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CAPÍTULO III – A MODERNIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E AS

3.1. POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS EM MINAS GERAIS

3.1.2. A educação pública no governo Itamar Franco (1999-2002)

A ênfase desse período foi a crítica às propostas de modernização do sistema educacional do governo anterior, ao domínio das orientações vindas do MEC, no Brasil e definido pelo FMI, Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento, em nível internacional.

Nesse contexto, a SEE/MG delegou às escolas a competência para definir a forma de organização do Ensino Fundamental, dedicando o ano de 1999 aos estudos e debates com a comunidade escolar.

Ao final desse processo de debates e fóruns, nos níveis local, regional e estadual, a maioria das escolas estaduais optou pela organização do Ensino Fundamental em ciclos, pois, dessa forma, estariam em consonância com a orientação do governo e poderiam obter verbas com a execução de alguns projetos.

A análise de alguns aspectos da nova proposta remete-nos às discussões realizadas durante o período de julho a setembro de 1999, com a realização dos Fóruns sobre a Organização do Tempo Escolar e Fórum Mineiro de Educação, em níveis estadual, regional e local.

Após diagnóstico realizado nesse período, os dados do Censo Escolar de 1999 apontavam que a rede estadual de Minas Gerais atendia aproximadamente 3 milhões de alunos na Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, matriculados em 3.900 escolas, apesar da municipalização do Ensino Fundamental, crescente nos últimos anos (FÉRES, 1999).

Tendo em vista esses resultados e os relatórios dos fóruns, a SEE/MG apresentou as diretrizes para a área educacional consolidadas no projeto intitulado “Escola Sagarana: Educação para a vida com dignidade e esperança”. Em linhas gerais, o projeto apresenta os parâmetros básicos da Política Estadual de Educação, prevendo ações voltadas para a correção dos rumos e a adoção de medidas indispensáveis ao reajustamento da rede estadual de ensino.

Em relação ao conteúdo do documento, o projeto, tomando como base o lema “Educação para a vida com dignidade e esperança”, reafirmou o compromisso do governo de garantir uma escola democrática, autônoma e para todos, consolidando-a através dos seguintes fatores:

a) Garantia do acesso e da permanência do estudante na escola.

c) Autonomia e gestão democrática da escola. d) Valorização dos profissionais da educação. e) Relação da escola com a comunidade.

O Projeto Escola Sagarana16 foi organizado em 27 programas. A SEE/MG definiu para cada um dos programas, objetivos, metas, estratégias, ações, nível de abrangência e previsão de início/término. Entre os programas que compunham essa política educacional, destacaram-se dois deles: o Programa de Fortalecimento do Ensino Fundamental e o Programa de Educação Continuada. Especificamente, esses programas apresentavam como objetivos principais garantir a universalização do Ensino Fundamental, assegurar a melhoria do ensino, promover a correção do fluxo escolar e desenvolver novas metodologias, ampliando as oportunidades educacionais (FÉRES, 1999).

Numa análise geral dessa política educacional, verificou-se que o processo de implementação dos programas contou com a participação da equipe da SEE/MG, da comunidade escolar e dos colegiados de escolas e que, aos poucos, as ações decorrentes de tais programas foram acompanhadas e avaliadas pelas equipes das Superintendências Regionais de Ensino.

No que se refere ao projeto político-pedagógico que buscava garantir educação de qualidade, o documento reafirmou que um “projeto político-pedagógico de qualidade é aquele em que todos têm a oportunidade de participar do processo educacional, garantindo-se a eqüidade" (FÉRES, 1999, p. 38).

Mattos (2004) mostrou que, sem explicitar ações práticas, o documento destacou alguns pressupostos necessários ao entendimento das diferenças individuais dos alunos; à revisão de ações curriculares, com ênfase na interdisciplinaridade, e ao processo de avaliação escolar, enquanto processo com progressão continuada.

