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Capitulo 5 A ENGENHARIA SOCIAL: Contributo para uma Sociologia Aplicada

5.8 A Engenharia Social e o ordenamento do território

O regresso relativamente recente da Engenharia Social, no fim dos trente glorieuses, prendeu-se mesmo com a forma como os Homens ocupam o espaço, ou seja com o ordenamento urbano. Pois, na década de 70, houve uma política massiva de construção de habitações sociais, tornando necessária a criação de um mediador, chefe de projeto, que fizesse a interligação entre a população a realojar e as autoridades, embora na maioria das vezes, só depois de ter sido implementada a lógica do betão e, depois de todos os conflitos criados é que o engenheiro social era chamado à cena.

Embora não muito reconhecido, o seu papel é essencial e colaborativo para o surgimento de lógicas, de políticas e projetos do território. A emergência da necessidade de diagnósticos territorializados atribui um papel essencial ao conhecimento expert na conduta de processos de ordenamento e de desenvolvimento do território. A metodologia a utilizar neste tipo de trabalho também não segue a metodologia da Sociologia instituída, isto é utiliza sim a sua metodologia cientifica para a construção do conhecimento, mas vai muito para além da caracterização clássica assente em estatísticas e descrição monográfica, pois a sua componente de intervenção exige-lhe uma compreensão mais alargada das dinâmicas sociais e visão societal global de um território, pois para além da gestão técnica dos processos participativos, indiscutivelmente necessários para a elaboração de um diagnóstico realista para um planeamento exequível, “Sucede, também, que os próprios sociólogos, por vezes, contribuem para aquela visão ao tomarem o inquérito sociológico e a análise estatística como as metodologias privilegiadas de diagnóstico, quando elas são apenas dois instrumentos, entre outros, e nem sequer aqueles que se revelam mais ajustados à dimensão participativa do diagnóstico.” (Rodrigues W. , 2005, p. 30). Na realidade há que escolher os meios pertinentes para o fim em questão, como já referimos existe a necessidade de liberdade e de inovação, pois a esfera em que se trabalha transcende a metodologia científica vigente e que vai mais longe do que o processo de construir conhecimentos cientificamente válidos, pois não fica por ai, na medida em que anseia pela intervenção na sociedade, vai ainda mais longe do que a investigação-ação, ainda circunscrita ao trabalho no domínio da Sociologia. Esses conhecimentos são utilizados como plataforma para a efetivação do acompanhamento da ação coletiva, mas também para que possam ser transformados em informação acessível para todos os agentes e atores. A Engenharia Social trabalha com outros saberes e outros instrumentos e como já referimos, este não é um trabalho solitário, será sempre um trabalho de equipa, pois para a sua conceção e operacionalização são necessárias outras disciplinas. No caso do território, é necessária também a função de um engenheiro do território, o qual contribui com saberes sobre as dinâmicas do desenvolvimento, uma nova visão do território, o ambiente urbano, a gestão das mobilidades, o habitat, os espaços públicos e a própria territorialização da ação

pública. Esta associação profissional torna-se importante na aplicação de todos os instrumentos de planeamento e gestão do território, bem como para projetos de utilização pública. Esta equipa é enriquecida com o urbanista a quem compete o planeamento físico, espacial, ambiental, urbano e rural; fenómenos de urbanização e elaboração de planos urbanísticos e sua integração funcional e estética; o geógrafo que engloba no seu desempenho, a distribuição e disposição das formas e de outras características da superfície terrestre, resolução de problemas ambientais, sistemas de informação geográfica e cartográfica; e o arquiteto que projeta os equipamentos e elementos urbanísticos. Para além de todos os restantes eventuais participantes, consoante se abranja o turismo, a educação, todos os serviços de um município, esta seria a equipa central adequada para uma correta elaboração e implementação dos planos de ordenamento do território, sobretudo do PDM. Para a definição do objetivo do desenho dos espaços a utilizar pelos cidadãos, a organização no espaço das atividades humanas, o seu planeamento e configuração; para além da organização da participação daqueles que o ocupam e de dinamização de todos os participantes. Há que ter uma série de fatores em conta que não só os arquitetónicos ou as acessibilidades (cuja exclusividade é infelizmente comum); há que garantir a facilitação da comunicação, do convívio, das atividades recreativas e necessidades para todas as faixas geracionais.

