• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO III – A MODERNIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E AS

3.1. POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS EM MINAS GERAIS

3.1.1. A educação pública no governo Eduardo Azeredo (1995-1998)

Nesse governo, concentraram-se os programas e estratégias do Projeto Pró- Qualidade, com financiamento do Banco Mundial, iniciados no governo anterior. Ao analisar o quadro geral dessas medidas, percebeu-se que há elevada concentração de programas e ações implementadas, principalmente, nos dois últimos anos da referida gestão (1997-1998). Tratava-se de um projeto ambicioso que pretendeu atingir toda a rede estadual de ensino. O programa dessa política educacional baseou-se em três objetivos principais:

1°) Fornecer às escolas estaduais as condições essenciais para exercício da autonomia pedagógica, administrativa e financeira.

2°) Promover, através de ações simultâneas e coordenadas de desenvolvimento curricular, treinamento e aquisição de materiais de ensino-aprendizagem, a melhoria da qualidade de ensino.

3°) Reduzir significativamente as taxas de repetência, sobretudo nas quatro primeiras séries do Ensino Fundamental.

O sistema de ensino de Minas Gerais iniciou esse período com apenas 40% dos alunos, conseguindo chegar à 4ª série com trajetória normal, sem reprovação. Os dados do Censo Educacional da Educação Básica, apresentados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Educacionais – INEP, indicavam que Minas Gerais apresentou, no período de 1995-1996, a taxa de 26% de repetência e a taxa de 37,4% de distorção idade-série (BRASIL, 2001a).

Mattos (2004) mostrou que, no entanto, era importante considerar também que a maioria dessas medidas se destinava à melhoria da organização das questões pedagógicas e, conseqüentemente, ao desempenho dos estudantes, à capacitação de professores e servidores das escolas e às modalidades de recuperação de alunos, tanto do ensino das séries regulares quanto dos que apresentam defasagem idade/série.

Entre as principais medidas, a SEE/MG instituiu o regime de ciclos com progressão continuada no Ensino Fundamental, organizado em dois ciclos, obrigatórios em toda a rede estadual, a partir de 1998. Essas medidas visavam

reverter as taxas de repetência e de distorção idade-série que ainda persistiam e melhorar a competitividade entre as unidades escolares, através da divulgação dos resultados do processo de avaliação, instaurado em toda a rede estadual de ensino.

Em linhas gerais, o Projeto Qualidade na Educação Básica de Minas Gerais – Pró-Qualidade – apresentava cinco subprojetos, assim denominados:

a) Melhoria da infra-estrutura e gestão da escola. b) Fortalecimento da gestão do sistema educacional. c) Desenvolvimento do ensino.

d) Materiais de ensino-aprendizagem. e) Reorganização do atendimento escolar.

Dessa forma, foram implementadas várias estratégias com o objetivo de melhorar o fluxo dos estudantes no seu percurso escolar, através de recuperação da aprendizagem nas séries regulares e de propostas de atendimento aos alunos que apresentassem defasagem idade/série.

A implantação do regime de organização do tempo escolar em ciclos com progressão continuada, organizada com ações específicas que possibilitassem maior autonomia para que as escolas gerenciassem o processo ensino-aprendizagem, causou grande impacto às escolas estaduais (MATTOS, 2004). No entanto, o que diferenciava essa proposta de reorganização do ensino em ciclos com progressão continuada era o sistema de avaliação processual, entendido como um processo avaliativo desenvolvido ao longo do percurso escolar. Dessa forma, ao final de cada ciclo, verificava-se o nível de aprendizagem do aluno, sugerindo estudos complementares aos que não apresentassem desempenho satisfatório. Por sua vez, esta proposta de avaliação escolar foi recebida como uma medida negativa, sofrendo resistência por parte dos professores (MINAS GERAIS, 1998).

Além da capacitação de professores, que gerou o Programa de Capacitação de Professores (PROCAP), a SEE/MG preocupou-se com projetos de gerenciamento escolar, investindo na capacitação dos diretores de escolas, através do Projeto de Capacitação de Dirigentes das Escolas Públicas de Minas Gerais (PROCAD), subsidiando-os nas questões de gerenciamento escolar. A programação desse projeto direcionava as discussões para a definição do papel do diretor na liderança do processo de planejamento, desenvolvimento e avaliação das ações definidas pela instituição escolar. A proposta contemplava quatro eixos temáticos: os pressupostos e fundamentos para o gerenciamento na busca da qualidade em educação; a escola

pública de qualidade, enquanto construção coletiva através do plano de desenvolvimento da escola; a escola pública e a gestão do pedagógico; e a gestão dos serviços, do patrimônio e das áreas administrativa e financeira.

