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Capitulo 5 A ENGENHARIA SOCIAL: Contributo para uma Sociologia Aplicada

5.3 A Engenharia Social e as Ciências Sociais

Em França a Engenharia Social teve o seu berço e foi amplamente desenvolvida, enquanto processo de ‘empowerment’ das populações/grupos, através de processos participativos e coletivos de conceção e organização da ação para o desenvolvimento social. Tendo mesmo vindo recentemente a ser decretada como curso pós-graduado.

A partir da regulamentação da formação de Engenheiros Sociais, os profissionais supostamente viriam a disseminar-se, desenvolver e especializar-se em sectores específicos, como os da saúde, do ensino, direito, agronomia, etc. Aplicando o seu savoir

faire a problemas organizacionais e conflitos, onde eles surgem e não só no campo da ação

social direta (serviço social). Neste âmbito do ensino e da profissão moderna, surge definida como, “A Engenharia Social repousa sobre a mestria de saberes disciplinares e metodológicos (a partir das ciências sociais), e propõe-se mobilizar essas ferramentas de conhecimento para conceber, conduzir e avaliar os efeitos dos dispositivos e das ações realizadas no quadro das políticas sociais. Ela visa alimentar uma abordagem racional dos

problemas sociais com vista a ajudar aos seus modos de resolução promovendo e tendo em conta a complexidade dos mesmos, numa abordagem transversal e territorial. Apoia-se nas ciências sociais (sociologia, ciências politicas, gestão, etc.), mas também na estatística e mobiliza as metodologias facilitando a participação daqueles que são diretamente interessados ou que são os destinatários de uma intervenção social”113ii

(Dubéchot & Rivard, 2010, p. 14). Repare-se aqui na importância atribuída à ligação às ciências sociais e às suas metodologias, esta nova prática é uma derivação, uma evolução da Sociologia, pois adota os seus conhecimentos e ferramentas, complementando-os com os das outras ciências. Segundo Michel Bonett (Engenharia Social e território, 2012) o termo Engenharia Social é pouco utilizado devido à sua conotação funcionalista-racionalista. Na prática tem-se vindo a optar antes por denominar estes profissionais como agentes de desenvolvimento, num sentido de condução de mudança muito restrito e não tão abrangente como o do primeiro, embora aqui não haja distinção com os animadores sociais e outras tarefas com uma índole muito menos científica do que aquela que se pretende para esta profissão. Pois, para além de ter uma função prática na intervenção social, onde ajuda a encontrar as soluções para a resolução de problemas sociais, procura e ajuda a reorganizar as ferramentas, não só da Sociologia mas mesmo de origens diferentes, contribuindo mediante o envolvimento de diferentes organizações, parceiros sociais e cidadãos proceder ao diagnóstico, planeamento e execução das soluções coletivamente concertadas. Esta é assim uma arte que joga com a interdisciplinaridade, pois mobiliza diferentes conhecimentos (académicos, conhecimento de politicas e de dispositivos, conhecimento do terreno e dos atores), mas também de diplomata, pois deve reunir num mesmo espaço de discussão e trabalho diferentes entidades e atores. Tal como um engenheiro técnico deve combinar com mestria as ferramentas para alcançar um determinado resultado. Por esta razão, ultrapassemos os pruridos na utilização do termo e assumamos, para esta prática, a designação de Engenharia Social, em vez da metodologia mais circunscrita da investigação-ação, chamemo-la pelo nome “enquanto uma prática de ação social com o objetivo de contribuir para a evolução das formas de ação individuais e coletivas, numa perspetiva cooperativa, democrática e participativa” (Guerra I. , 2006).Se bem que fora do contexto a que a autora

