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A EDUCAÇÃO SUPERIOR: O QUE DIZEM OS DOCUMENTOS

Mariane Carloto da Silva

A EDUCAÇÃO SUPERIOR: O QUE DIZEM OS DOCUMENTOS

Dentre as várias funções da Universidade, destaca-se o seu compromisso com a descoberta, com o incentivo à pesquisa, socialização entre estudantes, preparação para a formação profissional e atuação no mercado de trabalho. Quando se pensa na Universidade enquanto etapa de ensino essencial para a aprendizagem, reconhece- se a preocupação com a transmissão de conhecimentos específicos de cada área profissional e a necessidade de atender as demandas do tempo atual.

Neste contexto é necessário compreender que a Universidade está imersa em mudanças, sendo um espaço que precisa ensinar os conteúdos, ao mesmo tempo perceber que a aprendizagem é singular, ocorre de diferentes formas, a partir de diferentes realidades, vivências. Ainda, há a necessidade de identificação de outras barreiras que possam influenciar o aprender, e esta identificação exige mudanças.

Com a realidade da inclusão em todos os níveis e modalidades de ensino, cita-se a lei nº 13.146/2015 (BRASIL, 2015) que institui o Estatuto da Pessoa com Deficiência, embora não esteja direcionada à Educação Superior é pertinente sublinhar o artigo 28, na qual apresenta diversas ações que precisam ser garantidas, englobando no Projeto Pedagógico da Instituição adaptações que atendam os estudantes público-alvo garantindo o acesso ao currículo de maneira igualitária; favorecer o desenvolvimento integral do estudante por meio de planos individualizados e coletivos.

Diante disto ressalta-se o grande compromisso da Universidade com a inclusão nos cursos e em toda sua extensão. Por isso que qualquer disponibilidade de mudança envolve reciprocidade, empatia, comprometimento, relações entre os envolvidos, a escuta dos estudantes para que as ações de adaptações e flexibilizações realmente comtemplem as necessidades e favoreça a aprendizagem.

Um ato de desinteresse, desinformação e inexistência de adaptações podem gerar consequências de reprovações, impedimento de matrícula em disciplinas futuras, trancamentos e abandono.

Direcionando as discussões ao espaço da Universidade Federal de Santa Maria, frisa-se que os documentos da UFSM são regidos pela legislação federal (LDBEN

939496/96), (BRASIL, 1996) e por disposições e resoluções da própria Instituição, como o Regimento, o Estatuto e Resoluções do Conselho Universitário e Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão.

Essas indicações tornam-se substanciais para esta pesquisa, na qual já enunciou a importância de as adaptações curriculares estarem institucionalmente regulamentadas nos documentos da universidade para que assim se possam executar tais práticas. Os documentos reforçam, também, que “[...] a universidade goza de autonomia didático- científica, disciplinar, administrativa e financeira [...]” (UFSM, 2010, p. 4).

A UFSM compromete-se com a educação e a construção de conhecimentos para a formação profissional visando a excelência acadêmica, na qual a “[...] flexibilidade curricular é imprescindível para permitir a constante atualização das atividades, a partir do estabelecimento de políticas que promovam a educação inovadora [...]” (UFSM, 2016-2026, p. 149) e objetiva que as políticas de acesso à Universidade devem estar em consonância com a estratégia de ações afirmativas do governo federal. Consequentemente, o currículo é articulado a partir das diretrizes curriculares e legislações educacionais e profissionais, almejando concretizar os valores, eixos norteadores e ações previstas em seus documentos. Tem por base, áreas do conhecimento fundamentais para o processo formativo e construção do conhecimento científico, possibilitando a relação entre as disciplinas acadêmicas com temas variados e pertinentes à formação.

É fundamental que a construção curricular seja compatível com os princípios de flexibilidade (abertura para a atualização de paradigmas científicos, diversificação de formas de produção de conhecimento, e desenvolvimento da autonomia do aluno) [...]. Na composição do currículo, os seguintes aspectos devem ser considerados. 8.1- Objetivos do Currículo: devem partir do perfil profissional estabelecido, envolvendo as dimensões cognitiva, afetiva, psicomotora, ética e cidadã. 8.2- Estrutura Curricular: desdobramento dos conteúdos das diretrizes curriculares em tópicos temáticos e/ou em disciplinas, atividades complementares de Extensão, Pesquisa, Núcleos de Estudos e outros; estabelecimento de carga horária, sequência recomendada e pré-requisitos, quando for o caso, para as atividades curriculares previstas [...] (UFSM, 2000, p. 20).

