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Daniela Francescutti Martins Hott

ABORDAGEM METODOLÓGICA

A presente pesquisa se caracteriza pela abordagem qualitativa pois tende a salientar “os aspectos dinâmicos, holísticos e individuais da experiência humana, para apreender a totalidade no contexto daqueles que estão vivenciando o fenômeno” (POLIT, BECK; HUNGLER, 2004, p. 201), e configura-se pode ser do tipo descritiva visto

que pretende “descrever os fatos e fenômenos de determinada realidade” (TRIVIÑOS, 1987).

Quanto aos procedimentos, Fonseca (2002, p.32) indica que “existem pesquisas científicas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas com o objetivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a resposta”, sendo o caso deste estudo.

O estudo buscou levantar as referências teóricas pertinentes à legislação nacional e documentação relativa à acessibilidade. Análises permitiram estruturar o escopo atual das unidades de informação frente à acessibilidade, o que permitiu discutir a relevância dos novos papéis para o profissional da informação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Segundo Relatório da IFLA ocorre certa desconexão entre teoria e prática na área da acessibilidade em unidades de informação visto que a literatura no campo da Ciência da Informação apresenta poucas pesquisas sobre projetos colaborativos, especialmente no tocante às melhores práticas. Em geral, emergem parcerias focadas em programas colaborativos, ações conjuntas para criação de recursos digitais e vinculação de parcerias (YARROW; CLUBB; DRAPER 2008, p. 8). (Tradução nossa).

O Resource: Conselho de Museus, Arquivos e Bibliotecas do Reino Unido é uma entidade que foi instituída no ano 2000, ao englobar a antiga Comissão de Museus e Galerias e as entidades representativas de bibliotecas e arquivos, indica por missão “universalizar o acesso aos acervos e serviços pertencentes aos arquivos, bibliotecas e museus que congrega” (RESOURCE, 2005, p.15).

Destaca-se, ainda, que museus, arquivos e bibliotecas devem disponibilizar amplo acesso às instalações físicas e aos acervos atuando como “espaços de fruição, conhecimento, autoconhecimento e afirmação da identidade sociocultural de todos os frequentadores” [...] Não se trata apenas de “propiciar ampla acessibilidade física e sensorial, mas também de permitir a convivência e compreensão das diversidades existentes nos indivíduos, seus limites e potencialidades” (RESOURCE, 2005, p.12).

Há pessoas com deficiência que frequentam arquivos, bibliotecas, e(ou) museus que deixam de ser atendidos como deveriam não apenas pela falta de recursos e atendimento por parte dessas unidades de informação, mas devido ao fato de que muitas deficiências não são visíveis ou facilmente reconhecidas. Ademais, pessoas com deficiência realizam visitas sozinhos, com acompanhantes ou assistentes.

Portanto, implementar medidas atitudinais é um requisito da acessibilidade, e não exclusivamente sobre a questão de acesso físico, mas deve-se estender os serviços disponíveis, as informações e a comunicação diretamente as pessoas com deficiência. Lembrando, obviamente, que há linguagem adequada e linguagem que cria obstáculos. As interações devem ser promovidas para cada grupo de pessoas com deficiência, visto que há “uma gama de deficiências e um indivíduo pode ser pessoa com mais de uma delas”, podendo estar relacionadas com necessidades físicas, sensoriais e intelectuais. E, ressalta-se que as necessidades de uma pessoa podem variar de um dia para o outro de acordo com o ambiente e as circunstâncias (RESOURCE, 2005, p. 37).

Muitas são as formas de suprir as necessidades de pessoas com deficiências, contudo deve-se destacar que o foco nas adaptações em edifícios é apenas uma das vertentes, devendo a ênfase ser direcionada para mudanças: de comportamento, de rotina, de política e de postura em todo indivíduo e de cada organização. Ao conhecer, analisar e implementar medidas atitudinais nas organizações, pode-se lograr a mudança de postura perante a esta comunidade, pessoas com deficiência

Considerando o insigne papel social dos arquivos, das bibliotecas e dos museus como unidades de informação, evidenciado na promoção de práticas informacionais democráticas e acessíveis, visando entender como interferem nas necessidades e usos de informação por parte dos usuários, pessoas com deficiência, inclusive, urge que ainda se percorra um caminho que otimize a relação do profissional da informação com seus usuários.

As unidades de informação devem desenvolver estudos híbridos de uso da informação direcionados e dirigidos para os usuários, inclusive para pessoas com deficiência, atentando para a qualidade da interação desses usuários com as unidades de informação. Este trabalho é uma reflexão para os profissionais de informação, na tentativa de ampliar os horizontes e os pensares, sobremaneira, no tocante às medidas atitudinais de acessibilidade.

