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Capítulo II – Metodologia de pesquisa

6. Método e técnicas de pesquisa

6.1. Método de pesquisa

Cientes do falhanço das palavras assim como do próprio pensamento, seguiu-se sempre pelo princípio de procurar aquilo que não se sabe. Não se pretendeu que os entrevistados se despissem da sua própria subjectividade, mas procurou-se direccionar de forma implícita a consciência para o comprazimento, indo ao encontro do pensamento de Damásio (2003, pp. 23-24):

Pense o impensável e considere que (...). A consciência é, com efeito, a chave para uma vida examinada, para o melhor e para o pior; é a certidão que nos permite tudo conhecer (…). A consciência, no seu plano mais simples e básico, permite-nos reconhecer o impulso irresistível para conservar a vida e desenvolver um interesse por si mesmo. A consciência, no seu plano mais complexo e elaborado, ajuda-nos a desenvolver um interesse por outros si mesmos e a cultivar a arte de viver.

A consciência está sempre presente nas criações, pois a natureza das revelações orienta o processo de criação. A consciência é inerentemente individual e acontece na mente de cada um. No centro de cada experiência há um “eu” que sente, reage e interpreta.

Na presente investigação não se pretende nenhuma conclusão definitiva, mas sim possibilidades de compreensão, ou seja, encontrar caminhos que aproximem de uma

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conclusão provável com base no diálogo que impõe um compromisso quer da investigadora quer do sujeito de investigação. “No paradigma emergente o conhecimento é total (…). Mas sendo total, é também local (…). O conhecimento pós- moderno, sendo total, não é determinístico, sendo local, não é descritivista. É um conhecimento sobre as condições de possibilidade” (Santos, 2003, p.48).

Nesta linha de pensamento iniciou-se o percurso metodológico. De salientar que a investigação constitui uma actividade prática que impõe reflexões diante de dado contexto socioeconómico e cultural em que se desenvolve a investigação, daí se tornar necessário fazer uma caracterização desse mesmo contexto.

De acordo com Almeida & Freire (2007, p. 82) um plano de investigação deve ser “adequado e rigoroso” isto é, deve assegurar que os procedimentos ajustam-se à natureza do problema e aos objectivos do estudo. Deste modo, há que verificar o rigor e a pertinência dos procedimentos de recolha e de análise dos dados. Pretende-se no fundo que o presente estudo capte a informação de forma objectiva e assegure confiança nas relações que se possa vir a criar entre os dados recolhidos. O plano de investigação também deve garantir a validade dos dados recolhidos, o que passa por controlar as fontes de erro que possam por em causa a validade interna (significado dos resultados) e a validade externa (generalização a outras situações). Explicitar-se-ão estas ideias mais adiante.

Considerando a natureza do objecto e os objectivos a atingir, o presente estudo terá uma metodologia de natureza qualitativa.

A investigação de natureza qualitativa pressupõe a inter-relação do investigador com a realidade que está a estudar e, na perspectiva de Bell (1997, p. 20) os “investigadores que adoptam uma pesquisa qualitativa estão mais interessados em compreender as percepções individuais”.

Bodgan e Biklen (1994, p.11) referem que a investigação qualitativa realça a “descrição, indução, a teoria fundamentada e o estudo de percepções pessoais” e possui cinco características nomeadamente:

- a fonte de recolha de dados é o ambiente natural e o investigador é o instrumento principal. O investigador frequenta o local do estudo visto preocupar-se com o contexto, entendendo que as actuações são entendidas de melhor forma quando são observadas no ambiente natural;

- a investigação qualitativa é de carácter descritivo uma vez que os dados recolhidos apresentam-se sob a forma de palavras ou de imagens, não sendo números.

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No presente estudo os dados obtidos incluem transcrições de entrevistas e análise de documentos e tenta-se analisá-los tanto quanto possível na sua riqueza de conteúdo. Este tipo de abordagem é usado com o intuito de elucidar o objecto de estudo em questão.

- o investigador interessa-se mais pelo processo do que pelos resultados de produtos;

- o investigador tende a analisar os dados de modo indutivo, uma vez que não são recolhidos dados com o objectivo de se confirmar ou infirmar hipóteses constituídas. Fazem-se abstracções à medida que se vão recolhendo e agrupando os dados.

- o significado reveste-se de importância crucial, visto o investigador estar interessado na forma como os sujeitos da investigação atribuem sentido ao que está a ser investigado. Questiona-se o sujeito da investigação com o intuito de compreender “o modo como eles interpretam as suas vivências e o modo como eles próprios estruturam o mundo social em que vivem” (Psathas, 1973, citado por Bodgan & Biklen, 1994, p. 51). Deste modo, o processo conducente da investigação espelha o diálogo entre o investigador e o sujeito de investigação como já foi referido anteriormente neste mesmo ponto.

Na presente investigação os dados recolhidos, denominados qualitativos são ricos em pormenores. As questões da investigação foram formuladas com o intuito de se investigar os fenómenos no seu contexto natural e na sua complexidade, não sendo estabelecidas de acordo com operacionalização de variáveis. Não se pretende testar hipóteses, mas sim compreender as representações a partir da perspectiva dos educadores de infância permitindo deste modo investigar um fenómeno na sua complexidade e no seu contexto natural, visando conhecer e compreender os pontos de vista e o comportamento dos sujeitos da investigação, a partir da sua própria perspectiva.

