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9. RESÍDUOS SÓLIDOS E SUA MULTIDISCIPLINARIDADE

9.2 A Dimensão Econômica na Geração e Gestão dos Resíduos

Este trabalho iniciou-se a partir da crítica ambiental ao pensamento estritamente econômico. Penteado (2011) demonstrou que no decorrer da história, os paradigmas da

81 economia baseados na mecânica clássica falharam em compreender a dinamização que o meio ambiente e, as pessoas, criam, de forma que não considera-los representa um problema grave pelos efeitos perversos das ações sobre o meio sem considerar sua capacidade de resiliência ecossistêmica (ROMEIRO, 2013).

O principal desafio daqueles que trabalham com a economia ambiental configura-se em não recair no erro de considerar o meio ambiente, apenas, uma externalidade. Segundo Montibeller-Filho (2008), ao problematizar a capacidade de mercantilizar o meio ambiente, surge o conceito poluidor pagador. Este princípio traz à iniciativa privada para o debate, fenômeno que Abramovay (2013), interpreta como um dos maiores avanços no Brasil. Se tratando da gestão dos resíduos sólidos, ao aprovar em 2010 a Política Nacional de Resíduos Sólidos exige a cooperação e o diálogo entre Governo e iniciativa privada.

Ainda em 1920 surge o conceito de externalidades ambientais, que representa os custos ambientais somados ao método de produção, “o problema reside, então, em como imputar valor econômico de àquilo que não se expressa através de preço” (MONTIBELLER-FILHO, 2008, p 88), ou seja, precificar os bens ambientais, fenômeno que, Ribeiro (2004), já observa com certo receio, uma vez que trata de mercantilizar coisas e expor num mercado de trocas. O resultado é a definição de custos associado ao princípio poluidor pagador, que visa “à internalização dos custos relativos externos de deterioração ambiental” (MONTIBELLER-FILHO, 2008).

Ao tratar dos resíduos sólidos, deve-se observar, como afirmou Leonard (2013), aqueles que são diretamente responsáveis pelas maiores gerações de resíduos. Dando o exemplo dos EUA, em que a divisão do lixo interno bruto, resulta em menos de 3% para resíduos sólidos urbanos municipais, enquanto 76% do total eram resíduos industriais, o restante eram advindos do entulho de construção civil. Portanto, em termos de volume gerado, focar na geração individual não vai ser capaz de frear o problema, sendo necessária uma ação conjunta de sensibilização, por um lado, e fiscalização por outro.

O desafio consiste em atrelar a capacidade financeira das indústrias de se manterem, em paralelo com um projeto nacional capaz de aplicar um conjunto de ferramentas para repensar os processos fabris, desde a otimização e redução do uso de matéria prima, uso de materiais renováveis recicláveis e energeticamente eficientes, acompanhado de melhoria nas técnicas de produção diminuindo o descarte de resíduos, pesquisando formas de reinseri-los na cadeia de produção (IPEA, 2011), ou seja, na adoção da P+L (Produção mais limpa).

82 Surge uma necessidade, primordial, de capacidade para o diálogo e cooperação entra estruturas do governo e iniciativa privada, uma vez que o papel protagonista do governo, por um lado incentivando a mudança e, por outro desincentivando a inércia “suja”. Isto pôde ser visto como um passo em outros países, uma vez que;

“sabemos que as soluções reais a respeito do lixo não podem ser alcançadas somente no nível individual. Em última análise, precisamos de leis e padrões mais duros, assim como mudanças em normas sociais e culturais, para chegar às soluções que sabemos ser possíveis [...] junto a governos ao redor do mundo para acabar com os subsídios à poluente, incineração de resíduos e reduzir todas as formas de lixo” (WORLDWATCH, 2013, p 155).

Vale salientar que essas mudanças nas estruturas de produção não questionam a lógica de mercado, que se reproduz a partir da expansão e produção em massa, portanto, tais mudanças, convencionadas de economia verde (ABRAMOVAY, 2012), permanecem com a mesma essência, porém, se apropriando do conceito de desenvolvimento sustentável para legitimar uma produção que permanece apoiada nas logicas do capitalismo expansionista.

Uma consequência desta relação de produção mais limpa, geração de menos resíduos, aproveitamento de materiais recicláveis dentro da própria cadeia de produção exige consequentemente um desenvolvimento técnico científico constante, que renove os meios de produção para que as externalidades ambientais sejam cada vez menores, de forma que conclui Romeiro (2013) há uma urgência de cooperação tecnológica entre os países que detêm essas patentes de tecnologias limpas, sendo uma contradição mercantilizar em cima da tecnologia que transforma o meio ambiente num espaço cada vez mais equilibrado, posição, também defendida por Sachs (2009).

9.1.1

Mercado do “Lixo”

Há outra variante econômica que permeia a gestão dos resíduos sólidos, sendo este segundo fator, ligado aos custos e, “aos mercados do lixo”, ou seja, a relação das empresas privadas que se consorciam aos municípios para prestar serviços como coleta, limpeza e acondicionamento final, além do mercado da reciclagem (FIGUEIREDO, 2011).

Segundo Tebaldi (2013, p 4) o maior problema está na administração indireta, por parte dos municípios, uma vez que;

83 “a gestão de resíduos resume-se ao contrato de limpeza urbana. As prefeituras abrem mão da gestão dos resíduos em favor das empresas de prestação de serviços de limpeza urbana. A principal tarefa do setor responsável pela limpeza urbana nos municípios é o gerenciamento do ‘contrato do lixo’, e não a gestão dos resíduos sólidos”.

Aliado a isso, Bizzo (2013) destaca que a legislação relacionada às licitações para empresas que recolhem o lixo é incompatível com princípios da não geração e da redução de material descartado, previstos na Lei de Resíduos Sólidos, uma vez que a remuneração das empresas baseia-se na tonelada coletada, interessa a essas empresas a geração cada vez maior de resíduos.

Além do desafio para redução, a geração cada vez maior de resíduos gera um mercado interno de aproximadamente 18 bilhões de reais anuais (TEBALDI, 2013). Em paralelo relativo abandono histórico sobre esta temática nos municípios. Criou-se um quadro onde o “orçamento do lixo no país tivesse tradição de ser grande financiador de campanhas eleitorais” (ABRAMOVAY, 2013). Figueiredo (2013, p 147), complementa tal fenômeno, ao observar os “contratos superfaturados que se escancaram na deficiência na prestação dos serviços e na perda da capacidade de pagamento ao setor pelo ente municipal”.

Por fim, a relação no mercado da reciclagem, fomenta o debate sobre as contradições sobre a institucionalização dos catadores informais, da lógica economicista e, da precarização do catador (FIGUEIREDO, 2013; FIGUEIREDO, 2011). As questões que envolvem os atravessadores de material reciclado, além das patentes e altos custos para a posse das máquinas configura uma outra complexidade que, se não houver o papel do central do governo, especificamente local, o mercado gradativamente se apropria e gera contradições sociais e ambientais em prol de interesses puramente econômicos.