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COMPONENTES DA COMPETÊNCIA SOCIOCULTURAL Celce-Murcia et al (1995)

SKILLS ESTRATÉGIA

2.1.2 A empatia como estratégia comunicativa intercultural

seeing with the eyes of another, listening with the ears of another, and feeling with the heart of another. Alfred Adler (1980)

O desenvolvimento da competência comunicativa intercultural pressupõe uma troca de ponto de vista, perspetivar o mundo pelos olhos do Outro. Podemos ver, de facto, como nos é dito por Griffiths (2008: pp. 136-137), que

the cultural competence construct is highly complex and multi-faceted. It is dynamic, constantly changing and includes the affective and cognitive dimensions (Bhabha, 1994; Byram, 1997; Finkbeiner, 2006; Hofstede, 1997; Schmidt, 1998; Weaver, 1993), It is connected to cultural sensitivity, cultural awareness, and empathy, as well as the ability to change perspectives and put oneself into the other person’s shoes. These qualities allow the good language learner to «navigate smoothly between different cultural and linguistic worlds» (Finkbeiner, 2006, p. 28).

A noção de «constructo cultural» está relacionada com a forma como o indivíduo apreende (dimensão cognitiva) e filtra o mundo (dimensão afetiva), cujo dinamismo varia consoante as mudanças a que sociedade vai sendo sujeita. Nesta equação, entram em jogo a questão da sensibilidade cultural (Bennett, 1993), a consciência crítica (Byram, 1997) e a empatia, competências que permitem ao aprendente passar de uma visão etnocêntrica para uma atitude etnorelativa, mediando entre a cultura materna e a cultura estrangeira.

É neste contexto que o conceito de empatia, no nosso entender, ganha relevo como estratégia para ultrapassar barreiras culturais. Com efeito, um aprendente que demonstre mais empatia para com o Outro, mais facilidade terá em comunicar e compreender a sua “cultura” ao deixar de lado considerações etnocentristas e preconceituosas.

Em primeiro lugar, urge definir o conceito de empatia. Jardim (2012:p. 76) diz-nos que “etimologicamente, a palavra empatia tem origem no grego «empátheia», e significa

«entrar dentro do sentimento», designando, assim, a capacidade de perceber a experiência subjetiva de outra pessoa” e comporta três dimensões, a saber (idem: p. 77): - a dimensão cognitiva (savoir);

- a dimensão atitudinal/afetiva (savoir être); - a dimensão comportamental (savoir faire).

A integração destas três dimensões, nomeadamente, a capacidade de se pôr no lugar do Outro, compreendendo o seu ponto de vista (dimensão cognitiva), a demonstração de sentimentos empáticos por essa perspetiva (dimensão atitudinal/ afetiva) e a explicitação de sentimentos percetível aos olhos do Outro proporcionam a demonstração do processo de empatia que ocorre, segundo Jardim (2012) em duas fases, nomeadamente, a compreensão e a comunicação (figura 45):

Figura 45: O desenvolvimento da empatia (Jardim, 2012)

Segue-se uma descrição mais pormenorizada das estratégias associadas a cada estádio de desenvolvimento da empatia. Começando com a concentração atenta (figura 46), o aprendente deve olhar o interlocutor nos olhos, segundo Jardim (2012: p.78),

adotando uma postura que expresse envolvimento, assumir uma postura aberta, evitando cruzar os braços e as pernas; inclinar-se levemente em direção à pessoa; acenar com a cabeça e usar vocalizações breves quando est[e] revela algo importante; adotar uma postura descontraída, evitando demonstrações de impaciência e desinteresse.

Figura 46: As estratégias de concentração (Jardim, 2012)

As estratégias de concentração são uma forma de indicar ao interlocutor o interesse genuíno no que tem a dizer. Apesar de o contacto visual direto poder causar intimidação ao interlocutor por parte de algumas culturas, uma postura corporal relaxada ajuda a afastar esse acanhamento. A demonstração de feedback por parte de acenos ou declarações verbais como "hmm, hmm", "ah ha" é um estímulo à prossecução da interação.

