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De acordo com Garry Saddler (2005), o controlo da doença do pus ou mal murcho continua a ser um objectivo pouco tangível devido à falta de conhecimentos sobre a diversidade infraespecífica, meios de disseminação do agente causal e mecanismo de evolução da doença. Por outro lado, a plasticidade ecológica de R. solanacearum é elevada, não existindo assim meios de controlo com carácter universal. As zonas agro-climáticas revelaram-se como condicionantes da eficiência dos sistemas de protecção das culturas implementados e o seu estabelecimento coloca Portugal, e os restantes países da área mediterrânica, num grupo distinto dos países da Europa Ocidental, os quais têm realizado e coordenado mais estudos sobre o controlo e erradicação de R. solanacearum (Bouma, 2005).

Ainda que o melhoramento genético tenha produzido algum sucesso em culturas como o tabaco e o amendoim, no caso de espécies solanáceas a resistência parece estar associada a condicionalismos regionais (estirpe, clima, entre outros), pelo que a utilização de estratégias

Sinal planta 3OH-PAM Multiplicação

Operão biosíntese EPS M. interna M. externa T2SS T3SS

Cluster’ hrp

holísticas de produção integrada, incluindo a utilização de variedades com algum grau de resistência/tolerância, pode permitir um controlo mais aceitável da doença (Gildemacher et al., 2006).

Constituirá assim um objectivo mais realista proceder à redução do impacto da doença num determinado sistema de produção agrícola, utilizando os meios de protecção disponíveis e mais apropriados, passando obrigatoriamente pela utilização de material de propagação isento, utilizando rotações adequadas e medidas culturais e incluindo ainda normas de higiene e de sensibilização dos trabalhadores.

Breukers et al. (2006) criaram um modelo bio-económico que permite proceder, a priori, a uma avaliação de custo-eficiência dos meios de protecção de R. solanacearum implementadas na Holanda. A sua aplicação aos sistemas agrícolas holandeses permitiu concluir que, apesar de onerosos, os seus custos foram superados pelos resultados obtidos pela exportação de batata-semente, uma vez que foram criadas condições por parte das autoridades fitossanitárias que originaram confiança nos produtores e no consumidor final.

1.7.1⏐Profilaxia

Na Europa, a endemicidade ou estabelecimento de R. solanacearum biovar 2, subfenótipo A, raça 3, e a dificuldade em proceder ao seu controlo, levou ao estudo do risco associado à introdução e dispersão deste organismo em zonas de produção de solanáceas ainda não afectadas (Rafoss, 2003; McHugh et al., 2006).

Os outros aspectos envolvidos na prevenção da doença, em zonas ainda não afectadas, encontram-se contemplados, em parte, na legislação fitossanitária da UE, passando por medidas restringentes de higiene, com recurso ao uso de solo, batata-semente e água de rega isentos de R. solanacearum (López & Biosca, 2005).

No que diz respeito ao solo, as principais limitações relativamente a este objectivo são, sem dúvida, a heterogeneidade dos solos, a distribuição irregular de R. solanacearum, a falta de meios de amostragem adequados e, por fim, a existência de uma flora muito rica e de inibidores que condicionam os resultados obtidos pelos meios de diagnóstico existentes. De qualquer modo, Kinyua et al. (2005) referem como princípios importantes a separação geográfica das áreas destinadas à produção de batata-semente, bem como a utilização de parcelas sem história de produção de culturas solanáceas e situadas em regiões que, de acordo com a orografia regional, não recebam escorrimentos de águas superficiais.

