muito. Pelas publicações do jornal “A Matutina Meyapontense”73, acreditamos que João Gomes Machado Corumbá participava ativamente das reuniões do conselho e estava inteirado dos assuntos a serem discutidos, opi- nando sempre sobre eles. Suas idéias eram claras e interessantes para aquele momento. Acom- panhava o desenvolvimento do que ocorria tanto na Corte quanto na Província. Exibia certa facilidade para o debate sobre os diversos assuntos colocados em pauta nas reuniões, bem como para apresentar emendas e propostas.

Fazendo uma leitura do jornal “A Matutina Meyapontense”, que circulou entre 1829 a 1834, notamos que, nos anos de 1829, 1830, 1831 e início de 1832, o nome “Dr Corumbá”, pelo qual ficou mais conhecido João Gomes Machado, esteve sempre nas notícias. Essas notícias referiam-se à sua participação nos conselhos, à abertura de uma Aula de Aritmética e Geometria e a participação nos concursos para professores.

Suas idéias ainda hoje são lembradas, principalmente, quando se refere ao ensino de forma geral e não só da matemática. Para se ter uma idéia de sua personalidade e do modo como

69 Vainfas, 2002.

70 De acordo com a Constituição Política do Império do Brasil de 25 de março de 1824 – Titulo 7º. Cap.I, Art. 165. In: www.planalto.gov.br/CCIVIL_03constituição/constituição24.htm-76k Acesso em 28 de maio de 2007 71 De acordo com a Constituição Política do Império do Brasil de 25 de março de 1824 – Titulo 4º. CapV.,

Art.72 e 73. In: www.planalto.gov.br/CCIVIL_03constituição/constituição24.htm-76k Acesso em 28 de maio de 2007

72 De acordo com a Constituição Política do Império do Brasil de 25 de março de 1824 – Titulo 4º. Cap.V, Art.77. In: www.planalto.gov.br/CCIVIL_03constituição/constituição24.htm-76k Acesso em 28 de maio de 2007 73 Matutina Meyapontense: jornal que circulou entre 1830 e 1834. Foi fundado pelo Comendador Joaquim Al-

ves de Oliveira (1770-1851), considerado o pai da imprensa goiana. Esse Comendador, após a morte de seu pai, recebeu a proteção do padre Antonio de Azevedo Batista. Em 1792, vai ao Rio de Janeiro com a preten- são de entrar para a vida eclesiástica, o que não aconteceu. Trabalhou no comércio, economizou um pouco de dinheiro e voltou à Goiás. Foi morar no Arraial de Meia Ponte, onde se dedicou ao comércio e à agricultura. Como comerciante, voltou diversas vezes ao Rio de Janeiro procurando ampliar seu comércio na Capitania de Goiás. Quanto à agricultura, tinha uma propriedade bem organizada - “Fazenda de São Joaquim” -, que foi visitada por Auguste de Saint-Hilaire, em 1819, por indicação do próprio governo de Goiás. O jornal, inicialmente, era distribuído às terças e sextas feiras, e o preço da assinatura por um trimestre era 2$000 réis. Depois passou a circular as terças, quintas e sábado, e a assinatura trimestral continuou 2$000 réis. In: Jornal A Matutina Meyapontense e Viagem à Província de Goiás de Auguste de Saint Hilaire (1819, p. 97-100).

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pensava, relatamos o ocorrido em sessões ordinárias do Conselho do Governo da Província de Goiás, para discutir uma proposta para a criação de uma Cadeira de Lógica na Cidade de Goiás.

Nas reuniões do conselho, um assunto era colocado em pauta e discutido até que não houvesse dúvidas sobre ele. A discussão sobre a proposta da criação da Cadeira de Lógica não foi finalizada em uma única sessão. Os conselhos gerais de cada província aconteciam todos os anos e duravam dois meses, mas por decisão dos membros poderia prorrogar por mais um mês. Existia todo um ritual definido pela Carta Lei de 27 de agosto de 1828, que regia os con- selhos gerais de província. Em Goiás, as reuniões aconteciam na Cidade de Goiás, capital da província. Inicialmente, o presidente do conselho e os conselheiros assistiam à Santa Missa na catedral. Após o ato religioso, por volta de nove horas, iniciava a sessão do conselho.