Ressalta-se, pois, a função social das unidades de informação, inclusive como espaços de cultura, informação e entretenimento. No entanto, as iniciativas empreendidas de forma isolada dificilmente produzirão resultados para acessibilidade universal e transversal. Entende-se que se requer articulação maior para a consolidação de políticas públicas de caráter inclusivo em todas as instâncias da sociedade e não apenas nas unidades de informação.

CONCLUSÃO

A inclusão é um fato já ocorrido. Este é tempo de refletir sobre o “estado da arte”, desenvolver estudos sobre políticas públicas que promovam o equacionamento de políticas de inclusão para acessibilidade integral.

O acesso à informação contribui para o desenvolvimento da sociedade, gerando novas possibilidades para as pessoas, tornando-as aptas a construir uma sociedade mais justa e igualitária. Uma forma de propiciar o uso da informação pela sociedade em geral é que ela se encontre disponível e seja de fácil acesso. Essa disponibilidade deve estar apoiada em ações que permitam conhecer o que há e onde está, ou seja, que os usuários saibam o que existe sobre o assunto de seu interesse e como obtê-lo.

A sociedade atual necessita de profissionais que acompanhem o avanço acelerado das tecnologias da informação e assistivas bem como da acessibilidade virtual, destacando, assim, como as mudanças sociais, econômicas e políticas ocorridas desempenham o atendimento aos usuários da informação em geral e, em especial, às pessoas com deficiência, com competência inclusive no âmbito informacional.

O mercado exige hoje profissionais do campo da Ciência da Informação com conhecimentos abrangentes e transversais, que possa aplicar ações flexíveis, seja sensível às mudanças, apresente habilidades para enfrentamento de momentos decisórios, e detenha domínio sobre os equipamentos tecnológicos, em prol da acessibilidade física, auditiva, visual, táctil e virtual. Em suma, torna-se importante que o profissional da informação reflita sobre os desafios no processo da construção de uma sociedade inclusiva, priorizando justiça, a equidade e o acesso e uso democrático da informação, com responsabilidade social.

Hoje, todos os envolvidos estão aprendendo a entender, a mudar, a pensar diferente, a ousar e a fazer diferente. Em todas as profissões, todos os envolvidos tem que estar disponíveis para enfrentar inovações e se capacitar para atender às exigências da atualidade, incluindo as questões de acessibilidade integral.

Mas o que é preciso modificar? Como reorganizar esta prática? Quem precisar estar implicado? Certamente não se tem uma resposta pronta para estas perguntas, ao lidar com a diversidade. As modificações que tornarão os ambientes inclusivos devem ser escritas por cada instituição para cada um de seus públicos, sejam eles funcionários ou não. Existem espaços públicos que são para todas as pessoas, inclusive indivíduos com deficiência que possuem o direito de ir e vir então, trata-se de um exercício de adaptação diário, e para cada situação e contexto. É um grande quebra-cabeça que

precisa ser montado por muitas mãos, com paciência, persistência e muita criatividade. O olhar é o do outro, sempre.

REFERÊNCIAS

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com Deficiência. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/ l13146.htm>. Acesso em: 15 maio 2017.

CONVENÇÃO sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. 5. ed. Brasília: Câmara dos

Deputados, Edições Câmara, 2015. Disponível em: < http://www2.camara.leg.br/documentos-e- pesquisa/publicacoes/edicoes/paginas-individuais-dos-livros/convencao-sobre-os-direitos-da- pessoa-com-deficiencia>. Acesso em: 15 maio 2017.

FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002.

HOTT, D. F. M; OLIVEIRA, L. P. Aspectos intervenientes da Lei de Acesso à Informação no processo de gestão documental nas organizações. Acesso Livre, n. 2, jul./dez. 2014.

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INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE. Disponível em: <http://censo2010.ibge. gov.br/apps/atlas/> Acesso em: 20 maio 2017b

MELO, S.C; LIRA.S.M; FACION. J R. Políticas Inclusivas e implicações no ambiente escolar. In: FACION, J.R. (Org.). Inclusão escolar e suas implicações. Curitiba: IBPEX, 2009. p.53 - 75. MINETO, Maria de Fátima. Currículo na Educação Inclusiva. Curitiba: IBPEX, 2008. 135p.

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POLIT, D. F.; BECK, C. T.; HUNGLER, B. P. Fundamentos de pesquisa em enfermagem: métodos, avaliação e utilização. Trad. de Ana Thorell. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.

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YARROW, A.; CLUBB, B.; DRAPER, J.L. Public Libraries, Archives and Museums: Trends in Collaboration and Cooperation. The Hague, IFLA Headquarters, 2008. 50p. 3(IFLA Professional Reports, 108)

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