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A educação científica no desenvolvimento profissional

2.3. Educação em ciências no jardim de infância

2.3.3. A educação científica no desenvolvimento profissional

As elevadas expetativas em relação a um ensino de qualidade capaz de formar jovens ativos requerem uma elevada qualificação por parte dos professores que, para além

de altamente qualificados, têm de estar motivados, não só no início da sua carreira, mas também ao longo das várias fases do seu desenvolvimento profissional.

(Day, 2001)

Por desenvolvimento profissional se entende, como a evolução positiva do desempenho do docente. Desde que termina a sua formação inicial, o educador trás consigo crenças, valores, influências que fazem parte da sua personalidade como pessoa e que condicionam a sua forma de estar na vida e na profissão de educador. O educador deve ser antes de mais um crítico, tendo a capacidade de se ir adaptando às necessidades das crianças.

Para Hargreaves e Fullan (1992) o conceito de desenvolvimento profissional aponta em três direções que, não se configurando como contraditórias, orientam as análises através de dinâmicas diferenciadas. Uma abordagem focaliza-se no: 1) desenvolvimento psicológico dos educadores/professores e que se refere ao processo de desenvolvimento individual que implica um trabalho do indivíduo sobre si mesmo, sobre as suas representações, os seus comportamentos e as suas ações; 2) desenvolvimento profissional do professor como desenvolvimento de conhecimentos e competências, a aquisição de técnicas e estratégias de ensino e completo domínio dos

conteúdos a ensinar; 3) desenvolvimento profissional na relação com o contexto apresentando-o como um processo vivencial, a partir da intervenção educativa ou da investigação-ação, valorizando portanto a ecologia do desenvolvimento do professor.

Existem quatro etapas, equiparadas a quatro estádios de desenvolvimento dos educadores na sua formação como profissionais de educação, designadas por Katz, citado por Oliveira-Formosinho (2001), sendo elas as seguintes: Estádio de Sobrevivência – ocorre no primeiro ano de ensino e a preocupação central dos educadores é a de saber se vai sobreviver. Esta primeira experiência com a realidade, provoca uma ansiedade nos educadores e pode desencadear, sentimentos de falta de preparação para a tarefa. As necessidades de formação nesta fase são as de suporte, compreensão, encorajamento e guia, pois o educador necessita de apoio direto na resolução de situações específicas vividas localmente, por isso é necessário que exista alguém disponível para o ajudar aqui e agora nas situações problemáticas. Estádio de Consolidação – ocorre após o fim do primeiro ano, pois o educador já se vê como alguém capaz de sobreviver às crises imediatas. Então é necessário, consolidar os conhecimentos já adquiridos e identificar quais as tarefas e as competências que necessita trabalhar em seguida. O foco de preocupação, passa agora a ser situações muito específicas. As necessidades de formação continuam focadas no contexto, por isso as respostas devem ser localmente providenciadas. Os educadores podem começar a identificar necessidades específicas de informação e, devem aprender a utilizar outros recursos de informação além dos colegas. Estádio de Renovação – ocorre durante o terceiro ou o quarto ano de ensino, mesmo que tenham tido sucesso nas suas experiências, os educadores começam a sentir-se cansados de fazer a mesma coisa e questionam-se sobre novidades no âmbito da educação de infância necessitando deste modo de renovação, porque o empenho dos educadores vai contribuir para o valor educacional das atividades. As necessidades de formação levam o educador para fora do seu contexto, o que pode implicar tornar-se membro de associações profissionais, idas a congressos ou visitar projetos experimentais. Nesta fase existe uma segurança profissional o que importa ao educador é debater com outros as aquisições alcançadas e os seus significados de modo a compreender as opções alternativas. Estádio de Maturidade – ocorre para alguns educadores em três anos,outros em cinco ou mais anos e este já se vê a si próprio como educador com um nível alto de confiança na sua competência. Nesta fase questiona a filosofia educacional, tal como qual a natureza do processo de aprendizagem ou se a escola contribui para mudar a sociedade. As necessidades de

formação satisfazem-se através da participação em conferências, seminários, e em alguns casos até mesmo em cursos de pós-graduação.

