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Capítulo I – fundamentação teórica

3. O supervisor pedagógico

3.1. Conceito de supervisor pedagógico

Oliveira-Formosinho (2002, p. 234) refere que o supervisor pedagógico “é, na sua essência, um professor, mas um professor de valor acrescentado” e deve ser “um profissional cidadão, pessoa equilibrada, aculturada e comprometida”.

O supervisor pedagógico é visto por Vieira (1993, p. 30) como:

Um colega com mais saber e experiência, receptivo por excelência ao professor que orienta, co-responsabilizando-se pelas suas opções, ajudando-o a desenvolver-se para a autonomia através da prática sistemática da reflexão e da introspecção. Ao supervisor cabe-lhe o papel de facilitador da aprendizagem do professor.

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De modo análogo, Alarcão e Tavares (1987, p. 65) consideram que o supervisor pedagógico é “alguém, com mais experiência e com conhecimentos mais claros e reflectidos sobre situações, dificuldades e problemas semelhantes, que é antes de mais um colega, numa relação de ajuda, dialogante, aberta, espontânea, cordial e empática”. Tal significa que o supervisor pedagógico é encarado como um professor que é responsável por assegurar que um outro professor desempenha correctamente as suas funções, devendo ser detentor de saber e experiência.

Uma receita de “supervisor à moda antiga” é sugerida por Vieira (1993, p. 29) com os seguintes ingredientes: “qualidade de ser professor, experiência, sensatez, simpatia, perseverança e imaginação”. Pressupõe-se também que o supervisor pedagógico tenha “uma experiência nem muito curta nem muito longa, moderação nas qualidades dos ingredientes, leveza na mistura, temperaturas moderadas”.

O supervisor pedagógico deverá ser percepcionado como um líder uma vez que as “funções, os papéis e, propósitos aos quais as práticas de supervisão se dirigem necessitam tanto de competências técnicas como de liderança” (Oliveira-Formosinho, 2002, p. 151). Nesta perspectiva, assume-se que o supervisor pedagógico é um líder que impulsiona os supervisionados.

Assim, só uma atitude de verdadeiro interesse pelo saber e de envolvimento nas situações, associada a uma atitude verdadeiramente reflexiva, poderá o supervisor pedagógico ser:

Inteligente, co-construtivo, inovador, flexível, psicológica e profissionalmente desenvolvido, ter uma visão superior e ser capaz de actuar na complexidade dos contextos de formação, identificando e ajudando na solução dos problemas, sem se apresentar ou deixar que o concebam como afigura que sabe tudo e de quem se espera que tudo comande (Alarcão, 1995, p. 7).

Tal significa que o supervisor pedagógico deverá ser uma pessoa inteligente, responsável, experiente, acolhedora, empática, serena e com uma visão superior. Deverá ser capaz de actuar perante os contextos complexos, analisando as práticas com um olhar atento sobre o supervisionado e em interacção com toda a comunidade educativa.

A tarefa complexa do supervisor pedagógico desenvolve-se em duas dimensões fundamentais: a dimensão analítica que é referente aos processos de operacionalização

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da monitorização da prática pedagógica e a dimensão interpessoal que é relativa aos processos de interacção entre os sujeitos envolvidos. Estas dimensões interpenetram-se de tal modo que não é possível desenvolver uma independentemente da outra, considerando-se, no entanto, que a dimensão interpessoal exerce um papel regulador no processo de supervisão pedagógica (Alarcão e Tavares, 1987).

O supervisor pedagógico é encarado como alguém que “sabe adaptar, à sua autoformação, as estratégias de formação reflexiva que procura a resposta para os problemas que se lhe colocam a encruzilhada dos factores que tornam compreensível o próprio problema” (Alarcão, 1996, p. 8). Neste sentido, o acto de supervisionar comporta em si a ideia de interajuda e de encorajamento ao supervisionado para que este saiba resolver as situações problemáticas que possam surgir.

O supervisor pedagógico deverá ter uma formação específica para desempenhar as suas funções, como já foi mencionado por Alarcão (2010), assim como uma atitude de permanente aprendizagem e de desenvolvimento das competências que as situações dele vão exigindo, como veremos na alínea seguinte.

Invocando Oliveira (2000) traça-se o supervisor pedagógico como “uma pessoa de recurso” que juntamente com o que é, o que faz, o que diz e o que sabe contribuirá para a formação de profissionais inovadores, flexíveis e intervenientes no seu próprio contexto de formação. A atitude de responsabilidade por parte do supervisor pedagógico implica que ele procure desígnios educativos e éticos da conduta docente.

A este respeito, Vieira et al. (2006, p. 41) apontam para a legitimidade ética das opções do supervisor pedagógico, reconhecendo a existência da distância que separa o ideal que orienta.

Também nós, nos contextos em que nos movemos, nomeadamente na instituição em que trabalhamos, temos sentido a necessidade de compreender a sua impureza e de nos embrenharmos nela de modo comprometido com a mudança, resistindo e agindo estrategicamente face às forças históricas e estruturantes que condicionam o nosso pensamento e o conformismo, gerindo incertezas e dilemas e, acima de tudo, não desistindo de interrogar o que fazemos, por que fazemos e para quê.

Tal, implica que o supervisor pedagógico introduza no supervisionado uma preocupação relativamente às questões éticas, pessoais e políticas, assim como poder sobre estas questões, procurando desta forma modificar as condições quer materiais quer ideológicas que originam dificuldades no ensino. O facto de existir uma vontade de

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ser cada vez melhor deverá traduzir-se num pensamento e prática conducentes com o desejo de resolver, em colaboração, as dificuldades com que se deparam.

Reconhecendo o supervisor pedagógico como desencadeador de potencialidades e de aprendizagens significativas, não se pode deixar também de o ligar à utopia de que fala Delors (1996, p.44), no Relatório das Nações Unidas:

Devemos cultivar, como utopia orientadora, o propósito de encaminhar o mundo para uma maior compreensão mútua, maior sentido de responsabilidade e maior solidariedade, na aceitação das nossas diferenças espirituais e culturais. A Educação, permitindo o acesso de todos ao conhecimento, tem um papel bem concreto a desempenhar no cumprimento desta tarefa universal: ajudar a compreender o mundo, e outro, afim de que cada um se compreenda melhor a si mesmo.

Entende-se que o supervisor pedagógico não dará as receitas de como se devem fazer as coisas, mas deverá criar junto do supervisionado e no supervisionado um espírito de investigação-acção, assim como um ambiente emocional humano, positivo, capaz de desencadear as potencialidades do docente enquanto pessoa e profissional (Alarcão e Tavares, 2003). O supervisor pedagógico deverá prestar atenção aos desafios que emergem e realizar a leitura das situações, daí ser-lhe exigidos competências e conhecimentos no processo supervisivo.

3.2. As competências e o conhecimento profissional do supervisor