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7. O ESPAÇO METROPOLITANO

7.2 Governança Metropolitana e a Crise Ambiental Urbana

Alguns trabalhos já foram desenvolvidos, correlacionando os processos de políticas públicas, de governança e da complexidade do tema ambiental, como a tese de Klaus Frey (1997) que procurou correlacionar a importância de conceitos como policy, polity e policies, bem como a formação de redes sobre as políticas ambientais. Um segundo trabalho que segue a mesma tendência de correlação foi elaborado por André Deubel (2009) “Políticas públicas: formulación, implementación y evaluación” com

68 ênfase especial no “cambio de política ambiental: de una política productivista a una política sostenible”. Tais trabalhos demonstram que, em se tratando das políticas ambientais, é fundamental compreender os processos das políticas públicas, governo e gestão.

Neste trabalho, sustenta-se a ideia de que nas regiões metropolitanas o olhar para a dinâmica municipal deve considerar seu aspecto maior, ou seja, a cidade metropolitana.

Se os fatos demonstram que vive-se uma crise ambiental, de efeitos físicos como devastação de florestas tropicais, perda de biodiversidade, poluição crescente da água (superficial e dos lençóis freáticos), agravamento dos poluentes suspensos no ar (aumento nas taxas de problemas respiratórios), aumento no consumo de matérias primas renováveis e não renováveis, aumento exponencial na geração de resíduos sólidos (por um lado devido ao crescimento populacional, por outro, aumento da renda e incentivo ao consumo), destinação indevida dos resíduos sólidos, poluição dos solos e transmissão de doenças, falta de saneamento concomitante a uma crescente impermeabilidade do solo pela expansão urbana, dentre outros problemas de características urbanas (TRIGUEIRO, 2012; LUTZENBERGER, 2012; DOWBOR et. al, 2010).

Esses são alguns problemas ambientais que se manifestam em diferentes escalas nos centros urbanos e que, recentemente, ganham espaço de debate na agenda decisória nas escalas estaduais e municipais (CIDADE, 2012).

Outro lado desta crise ambiental urbana, trata não de seus efeitos físicos e visuais, mas, de uma variável subjetiva, simbólica e de interpretação da relação homem- natureza. A histórica separação, ao considerar a natureza uma externalidade (PENTEADO, 2011; VEIGA, 2005) criou uma lógica de relação que desconsidera o equilíbrio dinâmico que, na realidade, existe. Nesse segundo lado da crise ambiental urbana, autores como Leff (2005), Floriani (2011) e Guatarri (1996) tentam resgatar tal dimensão, que precisa, urgentemente, influenciar o desenho das políticas públicas.

Configura-se uma situação a ser enfrentada não só pela técnica, mas pelo aprofundamento do debate político da questão ambiental, ou seja, transformar a questão ambiental numa questão política, de forma a trazer a sociedade, revalorizar ideias esquecidas como o valor do local, da cooperação, entre, também, os gestores e planejadores públicos.

69 Ao perceber o papel chave no planejamento, gestão e direcionamento que o Estado, mais especificamente os governos possuem, volta-se a atenção aos desdobramentos práticos do conceito de desenvolvimento sustentável para a realidade governamental, surge a ideia chave de desenvolvimento territorial sustentável (MANTOVANELI Jr E SAMPAIO, 2010) e, seus pilares básicos; sustentabilidade administrativa e sustentabilidade política, ambos conceitos que relacionam-se direto com o sentido de governança que por sua vez adaptado às questões metropolitanas, dá a real dimensão territorial do problema.

Para avançar no estudo, na busca de relações causais e explicações, deve-se buscar uma realidade particular em que as teorias, bem como as hipóteses até o momento discutido, possam ser examinadas.

Hodiernamente, percebe-se que a problemática ambiental que melhor representa as facetas da crise ambiental urbana (esgoto, poluição sonora, visual dentre outros) são as questões referente aos resíduos sólidos urbanos, entendido como tudo aquilo que resulta da ação humana, desde os descartados do consumo diário, até mesmo a relevância simbólica que o mesmo possui na sociedade atual, como a preocupação do descarte correto, da redução dos descartes gerados, as formas ambientalmente corretas de descarte por parte do cidadão (redução, reuso e reciclagem), bem como por parte das prefeituras (gestão integrada dos resíduos, cooperativas de catadores de material reciclável, campanhas educativas pela redução, e por fim o uso de aterro sanitário (ABRAMOVAY, 2013). Essa questão torna-se mais relevante, como já comentado por Jacobi (2002), nas relações de escala metropolitana, já que reúne novos entes públicos.

Tal questão possui em si um caráter multidisciplinar e pode representar com clareza o grau de maturidade que a sociedade, o mercado e, em específico, o governo operam a fim de superar o problema.

Os resíduos, historicamente pouco perceptível, por geralmente serem levados para as periferias das cidades, em vazios urbanos, escondidos em lugares que não distorçam a paisagem natural, e por fim, enterrado (COSTA, 2012) representa hoje um dos maiores desafios ambientais às metrópoles.

A partir da governança metropolitana pode se constatar como ocorre o planejamento, gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos, desenvolvido na próxima parte desta dissertação, de forma que os resultados podem representar o nível que a sustentabilidade política e administrativa atual e, como contribui para atingir o

70 desenvolvimento territorial sustentável, primeiro passo rumo ao ideal de desenvolvimento sustentável.

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Fonte: Elaboração Própria do Autor

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PARTE III

GOVERNANÇA METROPOLITANA, SABER

AMBIENTAL E RESÍDUOS SÓLIDOS.

Esta parte busca desenvolver um estudo empírico, entre os anos de 2010 e 2015 (marco legal no Brasil sobre o tema dos resíduos), observando os resíduos sólidos na escala metropolitana, especialmente no que tange as relações de cooperação entre municípios próximos, tendo na cooperação um caminho para estabelecer uma boa governança.

No que diz respeito à relação entre Estado, mercado e sociedade para sua manutenção ou superação se introduz a teoria sobre o Saber Ambiental, fundamental por permitir levantar a multidisciplinaridade inerente a cada tema ambiental, assim como relacioná-lo às questões sobre sustentabilidade administrativa e política discutida em partes anteriores. Por fim, demonstra-se como o espaço metropolitano, a governança metropolitana e os resíduos sólidos acabam, juntos, representando a dimensão da atual crise ambiental urbana e, a complexidade em superá-la, devido aos constrangimentos reais impostos pelo mercado, população e especialmente pelo próprio governo.