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CAPÍTULO IV PERCURSO DA INVESTIGAÇÃO

4.4. Técnica e Instrumentos de Recolha de Dados

4.4.1. A Entrevista

A recolha de dados foi obtida através da entrevista semiestruturada. Como Pardal e Lopes (1995, p. 65) referem, “a entrevista semiestruturada não é uma entrevista inteiramente livre, mas permite uma comunicação aberta entre entrevistador e entrevistado, e tem um caráter mais informal”. Para isso, construímos um guião que serviu de base para as entrevistas realizadas (Anexo I).

A ordem das perguntas não era algo rígido a ser seguido, até mesmo porque alguns dos entrevistados acabavam por dar respostas que seriam questionadas em outros tópicos futuros. O fato de surgirem novas perguntas durante a entrevista também era outro fato que fazia com que a entrevista fosse de caráter flexível.

As entrevistas semiestruturadas trazem o benefício de uma grande riqueza informativa e esclarecedora. Aprofundando e clarificando vários pontos de vista de cada situação que o entrevistado e o entrevistador acreditam serem relevantes. Afonso (2005, p.14) reitera este ponto de vista, enunciando que a investigação qualitativa “preocupa-se com a recolha de informação fiável e sistemática sobre

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aspetos específicos da realidade social usando procedimentos empíricos com o intuito de gerar e inter-relacionar conceitos que permitam interpretar essa realidade” A entrevista é uma das técnicas mais utilizadas na investigação qualitativa (Matthews & Ross, 2010), permitindo obter informação sobre os mais diversos temas, nomeadamente as razões, sentimentos, pensamentos e significados para determinados comportamentos (Rubin & Rubin, 1995).

A principal função do investigador, ao conduzir a entrevista, é o de compreender e interpretar aquilo que os participantes querem dizer (Kvale, 1996). As características e finalidades do entrevistado e entrevistador são diferentes: o entrevistador é o condutor e responsável pela entrevista, já o professor entrevistado que participa na entrevista apenas tem o papel de participante sem nada querer em troca (Ghiglione & Matalon, 1992).

O tempo de duração das entrevistas realizadas foi, em média, entre 45 e 60 min. As entrevistas foram gravadas em áudio e posteriormente foram feitas as transcrições de forma integral. Cada documento recebeu um código de identificação no qual “E” significa entrevistado. Os números significam os números dos entrevistados, assim temos: E1, E2, E3, E4, E5, E6, E7, E8, E9, E10, E11 e E12.

Ao longo da realização das entrevistas foi considerado importante a forma como eles se expressavam no que diz respeito à sua própria realidade, na sua própria linguagem, com as suas caraterísticas conceptuais e os seus próprios quadros de referência (Quivy & Campenhoudt, 2003). É nesse instrumento de recolha que pode ser feita a “análise do sentido que os actores dão às suas práticas e aos acontecimentos com os quais se vêm confrontados: os seus sistemas de valores, as suas referências normativas, as suas interpretações de situações conflituosas ou não, as leituras que fazem das próprias experiências, etc” (Ibid., p. 193).

Mesmo que o guião pareça algo fechado, é na entrevista semiestruturada que o entrevistado tem a liberdade de desenvolver suas respostas de forma que ele considere mais adequada, esmiuçando mais aquilo que ele considere relevante.

Na hora em que o entrevistado responde a uma questão que ele se sente confortável é percetível a explanação aprofundada que ele dá à questão. Assim, numa investigação científica, as entrevistas são um dos mais “poderosos meios para chegar ao entendimento dos seres humanos e para obtenção de informações nos mais

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diversos campos” (Amado 2013, p. 207), facilitando assim a interpretação dos fatos, no nosso caso, das práticas curriculares em Timor-Leste.

A recolha através desse instrumento faz com que seja mais “fiável e sistemática sobre os aspetos específicos da realidade social usando procedimentos empíricos com intuito de gerar e inter-relacionar conceitos que permitam interpretar essa realidade” (Ibid. p.14).