Refira-se que na tentativa da existência de um maior rigor e validade dos dados, no sentido de demonstrar o seu significado, recorreu-se à análise quantitativa tendo em vista uma visão holística das escolas do 1º CEB com pré-escolar concelho de Câmara de Lobos, dos entrevistados e da classe discente com quem os entrevistados trabalham. A análise quantitativa permite uma melhor discussão e a interpretação dos dados.

O estudo de caso foi o método utilizado, pois é a estratégia escolhida quando questões do tipo “como” e “porquê” são colocadas. Segundo Bell (1997, p. 23) o estudo

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de caso “é especialmente indicado para investigadores isolados, dado que proporciona uma oportunidade para estudar, de forma mais ou menos aprofundada, um determinado aspecto de um problema em pouco tempo”.

O estudo de caso como estratégia de pesquisa é utilizado em variadíssimas situações “para contribuir com o conhecimento que temos dos fenómenos individuais, organizacionais, sociais, políticos e de grupo, além de outros fenómenos relacionados” (Yin, 2005, p. 20). Representa a estratégia adequada quando o investigador tem pouco controle sobre os acontecimentos e ainda quando a atenção está concentrada em fenómenos inseridos num dado contexto.

Na perspectiva de Sousa (2005, p. 137) “o estudo de caso visa essencialmente a compreensão do comportamento de um sujeito, de um dado acontecimento, ou de um grupo de sujeitos ou de uma instituição, considerados como entidade única, diferente de qualquer outra, numa da situação contextual específica, que é o seu ambiente natural”. É uma investigação naturalista, em que o sujeito de investigação é estudado no seu ambiente natural, não existindo qualquer intervenção por parte do investigador no sentido da manipulação das variáveis.

Bodgan e Biklen (1994) acrescentam que o estudo de caso possibilita realizar uma pesquisa que preserva as características holísticas e significativas dos acontecimentos da vida real de uma organização (neste caso, a escola) e permite focar- se em acontecimentos contemporâneos, isto é, enquanto “observação detalhada de um contexto”.

“Um estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenómeno contemporâneo dentro do seu contexto da vida real” (Yin, 2005, p. 32). Deste modo, neste estudo pretende-se conhecer e compreender as representações sociais a partir da perspectiva dos sujeitos da investigação, sendo os dados recolhidos em função de um contacto com os sujeitos, no seu contexto de vida real e procurando os respectivos sentidos e significados.

Uma vez que o presente estudo se baseia principalmente em questões do tipo “o que” [pensam os educadores de infância sobre a supervisão pedagógica] então está-se perante “um fundamento lógico justificável para conduzir um estudo exploratório, tendo como objectivo o desenvolvimento de hipóteses e proposições pertinentes a inquirições adicionais” (Idem, p. 24).

Muitos investigadores demonstram um certo desprezo na utilização do estudo de caso devido à falta de rigor pelo facto de o investigador de estudo de caso que em

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muitas situações “não seguiu os procedimentos sistemáticos ou permitiu que se aceitassem evidências equivocadas ou visões tendenciosas para influenciar o significado das constatações e conclusões” (Yin, 2005, p. 29). Respondendo a esta crítica, procurar- se-á obter um conhecimento das representações sociais sobre a supervisão pedagógica, a fim de permitir uma melhor compreensão da realidade educativa, com a inevitável subjectividade, mas marcada sempre pelo rigor e pela objectividade na recolha, na análise e na interpretação dos dados. Acrescente-se que o estudo de caso evidencia a sua validade interna pela actividade da análise de conteúdo, pela construção das explicações e muitas vezes pela triangulação de dados.

Aparece ainda uma outra crítica na utilização do estudo de caso pelo facto de este não ser passível de ser generalizado, mas neste estudo não existe qualquer propósito de generalização dos resultados, pretendendo-se apenas conhecer as representações sociais dos educadores de infância do concelho de Câmara de Lobos sobre a supervisão pedagógica. Embora os sujeitos da investigação sejam definidos como um educador de infância de cada escola do 1º CEB com pré-escolar do concelho de Câmara de Lobos, não se pretende generalizar as conclusões a obter.

No que concerne à recolha de dados, o método escolhido apresenta-se como uma estratégia de pesquisa que possibilita uma mistura de evidências. Neste estudo, como se verá na alínea seguinte, serão recolhidos dados qualitativos através da análise documental e da entrevista que depois se confrontarão.

Acrescente-se que no estudo de caso “uma etapa fundamental ao projectar e conduzir um caso único é definir a unidade de análise (ou o próprio caso)” refere Yin (2005, p, 67). No presente estudo será considerada como unidade de análise as representações sociais dos educadores de infância do concelho de Câmara de Lobos sobre a supervisão pedagógica.

Em síntese, poder-se-á dizer que o estudo de caso é um método que abrange tudo, desde a lógica de planeamento, as técnicas de recolha de dados e as abordagens específicas à análise de dados.