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Capítulo II – Metodologia de pesquisa

6. Método e técnicas de pesquisa

6.2. Técnicas de pesquisa

6.2.1. A entrevista

Para a recolha de dados recorrer-se-á à entrevista, pois esta é uma técnica que possibilita “a recolha de dados de opinião que permitem não só fornecer pistas para a caracterização do processo em estudo, como também conhecer sob alguns aspectos, os intervenientes do processo” (Estrela, 1994, p. 342).

Bogdan & Biklen (1994, p. 134) referem que “uma entrevista consiste numa conversa intencional, geralmente entre duas pessoas, (…) dirigida por uma das pessoas, com o objectivo de obter informações sobre a outra” e “é utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver

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intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo”. Neste sentido, pretender-se-á descobrir o significado das representações em relação à supervisão pedagógica no pensamento dos educadores de infância.

Mencione-se que de acordo com Yin (2005), as entrevistas são consideradas como uma das mais relevantes fontes de informação num estudo de caso.

Ciente de que “uma entrevista é muito mais do que uma conversa interessante” (Bell, 1997, p. 121) optou-se pela entrevista semi-estruturada como técnica de pesquisa, uma vez que esta é aconselhada quando “há necessidade de explorar a fundo uma dada situação vivida em condições precisas” (Sousa, 2005, p. 24), visando facilitar uma mais vasta e consistente recolha de dados de opinião, que permita clarificar ideias e aprofundar as questões de investigação, em função dos objectivos propostos no início do estudo.

Acrescente-se que “mantendo fidelidade à tradição qualitativa de tentar captar o discurso próprio do sujeito, deixando que a análise se torne evidente, as grelhas de entrevista permitem, geralmente, respostas e são suficientemente flexíveis para permitir ao observador anotar e recolher dados sobre dimensões inesperadas do tópico do estudo” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 134). Daí a utilização da entrevista semi- estruturada como modo de salvaguardar alguma inexperiência da entrevistadora em efectuar entrevistas.

Na entrevista foram formuladas questões, sendo que as respostas às questões reflectem as percepções e os interesses dos educadores de infância. “As pessoas são diferentes e poderão surgir igualmente perspectivas diferentes, podendo “emergir assim um quadro razoavelmente representativo da ocorrência ou ausência do fenómeno e, desse modo, propiciar-nos uma base para a sua interpretação” (Tuckman, 2002, p. 517). A fim de diminuir a neutralidade do processo e o grau de consistência das conclusões, construiu-se um guião de entrevista (anexo 3), cujo conteúdo surge das questões formuladas inicialmente.

O guião da entrevista foi organizado em oito blocos (de A a H), tendo em conta o tipo de informação que se pretendia recolher face aos objectivos.

O bloco A visava a identificação a entrevistadora, a apresentação da natureza do estudo e os seus objectivos, a motivação e o pedido de ajuda aos educadores de infância pois o seu contributo era imprescindível e por fim a garantia da confidencialidade dos dados.

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O bloco B pretendia-se proceder à caracterização do meio socioeconómico e cultural assim como do estabelecimento de ensino onde o educador de infância exerce funções e a identificação das condições de trabalho no mesmo. De referir que os tópicos deste e dos blocos C, D, E, F funcionaram como pontos de partida para a elaboração das perguntas, as quais dependeram das características da entrevista.

O bloco C apontava para a caracterização dos educadores de infância quanto ao género, à idade, às habilitações académicas, ao tempo de serviço, à situação profissional e ao desempenho de outro cargo para além de educador de infância. Questionou-se o entrevistado quanto ao seu percurso profissional e verificou-se se o entrevistado possuía formação na área da supervisão pedagógica e o local/entidade onde a obteve.

O bloco D visava a caracterização da classe docente quanto à idade, ao género e avaliação global do grupo de crianças. Caracterizou-se ainda o nível socioeconómico e cultural da classe discente.