Logo se identifica o discurso de que os currículos dos cursos não podem reduzir- se a uma enumeração de disciplinas, mas devem-se levar em conta, as formas de relações estabelecidas entre as disciplinas e como essas relações contribuirão para a formação do estudante, estabelecendo um ambiente propício ao diálogo, de trocas de conhecimentos e motivação profissional. Para a atuação e qualificação profissional, é necessário que o curso prepare os estudantes para o enfrentamento de situações problemas do dia a dia, atuantes no seu espaço coletivo e na própria formação acadêmica (UFSM, 2000, 2008). Verifica-se que a concepção de currículo delineado

nos documentos analisados traz uma ideia de currículo transdisciplinar e global, proporcionando a vivência de situações e temas atualizados.

É pertinente enfatizar que é planejado um currículo aberto no sentido de não valorizar o currículo estagnado e de desprivilegiar ordem de disciplinas de forma rígida, mas que é afirmado um currículo lançado para diversidade nas formas de ensinar, aprender e produzir conhecimentos. Linearmente, infere-se que os documentos selecionados salientam a flexibilidade com diferentes visões e finalidades. No Estatuto da UFSM (UFSM, 2010, p. 5), encontra-se a flexibilidade como princípio de organização na instituição, como consta no art. 6º inciso VI “[...] flexibilidade de métodos e critérios, com vistas às diferenças individuais dos alunos, às peculiaridades regionais e às possibilidades de utilização dos conhecimentos para novos cursos e programas de pesquisa”. Nota-se que a flexibilidade aqui referida não se pauta diretamente aos estudantes público-alvo da Educação Especial, mas uma estratégia voltada a todos os estudantes, considerando neste campo as diferenças regionais, culturais e sociais, não apenas de aprendizagem. Considera-se um aspecto positivo, pois a flexibilidade é prevista e regulamentada nos documentos da UFSM e colocado nos Projeto Político Pedagógico dos cursos, já sendo de conhecimento dos coordenadores e docentes.

A flexibilidade também é vista como uma forma que permite atualização constante das atividades acadêmicas, no sentido de possibilitar aos estudantes a escolha de disciplinas compatíveis com sua formação profissional, seguindo suas metas e objetivos, que pode ser feita por meio de DCG (Disciplina Complementar de Graduação) e/ou por meio de ACG (Atividades Complementares de Graduação) (UFSM, 2016-2026).

A flexibilidade curricular também pode ser efetivada na organização dos projetos pedagógicos pela área de formação, que devem possibilitar ao estudante a definição do seu percurso formativo, a partir da sequência aconselhada e com a definição mínima ou inexistente de pré-requisitos. Dessa maneira, quando o currículo tem uma organicidade capaz de dar conta do perfil que deverá formar e um corpo docente que se adapte a essa perspectiva, é possível inovar quanto à flexibilidade dos componentes curriculares (UFSM, 2016-2026, p. 140).

Essa escolha autônoma do estudante compõe a parte flexível do currículo, que, quando aprovado, pode complementar seus conhecimentos das áreas de interesse e não segue uma linha rígida de ordenação de disciplinas. Essa é uma forma de (re) conhecimento do estudante ao permiti-lo caminhar livremente pelo currículo. No PPP da UFSM (UFSM, 2000, p. 10), acha-se que a flexibilidade é uma tendência que tem marcado as discussões curriculares e que “[...] é cada vez mais afirmado o valor da flexibilidade como princípio de organização curricular”. Ainda, identifica-se que

todos os documentos trazem o verbo “deve” quando se refere a flexibilidade no Projeto Político Pedagógico dos Cursos.

Nesse sentido, destaca-se que os “[...] currículos não são mais centrados em conteúdos ou necessariamente traduzidos em grades de disciplinas” (UFSM, 2008, p. 31), ampliando os olhares com relação ao trabalho desenvolvido na Universidade e que precisa ensinar os conteúdos, sem apenas seguir uma sequência.

