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4 MULTIPARENTALIDADE: A POSSIBILIDADE DO RECONHECIMENTO

5.3 A EFETIVAÇÃO DA MULTIPARENTALIDADE ATRAVÉS DA APLICAÇÃOS DOS

Uma das relevantes questões que decorre do reconhecimento jurídico da afetividade e da busca a felicidade é a temática da multiparentalidade: situações existenciais nas quais uma pessoa possui vínculo de filiação com dois ou mais pais, ou duas ou mais mães, concomitantemente. Como já foi extensivamente abordado nesta pesquisa jurídica, inúmeros casos concretos com essa peculiaridade passaram a bater à porta dos tribunais solicitando uma resposta jurídica, mesmo sem prévia lei expressa que a preveja. Portanto, nesta senda, essa se apresenta, certamente, como uma das principais questões do Direito de Família contemporâneo

É evidente que a doutrina e a jurisprudência já têm um entendimento concreto quanto o reconhecimento da Multiparentalidade, no entanto, o que será abordado neste tópico é a ausência de parentesco consanguíneo entre pai e filho. Na ementa e no acórdão do julgado, é possível encontrar as expressões “vínculo sócio-afetivo”, “vínculo afetivo” e “vínculo de afetividade” como sinônimas, para referir que o recorrente se portou como se fosse pai do recorrido por vinte e dois anos. Nesse sentido, é clara a associação entre a afetividade e o comportamento do sujeito. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, REsp 1078285/MS, 3ª Turma, Min. Rel. Massami Uyeda, j. em 13/10/2009

139 Na ação de reparação por dano moral decorrente de abandono afetivo, o STF visualizou que a concessão da indenização no dever de cuidar se encontra imperativamente imposto no artigo 227, da Constituição Federal de 1988. Dessa maneira, o que se entende por abandono afetivo é o descumprimento do dever de cuidado, visto este como valor jurídico objetivo (embora advirta o mesmo acórdão que o “cuidado como valor jurídico objetivo está incorporado no ordenamento jurídico brasileiro não com essa expressão, mas com locuções e termos que manifestam suas diversas desinências, como se observa do art. 227 da CF/88”). O dever de cuidado inclui, na ótica desse julgado, um conteúdo mínimo necessário de afetividade, que contribuiria para a formação psicológica adequada da criança e sua inserção social. Fica bem claro, nesse acórdão, que a afetividade se vincula muito mais ao aspecto ético do cuidado do que propriamente ao elemento afetivo (emocional), inclusive com reforço das expressões “dever de criação, educação e companhia – de cuidado”, extraído literalmente do texto. Supremo Tribunal de Justiça, REsp 1159242 / SP, 3ª Turma, Min. Rel. Nancy Andrighi, j. em 24/04/2012.

questão da efetivação desse instinto relativamente novo através de dois princípios implícitos, o da afetividade e o da busca a felicidade.

Nessa esteira, o suporte afetivo dentro das entidades familiares se apresenta como uma dos aspectos para a completude do preceito da busca à felicidade humana, já que a formação moral e da personalidade do indivíduo se inicia no seio do núcleo familiar. Sendo assim, urge especificar algumas considerações sobre os princípios da afetividade e o da busca da felicidade relacionadas a Multiparentalidade.

O direito ao afeto é a liberdade de afeiçoar-se um indivíduo a outro. O afeto ou afeição constitui um direito individual, uma liberdade que o Estado deve assegurar a cada indivíduo, sem discriminações, senão as mínimas necessárias ao bem comum.

O princípio da afetividade vem como meio de abordar as transformações do direito mostrando-se uma forma aprazível em diversos meios de expressão da família, abordados ou não pelo sistema jurídico codificado, como as famílias constituídas através do reconhecimento da múltipla filiação, permitindo o sistema de protecionismo estatal de todas as comunidades familiares, repersonalizando os sistemas sociais, e assim dando enfoque no que diz respeito ao afeto atribuindo uma ênfase maior no que isto representa.

Com esse pensamento, aplicar o princípio da afetividade na nos casos que envolvem multiparentalidade é reconhecer que o afeto é base para a constituição de uma família, que a aplicação deste transforma uma mera exteriorização dos sentimentos perante a sociedade, em efeitos jurídicos relevantes, que só irão acabar com a morte de algum dos envolvidos.

