A avaliação qualitativa da pesquisa consistiu em analisar fontes primárias e secundárias. Como dados primários foram analisados, Leis, Decretos-Leis, Resoluções, os Roteiros de Entrevistas (APÊNDICE B), e as Entrevistas em profundidade aplicadas junto a
um grupo seleto de especialistas no setor, capazes de avaliar a política de energia do governo, em nível federal e estadual, a evolução regulatória recente do setor de energia elétrica e o desempenho da ANEEL.
Como dados secundários, foram analisados os depoimentos de especialistas, constantes do Centro da Memória de Eletricidade no Brasil (1988, 1995, 1996), além de publicações acadêmicas, periódicos, livros e teses sobre o assunto, artigos em jornais, boletins da internet e textos em revistas especializadas sobre o setor de energia elétrica, em especial sobre a geração de energia.
Os instrumentos metodológicos de cunho qualitativo tiveram, em especial, o objetivo de avaliar a questão institucional e o traço cultural intervencionista do Estado no Brasil. Conforme já explicitado, as premissas de trabalho, abaixo reeditadas, têm o objetivo de nortear a pesquisa, possibilitando algumas inferências importantes.
1. O Estado no Brasil oscila entre a posição de produtor e de regulador do setor de energia elétrica;
2. As indefinições no papel do Estado e a falta de transparência da regulamentação são entraves importantes à promoção de investimentos no setor de energia elétrica no Brasil.
É importante registrar que na parte 4, do APÊNDICE B (Roteiro de Entrevista), cinco itens abarcavam algumas das dimensões referentes ao traço cultural intervencionista do Estado no Brasil, mas nenhum deles foi assinalado pelos consumidores entrevistados (seis grandes consumidores e três especialistas) como sendo um dos quinze itens mais importantes na decisão estratégica da empresa em investir em geração de energia elétrica. Tais itens são: a
trajetória intervencionista do Estado no Brasil (questão 3), a cultura centralizadora do
Estado brasileiro (questão 4), o papel histórico do Estado no Brasil (questão 14), a postura
liberal do governo no Brasil, na atualidade (questão 40) e a utilização de políticas públicas discricionárias (questão 51).
A técnica de pesquisa utilizada para apurar a avaliação dos especialistas no setor de energia do Estado de Minas Gerais constituiu-se de uma entrevista em profundidade, junto ao um grupo seleto de especialistas. Tal documento abarcou duas questões abertas, além de espaço para considerações e comentários dos respondentes (APÊNDICE H). As questões
fechadas constam do QUADRO 13 - Evolução regulatória do setor de energia elétrica no
Brasil (1995/2002) e do QUADRO 14 – Principais decisões da ANEEL (1997/2002).
Em relação às principais Leis do setor de energia elétrica sugeriu-se que o grupo seleto de especialistas consultados, avaliassem se: 1. a Lei implementada entra em conflito com outra Lei em vigência; 2. a Lei em questão altera a trajetória do setor de energia elétrica.
No que se refere às principais decisões da ANEEL, adotou-se a metodologia aplicada por Pires e Goldstein (2001) em que se analisou: 1. se as intervenções se basearam nos termos estabelecidos nos contratos originais ou em suas posteriores modificações; 2. se as referidas decisões foram motivadas por um evento inesperado e/ou imperfeições contratuais; 3. se as decisões foram questionadas pelas empresas (ou outras partes interessadas) e como essas controvérsias foram resolvidas, além da identificação dos envolvidos no processo.
Nesta pesquisa, a referida metodologia foi ampliada. Além de selecionar os eventos, solicitou-se que o entrevistado validasse ou não os seguintes itens: avaliação subjetiva da decisão, adequação do design contratual, contexto em que a decisão foi tomada e visibilidade da decisão.
3.5.1 A avaliação dos Especialistas – entrevista em profundidade.
Neste subitem, buscou-se analisar as opiniões dos especialistas de energia elétrica do Estado de Minas Gerais acerca da política de energia elétrica adotada no Brasil e em Minas Gerais, a evolução regulatória do setor de energia elétrica e as principais decisões da ANEEL, no período de 1997/200282.