O território é ocupado pelos seres humanos, logo é para eles e para as suas necessidades e resolução de problemas, que ele deve ser projetado. Há que ter um conhecimento em profundidade acerca da população com que se trabalha, das potencialidades do território e uma previsão da utilização futura e até mesmo, uma eventual reciclagem ou fusão dos espaços (vide o capitulo do desenvolvimento do território). O necessário é que os espaços construídos sirvam as populações e não o contrário tal como sucedeu nos processos de urbanização social e que, infelizmente continuam a acontecer. O facto é que os saberes sociológicos são ignorados, senão desprezados pelo facto de serem considerados opiniões e não conhecimento científico legítimo, quer por arquitetos e construtores ou até mesmo pelos políticos. Assim se continuam a cometer erros crassos, pelo simples facto da despromoção dos saberes e pela insistência no trabalho individualizado. Todos os contributos são necessários e válidos para o bem-estar das populações, sobretudo o proveniente daqueles que as estudam, pois “A capacidade para avaliar com rigor as causalidades dos problemas sociais, interpretar dados, construir indicadores, exige competências técnico-científicas que a maioria dos atores não detém” (Rodrigues W. , 2005, p. 31). Assim, este é mais um fator a favor da criação da profissão de Engenharia Social, uma vez que a Sociologia é tão desprezada nas autarquias locais, sobretudo em questões de ordenamento do território, talvez este título profissional também lhe confira uma maior legitimidade junto dos arquitetos que dominam nesta área e não compreendem a

necessidade de uma perspetiva social para o trabalho do ordenamento, que deve ser coletivo.

“A organização do espaço é a organização da própria sociedade” (Jung, 1971), para tal há que facilitar a comunicação entre todos os seus componentes, mediatizada pela própria disposição do espaço urbano.

“ Uma análise das transformações urbanas que o desenvolvimento das novas técnicas de comunicação é suscetível de induzir, tanto no que respeita à espacialização das relações sociais, à valorização e à recomposição dos espaços urbanos, à organização do espaço público. Coloca em evidência os constrangimentos urbanos que devem ter em conta as redes de comunicações. Uma aproximação das estratégias institucionais da mestria do espaço através da utilização de sistemas de comunicação coloca em perspetiva estas estratégias com os políticos no ordenamento do território e no processo de descentralização”141

(Bonetti & Simon, Les transformations Urbaines, 1986, p. 3).

A comunicação é sempre mediatizada, seja pelo próprio objeto em si, o meio ou as condições da relação. “A presença do outro estrutura a sua relação ao espaço, não será aquela que pela imagem social que lhe confere e pelos sinais (ruídos, odores, degradações), pelos quais se manifesta esta presença. As técnicas de comunicação não modificam as relações sociais pelo facto de elas introduzirem uma mediatização destas, mas pelas formas de mediação que elas emprestam”142 (Bonetti & Simon, 1986, p. 8). A construção de equipamentos sociais de bairro pretendem potencializar a comunicação entre os habitantes e assim promover a socialização e práticas de cidadania, como a democracia participativa. Com a criação destes espaços públicos e as associações que os gerem, assiste-se também à emergência de um novo grupo de mediadores sociais, investidos pelas instituições (que os remuneram) enquanto “organizadores sociais”143.

141

“Une analyse des transformations urbaines que le développement des NTC est susceptible d’induire tant en ce qui concerne la spatialisation des relations sociales, la valorisation et la recomposition des espaces urbains, l’organisation de l’espace public. – met en évidence les contraintes urbaines que doivent prendre en compte les réseaux de communication. Une approche des stratégies institutionnelles de la maitrise de l’espace à travers l’utilisation des systèmes de communication mettant en perspective ces stratégies avec les politiques d’aménagement du territoire et le processus de décentralisation »

142 “la présence de l’autre structure leur rapport à l’espace, ne serait –ce que par l’image sociale qu’il leur confère

et par les signes (bruits, odeurs, dégradations) para lesquels se manifeste cette présence. Les techniques de communication ne modifient pas les relations sociales par le fait qu’elles introduisent une médiatisation de celles-ci, mais par les formes de médiation qu’elles empruntent »

143

Visita ao Vale da Amoreira, Município da Moita, no âmbito da summer school - reinventing the city : participation and innovation No Vale da Amoreira. Vimos que funciona, este é um caso de sucesso e uma boa prática. À subcultura de gueto (musica, dança, grafismos) é-lhes dados espaço e condições para a sua expansão, outros espaços para os idosos e crianças na promoção da transmissão de saberes intergeracionais, ou mesmo para