Para finalizar, acrescenta-se nesta análise a Resolução nº 033/2015 na qual compete às Coordenações dos Cursos de Graduação desenvolver um Plano de Acompanhamento Pedagógico (PAP), direcionado aos estudantes que estão atrasados no andamento do seu curso. Este plano poderá prever um dilatamento de prazo para a conclusão do curso, um acompanhamento especializado aos estudantes caso seja identificado, elaborado junto ao estudante para que ocorra de forma significativa e adequada. Embora a Resolução não seja específica aos estudantes público-alvo da Educação Especial, já é um importante documento que viabiliza e introduz as deias de adaptações.

Na medida em que há um dilatamento, possibilita-se refletir sobre a prática, pensar adaptações curriculares de pequeno e grande porte, através de um trabalho coletivo em que os estudantes são ouvidos.

Art. 4º, §1º- O Plano de Acompanhamento Pedagógico (PAP) é o plano de trabalho constituído a partir de uma avaliação inicial do processo de aprendizagem do aluno, onde se constrói uma estratégia de ação que pode envolver apoio psicológico, psicopedagógico, de educação especial, de terapia ocupacional, entre outros relacionados de atendimento multidisciplinar (UFSM, 2015, p. 1-2).

Os colegiados de Curso poderão comunicar a PROGRAD (Pró-reitoria de Graduação) quando os estudantes estiverem se aproximando ao término do curso e com disciplinas em atraso e/ou dificuldades de diferentes naturezas (psicológicas, psicopedagógico, de aprendizagem, dentre outros relacionados à equipe multidisciplinar) e solicitar um Plano de Acompanhamento Pedagógico, devendo partir da coordenação o encaminhamento para futuros auxílios. Com isso, a PROGRAD designará uma equipe multidisciplinar aos Cursos solicitantes, estabelecendo um cronograma de aplicação das ações de acompanhamento pedagógico.

[...] o cronograma de aplicação [...] é parte obrigatória do Plano de Acompanhamento Pedagógico e deverá ser desenvolvido em prazo máximo de dois anos, para as modalidades Bacharelado e Licenciatura, e de um ano para modalidade de Tecnologia, a contar da solicitação encaminhada à Pró-Reitoria de Graduação (UFSM, 2015, p. 2).

como a conclusão do curso de graduação. A execução desta Resolução exigirá um olhar atento a todos os estudantes, uma aproximação e compreensão das suas dificuldades, identificações de metas e planejamento de ações que auxiliem os estudantes com baixo rendimento acadêmico concluírem o curso. Este Plano precisará ter um cronograma de desenvolvimento com o prazo máximo de dois anos.

Todos os documentos aqui problematizados confirmam a importância de insistir nos debates sobre currículo, adaptação curricular e flexibilizações no campo da inclusão no Ensino Superior, já que são estes instrumentos que orientam as práticas desenvolvidas em sala de aula.

É possível destacar que há movimentos de discussões e mudanças na Universidade com relação aos processos de aprendizagem dos estudantes ingressantes por reservas de vagas. Utilizam-se o termo inclusão social abrangendo melhorias a todos os estudantes que apresentam dificuldades na aprendizagem, de locomoção, acessibilidade física e arquitetônica, porém não há aprofundamentos com relação às adaptações curriculares nos documentos selecionados.

CONCLUSÃO

Apesar de todas as referências localizadas nos documentos, percebe-se que não há escritos sobre as adaptações curriculares nos cursos de graduação bem como não há previsões de estratégias específicas para os estudantes público-alvo da Educação Especial a serem desenvolvidas nos cursos. Mas há alguns indícios que sinalizam para futuras mudanças.

Os ideários de inclusão implicam na necessidade de atualizações constantes no currículo, de acordo com as mudanças no mundo do trabalho e ao mesmo tempo, a centralidade no sujeito, assegurando o atendimento às necessidades de cada um.

Por fim, sinaliza-se a importância da Universidade em refletir, pensar e formular de maneira colaborativa ações e estratégias que favoreçam a aprendizagem, permanência e conclusão dos estudantes público-alvo da Educação Especial.

REFERÊNCIAS

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