O bloco E pretendia problematizar a temática da supervisão pedagógica, procurando-se questionar sobre o conceito de supervisão pedagógica, interrogar sobre qual deve ser o objectivo da supervisão pedagógica e verificar em que plano é aplicada a supervisão pedagógica, inquirir sobre qual deverá ser a postura/atitude dos docentes perante a supervisão pedagógica, inquirir sobre os possíveis obstáculos à supervisão pedagógica, interrogar se a supervisão pedagógica contribui, e em que medida, para a melhoria do trabalho escolar, interrogar se a supervisão pedagógica contribui para a inovação nas escolas e indagar sobre a formação contínua e especializada no âmbito da temática apresentada.

O bloco F assemelhava-se ao bloco anterior mas direccionado para o supervisor pedagógico procurando-se inquirir sobre quem é a pessoa do supervisor pedagógico, interrogando-o sobre as competências que este deve deter, assim como sobre os conhecimentos que deve possuir; interrogar sobre as funções atribuídas ao supervisor pedagógico; inquirir acerca da formação que o supervisor pedagógico deve possuir; questionar sobre qual deverá ser a relação pedagógica entre o supervisor pedagógico e o docente supervisionado.

O bloco G apontava para a indicação de expectativas e/ou preocupações em relação à supervisão pedagógica.

O bloco H reiteirava os agradecimentos e a garantia de confidencialidade das informações obtidas.

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Acrescente-se que nos blocos C, D, E, F e G o modelo usado foi o semidirectivo, estando a entrevista centrada no educador de infância entrevistado. Não se interrompeu o entrevistado e tentou-se efectuar-se uma articulação entre as perguntas dos blocos, para que não parecesse que a entrevista estava dividida registando-se as reacções verbais e as conotações linguísticas.

Depois de elaborado o guião da entrevista deu-se início à parte prática. Saliente- se que antes de se dar início às entrevistas com os sujeitos da investigação do estudo, a entrevista careceu de ser testada de modo a se detectarem a existência de algumas falhas na mesma. Para tal, efectuaram-se duas entrevistas a duas educadoras de infância conhecidas mas que não foram consideradas para efeito de análise de conteúdo.

Feitas as alterações necessárias na entrevista, estabeleceu-se um contacto pessoal com o educador de infância de cada escola do 1º CEB com pré-escolar do concelho de Câmara de Lobos que iria ser entrevistado, em que se fez uma apresentação do estudo, assim como do objectivo do estudo, pois como refere Guerra (2006, p. 51) “explicar com clareza o objectivo da entrevista e os seus temas é imprescindível, porque permite estabelecer essa relação de parceria que gera a possibilidade de «reflexividade» nos elementos desta interacção”. Posteriormente, combinou-se com alguma antecedência o dia, a hora e o local da entrevista.

No que respeita à questão da confidencialidade, Lessard-Herbet et al. (citados por Guerra, 2006) destacam que informar de forma correcta os entrevistados acerca dos objectivos da investigação, assunto abordado no parágrafo anterior, assim como garantir ao entrevistado o sigilo da sua identidade e das respostas dadas, apresentam-se como princípios que se devem privilegiar na ordem ética de qualquer investigação.

Foi pedida autorização ao entrevistado para a gravação da entrevista e foram garantidos a confidencialidade e o anonimato. A confidencialidade e o anonimato contempla a parte escrita e verbal da informação recolhida e não serão reveladas informações a terceiros acerca dos sujeitos da investigação. O registo da entrevista foi feito a partir da reprodução por escrito das gravações e o mais próximo possível após a realização da entrevista.

Saliente-se que os sujeitos da investigação aderiram de forma voluntária ao estudo, informados da natureza do estudo em questão, assim como dos perigos implicados. Os sujeitos da investigação não foram expostos “a riscos superiores aos ganhos que possam advir” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 75). De forma a expor o referido recorreu-se a um formulário que continha a descrição do estudo, o que se faria com os

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dados obtidos assim como outras informações consideradas pertinentes (anexo 4). A assinatura do sujeito da investigação constitui prova do consentimento informado e as identidades dos sujeitos de investigação foram protegidas, de modo a que os dados que o investigador recolhe não lhes causem qualquer prejuízo.