No ano de 1829, participavam como conselheiros, o Cônego Luiz Antonio da Silva e Souza, Pedro Gomes Machado, João Gomes Machado Corumbá e outros.

De acordo com a Constituição Política do Império do Brasil74 de 1824, no seu Art. 75, para ser membro do conselho, era necessário ter vinte cinco anos, “probidade” e “decente subsistência”.

Os primeiros conselhos aconteceram nos dias vinte nove e trinta de novembro de 1829, começando às nove horas e trinta minutos. Foram consideradas sessões preparatórias, sendo que na primeira houve a aprovação dos diplomas dos conselheiros. Em primeiro de dezembro, teve início a primeira sessão ordinária com nove conselheiros.

A décima segunda sessão ordinária, que teve início às nove e terminou às onze horas, o Sr. Azevedo leu a proposta para criação de uma Cadeira de Lógica na Cidade de Goiás em que ensinariam noções de Geometria e de Geografia. Mas a proposta não foi discutida. Na décima terceira sessão ordinária, que aconteceu no dia dezessete de dezembro de 1829, a proposta da Cadeira de Lógica voltou ao conselho e mais uma vez não foi discutida. Na décima quinta ses- são ordinária, a proposta foi lida e o conselho decidiu que a mesma era objeto de deliberação, por isso, passaram para o item seguinte da pauta sem discutir. Somente na vigésima sessão ordinária do Conselho Geral da Província de Goiás, que aconteceu no dia vinte e nove de de- zembro de 1829 e publicado pelo jornal “A Matutina Meyapontense” de 19 de junho de 1830, é que a proposta foi discutida.

A criação da cadeira de Lógica entrou em segunda discussão, repetindo-se a leitura dos seus artigos distintamente. O Art 2º tratava-se do concurso para preenchimento da cadeira de Lógica. Após a sua leitura, o Dr. Corumbá propõe como emenda, que: “A Cadeira, precedendo o concurso, será provida esta primeira vez por Sua Majestade o Imperador e daí por diante pelo

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Governo Provincial, ficando o proveito sempre dependente da Aprovação do Mesmo Augusto Sr., e assinou, “Corumbá”.

O Sr. Cardozo, um outro conselheiro, contestou, argumentando que “a lei manda fazer pri- meiro o concurso na mesma Província perante o Governo Administrativo e que este tem três mem- bros muito hábeis para serem juízes nessa causa, por isso, enquanto não conhecer por experiência que faltam examinadores e examinados, não se deve recorrer ociosamente à Sua Majestade, o Im- perador, e para isso mandava à mesa sua emenda ao Art. 2o” e assinou o presidente em Conselho.

O Sr. Corumbá se opôs à emenda,

duvidando que no presente haja em Goyaz, indivíduos com conhecimentos para exa- minar ao Candidato da Cadeira de Lógica, para o que não bastava ter tinturas, como é mui provável acontecer com os indicados, que não eram Mestres d’Arte, e o Exame devendo ser em presença do Conselho, outros deviam ser os Examinadores, e estes eram os que deviam ser Mestres da Lógica moderna, como a de Locke, e Condillac, e outros desta Categoria, que segurem a Goiás as Luzes do tempo.

Em sua oposição, o Sr. Cardozo diz

ser preciso primeiro a experiência, e que só depois de reconhecida a falta indicada pelo Sr. Corumbá, é que se deveria recorrer a Corte, por isso é que os juizes, que in- dicara, eram hábeis para tanto.

Então o Dr. Corumbá novamente contestou “que se para as escolas de primeiras letras não estavam preenchidos os quesitos da Lei, como se preencheria sobre Lógica?”

O Sr. Cardozo contestou que “respeitava a Lei, e como esta mandava ser primeiro con- curso na mesma Província, ele descansava na Lei”.

