• Nenhum resultado encontrado

Capitulo 5 A ENGENHARIA SOCIAL: Contributo para uma Sociologia Aplicada

5.1 A Engenharia Social nas suas diferentes acepções

5.1.1 L’Ingénierie Sociale et Mondialisation

Descrita pelo Comité Invisible, explana os processos e técnicas utilizadas no controlo

populacional. O the Guardian106 e o The New York Times107, mas sobretudo a Fox News consideram que o documento posterior a este é o manual que os anarquistas necessitam para as suas batalhas contra o neoliberalismo: The coming insurrection, supostamente dos

mesmos autores (julgados em tribunal por esta obra). No entanto não nos iremos aqui sobre ele debruçar, a militância não nos interessa, nem o seu conteúdo é pertinente para o tema em estudo, para além de que, o que se pretende com este trabalho é o de ajudar a construir em conjunto, aplicando técnicas para estimular a participação coletiva nas decisões locais; e não o de destruir instituições e muito menos o de instalar o caos anárquico. Interessa-nos sim ilustrar com alguns exemplos as técnicas utilizadas a este nível.

Este manifesto começa por referir que através de uma vigilância global de tudo e todos é possível conhecer os padrões dos comportamentos, reduzindo a incerteza a zero, ou seja tudo é expectável e passível de intervenção imediata, a este propósito relembremos que “O único poder que temos de evitar que nos tratem como coisas é o de nos mantermos imprevisíveis” (Crozier & Friedberg, 1977).

Com os meios tecnológicos atualmente disponíveis, esta tarefa de vigilância permite criar um perfil do individuo ou grupo e estimar o grau de perigosidade que pode representar para o sistema. De facto na luta contra o terrorismo este sistema tem vindo a revelar-se de extrema utilidade, no entanto esta é a perspetiva que legitima a sua utilização, o verso é que também perdemos a nossa privacidade, estamos sempre sobre observação, enriquecendo a base de dados individual, que em última instância irá interessar às seguradoras, que segundo Jacques Attali irão, em determinada fase de evolução, munidos dos nosso dados, governar o mundo (Attali, Breve história do futuro, 2007).

Esta teoria da conspiração, assim inicialmente considerada, defende que a globalização favoriza a homogeneidade das diferentes populações, facilitando assim o seu controle e manipulação num único sistema de informação, com uma administração e gestão de segurança centralizada, também ela invisível.

104 http://www.lemonde.fr/societe/article/2014/10/18/l-insurrection-qui- revient_4508538_3224.html?xtmc=le_comite_invisible&xtcr=3 105 http://recherche.nouvelobs.com/?q=comit%C3%A9+invisible&referer=nouvelobs 106 http://www.theguardian.com/books/2010/feb/19/glenn-beck-evil-anarchist-manual-sales 107 http://www.nytimes.com/2009/06/16/books/16situation.html?_r=0

Marcuse também ele previu na sua teoria critica, a sociedade unidimensional, que através do controle social possibilitado pelo desenvolvimento de tecnologias que reduzem a capacidade critica dos homens e a sua capacidade de buscar alternativas à ordem existente “Na sua agora análise clássica, as sociedades industriais avançadas integram e absorvem todas as forças de oposição para que as condições subjetivas de conflito entre classes, bem como entre os indivíduos e a sociedade, se desvaneçam no momento exato em que a realidade objetiva de exploração e injustiça se intensifica” (Bronner, Kellner, & et.all, 1989, p. 9)108 . Suspeita-se que a atual crise global que vivemos é fruto desta Engenharia Social, induzindo realidades construídas para que a população mundial fique à mercê dos poderosos e ricos. Apresentam-se algumas das técnicas utilizadas para o controle e manipulação das populações, descritas no manifesto referido:

A estratégia de choque - a produção intencional de tragédias e utilização do pânico para centralizar o poder como, a crise económica e destruição da economia de pequena escala, ou ainda ataques terroristas e epidemias, mediatização da violência, destruição da classe média e criação de uma outra, o precariado; tudo o que nos deixe fragilizados, amedrontados e sobretudo submissos, e nos faça aceitar como benevolência uma “migalha” dos poderosos, uma promessa que nunca virá a ser concretizada. Em nome da mudança as estruturas e instituições como as conhecemos deixam de existir. Como diria Jean Monnet, “os Homens não aceitam a mudança, salvo numa necessidade e eles não veem a necessidade a não ser numa crise,” então para haver mudança as crises tem de ser criadas.

Social Learning - a partir do momento em que os indivíduos são reduzidos a “tábuas rasas”

indefesas e amedrontadas, é possível formatar as suas mentes, modificar modos de vida, tradições e costumes para fabricar um consentimento e aceitação da mudança induzida, como se “não houvesse outra alternativa” (M. Thatcher). Para servir a determinados fins, como o caso da sociedade do pós-guerra, em que se implementou gradualmente a sociedade dos produtores/consumidores; a crise atual e a nossa (ausência) de reação, o fatalismo, a resignação, a submissão e passividade a que somos conduzidos como cordeiros mansos. A nossa atenção é concentrada noutras questões fúteis e inofensivas para o poder, pela criação de novas necessidades, para aumentar o consumo, e em acontecimentos banais dramatizados até à exaustão. “No espaço de alguns decénios, os países desenvolvidos passaram de um controle social assente na linguagem, na interlocução, na convocação linguística do humano e a ativação das suas funções de simbolização, a um controle social baseado sobre a programação comportamental de

108 “In his now-classic analysis, advanced industrial society integrates and absorbs all forces of opposition so that

the subjective conditions for conflict between classes, as well as between the individual and society, vanish at the very time that the objective reality of exploitation and injustice intensifies”

massas através da manipulação das emoções e da restrição física”109 (Rodrigues W. , 2005, p. 2). Atacando as emoções e os impulsos primários, tais como a agressividade, a sexualidade e a busca da normalidade e da segurança (vejamos a programação da televisão global: fox, hbo, axn,etc.); levam-nos a crer que as escolhas são nossas; tal como na democracia atual, os candidatos são-nos apresentados, mas são primeiro escolhidos antes de neles votarmos, não há soberania popular, somente a sua ilusão, “Trabalham sobre uma regressão cultural, invocando o fantasma primordial que nos remete ao desejo de regresso ao útero materno, tornando-nos passivos e sem resistências. A construção da servidão voluntária” (p.5). A liberdade é também uma ilusão e restringe-se cada vez mais ao mundo do consumo.