Ademais, o princípio da afetividade, tem que ser sempre lembrando quando for dada qualquer decisão sobre o tema em questão, posto que, se trata de um vínculo sério, que muitas vezes vai além da percepção de um julgador, portanto, a sua averiguação é de extrema importância, para que não sejam cometidas injustiças, sem contar, que a autonomia da vontade daqueles entes que participam daquela entidade familiar “diferenciada” deve prevalecer.

Verifica-se ainda, que o princípio da afetividade, nos casos de pedido de reconhecimento, estar interligado com o da busca a felicidade, pois ao buscar a autorização para o registro da dupla paternidade de um filho ou de um pai, que por anos foi aquele que te amou, nada mais é do que buscar a felicidade em si. Do mesmo modo que acontecem nos casos daqueles que irão esperar nove meses para o nascimento de um filho tão amado e com tanta felicidade, ou seja, a Multiparentalidade é uma de nascimento.

Mas, o que seria a busca a felicidade? A felicidade para cada pessoa é percebida de forma diferente. Aqui nos casos de aplicação ao instituto da Multiparentalidade, é o direito de

buscar sua família plena, de ter direito a uma mãe ou um pai, em razão do outro já ter falecido, porém, sem que o genitor biológico seja retirado do registro civil, é o direito de ter reconhecido seu vínculo biológico, sem que o afetivo seja perdido, ou seja, há inúmeras formas de Multiparentalidade que são verdadeiramente uma forma a busca a felicidade, que antes da possibilidade da criação desse instituto, muitos não tiveram a oportunidade de buscar essa felicidade e esse amor.

Nessa perspectiva, atualmente, O direito à felicidade é também uma diretriz hermenêutica muito utilizada pelo Supremo Tribunal Federal para fundamentar suas decisões no campo da Multiparentalidade, consolidando os direitos à filiação e a personalidade.

Além do mais, para chegar a conclusões jurídicas mais adequadas, e condizentes com a realidade de casa caso, leva-se em consideração a ideia primordial de que o direito deve servir à plena satisfação dos jurisdicionados e não apenas para encontrar uma resposta formal a uma causa apresentada ao Judiciário.

Logo, compreendendo que cada ser humano é único em suas vontades e sentimentos. O direito precisa captar a individualidade de casa um dos envolvidos, para que cumpra fielmente o seu papel de garantir paz e harmonia social. Eis, então, a importância do direito à busca da felicidade como diretriz hermenêutica no ato de decidir e da afetividade, como forma de garantir o afeto.

Para corroborar a importância desses princípios na aplicação do instituto da Multiparentalidade, faz-se importante, demonstrar alguns julgados e o posicionamento de seus julgadores. Em primeiro lugar será demonstrada a decisão que gerou o reconhecimento da Multiparentalidade, o Recurso Extraordinário nº 898069140, o qual fixou a tese na Repercussão Geral 622, este entende que a família é o eixo central do regramento constitucional, que os tratamentos jurídicos que devem ser dados aos vínculos parenterais deverão ser à luz da dignidade da pessoa humana e no direito à busca a felicidade. Este direito

140 [...] A família, objeto do deslocamento do eixo central de seu regramento normativo para o plano constitucional, reclama a reformulação do tratamento jurídico dos vínculos parentais à luz do sobreprincípio da dignidade humana (art. 1º, III, da CRFB) e da busca da felicidade. [...]

O direito à busca da felicidade, implícito ao art. 1º, III, da Constituição, ao tempo que eleva o indivíduo à centralidade do ordenamento jurídico-político, reconhece as suas capacidades de autodeterminação,[...]

O indivíduo jamais pode ser reduzido a mero instrumento de consecução das vontades dos governantes, por isso que o direito à busca da felicidade protege o ser humano em face de tentativas do Estado de enquadrar a sua realidade familiar em modelos pré-concebidos pela lei. [...]