A discussão foi interrompida, quando um outro conselheiro, o Sr. Azevedo, pediu a pa- lavra, e disse “que em outras Províncias maiores, e mais iluminadas, havia falta de Luzes, e espe- cialmente de Mestres de Lógica moderna, quanto mais em Goiás e por isso votava pela emenda do Sr. Corumbá e contra o Sr. Cardozo; pois ao adotar-se esta, atrasaria as Luzes em Goiás”.

Na Província de Goiás, em 1830, o presidente da Província, Miguel Lino de Morais, anunciou que o Conselho criara um plano de escolas somente para a comarca de Goiás em con- seqüência da Lei de 15 de outubro de 1827 e do decreto de 15 de novembro do mesmo ano75. Neste plano de escolas, a proposta do conselho consistia em diversas Cadeiras de Primeiras Letras e uma de Gramática Latina76.

75 Lei de 15 de outubro de 1827: Manda criar escolas de Primeiras Letras em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos do Império. Decreto - de 15 de novembro de 1827: Manda aplicar aos professores da língua latina o que a lei novíssima concedeu aos de primeiras letras. In: www2.camara.gov.br. Acesso em 02 de abril de 2008.

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Este fato foi noticiado pelo jornal “A Matutina Meyapontense” de 15 de junho de 1830. No seu discurso, Miguel Lino argumentou sobre a importância da lei, mas teria dificulda- des para cumpri-la. Isso embaraçava o ensino, uma vez que faltavam professores que pudessem ser examinados conforme os Artigos 7º, 9o e em todas as matérias de que trata o Art. 6o77 . Para ele, a solução era não cumprir a Lei naquele momento ou que viessem, para Goiás, professo- res de outros lugares. Quanto aos outros estudos existentes, somente a aula de Teologia Moral funcionava com nove alunos e, destes, alguns aproveitavam “das luzes de seu professor para aprender Lógica”. O presidente falou sobre a falta de livros elementares que qualquer pessoa curiosa pudesse dedicar-se ao estudo de alguma Ciência ou Arte.

O Sr. Cardoso, na reunião do conselho, insistiu em seguir a Lei quanto ao preenchi- mento da vaga de professor da Cadeira de Lógica, e o próprio Presidente da Província, nessa mesma época, quando apresentou o seu relatório, colocou as dificuldades em cumpri-la, uma vez que, para o ensino, faltavam professores que se candidatassem aos concursos.

Acreditamos que a Cadeira de Lógica, além de difundir idéias mais modernas na pro- víncia, também proporcionaria conhecimento de Lógica, Geografia e noções básicas de Geome- tria aos interessados no concurso. As “luzes”78, as quais se referiam os conselheiros e também o presidente da província, chegariam a Goiás para promover a educação, contribuindo para tornar a população mais civilizada. Isso porque, conforme o discurso do Presidente Miguel Lino de Morais, os habitantes da província de Goiás eram pouco instruídos. Essas luzes viriam através dos ensinamentos do professor, por isso, o mesmo deveria ter uma boa formação filosófica.

A cadeira de Lógica da Cidade de Goiás foi proposta sob certo domínio do conselho, que determinou sobre os livros, horários das aulas e férias. Observamos também que o debate ocorrido para a criação dessa mesma cadeira foi bastante influenciado pelas idéias do Dr. Co- rumbá, que fez o curso Filosófico e o curso Matemático na Universidade de Coimbra. Portan- to, podemos supor, pelas falas ocorridas, ter sido ele um simpatizante das idéias de Condillac

77 No Art. 6º da Lei de 15 de outubro de 1827: Os professores deveriam ensinar a ler, escrever, as quatro opera- ções de aritmética, prática de quebrados, decimais e proporções, as noções mais gerais de geometria prática, a gramática da língua nacional e os princípios de moral cristã e da doutrina da religião católica e apostólica romana, proporcionados à compreensão dos meninos; preferindo para as leituras a Constituição do Império e a História do Brasil. In: www2.camara.gov.br. Acesso em 02 de abril de 2008.

