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Capítulo II – Metodologia de pesquisa

6. Método e técnicas de pesquisa

6.3. Análise e interpretação dos dados

6.3.1. Entrevistas

Realizadas as entrevistas procedeu-se à redacção na íntegra dos registos áudio obtidos dando origem a dezassete protocolos (anexo 5).

Os dados recolhidos por intermédio das entrevistas carecem da análise de conteúdo. De acordo com Sousa (2005, p. 265) a análise de conteúdo é essencialmente:

Uma análise estrutural, em que se procura, em documentos de natureza variada, através de operação de disjunção e conjunção, entender a sua organização estrutural para, a partir daí efectuar inferências que levem ao real conteúdo manifesto e não apenas aparente. (…) Analisar o conteúdo é procurar ultrapassar a superfície penetrando no interior para descobrir o conteúdo profundo, o significado verdadeiro.

Efectuar-se-á uma análise de conteúdo, que de acordo com Bardin (2005, p. 31) traduz-se num “conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens”. Neste sentido, o objectivo da análise de conteúdo é a inferência de conhecimentos referentes às condições em que foram produzidos, inferência que apela aos indicadores quer sejam quantitativos ou não.

Quando se efectua uma análise, consciente ou não, faz-se uma comunicação entre as estruturas semânticas, linguísticas, psicológicas e sociológicas dos enunciados.

Na presente investigação, a análise de conteúdo das dezassete entrevistas realizadas percorreu as etapas referidas por Bardin (2005, p. 95): “a pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação”.

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A pré-análise é caracterizada como a fase de organização em que de forma mais ou menos intuitiva a investigadora pode fazer uma ideia geral acerca do tipo de conteúdos das entrevistas. A pré-análise é geralmente constituída pelos seguintes procedimentos: a leitura de cada entrevista, de modo a conhecer os conteúdos, a forma como os conteúdos estão organizados e aperceber-se das ideias principais; a ordenação das entrevistas de acordo com a ordem que foi realizada; a referenciação das unidades, a elaboração dos indicadores e a preparação do material para a análise.

Refira-se que a fase da pré-análise tem três incumbências: a selecção dos documentos que serão submetidos a análise, a enunciação dos objectivos e a preparação de indicadores que apoiem a interpretação final. A pré-análise caracterizar-se-á pelas leituras dos dezassete protocolos obtidos, retirando-se destes as ideias chave, de forma a facilitar a categorização dos dados. É uma etapa em que se pressupõe a aceitação da argumentação do entrevistado, tendo por base a leitura dos protocolos, visando identificar o conteúdo e a estrutura das categorias: a categoria de conteúdo definido previamente (à priori), influenciado pela leitura dos protocolos (à posteriori), o que origina o aparecimento de subcategorias (unidades de análise). É importante que se comece na pré-análise a definir as categorias, as unidades de análise e os indicadores considerando-se a sua codificação para registo de dados. Os indicadores são os elementos que têm a propriedade de apontarem algo significativo.

Na fase da exploração do material fez-se uma análise propriamente dita, em que se procedeu à categorização ou codificação do material. “A partir do momento em que a análise de conteúdo decide codificar o seu material, deve produzir um sistema de categorias” (Bardin, 2005, p. 119).

A categorização consiste numa “operação de classificação dos elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o género (analogia), com os critérios previamente definidos” (Bardin, 2005, p. 117). A categorização visa fornecer uma representação simplificada dos dados recolhidos e enquanto processo de tipo estruturalista contém duas fases: a inventariação que consiste no isolamento dos elementos e a classificação que consiste na divisão dos elementos e na procura de uma organização das mensagens/comunicações.

“A categorização tem como primeiro objectivo (da mesma maneira que a análise documental) fornecer, por condensação, uma representação simplificada dos dados brutos” (Bardin, 2005, p. 119). A análise de conteúdo assenta de forma implícita na convicção de que a categorização não admite produz desvios, quer por recusa quer

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por excesso no material recolhido, mas mostra índices que não estão visíveis, no que respeita aos dados brutos.

As categorias apresentam-se como unidades de registo que surgem da forma de um título genérico e agrupam-se tendo em conta o que é comum num conjunto de elementos. Acrescente-se que as subcategorias atendem ao princípio anterior, mas mais fechadas associam-se de forma directa com a categoria a partir da qual foi criada. Acrescente-se que “Nesta etapa não há formação de conceitos, importação ou descoberta de teorias, criação de novos pensamentos. O objectivo é dar ao material uma forma que conduza a tais fins, e isto significa ordenar os dados de uma maneira coerente, completa, lógica e sucinta” (Woods, 2001, p. 139).