A Infantilização da população – algo tem de ser retribuído como compensação, o

tittytainement, conceito criado pelo conselheiro de múltiplos presidentes americanos,

Zbigniew Brzezinski e que é uma combinação das palavras tits e entertainment, “Um cocktail de divertimento embrutecedor e de alimentação suficiente permite, segundo o autor referido, manter de bom humor a população frustrada do planeta”110 (p.13). É uma forma de manter apaziguados os excluídos. Pois paralelamente implementa-se a sociedade dos 20-80, ou seja 20% de trabalhadores e 80% de desempregados, amamentados pelo consumo e pelo entretenimento, alienados, mas satisfeitos no útero artificial, do sofá. Esta regressão coletiva incentiva às doenças mentais, desvios e banalização da perversão em que uma nova civilização de capitalismo totalitário tomou o controlo do mundo.

Pé na porta - Outra técnica aplicada, na sequência das anteriores e que consiste nas reformas ou mudanças no sistema, que aparentemente são escolhidas para melhorarem o seu funcionamento, mas que conduzem à degradação e mesmo à aniquilação dos serviços públicos. Através desta técnica consegue-se obter o consentimento não problemático à degradação. O problema é criado através de cortes no orçamento das instituições ou no aumento de taxas de acesso aos serviços, em nome de políticas de contenção de despesa, ao mesmo tempo criam-se soluções que só vão piorar o problema, apresentadas como a

única alternativa. O conceito de mudança implica na mente coletiva que será sempre para

melhor e assim se vai inibindo as populações à reação.

O Mind Control - ou controle direto do cérebro e reprogramação mental, resultou das experiências realizadas em militares, para criar o super soldado; aplicado às populações

109 “En l’espace de quelques décennies, le pays développés sont donc passés d’un contrôle social fondé sur le

langage, l’interlocution, la convocation linguistique de l’humain et l’activation de ses fonctions de symbolisation, à un contrôle social reposant sur la programmation comportementale des masses au moyen de la manipulation des émotions et de la contrainte physique »

110 “Un cocktail de divertissement abrutissant te d’alimentation suffisante permettrait selon lui de maintenir de

transforma os indivíduos em máquinas, atrofiando o campo psíquico e tornando-os em material moldável, também conhecido como a geleificação da mente. Alternando medo e prazer imediato, a mente torna-se como um gel fluido facilmente dirigível, por quem a controla.

A virtualização - pretende substituir a realidade, por uma outra que é aquela desejada pela sede de controlo ou pelo tal governo global invisível? A guerra contra a insurreição elimina todas as iniciativas de revolta ainda no gérmen, pois devido à super-vigilância é possível detetar as ameaças e controlar os potenciais elementos perigosos. Desacreditar o inimigo com falsa propaganda, ataques atribuídos a dissidentes e mesmo promoção de guerras religiosas. A criação de todo um falso cenário para nos iludir e ganhar o nosso consentimento; como no filme Brazil: o outro lado do sonho (1985) de Terry Gilliam; ou o

Soylent Green (já referido), Blade Runner ou mesmo um outro qualquer pesadelo Kafkiano.

Ou (perdoem-me a ousadia) ainda tão genuinamente descrito na letra desta música dos New Model Army de 1984, Grandmother's Footsteps111:

“Come with me my little innocents, there's a game that we can play See how much we can change your world while you look the other way Turn around as if to see if you can catch us cheat

And all you'll find are shining presents laid down at your feet Take the bait, take the bait

Television is flash and Coke is nice and you can have the rest

Dream those dreams you've always had of wealth and power and sex We'll run your mines, your factories and we'll take our little toll

And you can have these missiles too while we maintain control Chorus:

Creeping, creeping footsteps around the world While they promise us everything we've ever wanted Hush now, don't you cry, don't you realise your crime?

Like lambs go to the slaughterhouse, we know our rights from wrongs But we go down to the shopping mall with 30 silver coins

And somewhere out in South America, where the forests lie in ruin They shout - we'd better get these natives some clothes

Because their videos are coming in soon Chorus:

Creeping, creeping footsteps around the world While they promise us everything we've ever wanted”

111

Se de facto estamos a soçobrar ao jugo de todo este processo supostamente invisível, também é cada vez mais claro que a destruição sistemática do estado providência, de todas as instituições suporte da sociedade (saúde, justiça, educação…) e que sustentam a nossa civilização; que a manipulação dos mercados financeiros e crises de divida soberana; que toda esta invocação de medo e de insegurança obedece a um desígnio que não é o popular e a quem muito menos se devem as causas, como nos querem fazer crer, jogando com o nosso sentimento de culpa. Nada disto parece real, mas parece verosímil a sua fabricação por um poder total global. De facto faz algum sentido, pois com o decorrer dos anos, vão sendo confirmadas o que antes eram desconfianças ou consideradas teorias da conspiração, e outras mudanças que se vão fazendo, desfazendo e refazendo ante o passar do tempo. Dai ter tomado o risco de aqui referir o quanto a Engenharia Social pode ser “má”.