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1 O JOVEM HEIDEGGER E O CURSO INTRODUÇÃO À FENOMENOLOGIA DA

1.5. A DIFERENÇA ENTRE A FILOSOFIA E AS CIÊNCIAS

Em sua Introdução Metodológica, Heidegger quer primeiramente determinar o significado das palavras que compõem o título da preleção. Tal necessidade se dá pelas características dos conceitos filosóficos que diferem dos conceitos científicos. Estes “são determinados através da ordenação num contexto [Sachsuzammenhang]

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Todo o percurso seguido neste capítulo é: mostrar como a filosofia em sua definição principial também se dirige à concreção. Queremos o filosofar no ser-aí humano, uma virada no caminho onde o homem encontra a si mesmo. Aqui, segundo Heidegger, filosofamos porque existimos como homens, a Definição é nossa indicação desse caminho e os Indícios Formais são nossos anúncios para os fenômenos da vida fáctica. Filosofia é então filosofar, mas é também um relacionar-se com, um voltar-se ao para-que. Aqui a preocupação não está no conteúdo, ele é indicado, o interesse está no como do ter. Heidegger identifica duas formas inadequadas de compreensão da tarefa da definição “O que é filosofia?”, a saber, Supervalorização e Subestimação. São erros que tendem ou a definição rigorosa de filosofia ou a necessidade de colocá-la numa realidade concreta apenas. O que se quer estudar é a filosofia como a experiência que coloca o homem no mundo, que experimenta a si na vida fáctica. Aquela que diz: virada de caminho, fenomenologia, onde inversão se diz: “transformação própria.” (HEIDEGGER, 2010, p. 15).

e tanto mais determinados quanto mais notável for o contexto.” (HEIDEGGER, 2010, p. 09).

Em contrapartida, os conceitos filosóficos são sempre incertos, não possuem um contexto determinado. Heidegger afirma que “existe uma diferença de princípio entre ciência e filosofia.” (HEIDEGGER, 2010, p. 09). Que diferença é essa? E se falamos de uma “introdução” às ciências e à filosofia, bem como de conceitos filosóficos e científicos, isso mostra-nos que há certa unidade e semelhança nisso. Heidegger então pergunta: “De onde provém isso?” (HEIDEGGER, 2010, p. 09 - 10)

Em seu curso sobre fenomenologia da religião, Martin Heidegger questiona a compreensão de que filosofia é uma ciência. O jovem filósofo pensou a fenomenologia – filosofia - como uma ciência pré-teórica das origens. Dessa forma, surge uma filosofia que, possuindo a si mesma como questão, deve alcançar a “compreensão-de-si” (Selbstverständingung) e isso também em sua distinção das ciências.

A diferença entre os conceitos filosóficos e os científicos poderia ser questionada, uma vez que falamos em “introdução” à filosofia e às ciências, revelando assim, certa unidade, como nos aponta Heidegger. Essa diferença se esconde na vida fáctica, devido o fato de sabermos o significado de “introdução” e de “conceitos”, porque na vida fáctica compartilhamos de uma compreensão geral do significado de determinados termos. Exatamente por isso, falamos “introdução” à biologia, à química, à história, à filosofia. Aqui a estrutura é a mesma, a diferença encontra-se no conteúdo.

É possível dizer introdução às ciências e à filosofia, então “existe uma concepção “nivelada” entre os “conceitos” e “proposições” da filosofia e da ciência.” Essa concepção niveladora é própria da “representação e comunicação linguística da vida fáctica.” (HEIDEGGER, 2010, p. 10). Assim, é preciso que nos adentremos em tal concepção e, consequentemente, na experiência fáctica da vida.

Heidegger então questiona: “todas essas considerações não são mera insistência em questões preliminares?” (HEIDEGGER, 2010, p. 10). Quando nos questionamos por uma “introdução”, seja filosófica ou científica, parece que nos colocamos sempre em questões introdutórias. Eis aqui uma grande diferença entre filosofia e ciência: a filosofia deve sempre se perguntar sobre sua essência, se voltar às questões preliminares. Só é possível negar uma filosofia que se volta às questões introdutórias se a julgamos como ciência, onde “se exige a solução de problemas concretos e a construção de uma visão de mundo.” (HEIDEGGER, 2010, p. 10). Contudo, “eu quero em todo caso, que essa necessidade da filosofia de girar em torno de questões preliminares, cresça e se mantenha, a ponto de tornar-se uma virtude.” (HEIDEGGER, 2010, p. 11).

Os conceitos científicos se caracterizam por sua precisão. Uma introdução científica começa então delimitando seus conceitos principais. Tal introdução ocupa-se com: “a) delimitação da matéria; b) da doutrina do trabalho metódico, com a matéria (...) e c) observação histórica das investigações precedentes de colocar e resolver tarefas científicas.” (HEIDEGGER, 22010, p. 11).

Em todas as ciências, mesmo que se trabalhe com objetos completamente diversos, o esquema será o mesmo. Os cientistas se voltam para problemas concretos, suas preocupações não estão nas questões introdutórias, assim dizemos porque “um filólogo, por exemplo, não se interessa pela essência da filologia. Porém, o filósofo ocupa-se seriamente com a essência da filosofia.” (HEIDEGGER, 2010, p. 12)

A filosofia não possui uma “introdução” como as ciências. Filosofar é antes um estar voltado à introdução, a essência daquilo que tratamos. Nas ciências há uma introdução que delimita a matéria, o método e apresentação do objeto investigado e isso é possível pelo fato das ciências possuírem um contexto determinado. Nada na filosofia pode ser delimitado como nas ciências, mesmo que tentemos definir filosofia como a “mãe” de todas as ciências.

Na história da filosofia muito se tentou “elevar a filosofia ao patamar de ciência” (HEIDEGGER, 2010, p. 13). Ou ainda, afirmar que as ciências se desprenderam de uma ciência maior, ou seja, que as ciências se originaram da filosofia.

Nisso se pressupões que a filosofia também seja uma ciência. Essa concepção do surgimento das ciências a partir da filosofia como “ocupar-se cognoscitivo do mundo”, no qual as ciências já estariam colocadas embrionariamente, é um preconceito que a atual concepção de filosofia projetou na história. (...) As ciências, portanto, não estão na filosofia. (HEIDEGGER, 2010, p. 12)

Filosofia e ciência são diferentes. A primeira ocupa-se com a “compreensão-de-si”, enquanto somente a alcançamos no próprio filosofar. As ciências, por sua vez, não possuem como questão tal compreensão. Somente a filosofia possui a autocompreensão e constantemente se volta e se demora nas questões preliminares. O que Martin Heidegger quer com esse “retorno” é resgatar a vida em sua originalidade e é a fenomenologia – explicitação do logos dos fenômenos – que possibilita tal investigação. É a filosofia, enquanto fenomenologia, que permite ao homem compreender os passos de seu caminhar fáctico.

1.6 A EXPERIÊNCIA FÁTICA DA VIDA COMO PONTO DE PARTIDA E