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CAPÍTULO II O CURRÍCULO E AS POLÍTICAS EDUCATIVAS

2.2. Teorias Curriculares

No estudo das teorias curriculares, Pacheco (2001, pp.31-32) cita diversos autores para clarificar o papel dessas teorias:

“(…) conjunto organizado de análise, interpretações e compreensões dos fenómenos curriculares” - McClutcheon (1982:18);

(…) define como um modelo de organizar o pensamento sobe todos os assuntos que são relevantes para sua evolução – Taba (1983:20);

(…) que a delimita como um conjunto generalizado de definições, conceitos, proposições e outros construtores logicamente inter-relacionados que representam uma visão sistemática dos fenómenos curriculares – Zais (1976:87). Nesta perspetiva a função da teoria curricular é descrever, explicar e compreender os fenómenos curriculares, servindo de programa para a orientação das atividades resultantes da prática com vista à sua melhoria;

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(…) que aceite como premissa que o objeto da abordagem dos estudos curriculares e da teorização curricular tem por finalidade a melhoria da prática;

(…) “A teoria como qualquer outra teoria tem a função de representar os problemas curriculares e de os clarificar em termos de território” – Kliebard (1977: 258)

(…) o “problema central deve ser entendido como o duplo problema das relações entre a teoria e a prática, por um lado, e as relações entre a educação e a sociedade, por outro – Kemmis (1988:30).”

As teorias apresentam-se de diversas formas sendo um “argumento a favor da diversidade e problemática do respetivo campo de estudo” (Idem, p.32). Mais uma vez Pacheco (Ibid., p. 32), cita Schwab, que trata da improbabilidade da unificação das teorias curriculares:

“Não há esperança previsível de uma teoria unificada no futuro imediato ou a médio prazo, nem uma metateoria que nos diga como reuni-las e ordená-las numa hierarquia fixa de importância para os problemas do currículo. A alternativa viável que resta é a das uniões e conexões não sistemáticas, incômodas, pragmáticas e incertas que podem suscitar uma abordagem eclética”.

Para Morgado (2000, p. 33), o termo teoria serve para “identificar um conjunto de comportamentos predeterminados e que conduzem a fins preestabelecido”, sendo assim de ação técnica, nomeadamente. Contudo, “pelo que diz respeito ao domínio das ciências sociais e humana, não devemos utilizar o termo teoria para identificar comportamentos predeterminados, uma vez que ele depende de significados diversos” ((Ibid., p. 33). Desta forma. a “teoria consubstancia o que designa por acção prática e que caracteriza como uma ação fundamentalmente se guia por ideias morais, de modo geral conflituosos, relacionados com o bem da humanidade implicando uma avaliação de circunstâncias, juízos de valor, de modo a que se consiga actuar em determinadas situações sociais e humanas concretas (Kemmis, 1988, apud Morgado, 2000, p. 33).

De acordo Pacheco (1996), a prática deve estar sempre ligada a teoria, sobretudo no que concerne ao currículo, tentando buscar respostas que poderão resolver os problemas inerentes a ela. Como forma de facilitar a compreensão das teorias curriculares, Kemmis (1988) elabora três grandes grupos de teorias: a teoria técnica, a teoria prática e a teoria crítica.

Kemmis e Fitzclarence (1986, apud Lundgren, 1992, p. 70) resumem o que para eles constitui o principal conflito ocorrido da teoria curricular: “O problema principal da teoria curricular é a de ser entendida como um duplo problema: a relação entre a teoria e a prática, por um lado, e a relação entre educação e sociedade, por outro”.

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Antes de falarmos sobre a estrutura do currículo, abordaremos as teorias curriculares que permeiam o trabalho em educação. Devemos lembrar que as teorias curriculares nada mais é do que o conjunto de imagens, de representações, de signos, de reflexões que produzem e descrevem uma realidade sobre o que significa currículo. As teorias servem como uma expressão da mediação entre o pensamento da educação e a ação. Podemos também dizer que é um conjunto de princípios e conceitos que tentam explicar o que é e como funciona um projeto curricular. De trás de toda a teoria curricular existe uma ideologia que não é estática ou única.

