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Considerações Preliminares sobre a Governança Metropolitana para os Resíduos

10. A METRÓPOLE E A REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA

10.1 Considerações Preliminares sobre a Governança Metropolitana para os Resíduos

Pode se concluir, ao final das dimensões sobre resíduos sólidos, segundo o Saber Ambiental (LEFF, 2005), há intrinsecamente uma necessidade multidisciplinar de análise, que por sua vez, possui implicações práticas densas, ao considerar as características locais como determinantes. As questões socioculturais, econômicas, biológico/ecológica e política interagem entre si formando dinâmicas peculiares. Ao somar-se a este referencial as relações causais, cria-se a policy arena, espaço que as decisões são tomadas (FREY, 2000). Neste caso, vale observar como cada variável dimensional influencia o processo decisório.

O segundo fator preponderante constatado, diz respeito ao processo de governar e a escala de governo. O primeiro diz respeito aos agentes e atores responsáveis pela agenda, ao processo contingente das políticas públicas, ao legado histórico, por um lado da burocracia brasileira (NOGUEIRA, 1998) e, por outro lado, da inércia institucional das agências de governo. A capacidade de planejar, o insulamento burocrático, a relativa autonomia (de decisão e financeira) são fatores chaves de análise. Todas essas questões servem como sinais do grau de sustentabilidade administrativa (Mantovaneli Jr e Sampaio, 2010).

Os acordos setoriais, as relações intermunicipais, a autonomia de gestão de cada município, os impedimentos políticos, ou seja, a capacidade de governabilidade, que se pese os frágeis canais de participação democrática, a capacidade de accountability e o nível de confiança da comunidade nas instituições públicas, como sinais da capacidade institucional, demonstra o grau da sustentabilidade política.

O objetivo final é a garantia da construção de um espaço à luz da sustentabilidade, que consiga garantir, sobretudo, o bem estar social e o equilíbrio ecossistêmico, portanto, em se tratando de uma escala intermediária, entre os municípios e os estados federativos, as regiões metropolitanas surgem, como os espaços de alta complexidade, em garantir tanto a sustentabilidade administrativa, como a sustentabilidade política, ambas necessárias para o desenvolvimento territorial sustentável.

Após o aprofundamento teórico nos conceitos de governo e governança metropolitana pode se concluir que, tanto o método possui capacidade de promover

97 novas descobertas no campo dos estudos urbanos e regionais, como, é possível pontuar aspectos importantes de se observar:

 A característica da metrópole em estudo, uma vez que as características endógenas são determinantes;

 O histórico de gestão compartilhada, experiências passadas e práticas atuais de cooperação;

 Uma vez que a compreensão do mal coletivo metropolitano é fundamental para ação conjunta, compreender como ocorre o fenômeno do free ride na metrópole é chave para observar o grau de cooperação;

 As diferenças de capacidade de gestão, financeira e política entre os municípios de uma mesma região é capaz de demonstrar a heterogeneidade do espaço;  Os canais de participação institucionalizados, a manutenção bem como a

prestação de contas regulares é de fundamental importância para a criação de confiança na comunidade;

 O grau de insulamento e de autonomia relativa dos que planejam em relação a interesses externos (políticos, privados e econômicos) demonstra a capacidade de planejamento de longo prazo;

 Em se considerando o Saber Ambiental como categoria para o referencial setorial, observar como se constroem os valores simbólicos dos gestores sobre os conceitos e as ideias inerentes à política pública dos resíduos é esclarecedor de como há interpretação do problema;

 Observar até que ponto a cooperação traz benefícios, e quais as justificativas que surgem para a não cooperação pode demonstrar os desafios futuros para a região em específico.