78 O século XVIII foi considerado o século das luzes. Isso aconteceu devido a um movimento denominado iluminismo, que teve suas raízes na primeira parte do século XVIII, na França, e se espalhou pela Europa e América. Ao se espalhar, sofreu mudanças, adaptou-se a outras condições e incorporou outras idéias. Carac- terizou-se como um movimento pela libertação do homem, dos exageros autoritários, dos preconceitos e das convenções impostas pelo domínio político da burguesia. In: Darnton, (2005, p.91-104).

Em Portugal, aplicar as idéias do iluminismo à educação “não implicou o final da inquisição e a entrada de novas idéias não levou ao final da censura e do cerceamento das práticas individuais”. O limite do iluminis- mo português podia ser visto quando, “pregava a introdução de novas idéias nas salas de aula, mas praticava a repressão à liberdade de expressão”. In: Schwarcz (2002, p.94-117).

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(1715-1780), que se tornou um dos seguidores e o intérprete mais importante da filosofia “em- pirista” de Locke (1632-1704). Em 1830, ao pensar em Locke e Condillac, as luzes para o Dr. Corumbá poderiam ser aquelas do movimento iluminista que se iniciou no século XVIII. No entanto, para os demais membros do conselho, o fato de criar uma cadeira de Lógica já poderia ser considerado como trazer as luzes para Goiás.

O conselho, entendendo a matéria discutida, colocou-a em votação, vencendo a emenda do Dr. Corumbá. Nessa reunião do Conselho, as emendas e aditivos propostos pelo Dr. Corumbá foram todos aprovados. Dentre eles, estava uma emenda para o artigo 5o, que mudava as férias dos estudantes de dois meses para um, pois segundo ele, “férias só servia para o estudante vadear”.

Foram também aprovadas duas emendas dele para o artigo 9o. A primeira dizia que as matérias79 seriam ensinadas do princípio de outubro aos fins de agosto. E a segunda, que os compêndios80 para a aula de Lógica seriam os mesmos utilizados no Curso de São Paulo.

79 Ao se referir às matérias, acredito que eles estavam se referindo ao corpo de conhecimentos que estaria pre- sente em cada cadeira. No caso da cadeira de Lógica, não foi dito o que se ensinaria, além das noções básicas de Geometria prática e Geografia. Na Reunião do conselho de Goiás, ao se referir aos livros para a aula de Lógica, não houve uma citação sobre autores.

80 Após 1822, surgiram várias propostas para o Ensino Elementar, Escolas de Primeiras Letras, Ensino Secun- dário e Ginásio. O estudo da Lógica aparece na proposta de Antonio Feijó, de 1827, agregando as matérias: Elementos de Geografia, Metafísica e Lógica numa só cadeira. Proposta que não foi aceita. Também, na proposta de Martin Francisco Ribeiro de Andrade Machado, da sua Memória sobre a reforma dos estudos da Capitania de São Paulo de 1816 e que depois foi oferecida à Assembléia Constituinte de 1823. Nesta, a cadei- ra seria Metafísica, Lógica e Moral. Na proposta de Januário da Cunha Barbosa, de 1826, para a criação de um ginásio (escola de terceiro grau). A cadeira se denominava Filosofia Especulativa e agregava a Lógica ou arte de pensar e raciocinar; a cosmologia e os princípios da moral. Em nenhuma das propostas foram citados os compêndios que seriam estudados. In: Primitivo Moacir – A Instrução e o Império (1936, p.559-564).

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FIGURA 28 - Discussão da proposta para a criação de uma cadeira de Lógica na Cidade de Goiás - Dezembro de 1829. In: Jornal Matutina Meyapontense de 19 de junho de 1830

FIGURA 29 - Discussão da proposta para a criação de uma cadeira de Lógica na Cidade de Goiás - Dezembro de 1829. In: Jornal Matutina Meyapontense de 19 de junho de 1830.

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Ainda sobre a cadeira de Lógica, o Sr. Corumbá ofereceu e leu redigida a proposta para o estabelecimento da Cadeira de Lógica na cidade de Goiás, no conselho do dia 7 de janeiro de 1830, ficando adiada sua aprovação para o conselho do dia 11.