113 « L’ingénierie sociale repose sur la maîtrise de savoirs disciplinaires et méthodologiques (issus de sciences

sociales), et se propose de mobiliser ces outils de connaissance pour concevoir, conduire et évaluer les effets des dispositifs et des actions réalisés dans le cadre des politiques sociales. Elle vise à alimenter une approche rationnelle des problèmes sociaux en vue d’aider à leurs modes de résolution en favorisant, compte tenu de la complexité de ceux-ci, une approche transversale et territoriale. Elle prend appui sur les sciences sociales (sociologie, sciences politiques…) mais aussi statistiques et mobilisent les méthodologies facilitant la participation de ceux qui sont directement concernés ou qui sont destinataires d’une action sociale »

se referia (investigação-ação), do que peço perdão à autora, esta é a definição mais simples e mais completa para a Engenharia Social.

Na aplicação da sua função de engenheiro social, as suas tarefas passam por: a realização de um diagnóstico, analise dos problemas levantados, definição dos objetivos prioritários, programação das ações, aplicação e avaliação de resultados. Deve ter a competência de mobilizar recursos intelectuais e humanos de diversas origens, reunidos por um objetivo comum; transmitindo-lhes as informações por si produzidas e processando os feedbacks dos atores. Sempre apoiado no conhecimento profundo do território e dos contextos, trabalha sempre em conjunto com os parceiros sociais, “segundo Philippe Estèbe, a figura

solitária do engenheiro social não existe!” (Dubéchot & Rivard, 2010, p. 49).

Por outro lado, os requisitos para o sucesso do seu trabalho também se prendem com as condições institucionais. Haverá situações em que há que romper com as práticas dominantes, pois a lógica de trabalho orientada para o interesse geral não se coaduna com o domínio de pequenos poderes menos legítimos. A transversalidade, globalidade, complexidade e interdependência das ações necessárias não pode contemporizar com interesses particulares, pelo que também aqui o engenheiro social deve ter a diplomacia de não ganhar inimigos, mantendo a neutralidade, mas realçando a legitimidade do interesse geral. Pois a profissão de engenheiro social pode ser exercida em domínios variados onde o poder e as ações são partilhados e onde há a necessidade de cooperação para construir projetos comuns. Enquanto profissão, o Engenheiro Social exerce funções de especialista, de aconselhamento, de conceção, de desenvolvimento e avaliação aplicadas aos domínios das políticas sociais e da intervenção social. O engenheiro social elucida acerca das condições da sua ação, das teorias que o orientam e a análise das implicações do seu trabalho, o trabalho epistemológico é indispensável, “O desenvolvimento da Engenharia Social constitui uma tentativa de racionalização da ação social e de reforço da eficácia dos meios consagrados à resolução dos problemas sociais”114 (Gaulejac, Boneti, & al, 1995, p.

15).

Com o avolumar e diversificação dos problemas sociais tornam-se necessárias novas abordagens, criando campo para a experimentação e inovação nas respostas sociais. A própria UE fomenta este tipo de intervenções, criando financiamentos para a sua implementação. Possibilitando a criação de novas técnicas e alargando o campo metodológico da lógica de projeto. A profissão do Engenheiro Social encontra toda a pertinência no contexto atual, face aos novos problemas sociais e à entropia em que as politicas publicas e os próprios Estados caíram. Mais do que nunca fazem sentido as suas

114 « Le développement de l’ingénierie social constitue une tentative de rationalisation de l’action sociale et de

competências de análise social e de conceção de ações, tendo em conta todos os obstáculos ou possibilidades, tendo por objetivo principal a promoção da participação cívica, utilizando os instrumentos e técnicas de modo engenhoso para o sucesso da intervenção, passando do plano à sua concretização, sempre no interesse das populações e não de outros poderes mais obscuros. Enquanto profissão, o engenheiro social também exerce funções de especialista, de aconselhamento, de conceção, de desenvolvimento e avaliação aplicadas aos domínios das políticas sociais e da intervenção social. O engenheiro social elucida acerca das condições da sua ação, das teorias que o orientam e a análise das implicações do seu trabalho, para o qual a reflexão epistemológica é indispensável.