Embora nesse período houvesse possibilidade de as escolas solicitarem a realização de cursos de capacitação, além dos projetos institucionais, é importante ressaltar que houve uma tendência na realização de projetos desenvolvidos através das Superintendências Regionais de Ensino, ou seja, a solicitação de cursos e treinamentos para professores e demais servidores foi reduzida.

Uma análise geral dos projetos e estratégias, implantados através da política de autonomia escolar, consubstanciada no Projeto Pró-Qualidade, permite ver que, além da capacitação de professores, a Secretaria investiu na capacitação dos dirigentes das escolas.

A programação do PROCAD direcionava as discussões para a definição do papel do diretor na liderança do processo de planejamento, desenvolvimento e avaliação das ações definidas pela instituição escolar. A proposta contemplava quatro eixos temáticos: os pressupostos e fundamentos para o gerenciamento na busca da qualidade em educação; a escola pública de qualidade, enquanto construção coletiva do plano de desenvolvimento da escola; a escola pública e a gestão pedagógica; e a escola dos serviços, do patrimônio e das áreas financeira e administrativa.

A análise geral da política de autonomia escolar implementada nessa gestão, consubstanciada no Projeto Qualidade na Educação Básica de Minas Gerais – Pró- Qualidade, sem considerar as variáveis de ordem administrativa, financeira e pedagógica que possam ter interferido na implementação das estratégias, permite evidenciar ações decorrentes dos processos de descentralização e de desconcentração e a exigência das escolas de explicitarem publicamente os resultados obtidos através do processo de avaliação escolar, bem como os porcentuais de aprovação, de reprovação e taxas de distorção idade-série. Essas solicitações se deram através de recomendações de legislação de documentos da SEE/MG.

Em relação à organização escolar, o sistema de ensino da rede estadual de Minas Gerais terminou essa gestão mantendo a obrigatoriedade da adoção dos ciclos no Ensino Fundamental. No entanto, comparativamente os dados educacionais apresentam as seguintes alterações positivas:

• Taxa de aprovação de 69,1% no período de 1995-1996 passa para 79,3% no período de 1999-2000.

• Taxa de repetência de 26% no período de 1995-1996 passa para 14,4% no período de 1999-2000 (BRASIL, 2001a).

O modelo de gestão da SEE/MG que vigorou no período de governo de Eduardo Azeredo seguiu o que foi determinado pela Lei no 11.721, de 29 de dezembro de 1994, que criou e alterou vários cargos dentro do quadro de pessoal da educação. Além disso, segundo Duarte e Oliveira (1997), as resoluções 7.762, 7.763 e 7.764, publicadas em 1995, articularam as prioridades fixadas pelo Pró-Qualidade:

a) À medida que modificaram os critérios de composição do quadro escolar e os critérios de enturmação provocando mudanças na forma como o trabalho era organizado na escola, resultando em novos critérios de qualificação e produtividade docente.

b) Quanto à valorização do magistério, em obediência ao princípio constitucional, durante anos a SEE-MG contou com contratos temporários para cobrir a carga letiva, em vez de adotar um plano de carreira, com um piso salarial digno, com progressões que articulam tempo de serviço, dedicação e um mecanismo de qualificação constante, discutido com os trabalhadores e implantado a partir da realização de concursos públicos. c) Para se proceder aos ajustes administrativos que resultaram na dispensa de

servidores, o órgão estadual de administração do sistema de ensino fundamentou-se em duas diretrizes: critérios de composição do quadro de pessoal por unidade escolar, o que definiu o porcentual numérico a ser cortado e a avaliação de desempenho nos termos da instrução normativa no 3, publicada no Jornal Minas Gerais, de 21 de janeiro de 1995, e efetuada nas escolas no decorrer do ano. Declarações do Secretário-Adjunto de Educação, publicadas na imprensa estadual, consideravam que os servidores dispensados eram aqueles que apresentaram desempenho de "sofrível a ruim".

d) Implementou uma metodologia de atuação em que coube às unidades escolares deliberar sobre quem deve perder seus empregos. A SEE/MG tratou de dados estatísticos, fixando diretrizes para um ajuste administrativo, responsabilizando as direções de unidade e os órgãos colegiados pela tarefa de demitir pessoas frente a frente.