As entrevistas foram aplicadas a um educador de infância por escola do 1º CEB com pré-escolar do concelho de Câmara de Lobos e o critério adoptado na escolha dos educadores de infância foi por conveniência. Refira-se que no total realizaram-se dezassete entrevistas, sendo que estas decorreram no mês de Maio e Junho de 2011.

As entrevistas foram realizadas no dia, hora e local combinado com o entrevistado, tiveram uma duração inferior a quarenta minutos e foram realizadas num momento único.

De referir que todas as entrevistas foram codificadas, a fim de garantir o anonimato e possibilitar uma melhor sistematização dos dados. A codificação atendeu à ordem cronológica da realização das entrevistas e assim, as entrevistas foram identificadas por E1, E2, E3, E4 e E5, E6, E7, E8, E9, E10, E11, E12, E13, E14, E15, E16 e E17, em que o E diz respeito ao termo entrevista e o número que se segue foi atribuído consoante a ordem cronológica da realização das entrevistas. Deste modo, cada entrevistado e o respectivo protocolo foram identificados pelos códigos supracitados.

Uma vez que algumas freguesias do concelho têm um número reduzido de escolas, verificou-se a partir dos protocolos que algumas frases facultavam a identificação da escola em questão. Tendo em conta o referido, optou-se por suprir o nome de pessoas ou escolas nos protocolos das entrevistas, quando estes apareciam.

Acrescente-se que o local da entrevista coincidiu na maior parte das vezes com a escola onde o educador de infância exerce funções, à excepção da E7 e da E11 por opção dos entrevistados.

Dado que grande parte dos entrevistados era desconhecida, aproveitou-se os momentos iniciais para quebrar o gelo inicial. Nas entrevistas pretendeu-se criar um clima propício à formulação das questões, onde os entrevistados tiveram completa liberdade para falarem do tema, exprimindo as suas opiniões. Refira-se que as boas entrevistas são caracterizadas pelo facto dos sujeitos da investigação se apresentarem à vontade e falarem de forma livre acerca dos seus pontos de vista, esperando-se que estas produzam uma riqueza de dados e que revelem as perspectivas dos entrevistados (Bell, 1997).

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Nas entrevistas procurou-se sobretudo escutar os entrevistados, mas atendendo aos princípios definidos por Estrela (1994) para a sua concretização, pretendendo não dirigir a entrevista, não limitar as respostas e não se restringindo somente à temática abordada, deixando os entrevistados expor espontaneamente o seu pensamento, de acordo com as questões enunciadas, contudo visando esclarecer os quadros de referência utilizados pelos mesmos, levando-os a clarificar os conceitos e as situações concretas.

Tendo em conta que o método usado é o estudo de caso, seguiu-se a teoria apresentada por Yin (2005, p. 82) e houve o cuidado de “fazer boas perguntas”, ser “flexível” e “um bom ouvinte” e não se deixar enganar por preconceitos. Realizadas as entrevistas procurou-se interpretá-las do modo mais fiel possível.

Saliente-se que alguns dos entrevistados contactados mostraram alguma resistência em se disponibilizar para a entrevista alegando o receio de poder a vir a sofrer algum tipo de represálias, alegaram falta de tempo e demonstraram um certo desinteresse. Refira-se que numa escola com sete educadores de infância, numa primeira fase, todos rejeitaram a hipótese de se disponibilizarem para a entrevista, contudo após uma conversa com uma das educadoras de infância esta disponibilizou-se para a entrevista desde que a mesma não fosse gravada e assim foi. Pelo contrário, outros educadores de infância prontificaram-se logo para a entrevista e, inclusive, referiram o facto de não se importarem que os seus nomes aparecessem no protocolo da entrevista.

Há que referir que três das dezassete entrevistas, nomeadamente a E12, E14 e E15, não foram gravadas, pois no dia combinado para a realização da entrevista os entrevistados pediram para que não fosse gravada a entrevista, tendo sido escrito tudo o que estas disseram. Neste caso, a decisão tomada foi a de aceitar o pedido pois era evidente a disponibilidade para a entrevista.