Os nomes de oito renomados profissionais do setor de energia elétrica na atualidade foram lembrados e indicados por grandes consumidores, principais geradoras e distribuidoras de Minas Gerais, além de órgãos reguladores do setor83.
82 Cabe lembrar que a elaboração do APÊNDICE H (Entrevistas – instrumental qualitativo) foi em parte subsidiada pelas respostas dos juizes I, constante do anexo B (Roteiro de entrevistas).
83 A escolha dos entrevistados se baseou na maior freqüência de indicação à pergunta que foi efetuada ao público consultado, nos meses de abril e maio de 2002, O sr(a) pode me indicar alguém, de Minas Gerais, exímio
conhecedor do processo de reestruturação do setor de energia elétrica, na atualidade?.Malhotra (2001,
p.308), identifica essa técnica de amostragem não probabilística, em que um grupo inicial de entrevistados é selecionado aleatoriamente, como amostragem tipo bola de neve.
Nenhum representante dos órgãos reguladores, ANEEL, MAE e Agência Nacional de Águas - ANA - responderam a entrevista, mesmo com a garantia de que o entrevistado não seria identificado. Talvez isso tenha ocorrido porque uma parte da entrevista é exatamente a avaliação das principais decisões da ANEEL entre 1997/2002.
Após reiterados contatos telefônicos, durante os meses de junho e julho de 2002, o texto das entrevistas, foi encaminhado, via e-mail, para que o respondente pudesse ter acesso às perguntas, além de respondê-las antecipadamente, caso o desejasse. Foram efetuados os agendamentos e entrevistas de cinco dentre os profissionais indicados. Em média as entrevistas duraram 2:30hs, sendo que o menor tempo foi de 1:45hs e o maior de 4:10hs. Todos os entrevistados já haviam respondido parcialmente as questões, o que facilitou o contato direto entre pesquisadora e entrevistado. Em especial, durante algumas entrevistas, houve um alto nível de interação e informalidade entre entrevistados e pesquisador.
Diante da impossibilidade de declinar os nomes dos entrevistados, optou-se por identificá-los como:
1. primeiro respondente - Consultor de uma grande concessionária brasileira para assuntos de legislação;
2. segundo respondente - Engenheiro senior com experiência em construção de várias barragens no Brasil e consultor de várias empresas para assuntos de energia elétrica; 3. terceiro respondente - Presidente de uma associação de empresas consumidoras
intensivas de energia elétrica do Estado de Minas Gerais;
4. quarto respondente - Gerente geral de uma das maiores consumidoras de energia do Brasil, que utiliza simultaneamente de autogeração, parcerias e compra de energia, via concessionária;
5. quinto respondente – Consultor de uma empresa estrangeira de distribuição de energia elétrica que atua no Brasil.
Em suma, este Capítulo buscou discutir as opções metodológicas da pesquisa, além de sistematizar os passos seguidos neste trabalho, com vistas a responder a questão proposta na pesquisa.
A seguir, o Capítulo 4 , parte integrante da pesquisa qualitativa, descreve, em especial, a matriz energética, bem como a trajetória do setor de energia elétrica brasileiro, enfatizando o processo institucional.
CAPÍTULO 4
MATRIZ ENERGÉTICA E TRAJETÓRIA DO SETOR DE ENERGIA
ELÉTRICA BRASILEIRO: ÊNFASE NO PROCESSO INSTITUCIONAL
O principal objetivo do capítulo é discutir o funcionamento do setor de energia elétrica, as principais fontes de geração e, em particular, descrever a trajetória do setor no Brasil, enfatizando o aspecto institucional. Além de pesquisa bibliográfica, este capítulo utiliza-se de documentos e dados das entrevistas efetuadas no decorrer da pesquisa estando, pois, subjacentes ao desenvolvimento deste capítulo as premissas norteadoras do trabalho..
Em suma, este capítulo, juntamente com os dados da Entrevista Exploratória, do Roteiro de Entrevista e da Entrevista em Profundidade são parte integrante do que se denominou pesquisa qualitativa neste trabalho de tese.