No presente estudo os dados recolhidos nas entrevistas foram agrupados em categorias e subcategorias detentoras das características relativas do conteúdo das entrevistas, tendo sido elaborado um quadro de categorização e de classificação (anexo 6) e posterior construção de uma grelha para análise (anexo 7). O mesmo critério foi seguido para a análise documental, nomeadamente a elaboração do quadro de categorização (anexo 8) e construção da grelha para análise (anexo 9).

Refira-se que a definição do sistema de categorias resultou da combinação dos processos “a priori” e “a posteriori”, procurando-se respeitar os critérios recomendados por Bardin (2005): a exclusividade (é preciso ter em conta todos os elementos, não se podendo deixar de fora qualquer elemento por uma ou outra razão); a representatividade (uma amostra é rigorosa se a amostra é uma parte representativa do universo inicial); a homogeneidade (as entrevistas devem apresentar critérios precisos de escolha, devem ser efectuadas sobre um dado tema e todas as entrevistas deverão referir-se a esse tema) e a pertinência (as entrevistas devem ser adequadas, enquanto fonte de informação, visando corresponder ao objectivo que suscita a análise).

Reescreveram-se as representações dos educadores de infância de acordo com as categorias efectuadas. Teve-se em atenção a recomendação de Bardin (2005, p. 120) que alerta para que “as categorias construídas não corram risco de dado elemento pertencer a mais do que uma categoria (exclusão mútua). Segundo este autor, “o sistema de categorias deve reflectir as intenções de investigação, isto é, as categorias devem estar adaptadas ao material de análise” e “deve existir o máximo de objectividade e fiabilidade na análise”. Procurou-se assegurar a validade interna, submetendo cada categoria de análise de conteúdo elaborada a um critério de exaustividade no sentido da

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não repetição, da homogeneidade obedecendo ao mesmo critério e da pertinência reflectindo as questões de investigação e os objectivos do estudo.

A análise consistiu na elaboração de uma grelha de análise, de modo a verificar- se a adequação das categorias com rigor ao material recolhido e aos objectivos do estudo. Respeitou-se e exprimiu-se, o mais fielmente possível, as ideias expressas pelos educadores de infância.

Refira-se que a garantia da análise de conteúdo é dada pelo processo de categorização. A validade da análise de conteúdo refere-se à verificação se os objectivos previamente definidos foram ou não atingidos de modo válido sem distorções nem desvios. A validade interpretativa refere-se às interpretações e as inferências que permitem estabelecer a partir dos dados obtidos na análise de conteúdo.

A análise efectuada no presente estudo permitirá conhecer a significância dos resultados obtidos e a validação dos procedimentos efectuados, uma vez que considera- se que todas as etapas que completam o processo de análise de conteúdo serão executadas de forma correcta.

Na fase do tratamento dos resultados obtidos, a inferência e a interpretação refira-se que os resultados obtidos pelos procedimentos acabados de descrever na fase da exploração do material serão tratados de modo a poderem tornar-se dados ponderados, permitindo estabelecer quadros em que se sintetize e descreva as informações obtidas. Operações estatísticas simples com percentagens permitiram a elaboração de quadros de resultados (relativos à caracterização das escolas do 1º CEB com pré-escolar do concelho de Câmara de Lobos, caracterização do perfil dos entrevistados e caracterização da classe discente com que trabalha cada entrevistado), como se verá no capítulo III deste trabalho, os quais condensam e colocam em realce as informações proporcionadas pela análise das dezassete entrevistas.

A interpretação dos resultados (capítulo IV) será feita de acordo com os objectivos e com o suporte teórico, de modo a possibilitar a compreensão do fenómeno que constitui o objecto de estudo em questão.

Por um lado, deve-se prestar atenção e não receber como verdades absolutas os indícios que são oferecidos aquando do processo de recolha de dados, contudo, por outro lado, não se deve duvidar necessariamente dos indícios oferecidos como elaborados de modo a iludir. Como alerta Tuckman (2002, p. 8) há que analisar de forma cuidadosa os dados obtidos à base da validade interna sendo que “o seu resultado está em função do programa ou abordagem a testar mais do que outras causas não

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relacionadas sistematicamente com esse estudo. A validade interna afecta a nossa certeza (certainty) de que os resultados da investigação podem ser aceites, baseados no design da investigação”.