A paternidade responsável, enunciada expressamente no art. 226, § 7º, da Constituição, na perspectiva da dignidade humana e da busca pela felicidade, impõe o acolhimento, no espectro legal, tanto dos vínculos de filiação construídos pela relação afetiva entre os envolvidos, quanto daqueles originados da ascendência biológica, sem que seja necessário decidir entre um ou outro vínculo quando o melhor interesse do descendente for o reconhecimento jurídico de ambos140.140 BRASIL, Supremo Tribunal Federal, Recurso Extraordinário nº

encontra-se implícito na Constituição Federal em seu art. 1º, III, o que eleva os indivíduos à centralidade do ordenamento jurídico. Nessa perspectiva, O indivíduo sempre deve buscar a felicidade, e utilizar-se desse direito como uma forma de proteger-se das tentativas do Estado em enquadra a realidade fática de uma entidade familiar nos modelos já pré-concebidos. Assim, o acolhimento dos vínculos de filiação afetivos e biológicos, concomitantemente, deverá ser aceito se for o melhor para o descendente.

Em consequência, é proveitoso também, demonstrar o entendimento de alguns Ministros do Supremo Tribunal Federal, através de seus votos, sobre o julgamento acima supramencionado, onde estes falam sobre o direito ao amor e ao direito a busca a felicidade. O Ministro Dias Toffoli salientou o direito ao amor, está relacionado com as obrigações legais do pai biológico para com o filho, a exemplo da alimentação, educação e moradia. Já o Ministro Celso de Mello considerou o direito fundamental da busca da felicidade e a paternidade responsável, a fim de acolher as razões apresentadas no voto do relator. Ele procurou observar que o objetivo da República é o de promover o bem de todos sem qualquer preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação141.

O segundo caso é sobre uma Ação de Reconhecimento de Filiação Socioafetiva com Registro de Multiparentalidade, no qual os vínculos parentais são reconhecidos à luz do princípio da dignidade humana e da busca da felicidade, em razão da constante evolução do conceito de família que clama por uma reformulação do tratamento jurídico dos vínculos parentais142.

141 CASSETTARI, Christiano, Multiparentalidade e parentalidade socioafetiva: efeitos jurídicos, p. 117-118 142

CONSTITUCIONAL E FAMÍLIA. AÇÃO DE RECONHECIMENTO DE FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA COM REGISTRO DE MULTIPARENTALIDADE. VÍNCULO BIOLÓGICO PREEXISTENTE. RECONHECIMENTO SIMULTÂNEO DO VÍNCULO SOCIOAFETIVO. DUPLA MATERNIDADE. POSSIBILIDADE. TESE FIXADA PELO STF COM REPERCUSSÃO GERAL. SENTENÇA REFORMADA. 1. O Supremo Tribunal Federal, ao conceder repercussão geral ao tema n. 622, no leading case do RE 898060/SC, entendeu que a paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na origem biológica, com efeitos jurídicos próprios.

2. Consoante se infere do referido julgado, houve uma mudança no entendimento sobre o tema da multiparentalidade, em virtude da constante evolução do conceito de família, que reclama a reformulação do tratamento jurídico dos vínculos parentais à luz do sobreprincípio da dignidade humana (art. 1º, III, da CRFB) e

da busca da felicidade.

3. In casu, constatada a coexistência de dois vínculos afetivos; quais sejam, com os pais socioafetivos e com a mãe biológica, não havendo qualquer oposição de nenhuma das partes sobre o reconhecimento da multiparentalidade, o seu reconhecimento é medida que se impõe. 4. Recurso provido. Sentença reformada142. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS. Acórdão 1057315, 20160110175077APC, Relator: JOSAPHA FRANCISCO DOS SANTOS, 5ª TURMA CÍVEL, data de julgamento: 25/10/2017, publicado no DJE: 14/11/2017. Pág.: 521/525)

E, por fim, o ultimo caso que será demonstrado neste estudo cientifico, consistir em demonstrar o respeito da preservação da maternidade Biológica, em decorrência do falecimento desta:

MATERNIDADE SOCIOAFETIVA. Preservação da maternidade Biológica. Respeito à memória da mãe biológica, falecida em decorrência do parto, e de sua família - Enteado criado como filho desde dois anos de idade Filiação socioafetiva que tem amparo no art. 1.593 do Código Civil e decorre da posse do estado de filho, fruto de longa e estável convivência, aliado ao afeto e considerações mútuos, e sua manifestação pública, de forma a não deixar dúvida, a quem não conhece, de que se trata de parentes. - A formação da família moderna não-consanguínea tem sua base na afetividade e nos princípios da dignidade da pessoa humana e da solidariedade. Recurso provido143.