A reunião do Conselho Geral da Província do dia 11 de janeiro de 1830, conforme foi publicado no Jornal “A Matutina Meyapontense” de 13 de julho desse mesmo ano, aconteceu mais ou menos às 9 horas. Nessa sessão, compareceram nove dos quatorze conselheiros, e a proposta para o estabelecimento de uma cadeira de Lógica na Cidade de Goiás foi colocada como o segundo assunto a ser discutido.

Após a leitura da proposta, o Presidente achou que ela deveria ser discutida no seu todo, por ser apenas uma discussão. O Sr. Corumbá solicitou que a proposta fosse discutida também por partes. Isso foi aprovado e a leitura foi iniciada progressivamente. Fez-se a leitura do primeiro parágrafo:

dependendo o bem da sociedade das boas ações dos Cidadãos, e dependendo estas do pensamento, que sempre as precede, é evidente que aperfeiçoar o pensamento do homem, desenvolver e argumentar a sua razão, equivale a melhorar suas ações.

Isso foi aprovado sem discussão. Então foi lido o segundo parágrafo, que também foi aprovado:

e sendo certo, este princípio, quanto não é lamentável esta Província de Goiás, por não possuir uma aula de Lógica arte de pensar e por conseqüência arte de fazer boas ações dos homens, de os fazerem felizes.

Desses parágrafos, ficou a impressão de que a criação de uma cadeira de Lógica teria como objetivo introduzir, na Cidade de Goiás, uma arte de pensar para que as pessoas, através da instrução, pudessem descobrir uma forma de viver bem e encontrassem modos de serem felizes81.

Leu-se novamente o Artigo 2o:

a Cadeira de Lógica, precedendo concurso será provida pela primeira vez por Sua Majestade o Imperador, e daí por diante pelo Governo Provincial, ficando o Provi- mento dependente da aprovação do Mesmo Augusto Sr. E desta vez sendo aprovado por todos. No Artigo 3o. atribuiu ao Professor além das lições de Lógica, o ensino de

noções de Geometria e Geografia. Ao ser posto em discussão, o Sr. Corumbá, disse que “visto ter passado a Emenda oferecida ao 1o. Artigo, queria oferecer outra a este”.

81 A idéia de felicidade ganhou muitos defensores desde a antiguidade. Teve início nas filosofias de Platão e Aristóteles. Com os filósofos do iluminismo, tornou-se “uma meta da vida do homem como indivíduo e da existência da sociedade como coletividade”. Foi pensada também por Karl Marx, que imaginou a felicidade “como sendo um estágio histórico a ser alcançado ao fim de um processo dialético pela sociedade como um todo”. Por Voltaire e Thomas Jefferson, que sofreram influências das idéias de Locke, na segunda metade do século XVIII. In: Darnton (2005, p. 105-124).

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E a emenda foi: O Professor fará aplicação a Geometria dos Princípios Lógicos, ensi- nando as noções mais elementares desta Ciência.

Uma Cadeira de Lógica, na Cidade de Goiás, que ensinasse noções de Geometria e de Geografia seria de interesse daqueles indivíduos que desejassem fazer os concursos para as Cadeiras de Primeiras Letras, de acordo com a lei de 15 de outubro de 1827, que exigiam co- nhecimentos de Aritmética e Geometria. Por isso, podemos dizer que a Cadeira de Lógica, de certa forma, “contribuiria” com o ensino da Geometria nas escolas de Primeiras Letras.

Por outro lado, a forma como foi proposta, privilegiando a aplicação de princípios lógicos à Geometria, também poderia causar desinteresse nessas pessoas, porque a Lei de 15 de outubro de 1827 determinava que se ensinasse, nas Escolas de Primeiras Letras, uma Geometria prática.

Nos artigos quarto até o décimo não foram propostas emendas. Estes artigos tratavam das férias, deveres do professor, período das aulas e sobre os compêndios a serem usados.

O Artigo 11o refere-se ao Ordenado do Professor, que deveria ser de quinhentos mil réis