Um grande divulgador da Teoria Curriculares foi Bobbit, que, em 1918, publicou o livro The Curriculum, com uma abordagem clara sobre a escolarização das massas. Juntamente com essa abordagem foi possível perceber o cientificismo e a padronização dos processos pedagógicos dessa teoria. A ideia de Bobbitt está relacionada com os princípios da administração e da racionalidade técnica, ou seja, aquilo que acontecia na administração de uma indústria, por exemplo, foi trazida para a escola. Não esquecendo que o taylorismo era uma das principais características dessa teoria pela ênfase dada as tarefas.

2.2.1. Teoria Crítica

A teoria crítica sobre o currículo consiste em analisar os processos mediante o que a sociedade e o nosso ponto de vista sobre ela, se tem formado. A compreensão desse processo pode revelar algumas das formas as quais estão distorcidas, tanto na vida social, como nosso ponto de vista.

Segundo Silva (2003), “As teorias curriculares críticas basearam o seu plano teórico nas concepções marxistas e também nos ideários da chamada Teoria Crítica, vinculada a autores da Escola de Frankfurt, notadamente Max Horkheimer e Theodor Adorno. Outra influência importante foi composta pelos autores da chamada Nova

Sociologia da Educação, tais como Pierre Bourdieu e Louis Althusser"16.

Essa teoria critica a racionalidade instrumental que é subjacente a elaboração do currículo. A teoria crítica se iniciou na segunda década do século XX como reações as exposições positivistas e interpretativas que dominavam as ciências. A forma que a

16 Teorias curriculares. Silva, T. (2013). Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica. Disponível em: https://educador.brasilescola.uol.com.br/trabalho-docente/teorias-curriculares.htm Acesso em 10/05/2019

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racionalidade instrumental do positivismo começou a produzir uma complacência tanto no referido papel da sociedade, como na natureza da mesma ciência.

Grande parte da teoria crítica do currículo se concentrava em revelar como o currículo e o seu processo de seleção cultural, organização para o ensino e transmissão, funcionam como um mecanismo de reprodução social. Nesta perspetiva crítica se questiona a marginalização do professor na elaboração do currículo, e consequentemente a dependência e carência de autonomia profissional. Nesta perspetiva se converte ao professor uma imagem de simples executor de normas e um coadjuvante da função reprodutora da escola. A educação tem muito a decidir sobre esses processos formativos, tanto positivamente desmascarando os aspetos do nosso ponto de vista por superstição, dogma e irracionalidade. Seus princípios são: rejeitar as noções positivistas da racionalidade, objetividade e verdade. Redefinir o design do currículo e dos modelos fundamentais.

2.2.2. Teoria Técnica

A teoria técnica é caracterizada pelo desenvolvimento de programas que tenha como propósito responder aos objetivos e necessidades da sociedade. Utilizando se de uma linguagem técnica e neutro, impessoal. Racionaliza ao máximo os fundamentos do currículo. Na teoria técnica o currículo é visto como um processo técnico para conseguir do aluno os resultados pré-estabelecidos. Exigindo uma pressão mais taxativa e mais objetiva desses resultados. O currículo é o objetivo principal, os demais são subordinados a ele (conteúdos, recursos…). A busca sempre será por resultados.

Essa teoria é preocupada com o controle (behaviorista). Concepção de mosaico da aprendizagem: o completo se aprende juntando partes mais simples e pequena, com menores melhores. Si se conhece as partes se chega a conhecer o todo. O professor é um técnico, executor de programas curriculares, idealizados por especialistas. É uma conceção linear e automatizadora do processo de aquisição do saber. É uma visão exógena (se produz de fora para dentro).

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2.2.3. Teoria Prática

A teoria prática implica essencialmente na intenção dos seus interesses morais e está dirigida na compreensão humana e na interação docente-aluno e aluno-aluno. Bem como, no julgamento dos professores e dos outros membros da sociedade sobre aquelas pessoas que tentam atuar correta e sensatamente nas situações práticas em que elas se encontram. O conhecimento que se produz é propriedade do sujeito. Trata-se de uma teoria humanista por ser governado pelos ideais de instruções.

Muitas dificuldades são encontradas na hora de consensualizar a teoria curricular, Kemmis (1988) apresenta uma proposta de concepção de currículo na tentativa de “sistematizar as diferentes correntes de pensamento acerca da problemática curricular” (Fig. 2):

Fig. 2 – Teoria Curriculares, Kemmis (1988)