Tendo em vista os aspectos mencionados, ressalta-se que há inúmeros casos de Multiparentalidade julgados são com base no princípio da afetividade, posto que, foi em decorrência deste que pôde haver o reconhecimento das filiações socioafetiva, e, consequentemente, há possibilidade de haver mais de uma filiação no registro de nascimento, seja ela materna ou paterna. Ademais, ainda é possível ver que o princípio da busca da felicidade, mesmo que ainda tenha uma celeuma doutrinária, sobre o ser ou não um princípio, ou até mesmo um direito, porém, visando a dignidade da pessoa, ponto central para o novo direito Constitucional e de Família, o que realmente importa é que com essas decisões, estão havendo os reconhecimento desses, principalmente, do direito a multifiliação, conhecido como Multiparentalidade.

143 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO. Apelação n° 6422-26.2011.8.26.0286,1ª Câmara de Direito Privado, Relator Desembargador Alcides Leopoldo e Silva Júnior, julgado em 14/08/2012.

6 CONCLUSÃO

A abordagem do presente artigo científico permitiu o estudo permitiu um estudo do Direito de Família à luz da Constituição Federal, demonstrando sua evolução histórica, que tem renovado amplamente seus paradigmas.

Após a Constituição Federal de 1988, houve um salto significativo quanto ao direito de família, posto que além do reconhecimento de mais duas novas espécies de família, a constituída pela união estável e a monoparental, também foi constatada que na atualidade há uma pluralidade com relação às formas de famílias, em razão de que estas não são mais formadas com o viés patrimonial, mas sim, com base no afeto e nos objetivos comuns de vida, como a busca a felicidade. Sobrepondo a dignidade da pessoa como o principal direito a ser protegido.

Sendo assim, quando o tema é amor e afeto, não há como mensurar ou quantificar esses sentimentos, principalmente tratando-se das relações familiares. Visto que, já foram comprovados que os vínculos afetivos vão além dos laços consanguíneos ou biológicos, esses sentimentos nascem da convivência harmoniosa e afável, transcendendo a genética e por vezes desconhecidas pela lei e pela ciência.

Além do mais, ocorreu uma construção sobre o entendimento da socioafetividade nas famílias brasileiras, abordando o conceito de parentesco, a evolução da filiação no direito brasileiro, que após enfrentar muitos problemas, devido a forte intervenção da Igreja e de uma sociedade altamente conservadora, amparado pelo antigo Código Civil de 1916, hoje se se encontra reconhecida de forma socioafetiva, garantindo a igualdade para todos, através da parentalidade socioafetividade.

Assim, ao reconhecer a parentalidade socioafetiva, é possível ver que o fenômeno da desbiologização da paternidade, que prepondera a relação afetiva e não a biológica, está cada vez mais presente no direito de família, portanto, neste aspecto, percebe-se que o papel de ser pai e mãe não se confunde mais com mero fornecedor de material genético, dado que hoje, a paternidade afetiva pode ser considerada mais significativa do que a biológica em alguns casos, estabelece o fenômeno supracitado.

Nessa esteira, fica concreto que a caracterização da relação parental, não se dá somente pelo genitor/genitora biológico, mas também em relação àquele que efetivamente exercer a paternidade/maternidade no seu sentido substancial, proporcionando para o indivíduo o desenvolvimento material e moral necessário para seu amadurecimento. Neste

sentindo, nunca antes um ditado popular como o que diz que “pai não é quem faz, é quem cria”, fez tão sentido do ponto de vista doutrinário e jurisprudencial.

Em razão disto, a multiparentalidade tornou-se realidade em nosso país, diante de tantos problemas, como o aumento de casos de abandono de lar, ou do pouco contato que certos pais e mães têm com seus filhos. Não seria justo tolher de quem cria, ama e cuida, como quem pai/mãe fosse da possibilidade de reconhecer legalmente aquele que cuida como se filho legítimo fosse, expondo-se a todas as responsabilidades e deveres previstos no ordenamento brasileiro. Aliás, essa possibilidade reconhecimento também pode vim do filho com relação aos pais.

Diante dessa nova possibilidade, advinda da relação de afeto, foi visto os crescentes números de casos com essa peculiaridade passaram a bater à porta do Judiciário, procurando uma resposta legal, mesmo sem prévia legislação expressa que a preveja. Se apresentando, como uma das principais questões do Direito de Família contemporâneo.

