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Pedagogo, Universidade Federal de Santa Maria. cristian.sehnem@ufsm.br.

Em se considerando acervos arquivísticos, a legislação vigente exige que se aplique, além da Lei de Acesso à Informação (LAI), a Lei da Acessibilidade. A primeira, lei 12.527 de maio de 2011, regulamenta o direito constitucional de acesso às informações públicas (BRASIL, 2011). Criou mecanismos que possibilitam, a qualquer pessoa, física ou jurídica, sem necessidade de apresentar motivo, o recebimento de informações públicas dos órgãos e entidades. A segunda, lei 10. 098, de dezembro de 2000, estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, mediante a supressão de barreiras e de obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e de comunicação (BRASIL, 2000). 

O capítulo VII da Lei da Acessibilidade dispõe sobre Acessibilidade nos Sistemas de

Comunicação, enunciando que o poder público promoverá a eliminação de barreiras na

comunicação e estabelecer mecanismos e alternativas técnicas que tornem acessíveis os sistemas de comunicação e sinalização para garantir o direito de acesso à informação dentre outros; promoverá a formação de profissionais intérpretes de escrita em braile, linguagem de sinais e de guias-intérpretes, para facilitar a comunicação e promoverá serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens a partir da adoção de medidas técnicas para permitir o uso da linguagem de sinais ou outra subtitulação, garantindo o direito de acesso à informação (BRASIL, 2011).

A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência foi aprovada no ano de 2015, após 12 anos em tramitação no Congresso Nacional (BRASIL, 2015). Nela estão contempladas inclusive as seis barreiras para exclusão social classificadas por Sassaki (2010). No caso do presente projeto, ele converge em ações quanto a barreiras nas comunicações e na informação - qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens e de informações por intermédio de sistemas de comunicação e de tecnologia da informação, convergindo com o capítulo VII da Lei de Acessibilidade.

A universidade pode e deve projetar caminhos para inclusão.

Ao projetar caminhos para inclusão torna-se necessário perceber a universidade como essencial para a criação, transferência e aplicação de conhecimentos e para a formação e capacitação profissional do estudante, como também para o avanço da educação em todas as suas formas. Além disso, a Educação Superior causa de maneira ampla um forte impacto na vida dos sujeitos que freqüentam a universidade. (SILVA; CEZAR; PAVÃO, 2015, p. 770).

Santa Maria (UFSM), em parceria com o Núcleo de Acessibilidade da Coordenadoria de Ações Educacionais (CAED) está desenvolvendo há dois anos o Projeto Retalhos da

Memória de Santa Maria: Difusão e Acessibilidade.

Assim, a apresentação deste artigo neste evento pretende apresentar o Projeto Retalhos da Memória de Santa Maria: Difusão e Acessibilidade, visando conscientizar a comunidade acadêmica e externa para a importância do uso de recursos de acessibilidade audiovisual em acervos arquivísticos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Percebe-se a importância da acessibilidade nos materiais produzidos pela universidade, uma vez que ela tem um número significativo de estudantes com deficiência visual e auditiva, por exemplo, e que tende a aumentar pelas políticas de educação já implementadas no país, além de sua importância para a comunidade santamariense. Reitera-se que a UFSM é modelo de organização para a prestação de serviços e apoio pedagógico para estudantes com deficiência, sendo uma das únicas no Estado com esse formato organizacional da CAED, por isso enfatizar as ações que são desenvolvidas, sua importância e abrangência é fator preponderante nos processos que envolvem incluir na Educação Superior, possibilitando a ampliação do conhecimento sobre a educação de pessoas com deficiência para a inclusão nesse nível de ensino.

Arquivos fotográficos de instituições de ensino superior são riquíssimas fontes de memória visual e sua difusão – uma das funções arquivísticas – deve ser implementada. Bellotto (2004) cita três tipos de difusão: cultural, editorial e educativa. A difusão editorial ocorre com a publicação do conteúdo do acervo, por meio de publicações que referenciam o acervo. São canais de comunicação com o exterior, pois levam à comunidade e ao meio acadêmico informações sobre o conteúdo do acervo. Desta forma, com as publicações, o arquivo pode atrair novos usuários, ser reconhecido na comunidade e contribui para sua rentabilidade e manutenção das atividades.

Portanto, corroborando a visão de Santos (2016, p.1630) compreende-se necessária a preservação com acessibilidade do acervo fotográfico da universidade.

A compreensão de que nas instituições de ensino é que se percebe evidente a discussão sobre a necessidade de efetivação das políticas públicas de inclusão motivou realizar não só a preservação da memória fotográfica desta universidade, mas também promover a acessibilidade da informação por meio da parceria com o Núcleo de Acessibilidade da UFSM.

universidade em desenvolver ações de acessibilidade em acervos arquivísticos.

