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NOTAS CAPIIULQ

CAP 5 ECONOMIA £ ECOLOGIA DA COOPERACAO AGRÍCOLA

grupo, representado pelos trinta e cinco cadastrados e suas famílias, constitue a principal

instância de produção.

Ao grupo pertencem as terras e os meios de produção, além do controle da maior parte do processo produtivo. Aos núcleos e famílias restam somente alguns animais, as hortas caseiras e alguns serviços.

Há consenso do grupo sobre a economia de tempo e de trabalho que a produção coletiva oferece, num contexto de criação de infra-estrutura material para a dinamização sócio-econômica.

b) os núcleos :

Os núcleos não são apenas instâncias de descentralização dos debates do grupo, mas possuem algumas propriedades e encargos próprios. Refletindo as diferentes características dos pequenos grupos de CA que os precederam, são bastante diferenciados.

O que convencionamos chamar núcleo 1 assume o maior número de atribuições coletivas. Parte destas permenecem desde sua experiência de CA no assentamento "Parolim". Atualmente podem ser listadas as tarefas seguintes : a confecção do queijo: a ordenha, o cuidado e a alimentação das vacas; a lavação semanal dos tanques, do depósito de

água e do banheiro e a aquisição de água para lavação de roupa e banhos. A maioria destas tarefas está a cargo das mulheres, e todas são rotativas. Além disto, dispõe de chiqueiro e de suínos, e há cabeças de gado cedidas ao núcleo, cujos derivados são repartidos com aqueles que não as possuem.

Já a caracterização econômica dos núcleos 2 e 3 é restrita à fabricação do queijo, e a propriedade de algum animal, organizadas em pequenos agrupamentos de famílias (em número de duas ou três). Para este tipo de interação, parecem ter importância tanto a proximidade das moradias quanto os laços de amizade. As relações interfamiliares são caracterizadas por sua informalidade, dissolvendo-se e recompondo-se com frequência.

Na fase inicial do núcleo 3, quando; nem todos dispunham de vacas leiteiras, a ordenha e distribuição eram realizadas coletivamente. A medida em que as feunílias adquirem seus animais, seja por compra ou por empréstimo do grupo, a ordenha passa a ser feita individualmente®.

A primeira vista, as tarefas coletivas ■ parecem se fundar mais no pragmatismo do que em preceitos ideológicos. Mas o argumento não explica as diferenças entre os núcleos. Não seria mais prático para alguns, desempenhar as tarefas com maior autonomia camponesa, como no núcleo 3, e para outros distribuir o máximo: de tarefas,

como no núcleo 1, economizando tempo de trabalho ? As diferenças entre os núcleos parecem ser explicadas em funçSo de certas especificidades. Desta forma, apenas o núcleo 1 teria uma organização econômica própria, em função de que seria o único grupo já anteriormente organizado sob bases coletivas, e que pôde permanecer com a maior parte de seus componentes*^.

Outra questão a ser levantada diz respeito à relação entre os espaços de solidariedade e de autonomia camponesa. 0 exemplo da dinâmica da ordenha e distribuição do leite no núcleo 3, demonstra, de certa forma, que num contexto de carência quase absoluta, fundou-se uma relação de solidariedade entre os membros do núcleo. Mas em seguida, quando a carência deixa de ser drástica, novos critérios determinaram tun retorno à forma de exploração convencional.

Dentre estes critérios, parece destacar-se a praticidade e a autonomia caimponesa®. Sob este ponto de vista, haveria uma tendência a que os fortes laços de solidariedade que nascem em situações extremas, dêem lugar, em situações de "normalidade", à um maior grau de autonomia camponesa. Contudo, a busca de formas de solidariedade não está restrita, como é o caso do grupo em foco, ao enfrentamento de situações de grande precariedade®.

c) ProducJo doméKtina

A maioria das famílias possuía animais - bovinos, suínos e aves - em regime de propriedade privada. Além de garantir o sustento cotidiano, permitiriam a geração de

uma espécie de poupança em momentos de crise. Num contexto de escassez, a auto—produçSo doméstica de animais parece ser uma fonte indispensável de múltiplos produtos^®. Por outro lado, caberia a cada família vender ou consximir segundo suas necessidades.

O sustento estaria assegurado não só pela produção doméstica de derivados animais, mas pelo retorno da venda dos excedentes de produtos como o queijo e os ovos. Apesar do baixo preço e das dificuldades implicadas, devido à abundância da oferta destes produtos na região, os mesmos são vendidos periodicamente em Dionísio Cerqueira. 0 retorno é usado preferencialmente para diversificar as opções alimentares, proporcionando alternativas alimentícias a serem compradas no mercado : "A gente não

vende pra ganhá dinheiro, a gente vende pra comprá outras comida, (. . ) "(H2).

Vale notar que, apesar da horta coletiva produzir em excesso, as famílias costumam preservar suas hortas particulares. Ao que parece, permanece a necessidade de um espaço individual para a afirmação de singularidades.

De forma g e r a l , a dinâmica econômica do grupo aponta

para a substituição progressiva das atividades familiares e nucleares para a jurisdição do grupo, processo visto positivamente como uma forma de economia do trabalho usualmente dispendido.

5.2.2 Os setores de producSn

Das diversas atividades mantidas pelo grupo, a lavoura ocupa lugar de destaque, seguida pela suinocultura, bovinocultura para corte e leite, apicultura e avicultura. Num horizonte de médio/longo prazo, a exploração de erva-mate desponta como uma alternativa economicamente promissora.

A seguir, serão focalizadas algxunas das características básicas destes diversos setores produtivos, além dos principais resultados já obtidos e problemas a serem enfrentados no futuro.

a) A-Iavoura :

As atividades de lavoura incluem as culturas temporárias de maior expressão para a preservação da dieta básica do grupo, a exemplo do milho, feijão, trigo e ar r o z .

Desde a implantação do grupo em 1988, foram obtidas três safras. No primeiro ano agrícola (88/89) foram cultivados de quarenta a cincoenta hectares, apesar das

condições desfavoráveis do terreno e da precariedade da infra-estrutura. Uma síntese dos índices de produção alcançados acusa a colheita de 1268 sacos de milho, 161 sacos de feijão e 59 sacos de arroz.

No segundo ano (89/90), com recursos creditícios do PROCERA, além da aquisição de um trator, a comunidade teria se aproximado dos cem hectares plantados, com um aumento correspondente da produção : 1400 sacos de milho, 183 sacos de arroz, 502 sacas de feijão e 239 sacos de trigo.

No terceiro ano (90/91), alcançaun um percentual que oscila entre 130 e 150 hectares mecanizados^^, além de 20 hectares de área de declive acentuado. A safra atinge 2800 sacas de milho, 200 sacas de feijão e 70 sacos de arrozes.

0 planejcunento para a próxima safra prevê uma área