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EM SANTA CATARINA

debate sobre "estilos de desenvolvimento“ que emerge sobretudo a partir da década de setenta, tem

1.3 A problemática dos assentamentos

Existem atualmente em SC, cerca de quarenta e nove imóveis com projetos de assentamento^i, criados ou em implantação, com área correspondente a 36.665 ha, e comportando 2.019 famílias. Estes assentamentos estão localizados nas regiões do Oeste, Extremo-oeste, Meio- oeste. Vale do Rio do Peixe e Planalto Norte do Estado. A maioria foi criada no período 1986-1988 (veja anexos I e II). O leque dos principais produtos cultivados inclui : milho, feijão, arroz, suínos, carvão vegetal e erva-mate

(MST, 1990b : 24).

A criação de u m assentamento é precedida da indicação

ANEÍíO I - PONTE

I N C R A / S C I’uo.ii-Tos iiF. a:.:.i:h i a h f.n k)S E X IS T I- HtEs LM S  m à CÁTÃIIINA - H à 10/1991

Nê de DKNOMINACÃO ÜÜ M U N IC ÍPIO NV de KAM. auk:a

Orilciu rnO JETO ASSENTADAS ( lia )

01. ANIAS S.no M Ir i i cI (Io O cs tc V) 502,7

07. AI-ARKClOA A iicIiIct.T IR 778.3

03. I.ARONF.SA I)B I,IM F.i r a Ch.Tprcõ n 247,4

0/.. nARRA r,SCONI)lÜA S.-in Annr. dii C rd ro 34 4«« 1,2

0 5 . n irriA Hn r rn 40 8 5 5 .6

06, CAI’Ao r r a n d e A lto la rd n l.iir. 7B 1 .r r . 5 ,íi

07. CIIAPIvCrt Cli.ipprn 33 4 1 1 ,5

0 8 . DF.RRItUADA P iin tc S e rrn d n 32 5 98.2

0 9 . F.NTRE RIO S Snn M lp .iid dn O cate 70 1 .0 0 9 .4

10. FAXINAI> nos DOHINKUE.S 1 F rn lln irf.ci 34 5 08,5

11 . KA7.F.NIIA V EU IA 1 r n n l 25

12. .1 ACHT INGA sã o H tg iie l do O cntc 30 390,4

13. i.A(;f.a ü() c r a h d e Snn J o s c do Cedro 89 1 .7 S 6 .9

lA . HORRO PO TA1Ö 1 tn lo jiu l Ir 70 1 .3 9 7 .2

15. 1’APIIAN 1 A b e la rd o Liir. 27 35'».0

If .. PAPIIAN 11 A lic ln rd o 1.117. 63 8 9 0 .8

17. PirriN lIA HntoR C n n t n /• 212 4 ,4 1 7 .4

18. RAItO l)E CALO S.nn H lg itc l do O cs tc 32 4 0 5 .8

19. RIO DA LAROA M.i r ra 10 224,1

20. RIO IJA SERRA Monte C a R t c lo 22 4 4 5 .3

21. NOVA ESPERANÇA Mnton C o sta 19 385. 1

22. RIO TIMUÓ l,cl>on R c g ln 44 712.3

23. SANDRA A lic la r d o Ltiz 5H 1 .0111 .4

2 «. SANGA A7.1IL A iic lilc t a n 218,8

25 SANTA ROSA 1 A b e la rd o l.iir. R2 1.19/,.6

26. SÄO FRANCISCO C nnoliilian 24 634.1

' "27. SÂO .lOSß (^mpns Novo b 70 1 .2 1 0 .0

28. 25 DE MAIO {PA R O LIM ) 1 t a ló p t il lR 47 1 .3 9 6 .0

29. IlANDEIRANTES Sao M ig u e l do O este 09 166.6

30. CrtRREfiO SEGREDO 1 l.cbon Rc| ; Ib 12 2 7 / .8

31. (-.(■iRRECO SEGREDO 11 l.elion Rép,Is 21 397.3

32. .lANCADA Mnton Cust.n 1 10 2 .2 2 6 .0

33. KJO IK) NORTE R io dos C rd ro s 19 6 6 1 .5

34. R IO DOS PATOS l.eboii R e g ls 49 818.«1

35. SÄO 1,1117, Paln.n Sn la 06 100.0

36. SAPATEIRO P o n te Serrad.T 12 7 2 7 .3

37. TAIIORDA P n n tc S e r r a d a 1 1 2 1 7 .8

38. TRACUTINGA D I n n t s ln O r< |iic lrn 60 l.l« » 8 .2

39. 30 l)E OUTUnRO Canipon Novos 97 2 .1 1 8 .0

« 0 . VOI.TA GRANDE A b e la rd o l,iir. 80 1 .3 7 0 ,8

« 1 . FAXINAI, DOS DOMINCUES 11 F r a i burgo 45 9 00,9

4 2 . RiO MANSINHO F r a lb iir p o 12 - 2 4 2 .0

43. RIO no P IT O M.n f ra 06 169.4

4 4 . SANTA ROSA 11 Abel.nrdn l.tir. 52 6 6 9 . S

4 5. CONTESTADO Fr.nlbiirp.o 18 353.6

46. 13 DE OUTUBRO M atos C o sta 35 - 70CI.0

4 7. r h sAr i o Romol.Tiidla 16 ' 250.0 /.o ' Al.« 1 . . . 1 . 1-- 1 U t 1 5 0 . 17Ult:iiAY 1P o n te S e r r a d a 12 51 i 1 O t.in n ^ 7 . 'wAPflTn un 1D»., c ,1- Oiï #1 5 3. !iAO L U IZ 11 1Palmn S o la 18 2 84.3 lOrAL .3.0B»- -3 7 .7 i3 7 ,7 0 ' ^6 U/tM

Obs : 08 BseentasentoB de 48, 49, 51 e 52 íoras eobtraidoB ei fonçao de processos jurídicos p e reo^erei a deT ohçSo das terras.