Apesar de se tratar de uma temática bastante complexa para o contexto de Timor-Leste, a entrevista tem como característica a sua possível aplicação em pessoas de qualquer nível de estudo ou social, seja ela analfabeta ou não. Outra vantagem apontada por Marconi e Lakatos (1999, p. 97) são a de “proporcionar uma maior flexibilidade permitindo ao entrevistador repetir, esclarecer, formular de maneira diferente, especificar; oferece maior oportunidade para avaliar atitudes, condutas, podendo o entrevistado ser observado naquilo que diz e como diz (…)”. Essa leitura corporal que o entrevistador faz durante a entrevista também pode ser estimulado, se o mesmo souber utilizar estratégias para o fazer. É óbvio que isso requer um grau de experiência muito grande no campo da investigação.

Por outro lado, uma entrevista realizada deficientemente pode trazer desvantagens significativas nas interpretações e, consequentemente, nos resultados. O entrevistador não pode estar nervoso, ansioso ou sem um perfeito domínio das questões a serem investigadas. Por isso, a importância das leituras prévias e de um bom planeamento antes de ir para o campo. Cada detalhe deve ser devidamente contornado se o entrevistador tiver “bastante experiência ou tiver um bom senso” (Marconi & Lakatos, 1999, p.97).

Além das desvantagens mencionadas, os autores apresentam outras que podem ser contornadas ou ao menos minimizadas pelo entrevistador, se ele usar da criatividade e estratégias durante a entrevista:

“a) a dificuldade de expressão e comunicação de ambas as partes; b) a incompreensão, por parte do informante, do significado das perguntas de pesquisa, que pode levar a uma falsa interpretação; c) possibilidade de o entrevistado ser influenciado, consciente ou inconscientemente, pelo questionador, pelo seu aspeto físico, suas atitudes, ideias, opiniões, etc.; d) disposição do entrevistado em dar as informações necessárias; e) retenção de alguns dados importantes, receando que a sua identidade seja revelada; f) pequeno grau de controlo sobre uma situação de recolha de dados e finalmente, a entrevista g) ocupa muito tempo e é difícil de ser realizada” (Ibid., p 97).

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Os autores agregam, ainda, como limitações relativas ao tempo e dinheiro, acarretando um elevado custo, assim como a falta de à-vontade do entrevistado/sujeito, a indução da resposta por parte do entrevistador, a potencial subjetividade e as inferências interpretadas de forma incorreta. Gil (1999, p.118) considera que, quanto comparada com a técnica de inquérito por questionário, a entrevista apresenta outras vantagens:

a) não exige que a pessoa entrevistada saiba ler e escrever;

b) possibilita a obtenção de maior número de respostas, posto que é mais fácil deixar de responder a um questionário do que negar-se a ser entrevistado;

c) oferece flexibilidade muito maior, posto que o entrevistador pode esclarecer o significado das perguntas e adaptar-se mais facilmente às pessoas e às circunstâncias em que se desenvolve a entrevista;

d) possibilita captar a expressão corporal do entrevistado, bem como a tonalidade de voz e ênfase nas respostas. (ibid., p. 118).

Por outro lado, como Marconi & Lakatos (1999) apresentaram as desvantagens no parágrafo anterior, Gil (1999) também apresenta algumas dessas desvantagens na hora de se realizar uma entrevista. Algumas são comuns na visão dos autores:

a) “a) a falta de motivação do entrevistado para responder as perguntas que lhe são feitas;

b) a inadequada compreensão do significado das perguntas;

c) o fornecimento de respostas falsas, determinadas por razões conscientes ou inconscientes;

d) inabilidade, ou mesmo incapacidade, do entrevistado para responder adequadamente, em decorrência de insuficiência vocabular ou de problemas psicológicos;

e) a influência exercida pelo aspeto pessoal do entrevistador sobre o entrevistado;

f) a influência das opiniões pessoais do entrevistador sobre as respostas do entrevistado.” (ibid., p. 118)

Gil (Ibid., p. 119) ainda alerta sobre a importância de a entrevista ser bem planeada para ser bem-sucedida, sendo de qualquer tipo: “informais, focalizadas, por pautas ou formalizadas”.