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NQIAS CAPIIULQ

3.1 A diversidade das formas de coo-peracão

A cooperação agrícola emerge, dissolve-se e reconstitue-se de maneira bastauite diversificada nos assentamentos. É representada pelas formas conjuntas de organização da economia, que incluem desde o trabalho e a terra até a compra e a venda, e a aquisição de créditos e serviços.

Seis tipos de CA podem ser aqui discriminados : as formas de ajuda-mútua, os pequenos grupos "semi-coletivos"

ou ‘’coletivos", os "grandes grupos coletivos", as associaçOes de cooperação agrícola (ACAs) e as

"cooperativas de produção agropecuária" íCPAs)4.

Inicialmente, os estímulos para a implementação de formas de CA eram caracterizados pelo espontaneísmo e pela improvisação (MST,s.d. : 02). Reproduziam as experiências mais comuns de ajuda-mútua no campo, como os mutirões e a associação de máquinas. 0 MST passou a aconselhar então, a formação de grupos que congregassem não mais que dez famílias, visando facilitar sua administração. Os primeiros grupos de pequeno porte formaram-se entre 1985 e 1986, em SC, por ocasião dos primeiros acampamentos e assentamentos®.

Os "grupos semi-coletivos" caracterizam-se pelo fato de preservarem suas roças particulares e disporem conjuntamente de máquinas ou outras benfeitorias. Podem manter algum terreno ou empreendimento sob administração coletiva, mas a dimensão coletiva parece exercer aqui um papel necessariamente secundário na economia doméstica. A terra não é de propriedade coletiva, mas, em alguns destes grupos, a maior parte do trabalho é realizada em conjrinto, caracterizando uma forma intermediária para os "grupos coletivos".

Os "pequenos grupos coletivos" constituem por sua vez, associações em geral com menos de vinte famílias,

que optaram pela gestão coletiva da terra e do trabalho (ao menos de forma preferencial). Além disto, podem variar num espectro que inclue desde as formas que ainda preservam a roça particular, embora secundariamente, até aquelas em que a coletivizaçâo seria máxima, com a formação de agrovilas e sem propriedades individuais. Mais de vinte grupos coletivos já foram computados em SC, entre outros, em assentamentos como Jangada, Putinga, Rabo de Galo e Jacutinga (A NDERLE,1989 : 07).

Cabe lembrar que mesmo com a criação de estilos mais complexos de associativismo nos assentamentos, as famílias que permanecem não associadas a estes, não deixam de fazer uso de formas mais simples de cooperação, como a troca de dia de serviço, as "sucias"(ZIMMERMAN, 1989), e o

"pixurum" (CASTELLS e PAULILO, 1991).

Em 1986 teriam surgido as primeiras ACAs®. Existiria aproximadamente dezesseis destas associações no conjunto dos assentamentos catarinenses'^, comportando u m número . de associados que varia entre oito e cento e setenta e dois

(a maior parte na faixa entre dezessete e quarenta).

Diferentemente dos pequenos grupos, as ACAs permitiriam associar u m grande número de famílias, com gainhos de escala na -prestação de serviços. Constituem entidades civis sem fins lucrativos, e devem, em princípio, ser registradas. Persiste uma diversidade

expressiva entre as assoeiaçOes, sendo que algumas congregam simultaneamente grupos coletivos, semi-coletivos e produtores individuais® [a exemplo do assentamento ■‘Putinga” , SC e da "Fazenda Annoni", R.S. (REGO, 1988 : 65] .

Sua principal característica é a prestaçao de serviços - comercialização, compra, armazenagem, administração de recursos e distribuição de créditos, e eventualmente, de infra-estrutura e equipamentos coletivos -, além da representação de interesses do grupo. A posse da terra e a gestão do trabalho pode não assumir - ou assumir de forma apenas parcial - um caráter coletivo. Como associações, possuem "patrimônio" ao invés de

"capital social", não podendo, portanto, exercer atividades comerciais em seu próprio nome (MST, 1989 : 34).

Com o agravamento dos problemas suscitados por estas formas associativas, os quais trataremos posteriormente, a prioridade do MST passa a recair, a partir de 1989, . \sobre os grandes grupos coletivos e sua transformação em CPAs, bem como sobre a formação de cooperativas agrícolas mistas de nível secundário e terciário. ílsta reorientação foi adotada após análise crítica dos vários modelos a exemplo das "centrais de associações” para comercialização e das

"cooperativas de rcrédito" ®.

Os grandes grupos coletivos sSo caracterizados pela coletivizaçSo da posse da terra e da gestão do trabalho e dos “meios de produção" lo, dispondo de um contingente superior à vinte famílias (MST, 1990b : 10). Estes grupos se transformam em CPAs na medida em que fundam cooperativas e as reconhecem legalmente.

As CPAs, ao contrário das ACAs, possuem capital social e outros dispositivos que facilitam a obtenção de créditos e de recursos subsidiados, dispõem de uma escrituração contábil mais onerosa, podem ratear as s o b r a s ü de suas operações e devem pagar imposto de renda sobre operações com não associados^s_

As CPAs dispõem da terra e do trabalho coletivos, como as cooperativas de produção típicas. As ACAs, por sua vez, reproduzem o modelo das cooperativas de produtores, mas sem deter os benefícios auferidos com a legalização da cooperativa.

As CPAs começam a ser fundadas no final de 1989, no RS e no PR. Em janeiro de 1991 foi criada a primeira cooperativa central dos assentados, a Coaceargs, no RS. No início de 1990 o MST computava dez grandes grupos coletivos nos assentaimentos do país, dos quais três em formação em SC ^3 fJTRST, jan/fev. 1990 : 18). Em maio de 1991 já existiam mais de vinte CPAs e três centrais, em decorrência dos estímulos oferecidos pelo MST. Trata-se do

emergente "Sistema Cooperativista dos Assentados" (SCA), que passa a ser uma "estrutura de poder e de infra-

estrutura separada do Movimento Sem Terra ", embora

mantendo uma relaçSo de complementariedade com o mesmo (MST, s.d : 07). Esta rápida disseminaçSo das CPAs, mediante u ma ação coordenada nacionalmente (o que já se tornou uma característica das ações do MST), sugere, além do recurso às vantagens econômicas de escala, uma forma única de se alcançar a integração dos assentamentos no espaço nacional, visando o estabelescimento de projetos e demandas comuns.

- Q Sistema. CoQPsr ati vista dos Assentados

O projeto do SCA prevê a implementação de centrais cooperativas em seis Estados considerados prioritários, dentre os quais SC As centrais deverão congregar as CPAs, além das ACAs e pequenos grupos assentados não as s o c iados^®, b em como associações de pequenos proprietários em geral^'^'. Entretanto, o processo de constituição e legalização destas CPAs ainda estaria em c u r s o .

0 SCA seria composto por uma articulação cooperativa