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a) unidade de análise

destaque concedido ao critério de maior dinamismo justifica-se na medida em que constitui um dos pré-

requisitos de um enfoque de planejamento de estratégias mais autônomas de desenvolvimento local. Além disso, pelo fato de se constituir em experiência de vanguarda, a evolução da CA neste assentamento favoresceria a elucidação dos obstáculos e desafios mais expressivos relacionados aos padrões modelares de CA veiculados pelo MST^®. E finalmente, não há conhecimento sobre estudos de grupos coletivos de "grande porte", tais como a experiência por nós selecionada. Nos propomos, postanto, a

introduzir este tema.

A análise procura reconstituir a gênese e evolução da CA em assentamentos à luz da trajetória dos sem-terra. 0 diagnóstico do grupo, visto como exemplo de "comunidade cooperativa integral", exigiu a adoção de uma perspectiva capaz de fazer justiça à multiplicidade de fatores envolvidos, seja em termos de relações econômicas e ecológicas, ou das injunções complexas de seu sistema político-ideológico e dos estilos de vida.

Na avaliação do potencial de "desenvolvimento autônomo", destacamos os atores sócio-institucionais de maior peso, nos níveis do local e dos espaços mais abrangentes. Dada a complexidade envolvida na aplicação integral deste referencial analítico, porém, o presente

trabalho mantêm-se num horizonte exploratório. No capítulo final, sugerimos pistas para o aprofundamento da problemática, no quadro de uma política de fomento à pesquisa de estratégias de fomento ao desenvolvimento regional, sensíveis à questão ambiental.

Como "pano de fundo" buscamos finalmente contextualizar o caso "Tracutinga" no conjunto dos assentamentos em implementação no Estado, em busca de generalizações mais abrangentes.

Esperamos que os resultados alcançados possam enriquecer a discussão atual sobre as potencialidades e

limites da CA em assentamentos e estimular a intensificação do esforço de pesquisa nos próximos anos.

b) observação

Os dados foram coletados através da combinação de entrevistas semi-diretivas e questionário, além de observação direta e análise documental, buscando as vantagens da complementação destas diferentes técnicas de observação (ABRAMO, 1979).

Fizemos duas visitas ao assentamento. A primeira, de

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natureza exploratória, estendeu-se por três semanas entre os meses de outubro e setembro de 1990. A seg\inda visita foi realizada em agosto de 1991, permitindo a complementação da coleta dos dados primários através do

uso do questionário. Realizamos uma entrevista grupai com a coordenaçao do assentamento. Presenciamos também algumas manifestações do MST, na companhia de membros do assentamento.

Considereimos o uso de amostragem desnecessário, na medida em que praticamente todos os membros do grupo foram entrevistados^®. Priorizamos, entretanto, as entrevistas com adultos do sexo masculino, na medida em que dispunham de maiores informaçOes sobre a problemática em pauta, principalmente em sua dimensão econômica. Através de entrevistas com algiimas mulheres, por outro lado, buscou- se captar com mais acuidade a dimensão ligada à organização da unidade doméstica em sua relação com a dinâmica cooperativa^o.

Os depoimentos foram registrados principalmente como expressão dos sistemas de valores e das tensões presentes no assentamento. Não sentimos o problema de "imposição da problemática” , na medida em que a CA demonstrou ser um tema de grande interesse entre os assentados. Constatamos, entretanto, a presença de u m discurso bastante padronizado no grupo, ao que tudo indica, interessado em ocultar as tensões e descontentamentos. Nas entrevistas buscamos problematizar a legitimidade deste discurso, insistindo na evidência de algumas contradições, e relativizando o papel das opções feitas sobre cursos alternativos de ação. Neste

sentido, a existência de um pequeno número de famílias (três) descontentes com a dinâmica do grupo, e que acabaram por abandoné-lo, forneceram um relevante contra p o n t o .

A realidade dos demais assentamentos foi inferida através de consultas a fontes bibliográficas e documentais, além de entrevistas com funcionários de instituiçOes implicadas. Entre estas últimas, foram selecionadas : MST, INCRA/SC, EPAGRI, CEPA, e a Comissão Estadual de Reforma Agrária; e no âmbito do município : Prefeitura Municipal, Sindicato de Trabalhadores Rurais, CooperSãoMiguel, Igreja Católica e ACARESC.

Acompanhamos, finalmente, a evolução da CA em assentamentos através da leitura do Jornal dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, e do Arquivo jornalístico do INCRA/SC, que conta com os quatro jornais de maior projeção no âmbito do Estado de SC 2 1 .

c ) interpretação

Optamos por uma análise qualitativa dos dados, inspirada no enfoque sistêmico. Isto implicaria em se interpretar os sistemas sócio-culturais como essencialmente d i n â m i c o s ^ s ^ baseados na interdependência entre interações sociais e regras (se reconhece a presença de espaços sociais não-normatizados); na presença de

margens de coerção, escolha e contingência (percepção da dinâmica social de um ponto de vista não determinista, nem voluntarista); e no caráter simbólico desses intercâmbios, onde a tensão (representada por conflitos, insatisfações e comportamentos aberrantes) surge como principal agente dinamizador e inovador das organizações sócio-culturais (BUCKLEY, 1976). As interações entre sociedade e o meio- cunbiente natural, incluindo-se aspectos não redutíveis à quantificação, ligados à qualidade da "experiência hxjmana", são também c o n s i d e r a d a s ^ s (UNESCO, 1982 : 22-31).

Sobre o debate acerca dos estilos alternativos de desenvolvimento utilizamos SACHS (1986a e 1986b) e UNESCO (1981). No caso da avaliação do potencial de "desenvolvimento local autônomo", adotamos a proposta de G O D A ^ _ ^ T AL. (1985).

I

As questões genéricas levantadas pelo uso do conceito de cooperativismo, foram estruturadas principalmente através das contribuições de BENECKE (1980 e 1982), DESROCHE (1971) e INFIELD (1976). Para a focalização de aspectos mais específicos da CA em assentamentos, priorizamos os trabalhos de ESTERCI (1984) e ZIMMERMANN

(1989), que elucidam de forma consistente questões relativas à preservação da "autonomia Ccunponesa" no processo de coletivização, bem como a relação entre graus de homogeneidade e associativismo.

A consideração da experiência de cooperação em foco em sua multidimensionalidade, e em suas interações institucionais e ecológicas é melhor visualizada no diagrama que se segue :

relacÕRs com instituições governamentais, da sociedade civil. e . do. mexiCAda