A formação do educador, não pode depender apenas da sua formação inicial, o educador como pessoa, deve continuar a promover as suas aprendizagens e a promover a sua formação. A motivação pessoal e profissional, depende apenas do próprio indivíduo, cada um deve ser responsável por evoluir nos seus conhecimentos e por ter interesse em ir sempre mais além. É desta forma, que o ser humano com a sua inteligência se consegue adaptar ao meio, à sociedade, áquilo que o rodeia e se consegue integrar num estilo de vida onde a educação e a aprendizagem são essenciais. Por este motivo, o educador, agente de transmissão de conhecimentos junto das crianças, deve ser um facilitador nesta aquisição permanente de evoluir e de ter interesse numa formação contínua. “É importante que os professores construam comunidades de aprendizagem, criem a sociedade do conhecimento e desenvolvam as capacidades que permitem a inovação, a flexibilidade e o empenhamento na mudança”. Hargreaves (2003, p. 23)

A progressão profissional dos educadores de infância, obriga-os a frequentarem ações de formação, que nem sempre estão de acordo com as suas necessidades e com temas de interesse dos mesmos. Os professores não necessitam de estar dentro de uma sala para evoluírem nos seus conhecimentos. (Almiro, 1999). Precisam sim, de oportunidades de aprender e evoluir, não só porque é importante para eles, informalmente, mas porque é importante adaptarem-se às mudanças da sociedade e consequentemente a ajudarem na aquisição de conhecimentos e de aprendizagens significativas por parte das crianças.

Desta forma e, como refere Day (2001), este considera o desenvolvimento profissional do professor, como um processo que engloba todas as suas experiências de aprendizagem (naturais, planeadas e conscientes) que lhe trazem benefício direto, ou indireto e que contribuem para a qualidade do seu desempenho junto dos alunos. O professor, individualmente ou com outras pessoas (colegas, educadores, investigadores), revê, renova e amplia os seus compromissos quanto aos propósitos do ensino e adquire e desenvolve, de forma crítica, o conhecimento, as técnicas e a inteligência (cognitiva e afetiva) essenciais a uma prática profissional de qualidade com os alunos, no contexto escolar.

Desde a formação inicial até ao final da sua carreira docente, o educador vai evoluindo, vai sofrendo alterações pessoais nas relações que estabelece e nos

conhecimentos que vão adquirindo. Os professores têm vários níveis de desempenho conforme os seus anos de serviço Brown (1975), citado por Simões (1996), no início da carreira o que os preocupa é a sua sobrevivência profissional, estão mais centrados em si, nas competências individuais e muito “presos” ao que aprenderam formalmente, preocupam-se com o que têm de mostrar que sabem. De acordo com os anos de serviço e com a experiência que vão adquirindo voltam-se mais para os alunos e para as suas necessidades de aprendizagem. Ficam mais confiantes, mais seguros e ultrapassam com mais facilidade os obstáculos que surgem no ensino e na sua forma de estar como profissionais de educação.

Contudo, a diversidade concetual parece fazer do desenvolvimento profissional o grande desafio da educação. Como referem Hargreaves e Fullan (1992), da concetualização de desenvolvimento profissional emergem perspetivas diversas que resultam de entendimentos diferenciados, em torno da ideia de prover oportunidades de aprender e de ensinar. (p.1-3).

Assume-se, assim, a necessidade de cultivar uma linguagem, entre os profissionais, que se constitua como um elo agregador e consequentemente um traço da sua identidade profissional. Além disso, a segurança pedagógica, permite aos profissionais uma maior abertura que favorece a indagação e as experiências de pensamento, que convidam à mudança e inovação educativa. (Oliveira-Formosinho e Formosinho, 2008, p.9).

O educador não pode e não deve estar isolado, ele necessita frequentemente de trocar com outros profissionais, opiniões e pontos de vista que irão enriquecer a sua forma de estar no ensino e, para o ensino. Só desta forma, poderá evoluir profissionalmente, pois terá a oportunidade de conhecer outros pontos de vista e formas de trabalhar, e poderá enriquecer a sua prática pedagógica e o seu trabalho como promotor de aprendizagens.