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de imóveis aptos para fins de reforma agrária, no caso das desapropriações, ou da indicação de imóveis para negociação através do instrumento de "compra e venda". Em ambos os casos, os procedimentos devem ser aprovados pelo Governo F e d e r a l .

Aprovada a indicação de determinada área, tem inicio a formulação e implementação do "projeto de assentamento" 22^ mediante estudos prévios de aptidão econômica da área. Definem-se o tamanho e a localização dos lotes, além da implementação de infra-estrutura e serviços básicos. Na etapa seguinte, as famílias, previamente selecionadas, deveriam ser assentadas.

O processo desenvolve-se geralmente de forma lenta, contrastando com a urgência da demanda colocada pelos beneficiários, levando a que muitas de suas prerrogativas sejam ignoradas. As terras destinadas aos assentamentos são, via de regra, ocupadas a partir da edição das portarias ou Decretos correspondentes, tendo em vista a necessidade de agilização do plsintio e de se evitar que outras famílias ocupem o local disputando as terras. E os projetos de assentaunento parecem sofrer com a "ausência de

uma política de planejamento global de desenvolvimento das

áreas reformadas" (MST, 1991 : 04), além da falta de

integração interinstitucional (INCRA, 1990). Além disso, as ações do Estado caracterizam-se como remediais,

faltando aos compromissos assumidos inicialmente com as metas de dinamizaçao dos assentamentos^®.

Ainda ho.je, a maioria destes vive nxim contexto precário em termos de satisfação de necessidades imediatas. Grande parte dae famílias continua sobrevivendo em barracos de lona, sem recursos materiais e financeiros mínimos. Seu grau de instrumentação e adestramento técnico é muito baixo, e seu comportamento em relação ao mercado, entendido de maneira ampla, tende a ser semelhante àquele que os levou à situação de "sem-terra". Como as áreas que dispõem apresentam geralmente baixa aptidão agrícola, os recursos para o custeio das safras e para possíveis investimentos produtivos são insuficientes.

Constata-se entretanto a necessidade de se visualizar melhor as diferenças existentes entre os assentamentos, no que diz respeito à infra-estrutura e serviços disponíveis, ao dinamismo econômico, e ao potencial de mobilização política- Enquanto muitos deles estariam reduzidos a um estado de mera provisão da subsistência, com elevado índice de evasões, outros teriam conseguido superar as dificuldades iniciais de organização através de maior capacidade de iniciativa e eficácia organizacional.

Entre os fatores que explicam esta diferenciação, destacam-se o volume de recursos recebidos e a eficiência na sua aplicação; a capacidade administrativa; a aptidão

agrícola; as possibilidades de mecanização; as restrições climáticas; a localização geográfica em 2'elação aos mercados e a rede de infra-estrutura básica^^; as formas de organização interna; e finalmente a qualidade e regularidade da assistência técnica recebida.

Assim, por exemplo, os assentamentos do Extremo-oeste e do Oeste dispuseram, em geral, de \ima expressiva vantagem comparativa em termos de qualidade dos solos face aos assentamentos do Meio-oeste, Vale do Rio do Peixe e Planalto-norte25 _

Alguns serviços, como a implantação ou recuperação de estradas, bem como a eletrificação, atendem atualmente a metade dos assentamentos ÍINCRA, 1990 : 19). A maior parte deles (em número de trinta e dois) já dispõe de escolas, apesar destas carecerem de serviços (não dispõem de rede de esgoto, água, instalações elétricas), e de material didático (OP.CIT.: 48-49).

