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A doença do pus ou mal murcho causada por Ralstonia solanacearum Yabuuchi et al. 1996, referida na bibliografia anglo-saxónica por “brown rot” ou “bacterial wilt”, poderá evidenciar sintomas muito distintos que são o reflexo da vasta gama de hospedeiros que possui, bem como das condições edafoclimáticas prevalecentes.

Os sintomas descritos na literatura (EPPO, 2004; União Europeia, 2006), quando a doença se manifesta em plantas da família Solanaceae, parecem possuir grande semelhança, e são comuns à batateira e ao tomateiro, produzindo enormes prejuízos, por se traduzirem numa elevada morbilidade e mortalidade das plantas afectadas, imediatamente antes da entrada em plena produção.

Em plantas de batateira, na fase inicial da infecção no campo, verifica-se uma murchidão das folhas na parte superior da planta, especialmente quando as temperaturas são elevadas e durante o dia, recuperando a planta durante a noite. Nesta fase, as folhas mantêm a coloração mas, posteriormente, desenvolve-se uma clorose que evolui para necrose. Pode ocorrer igualmente eventual epinastia de algumas folhas (União Europeia, 2006).

A murchidão de uma parte ou de toda a planta torna-se rapidamente irreversível, resultando na sua morte. Geralmente, os tecidos vasculares dos caules das plantas infectadas mostram- se necrosados e apresentam um exsudado bacteriano de cor esbranquiçada, que emerge da superfície quando se procede ao seu corte transversal. Esta expressão da presença de doença não deve, contudo, ser considerada universal e não ocorre frequentemente nas condições climáticas existentes em Portugal (União Europeia, 2006).

A intensidade dos sintomas da doença em tubérculos de batateira pode ser mutio variável. O corte longitudinal dos tubérculos intersectando a zona do hilo (extremidade do estolho) permite visualizar, numa fase inicial de infecção, uma coloração amarela vítrea ou castanha clara junto do anel vascular, pelo qual emerge espontaneamente, após alguns minutos, um exsudado bacteriano de cor creme clara. Mais tarde, a descoloração vascular assume um tom castanho mais nítido e a necrose pode alastrar ao parênquima. Nas fases mais avançadas, a infecção progride a partir do hilo e dos “olhos”, nos quais se pode manifestar exsudação bacteriana, para o exterior do tubérculo, que origina a adesão de partículas de solo. Poderão apresentar-se lesões de cor vermelha acastanhada na epiderme, em ligeira depressão, por colapso interno dos tecidos vasculares. Nas fases avançadas da doença, é comum o desenvolvimento de podridões moles secundárias causadas por fungos ou bactérias (EPPO, 2004).

Os sintomas referidos podem não ser tão evidentes ou estar mesmo ausentes, caso se trate de uma infecção latente; neste caso, será recomendável a manutenção dos tubérculos em estufa de incubação a 27+2ºC, durante alguns dias, de modo a observar a possível

Em plantas de tomateiro, os primeiros sintomas visíveis são o aspecto flácido das folhas mais jovens. Na presença de condições ambientais favoráveis à doença (temperatura do solo de 25°C, saturação em água), poderá verificar-se, num curto período de tempo, a murchidão de apenas um lado dos folíolos da folha ou de toda a planta, a qual progride até ao seu colapso total. Em condições menos favoráveis (temperatura do solo inferior a 21°C), observa-se uma menor murchidão, mas pode desenvolver-se no caule um grande número de raízes adventícias. Pode também observar-se externamente no caule manchas hidrópicas alongadas que evidenciam a necrose interna do sistema vascular. O corte transversal do caule mostra geralmente a sua descoloração e a possível presença de um exsudado bacteriano de cor esbranquiçada (União Europeia, 2006).

As plantas de Solanum dulcamara e S. nigrum, bem como as de outras espécies espontâneas, em condições naturais, não apresentam frequentemente, sintomas típicos de doença, nomeadamente murchidão, a menos que as temperaturas do solo ultrapassem os 25°C ou que os níveis de inóculo sejam extremamente elevados (União Europeia, 2006). Em Portugal foram observados sintomas de doença em S. dulcamara apenas em presença de concentrações do patogéneo, em águas superficiais, na ordem dos 107 ufc.L-1. Quando

efectivamente ocorre a murchidão, os sintomas são semelhantes aos descritos para a batateira ou tomateiro. As plantas de S. dulcamara que não apresentam murchidão, e com os caules e raízes imersos em água, poderão apresentar uma coloração castanha clara dos tecidos vasculares da base ou de outras partes do caule que se encontrem submersas. Mesmo na ausência de sintomas de murchidão, após um corte transversal dos tecidos vasculares, pode manifestar-se a presença de exsudado bacteriano (L. Cruz, não publicado). A Figura 1.1 mostra sintomas característicos da doença do pus ou mal murcho em plantas e tubérculos de batateira e em plantas e frutos de tomateiro.

A variabilidade dos sintomas que a doença apresenta nas várias espécies de bananeira e a vasta amplitude geográfica em que ocorre, levaram, inclusive, a que fossem adoptadas diferentes designações para a doença (“Moko", “Bugtock”, “Blood Disease Bacterium”) e que a origem dos sintomas causados fosse atribuída a agentes fitopatogénicos distintos (Fegan, 2005).

O crescente número de novas espécies vegetais, susceptíveis à doença, pertencentes a famílias botânicas distintas e a variabilidade intra-específica do seu agente causal poderá tornar mais difícil enumerar sintomas comuns da doença para as diferentes espécies vegetais. Talvez por isso, o termo “bacterial wilt” (mal murcho) seja cada vez mais usado, e o termo “brown rot”, embora correntemente utilizado, seja frequentemente associado apenas aos sintomas evidenciados por tubérculos de batateira.

A

B

C

D E

F

G

H

I

Figura 1.1 – Sintomas da doença do pus ou mal murcho causada por Ralstonia solanacearum em plantas de batateira e tomateiro. Sintomas em plantas e frutos de tomateiro (A - F) e plantas e tubérculos de batateira (G - I).