O Projeto Retalhos de Memória de Santa Maria, projeto de extensão registrado sob o número 041963 na Pró-Reitoria de Planejamento da UFSM, iniciou suas atividades em 2015. Seu objetivo é promover a difusão e acesso da memória fotográfica institucional por meio da produção de artigos sobre a história de Santa Maria divulgados em forma de pôster, programetes, com os recursos de acessibilidade tais como: vídeo em libras e arquivo digital e/ou sonoro com audiodescrição, para publicação no site do DAG, na mídia impressa de Santa Maria e na TV Campus. Ainda, promover a difusão da memória fotográfica institucional não somente a comunidade acadêmica, também à comunidade externa; consolidar a importância do acervo de imagens fotográficas da UFSM para a história da cidade de Santa Maria e viabilizar o acesso a informação para pessoas com necessidades especiais, com recursos de audiodescrição, janela de Libras, legenda e softwares específicos.

Semanalmente é publicado um artigo sobre uma imagem pré-selecionada do arquivo fotográfico, na página on-line do projeto (http://w3.ufsm.br/dag/index.php/ projetos-institucionais/8-paginas/78-projeto-retalhos-de-memoria-de-santa-maria).

Figura 01 - Site do Departamento de Arquivo Geral.

Descrição: Print do site do Departamento de Arquivo Geral com destaque para a matéria Projeto Retalhos de Memória de Santa Maria.

Este artigo é disponibilizado em formato pôster (imagem-JPG), em texto com audiodescrição da imagem (em formato pesquisável-PDF), em áudio e em vídeo com a tradução em Língua Brasileira de Sinais – Libras, conforme se observa na figura anterior.

Os artigos são produzidos a partir de imagens pré-selecionadas por acadêmicos dos Cursos de Arquivologia, Jornalismo, História, Desenho Industrial, os quais são orientados pela arquivista coordenadora do projeto a produzirem textos curtos, sucintos e “leves” (leia-se textos com viés jornalístico) sobre assuntos relativos à história de Santa Maria, relacionando-os com as imagens. O artigo produzido é inserido na moldura com a identidade visual do projeto transformando-se numa espécie de pôster., como visualizamos na figura a seguir.

Figura 02: Artigo n. 82 publicado em formato pôster.

Descrição: Audiodescrição da imagem: Duas fotografias retangulares em preto e branco lado a lado. Na primeira, à esquerda, a capa de um livro. Na borda superior uma fotografia de um homem assinando um documento circundado por vários homens. Acima da foto o nome do

autor Luiz Gonzaga Isaia. Abaixo da foto o título UFSM Memórias. Na segunda fotografia, à direita, um homem semi calvo, de óculos de aro preto, bigode, terno escuro, gravata escura e camisa branca, sentado à uma escrivaninha assinando um documento. Atrás dele parede clara

com janela e cortina clara e transparente.

Cada pôster é constituído de uma imagem acrescido de um texto de aproximadamente 10 linhas cada, quase uma “legenda aumentada”. Este é publicado

semanalmente, às terças-feiras no site do DAG.

Um dos recursos de acessibilidade do projeto é Libras. Os Tradutores Intérpretes de Libras (TILS) juntamente com o Núcleo de Tecnologias Educacionais (NTE) da UFSM realizam a gravação e a edição dos artigos na língua de sinais, garantindo também a acessibilidade para a comunidade surda brasileira. Após a gravação, a edição do vídeo e o acréscimo dos créditos do projeto e o resultado é o que pode ser visualizado na figura que segue.

Figura 03: Artigo n. 94 publicado sob formato de vídeo em Libras. Descrição: Recorte de tradução de libras, Intérprete sinaliza imagem.

Outro recurso de acessibilidade do projeto é audiodescrição. Na NBR 16.452 de 2016 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (BRASIL, 2016), encontra-se o conceito mais atual e completo de audiodescrição

[...] um recurso de acessibilidade comunicacional que consiste na tradução de imagens em palavras por meio de técnicas e habilidades, aplicadas com o objetivo de proporcionar uma narração descritiva em áudio, para ampliação do entendimento de imagens estáticas ou dinâmicas, textos e origem de sons não contextualizados, especialmente sem o uso da visão (BRASIL, 2016, 3.1).

A audiodescrição das fotografias de cada artigo é realizada pela Comissão de Audiodescrição da UFSM. Audiodescritores roteiristas transformam as imagens em um roteiro inicial para que informações-chave transmitidas visualmente não passem despercebidas e possam também ser acessadas por pessoas com cegueira ou baixa visão. Após, esse roteiro inicial da imagem audiodescrita passa pela revisão

de audiodescritores consultores, que são profissionais com deficiência visual, para o fechamento da audiodescrição, antes de sua publicação. Até a presente data foram audiodescritas 72 fotografias de pôsteres publicados pelo projeto.