Ao se deparar com tal tema a jurisprudência não tinham entendimento pacífico quanto à coexistência da paternidade biológica e da socioafetiva, Portanto o Supremo Tribunal Federal ao julgar o Recurso Extraordinário 898.060 pelo STF, que gerou a Repercussão Geral 622, fixou a tese de que a paternidade socioafetiva, sendo esta declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na origem biológica, com os seus efeitos jurídicos próprios. Com isso, os Tribunais passaram a permitir a inclusão do nome do pai socioafetivo sem prejuízo do pai biológico, como demonstrado pelos julgados, constituindo um novo modelo de entidade familiar, denominado de família socioafetiva ou multiparental.

Além do mais, o CNJ por meios dos Provimentos 63 e 83, possibilitou o reconhecimento Multiparentalidade através das vias extrajudiciais, concederam celeridade e efetividade, proporcionando igualmente, todos os direitos fundamentais aos envolvidos, das decisões judiciais. No entanto, o provimento 83, que entrou em vigor em 2019, alterou alguns artigos do provimento anterior, trazendo alguns requisitos, como a necessidade do parecer do Ministério Público, falando seu posicionamento sobre o caso concreto, contudo, a obrigação desse parecer deveria ser somente para casos que envolvam crianças e adolescente, incapazes, ou em casos que tenham algum problema relevante, ou seja, naqueles casos em que o tabelião verifica-se que não existe nenhum problema, a autonomia da vontade deveria prevalecer, desnecessitando da autorização ou não do parquet para a averbação do novo registro de nascimento.

Ressalta-se ainda, que ao defender a afeto como base para as novas construções familiares, faz-se necessário compreender o implícito princípio constitucional da afetividade. Para o direito o que é relevante e a conduta exteriorizada do afeto, a afetividade, que serão analisadas em cada caso para poder constituir o vínculo. Este é será usado como argumento para conceder as decisões que envolvem as questões de parentalidade socioafetiva e multipatentalidade.

Dada a sua importância, é necessário que esse princípio seja aplicado de forma responsável para aqueles envolvidos no processo, posto que, uma vez viabilizado o vínculo socioafetivo, este se torna irrevogável, ou seja, mesmo que a conduta afetiva se acabe, o vínculo construído no tempo não pode mais ser desfeito, mantendo a segurança jurídica necessária ao direito do filho em manter o status família adquirido.

Outro princípio implícito importante como fundamento para relações familiares é o da busca da felicidade, todo ser humano tem o direito de ser feliz, é garantir isso, através do direito não é uma imposição, mas sim, é garantir que os direitos e garantias individuais da pessoa humana sejam assegurados. Nesses termos, esse princípio garante o direito à família, a dignidade, a segurança, educação, entre outros. Posto isso, a esse princípio também tem embasamento para que a Multiparentalidade possa ser constituída, como foi demonstrados nos julgados analisados nesta pesquisa, pois todos visam garantir a felicidade através de garantir a dignidade daqueles que estão inseridos naquela relação familiar.

Embasando-se na afetividade e mútua busca da felicidade e fundamentando-se nos princípios constitucionais da pluralidade familiar, dignidade da pessoa humana, da solidariedade, da isonomia e da prioridade absoluta de proteção integral da criança e do adolescente e melhor interesse destes, é perfeitamente viável a coexistência de elos parentais afetivos e biológicos. E, a ausência da multiparentalidade em previsão legal não deve constituir óbice para seu reconhecimento, porque é perceptível que a sociedade evolui de forma mais rápida do que o ordenamento jurídico é capaz de acompanhar.

Conquanto, ainda evidencia-se que no tocante à multiparentalidade a jurisprudência tem de ponderar os contextos históricos, como a de edição de leis e de julgamento do caso, como também, observar as diretrizes hermenêuticas que serão aplicas ao cenário formado, sempre atrelando à subjetividade humana, buscando a segurança jurídica para aplicação desse instituto que terá consequências em todo o direito.

Pela observação dos aspectos analisados nesta monografia, o reconhecimento da multiparentalidade, não é mais uma invenção doutrina e jurisprudencial, e sim uma solução encontrada pelo julgador para atender às novas expectativas do direito de família