Segundo a SEE/MG, os resultados apontam que 60% das escolas estaduais optaram pela organização do Ensino Fundamental em ciclos, 33% em regime de

16 A SAGARANA é o termo que designa o projeto da política educacional referente ao período de

1999-2002 no Estado de Minas Gerais. O termo SAGARANA foi criado por João Guimarães Rosa; é um “hibridismo” cunhado pelo mais mineiro e universalista dos escritores brasileiros para denominar seu primeiro livro, lançado em 1946; resulta da união do radical germânico SAGA – que significa narrativa épica em prosa, ou história rica em acontecimentos marcantes ou heróicos – com o elemento RANA, que é de origem tupi e representa a de “à maneira de“, “típico ou próprio de”; além de uma inovação lingüística, fica a sugestão de histórias em que o elemento local, regionalista, associa-se a uma dimensão maior de interesse universal.

seriação, 3% em seriação e ciclos escolares e 4% das escolas não haviam se definido (FÉRES, 1999).

A adoção dos ciclos em todo o Estado, na gestão anterior, havia causado inúmeros protestos por parte dos professores, devido à falta de disciplina dos alunos, ocasionada pela ausência de controle utilizado no regime de seriação, através das notas e reprovação. Essa foi uma das justificativas apresentadas pelo Secretário de Educação17 em relação à não-obrigatoriedade da organização escolar em ciclos.

Nessa perspectiva, a legislação orientava que o regime de ciclos deveria se estruturar com base em outro paradigma: organizar o tempo e o espaço da escola fundamental no mesmo ritmo e nos ciclos do desenvolvimento humano: infância, pré -adolescência e adolescência, ou seja, a proposta previa a distribuição das atividades escolares em três ciclos:

• Ciclo Básico com crianças entre os 7 e 9 anos de idade, os três primeiros anos de escolarização.

• Ciclo Intermediário para crianças entre 10 e 12 anos, equivalente ao quarto, quinto e sexto anos de escolarização.

• Ciclo Avançado para adolescentes entre 13 e 14 anos, formado pelos dois últimos anos do Ensino Fundamental.

A análise do Relatório da Gestão 1999/2002, referindo-se às Ações da SEE/MG de Minas Gerais, possibilitou compreender que, no que se refere à gestão da educação, esse período caracterizou-se por uma gestão que apresentava uma estrutura administrativa e pedagógica de concepção e características eminentemente técnicas. Segundo avaliação da SEE/MG, os princípios da Escola Sagarana garantidos nos programas e ações com o objetivo de propiciar educação de qualidade para todos permitiram avanços significativos nos campos pedagógico, administrativo e financeiro.

É importante ressaltar que essa gestão, no tocante ao desenvolvimento educacional, priorizou ações de capacitação de diretores, especialistas, professores e técnicos das Superintendências Regionais de Ensino. Essas ações atenderam a diferentes níveis e modalidades de ensino, como: Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Educação a Distância e Educação Especial.

Embora, sem aprofundar na avaliação de todos os programas da Escola Sagarana, seja importante apontar que as taxas de distorção idade-série na rede estadual de Minas Gerais, apresentadas no Censo Escolar da Educação Básica-2001, indicavam redução nos índices de repetência, no entanto as taxas de distorção idade- série 37,4% em 1996, 33,5% em 2000 e 29,9% em 2001, muitas vezes decorrentes da repetência, ainda constituam um desafio (BRASIL, 2001b).

As ações da SEE/MG na gestão de 1999/2002 guardaram, sempre, coerência com os princípios definidos no projeto da Escola Sagarana: democracia, humanismo, cidadania e responsabilidade social, como fundamentos da ação política.

Há de se ressaltarem os avanços dessa gestão, em sintonia com os novos tempos e com as novas tecnologias, visando à inserção dos educandos no mercado de trabalho e à compreensão dos processos de mudança social. Mesmo suspendendo a liberação de novas parcelas do financiamento com o Banco Mundial em 1999, muitos programas voltaram a ser mantidos com recursos externos, projetos esses pertencentes ao Programa Pró-Qualidade do governo anterior, porém com outras denominações.