Figura 04: Audiodescrição da fotografia do artigo n. 91

Descrição: Imagem do texto de uma Audiodescrição da fotografia do artigo n. 91

A figura anterior mostra a audiodescrição da fotografia do pôster 91.

Assim, este pôster do projeto Retalhos de Memória, com audiodescrição e em formato pdf, poderá ser acessado pelas pessoas com deficiência visual e outras condições, através de tecnologias assistivas, como os softwares leitores ou ampliadores de tela, as linhas braile, os softwares acionáveis por movimento da cabeça ou rosto e outros.

Destaque-se, neste sentido, a sutil, mas significativa diferença existente entre “acesso” e “acessibilidade”, muitas vezes utilizados, equivocadamente, como sinônimos pelo senso comum. Inclusive, não raros são projetos que visam abrirem-se documentos e arquivos para o conhecimento e uso de todos, sem lembrarem que, dependendo dos formatos em que forem disponibilizados, estes estarão restritos ao acesso direto, autônomo e independente das pessoas com deficiência e mesmo outras necessidades

especiais.

CONCLUSÃO

Quanto ao acesso, podemos afirmar, após dois anos de execução do projeto que o principal objetivo foi atingido: promover a difusão e acesso a memória fotográfica institucional. Pela estatística de pesquisa é possível visualizar que no período de um ano houve um crescimento de 200% nas pesquisas. Trabalhamos assim em convergência a LAI.

Quanto a acessibilidade, cabe destacar a importância da acessibilidade informacional. Esta primeira experiência de inserção do Departamento de Arquivo Geral nas políticas de inclusão e acessibilidade desenvolvidas pelo Núcleo de Acessibilidade da UFSM está sendo muito interessante e inovadora, sendo que a implementação de projetos é uma opção para contribuir a qualidade do ensino e estímulo à aprendizagem.

Conforme o segundo artigo da Lei n°10.436 de 2002 (BRASIL, 2002) deve ser garantido por parte do poder público em geral e empresas concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de Sinais – Libras como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil.

Só assim, com acessibilidade, os acervos arquivísticos alcançarão seus objetivos de forma completa como fonte de pesquisa. A ampla divulgação do projeto pela imprensa local e estadual comprova o ineditismo de ações com o trinômio arquivologia- fotografia-acessibilidade e estimula a participação de acadêmicos de Arquivologia, Comunicação Social e História (áreas de atuação dos bolsistas e voluntários do projeto) desta universidade a inquietarem-se e abrirem seus horizontes pessoais e profissionais com o acesso a informação e a inclusão social.

REFERÊNCIAS

BELLOTTO, Heloísa Liberalli. Difusão editorial, cultural e educativa em arquivos. In: Arquivos permanentes: tratamento documental. 2. ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004. p. 226 – 247.

BRASIL. Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/ legin/fed/lei/2000/lei-10098-19-dezembro-2000-377651-publicacaooriginal-1-pl.html>. Acesso em: 27 jul.2017.

BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá outras providências. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/sileg/integras/821803. pdf>. Acesso em: 27 jul.2017

BRASIL. Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011. Regula o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do art. 5o, no inciso II do § 3o do art. 37 e no § 2o do art. 216 da Constituição Federal;

altera a Lei n. 8.112, de 11 de dezembro de 1990; revoga a Lei no 11.111, de 5 de maio de 2005,

e dispositivos da Lei no 8.159, de 8 de janeiro de 1991; e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm>. Acesso em: 27 jul.2017.

BRASIL. Lei nº 13.146, de 06 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm>. Acesso em: 27 jul.2017.

BRASIL, Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). NBR 16.452/2016. Acessibilidade na comunicação: audiodescrição. Rio de Janeiro: ABNT, 2016. 1ª edição.

SANTOS, Cristina Strohschoen dos. A preservação da memória fotográfica da

Universidade Federal de Santa Maria. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA, 1., 2016, Santa Maria. Anais...,Santa Maria: UFSM/ PPGH, 2016. p. 1620-1631.

SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. 8. ed. Rio de Janeiro: WVA, 2010.

SILVA, Mariane Carloto da; CEZAR, Amanda do Prado Ferreira; PAVÃO, Sílvia Maria de Oliveira. O currículo e o desafio de ensinar frente às incertezas: (re) ligação dos saberes para a inclusão no ensino superior. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA E SUPERIOR, 3., 2015, Santa Maria. Anais... Santa Maria: UFSM, 2015. p. 769 – 778. Disponível em: <http://coral.ufsm.br/seminariopoliticasegestao/2015/wp-content/uploads/2015/04/Anais-III- seminario-de-politicas-publicas-e-gestao.pdf>. Acesso em: 28 jul. 2017.

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