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A escolha pela docência e a atuação na escola pública

6 A DIDÁTICA NA VISÃO DOS PROFESSORES EM ATUAÇÃO

6.1 A escolha pela docência e a atuação na escola pública

Todos os professores entrevistados afirmam que a opção pela docência foi feita por escolha própria. Os motivos com os quais justificam essa escolha são diversos, mas a maioria, seis professores, atribui essa escolha à vocação e/ou identificação com a área da educação e com a profissão docente, como é possível verificar nos depoimentos que seguem:

Desde pequena eu já sabia que seria professora. Está na alma! (CIDA). Porque tinha vontade de trabalhar com educação. (ELLI).

Não tenho lembrança de ter desejado ser outra coisa em nenhuma época da vida. O desejo de ser professora sempre esteve presente. (HELENA). Meus pais já são da área da educação e sempre tive aptidão, vocação para ensinar. (LORENA).

Inicialmente por vocação. Hoje não tenho certeza. (MARI).

Escolhi ser professor porque sempre achei uma profissão bonita. (TICO).

Convém ressaltar que a amorosidade (FREIRE, 1993) pela profissão é essencial para o seu bom desempenho, contudo advogo a ideia de que a palavra vocação não deve ser defendida sem criticidade, como um sacerdócio, pois professor é profissão. Destarte,

[...] é preciso, contudo, que esse amor seja, na verdade, um ‘amor armado’, um amor brigão de quem se afirma no direito ou no dever de ter o direito de lutar, de denunciar, de anunciar. É essa a forma de amar indispensável ao educador progressista e que precisa de ser aprendida e vivida por nós. (FREIRE, 1993, p. 38).

Para a professora Bia, essa escolha se justifica por questões familiares, como a necessidade de estudar com a filha: “O interesse surgiu logo que minha filha começou a estudar” (BIA). Duas das professoras que iniciaram o trabalho como docente, antes mesmo de iniciarem a formação, justificam a inserção na atividade como fator determinante para a escolha pela profissão. Amanda contou que ensinava em sua cidade natal, localizada no interior do Ceará, e que, conforme ela mesma ressaltou, era carente de profissionais; já Juliana relatou que iniciou a docência ensinando crianças em sua igreja: “Devido às oportunidades na minha cidade natal, já que havia muita falta de professor” (AMANDA); “Porque trabalhava com crianças na igreja” (JULIANA).

Quando questionados se hoje ainda se consideram satisfeitos com a escolha da profissão, sete professores asseguraram que sim. O gosto pela realização da atividade docente, mesmo com as dificuldades enfrentadas e da desvalorização da carreira, foi uma das justificativas expostas.

Sim. Pois gosto de trabalhar com a função. (AMANDA).

Sim, pois realizo meu trabalho com base no que aprendi e vivenciei. (BIA). Sim. Porque faço o que gosto, embora não seja bem reconhecida pelo ‘sistema’. (CIDA).

Sim. A docência – especialmente no ensino público – faz parte do meu projeto de vida! Assim, mesmo as dificuldades estruturais e a desvalorização da carreira não anulam a minha realização. (HELENA). Sim. Porque gosto muito da profissão e porque apesar das dificuldades mantenho e cuido da minha família com o meu trabalho. (TICO).

Assim como Tico, a professora Lorena também destacou a questão financeira juntamente com o gosto pela atividade: “Sim. Através da minha profissão conquistei vários sonhos, estabilidade e me sinto uma luz no caminho das crianças” (LORENA).

Para Juliana, existe uma realização pessoal, mas também uma insatisfação com as condições de trabalho: “Considero que sou satisfeita como realização pessoal, porém as condições de trabalho não satisfazem” (JULIANA).

Os entraves da atividade também foram destacados por Mari, contudo, essas dificuldades foram os motivos declarados pela professora para justificar sua atual insatisfação com a escolha pela profissão: “Diante de tudo que percebo que se transformou a educação com relação a valores, principalmente nas famílias, não!” (MARI).

Assim como Mari, a professora Elli também se declarou insatisfeita com a escolha pela docência, entretanto, ela atribuiu motivos pessoais para essa insatisfação, alegando que deveria ter se esforçado para se formar na profissão que realmente queria exercer, que era na área da Psicologia: “Não. Porque eu queria fazer Psicologia. Hoje me arrependo de não ter buscado o que realmente queria” (ELLI).

Observo que a insatisfação com as condições de trabalho está em muitas respostas. Apesar disso, ainda no questionário de caracterização, indaguei os sujeitos quanto à decisão por trabalhar em uma escola pública e a estabilidade do

serviço público foi o motivo mais citado, declarado por seis docentes. “Por conta de ter passado no concurso” (BIA); “Porque passei no concurso” (ELLI); “É um emprego mais garantido” (TICO).

Para Lorena, além da estabilidade, a autonomia em seu trabalho também foi um fator decisivo para sua opção pelo Ensino Público: “Devido à estabilidade e uma liberdade na maneira de ensinar, uma flexibilidade” (LORENA);

Mesmo se declarando insatisfeita com a escolha, Mari destacou a questão salarial e outros benefícios, justificativa também de Amanda: “Salário, benefícios e estabilidade” (MARI); “Devido ao salário ser mais atrativo que nas escolas privadas” (AMANDA).

O ganho financeiro, ressaltado pelas professoras, foi posto de maneira oposta por Helena, que contou que, antes de ir para a escola pública, trabalhava em uma escola particular conhecida por sua boa remuneração aos docentes e que, mesmo inicialmente, tendo perdas salariais, optou pela escola pública por vontade própria: “Trabalhar na escola pública sempre fez parte do meu projeto de vida. Inclusive, a decisão de migrar para uma escola pública acarretou perdas salariais e financeiras na minha vida” (HELENA).

Cida e Juliana, que realizaram toda a Educação Básica em escolas públicas, também destacaram a identificação com essa instituição: “Sempre procurei as escolas públicas por pensar que são as que mais precisam de acompanhamento e de um bom trabalho” (CIDA); “Me identifico com a realidade e o trabalho da escola pública” (JULIANA).

Fiz esse questionamento para compreender a relação dos docentes com o Ensino Público. Com suporte nos depoimentos expostos, observo que alguns professores escolhem trabalhar em uma escola pública por identificação, mesmo sem nunca ter estudado em uma, como é o caso de Helena, que realizou toda sua Educação Básica em escolas particulares. Há também os professores que fazem essa escolha por buscarem no serviço público uma estabilidade, realidade descrita pela maioria dos sujeitos desta pesquisa.

Após traçar o perfil dos professores participantes desta investigação, com apoio nas respostas do questionário de caracterização, seguirei expondo suas lembranças, visões e percepções acerca da Didática, declaradas durante a

entrevista, realizada logo após os docentes responderem ao questionário, com o auxílio de um tópico-guia11. Assim, iniciarei relatando suas lembranças da disciplina.