A audição ativa, também designada por Jardim (2012) como escuta autêntica ou sensível (figura 47),

consiste em dar ao outro a oportunidade de ser ouvido nas suas próprias palavras, sem ser julgado, apreciando-o tal como é, aceitando os seus sentimentos ou ideias, o que faz com que o outro se sinta entendido, reconhecido, aceite e valorizado. (idem, ibidem).

Ao ouvir o Outro, o Eu não passa a ter meramente uma posição passiva. Pelo contrário, deve abstrair-se de si próprio para se concentrar no Outro, na observação dos seus comportamentos não-verbais que tanto podem agir como um reforço das suas ideias, como também uma antítese das mesmas, servindo como mote para refletir e interagir novamente no sentido da sua clarificação.

Figura 47: As estratégias de escuta autêntica (Jardim, 2012)

Nesta fase de desenvolvimento da empatia, o aprendente deve (idem, pp. 78-79):

- abstrair-se (…) de si próprio e centrar-se totalmente nas perspetivas, desejos e sentimentos do outro;

- observar e entender os comportamentos não-verbais que ele manifesta quando fala, reconhecendo as emoções subjacentes;

- colocar-se no lugar do outro, identificando-se com os seus sentimentos, perspetivas e desejos;

- pensar sobre a relação entre o que foi observado e interpretado, a fim de posteriormente o comunicar ao [interlocutor, professor, demais colegas, etc.]

A verbalização empática pertence à dimensão comunicativa deste processo, cujo objetivo é que o aprendente exponha o ponto de vista e os sentimentos do Outro, suspendendo o seu próprio julgamento (figura 48).

Como podemos ver pela figura 48, as estratégias de verbalização empática são (idem, p. 79):

- “tentar explicar e validar os sentimentos e perspetivas da outra pessoa, sem julgar; - relacionar o contexto, a perspetiva e os sentimentos da outra pessoa”.

A criação de empatia com o Outro depende da adoção de uma transferência de perspetiva, ou seja, pôr-se na pele do Outro. Esta postura implica a adoção de um conjunto de estratégias listadas por Jardim (idem, pp. 81-82), nomeadamente:

- concentrar-se no interlocutor, dando atenção à sua comunicação verbal e não-verbal (gestos, olhar, postura, etc.), demonstrando interesse em escutá-lo e em acompanhá- lo na sua exposição.

- aceitar incondicionalmente os conteúdos expressos, suspendendo inicialmente os juízos de valor sobre o que é dito, não interrompendo o pensamento do outro;

- compreender os sentimentos expressos verbal e não verbalmente pelo outro, sem pressupor que já entendeu tudo antes de ele expor tudo o que gostaria de comunicar; - afirmar e manter a sua própria individualidade, vivenciando, simultaneamente, a experiência de proximidade e de liberdade em relação ao outro;

- responder a quem falou, manifestando o grau de compreensão, fazendo referência aos conteúdos essenciais transmitidos pelo emissor, reformulando, verbalizando ou fazendo perguntas abertas, mostrando estar próximo do outro naquilo que diz e sente e encorajando o interlocutor para que prossiga os seus propósitos e objetivos.

Desta forma, podemos encarar uma situação de interação cultural em três momentos (quadro 10):

- a preparação; - a sustentação; - a conclusão.

A primeira fase relaciona-se com o estabelecimento de atitudes e disposições positivas por parte do indivíduo, de modo a criar um ambiente propício à interação. Na fase seguinte, o indivíduo deve empregar as estratégias listadas para sustentar a conversação, de modo a indicar o seu interesse em ouvir outro ponto de vista. Finda essa etapa, o indivíduo deve interpretar a perspetiva do Outro, imaginando-se do outro lado.

PRÉ DURANTE PÓS