A assistência técnica exclusiva aos assentamentos, oportunizada através de Convênio entre a EMATER/ACARESC e o INCRA/SC em 1986, teria beneficiado a maior parte dos assentamentos, apesar dos vários fatores que têm limitado o alcance de suas realizações^ô. Suprimida por volta de

1989, volta a ser implementada em meados de 199127.

Um levantamento dos recursos naturais d i s p o n í v e i s ^ s auxiliou na escolha e distribuição de linhas de produção,

bem como no tipo de assistência técnica prestada.

A criaçSo de infra-estrutura e de serviços parece privelegiar os assentamentos mais antigos, de maior densidade populacional e dotados de maior grau de mobilizaçSo política.

Nos assentamentos mais recentes, em geral, as condições de alimentação, habitação e saneamento permanecem deficientes, enquanto que nos mais antigos a situação já não seria tão drástica (OP.CIT.: 21). Entretanto somente seis assentamentos dispõem de postos de saúde ou unidades sanitárias (OP.CIT: 48-53).

De modo geral, os assentamentos que dispõem de formas mais elaboradas de cooperação agrícola (CA) alcançaram mais rapidamente melhores condições de infra-estrutura e de acesso à créditos.

Segundo o MST, a dependência de recursos financeiros governamentais seria o ponto nevrálgico das deficiências atualmente sentidas nos assentamentos (MST, 1991 : 04).

Os primeiros assentamentos foram os únicos a receberem integralmente a parcela do crédito PROCERA^© prevista pelo PNRA, apesar do montante nâo ter sido suficiente para garantir u m nível de auto-suficiência econômica®o. Além disto, a falta de orientação, a carência de projetos de desenvolvimento econômico mais elaborados^i, bem como a natureza específica das carências

mais imediatas dos assentados, entre outros fatores^^, prejudicou um aproveitamento mais racional desses recursos. Após dois anos de sua sustaçao, a partir de julho de 1991, o PROCERA volta a ser ativado, embora permaneça abaixo das demandas estipuladas pelos projetos de assentamentos®^.

Muitos assentados, em especial os organizados com base na CA, utilizam-se desses recursos para a compra de máquinas e implementos como caminhOes, tratores, moto- serras, forrageiras, além de corretivos, e para a construção de armazéns, moinhos e paióis.

Desta forma, alcançando o acesso à rede créditícia, à capacidade de mecanização (MST, 1990b : 09), e contando com uma certa infra-estrutura de armazenagem^-^ e t r ansporte, tendem a auferir maiores ganhos na produção e na comercialização.

Apesar destas vantagens, a grande maioria de assentados continua a preferir investimentos realizados individualmente. Isto pode ser visualizado na alocação de recursos do PROCERA em julho de 1991, onde 153 cadastrados optaram pelo investimento coletivo e 342 pelo individual.

Por outro lado, segundo cálculos do MST, 60% do total de mão-de-obra dos assentados no Estado seria assalariada. Este alto índice poderia ser explicado em parte, pela carência de infra-estrutura e recursos adequados.

Outro fator que tem afetado o dinamismo dos assentamentos está representado pelo baixo nível de conhecimentos técnicos e administrativos disponíveis (MST, s.d. : 01). Isto dificulta uma aplicação eficiente dos recursos financeiros, a incorporação de medidas de higiene e saúde, e a implementação de sistemas de CA.

Na busca de soluções para este problema, foi iniciado em 1988 um programa de capacitação®® (atendendo a 380 assentados). Entretanto, mesmo se somarmos o impacto deste programa aos demais esforços despendidos nesta área, estima-se em menos de vinte por cento os beneficiários favorescidos (INCRA, 1990 : 56-57).

Outro impasse que meresce destaque está representado pelo deficiente aproveitamento dos recursos naturais existentes (MST, 1990? : 01). Em certos casos porém, como na sobreexploraçSo dos recursos florestais para a produção de carvão no assentamento “P u t i n g a " , de Matos Costa, os assentados parecem não dispor de opções alternativas de sobrevivência a curto prazo (CASTELLS E PAULILO, 1991).

Um diagnóstico exploratório da situação atual dos assentamentos tende a enfatizar a diversidade de fatores e situações em jogo, fazendo-nos distinguir o grau de dinamismo econômico e a disponibilidade de infra- estrutura. Se em muitos deles as carências são drásticas, em vários outros as potencialidades para um

desenvolvimento cumulativo sSo pronunciadas, apesar de contarem ainda com algiomas deficiências.

A nosso ver, para esta diferenciação, merece destaque a experimentação com formas alternativas de cooperação agrícola, especialmente nos grupos organizados coletivamente. Para uma análise mais detalhada dessas inovações torna-se necessária uma consideração introdutória da relação entre cooperação agrícola e modificação de estilos de desenvolvimento.