Relativamente à batata-semente, e uma vez que a existência de infecções latentes parece ser a principal responsável pela dispersão da doença, é imperiosa a sua produção em regiões isentas, com áreas substanciais, que impeçam o fluxo de maquinaria e de mão-de-obra provenientes de outras potencialmente afectadas. O controlo de todos os lotes de batata- semente produzidos, através de ensaios laboratoriais sobre amostras estatisticamente

representativas, parece ser a forma mais importante de controlo da doença. Mienie & Theron (2005) verificaram que a ausência deste rastreio, na África do Sul, teria conduzido a uma percentagem de lotes de batata-semente infectados de 1,5%, o que seria suficiente para dispersar o patogéneo em regiões até aí isentas. Em Portugal, o número de lotes de batata- semente produzidos em 1999 e infectados foi de 6,25%, o que potencialmente poderá ter conduzido a vários casos positivos de batata-consumo nos três anos seguintes (Capítulo 3). O uso de águas superficiais contaminadas como veículo de transmissão de R. solanacearum tem vindo a ser subestimado pelos agricultores e pelas autoridades fitossanitárias de alguns países. Sabe-se presentemente que, nalguns casos, a dispersão primária do patogéneo em países da Europa resultou da contaminação das águas superficiais e levou ao posterior estabelecimento de R. solanacearum em plantas ripícolas de S. dulcamara (Elphinstone et al., 1998). A monitorização é assim essencial e a fidedignidade dos métodos de diagnóstico empregues permite estabelecer, com confiança, a permissão ou inibição da sua utilização entre a Primavera e o Outono. Fora deste período, não é possível concluir acerca da presença do patogéneo em águas superficiais sendo, no entanto, mais seguro interditar a sua utilização, caso nos meses de Outono se tenham obtido ainda resultados positivos. A este respeito a legislação da UE parece, contudo, ser omissa, permitindo o seu uso na rega de culturas não-solanáceas, as quais poderão permitir a sobrevivência deste organismo no solo ou em hospedeiros alternativos (União Europeia, 2006).

Recentemente, a OEPP (2006) publicou os procedimentos de higiene e desinfecção a ter em conta na fileira de produção de batata, especificamente destinados aos organismos de quarentena Clavibacter michiganensis subsp. sepedonicus e R. solanacearum. Nestes refere- se a importância das medidas de higiene que deverão ser usadas em rotina, de modo a impedir o estabelecimento e disseminação destes organismos, nomeadamente: utilizando batata-semente proveniente de zonas isentas, procedendo à separação física entre os locais de plantação e manuseamento de batata-semente e de batata destinada ao consumo, acondicionando a batata-semente em contentores novos ou desinfectados, evitando a divisão e retirada de brolhos dos tubérculos de batata-semente, e utilizando em rotina outras medidas de higiene consideradas apropriadas. A desinfecção é aconselhada de forma aditiva e são referidos os condicionalismos que podem afectar a sua eficácia. A desinfecção é considerada compulsiva na sequência de surtos epidémicos, a fim de evitar a sua disseminação, devendo ser dada particular atenção à desinfecção da maquinaria e dos armazéns. Finalmente, dão-se exemplos de desinfectantes, de naturezas diversas, utilizados em diferentes países membros da OEPP, com eficácia no controlo de R. solanacearum e de C. michiganensis subsp. sepedonicus (podridão anelar). Na Tabela 1.1 descrevem-se apenas aqueles com acção simultânea sobre os dois organismos. De referir que estes produtos não se encontram homologados, para os fins descritos, em Portugal.

A desinfecção da água de rega, pela utilização combinada de radiação UV e de cloro, parece também ser eficiente, impedindo a contaminação do solo e a dispersão de R. solanacearum (Cariglia et al., 2006).

Tabela 1.1 – Exemplos de produtos utilizados na desinfecção de alfaias agrícolas e locais de armazenamento de tubérculos de batateira (adaptado de EPPO, 2006).

Concentrações de aplicação Produto Nome comercial

Pulv. Neb. Imers. Corrosivo

Eficácia na presença de MO Eficácia contra podridão anelar Eficácia contra mal murcho Base aldeído Horti-Desin 1:400 na 1:400 não nd √ √

Base aldeído Virakil 1% 1% 1% nd √ √ √

Amónia 24% - 10% - - nd nd √ √

Ac. orgânicos Menno Florades 2:100 - 2:100 nd √ √ √ Base Peróxido

de oxigénio Persteril 1.5% - - nd nd √ √

Hidróxido de

sódio - 3 – 5% - - nd nd √ √

na – não aplicável; nd – não determinado; Pulv – pulverização; Neb – nebulização; Imers – Imersão; MO – matéria orgânica.