Pode-se concluir, que estes fatores demonstram a capacidade da governança metropolitana esclarecer as relações complexas que envolvem Estado – Estado (nas relações de cooperação horizontal, bem como da cooperação vertical), Estado – Mercado (o grau de influência dos agentes, bem como a influência de valores), Estado – Sociedade (participação, cooperação e confiança) e, Estado-Mercado-Sociedade agindo conjuntamente e influenciado constantemente um ao outro. Aprofundar estas relações é fundamental no estudo sobre políticas públicas com base nas teorias de médio alcance, focadas no processo decisório e, dando o devido espaço à sua complexidade. Soma-se a

98 isso, a urgência em compreender formas de superar a crise ambiental urbana que se constitui nas sociedades atuais, mas, que, atinge as localidades de formas diferenciadas e têm no governo e seu modus operandi na prática cotidiana sua principal chance de superação.

No caso dos resíduos sólidos e da ação dos governos locais, deve-se observar como as redes se constroem entre os municípios que interagem entre si (metrópole funcional), como as comunidades locais agem em relação ao papel da prefeitura e, como interpretam a problemática (apreensão do valor transformado em ação), agindo em cooperação (ou não) à Prefeitura. E como se organiza a iniciativa privada (apropriando- se, influenciando as ações governamentais, ou agindo de forma cooperada).

Neste momento, foi focado as relações intergovernamentais, ou seja, aqueles agentes que detêm a agenda decisória e são os responsáveis pelo planejamento – o gestor. Baseando-se nos conceitos de sustentabilidade administrativa e política para o desenvolvimento territorial sustentável, considerou o papel preponderante do Estado, do governo e especificamente dos gestores para iniciar o processo de mudança. Para isso, investigou-se empiricamente a gestão metropolitana dos resíduos sólidos como referencial setorial para o teste teórico.

99 Fonte: Elaboração Própria do Autor.

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PARTE IV

EM BUSCA DA APLICAÇÃO PRÁTICA DAS

CATEGORIAS ANALÍTICAS

A fim de observar a aplicação práticas dos conceitos desenvolvidos, bem como, compreender em profundidade a realidade da gestão dos resíduos sólidos na RMNatal, em específico, nos dois maiores municípios: Natal e Parnamirim. Foram realizadas entrevistas em profundidade com os gestores responsáveis pela gestão dos resíduos (URBANA em Natal e, SELIM em Parnamirim), de modo que, fosse possível apreender, além das questões de gerenciamento e desafios enfrentados, a visão própria, do indivíduo que está na posição de gestor. Este procedimento foi escolhido, tendo como base a afirmação de Floriani (2011) sobre a ideia atual da crise ambiental urbana, onde, não só os produtos são comercializados, mas ideias, valores e subjetividades que permeiam o modo de ser.

A principal hipótese em relação ao posicionamento dos gestores é que, apesar de cada cidade ser diferente, possuir suas especificidades, há uma forma comum de se encarar as questões ambientais, a exemplo do mainstream da economia (PENTEADO, 2011), resta compreender como isso se configura no caso em estudo.

Sendo assim, esta última parte está organizado em dois capítulos, onde articula os debates teóricos antecedentes, especificamente, os fatores sistematizados como “real dimensão do problema”, em paralelo aos depoimentos extraído das entrevistas com os gestores, a fim de observar os posicionamentos técnicos e, discursos que surgem à luz da teoria. Isso será valioso ao demonstrar a aplicabilidade prática das categorias levantadas teoricamente.

O primeiro capítulo é um estudo das características básicas da metrópole, em específico as dinâmicas de ambos os municípios no contexto metropolitano. O segundo capítulo será uma imersão na análise dos fatores, junto ao discurso dos gestores. Constitui uma análise sobre a realidade da gestão dos resíduos nos municípios8 baseada em quatro pontos principais: a capacidade administrativa de cada governo, a capacidade

8 As entrevistas foram realizadas em Natal com o secretário da pasta de Planejamento e Gestão da

URBANA (Companhia de Serviços Urbanos de Natal) em novembro de 2013. Em Parnamirim a entrevista foi realizada com o Gestor de Planejamento da SELIM (Secretaria de Limpeza Urbana) em Outubro de 2014. No decorrer do texto, os trechos retirados das entrevistas vêm respectivamente referenciado como: Gestor de Natal e Gestor de Parnamirim.

101 econômica e custos envolvidos, a variável política (governança metropolitana) e, por último, as questões ambientais e socioculturais