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5 A DIDÁTICA NA VISÃO DOS PEDAGOGOS EM FORMAÇÃO

5.1 Percepções sobre o trabalho docente e o ensino

Quando questionados acerca de quais qualidades consideravam importantes para o bom desempenho da atividade docente, os alunos apresentaram uma diversidade de respostas.

Domínio do conteúdo, dinamismo e boa didática foram os atributos mais mencionados, lembrados por sete dos 24 alunos sujeitos da pesquisa. Em seguida, vieram o amor pela profissão e o gosto por ensinar, lembrados por cinco estudantes. O bom relacionamento com os alunos foi evocado por quatro respondentes, assim como ter uma boa postura e expressão em sala de aula. Também citadas por quatro alunos foram as qualidades compromisso e paciência. Ser dedicado e estudioso foram virtudes lembradas por três estudantes.

Algumas qualidades foram mencionadas somente por dois alunos: perseverança, saber lidar com as diferenças, criatividade, empatia, alegria, organização, flexibilidade e ser observador. Entre os atributos apontados apenas por um aluno estão: caráter, compreensão, interatividade, inovação, boa qualificação, autoavaliação, reflexividade, profissionalismo e disciplina.

A variedade de respostas mostra a complexidade do trabalho docente e sua subjetividade. As qualidades consideradas como importantes por um aluno são diferentes das pensadas por outro. Sabe-se que essa compreensão tem estreita relação com a identidade e a história de vida do respondente e que essa avaliação é realmente subjetiva. Alguns atribuem mais importância para qualidades técnicas e outros para as qualidades mais subjetivas.

Como lembra, porém, Cunha (2004, p. 149), “[...] dificilmente um aluno apontaria um professor como bom ou melhor de um curso, sem que este tenha condições básicas de conhecimento de sua matéria de ensino, ou habilidades para organizar suas aulas, além de manter relações positivas”. Essa ideia pude verificar nas repostas dos alunos investigados, haja vista que a maioria citou qualidades

relacionadas ao conhecimento do docente, a organização do ensino e/ ou qualidades que interferem na relação entre professor e aluno.

Quando questionados a respeito do que caracterizaria uma boa aula, 13 dos 24 alunos usaram a palavra “dinâmica” em suas respostas. Esse é um dado importante, pois mostra a compreensão de que a aula em que os alunos são estimulados à passividade não configura uma situação interessante para a aprendizagem, pois professores e alunos devem ser protagonistas desse processo. “Para mim, uma boa aula deve ser dinâmica, envolvente, onde os alunos possam (e queiram) participar, fazendo do diálogo uma excelente forma de aprendizado” (ROSA). Verifica-se nesse depoimento a referência ao bom diálogo entre professor e aluno, fazendo com que o aprendiz “tenha voz”. A atividade discente também foi uma característica da “boa aula” ressaltada por outros questionados.

Eu não acho que uma boa aula se caracteriza só por ter um professor ‘bonzinho’ que conquista o aluno pelo afetivo, isso é bom, mas não é crucial. O professor tem que tirar o aluno da zona de conforto, desafiar

mesmo, fazer com que o aluno pare de ser estático dentro de sala de aula e acabe por ‘sacudir’ o intelecto e suas posturas... e acredito que o

professor tem essa capacidade através dos temas discutidos propor essa sacudida, transformar, fazer pensar, criticar e modificar seu aluno. (LETÍCIA, grifo meu).

As respostas expostas mostram a consciência de que o ensino verbalista tradicional – em que apenas o professor tem voz – está superado. Para isso, o professor deve tirar o aluno dessa zona de conforto, estimular a reflexão crítica e a vontade de participar, contextualizando e relacionando os conhecimentos. Na esteira dessa reflexão, a interdisciplinaridade foi lembrada por uma aluna como importante estratégia para trazer sentido ao estudo: “Uma boa aula é aquela em que o professor tem domínio do que fala que traz o estudo para a vivência cotidiana, que traz a interdisciplinaridade como foco principal. É uma aula onde os alunos interagem” (MARIANA). A observação realizada por Mariana traz importantes reflexões acerca do ensino, pois, como nos lembra Moraes (2008, p. 286):

Pensar interdisciplinarmente exige uma adesão racional, um convencimento de que a maneira tradicional de ver o conhecimento é muito limitada. Quanto à transversalidade, hoje em dia tende a ser quase natural examinar um tema em seu contexto. Já não se fala de água somente como H2O da Química, ou lagos e rios, da Geografia, ou mares das grande navegações da História; o tema água nos reporta à poluição, escassez, derretimento das calotas polares pelo aquecimento global.

Relacionar os conteúdos com a realidade numa perspectiva inter e transdisciplinar é condição necessária para trazer mais sentido aos conteúdos que, vistos nessa perspectiva, não se distanciam tanto da realidade. Para isso, é interessante que o pedagogo, já em sua formação, compreenda a importância dessa atitude para que possa compreendê-la de maneira crítica e comprometida.

A importância da relação teoria e prática também foi mencionada por alguns alunos como atribuição da boa aula: “Aula alegre, descontraída, que não fica só no ‘blá-blá- -blá’. Ela junta teoria e prática porque assim a gente aprende melhor” (AMANDA).

Estou concorde com a visão exposta pela discente e postulo a disciplina Didática estabelecendo essa relação entre teoria e prática, fundamental na formação de professores, pois entendo que

Uma depende da outra e exercem uma influência mútua, não uma depois da outra, mas uma e outra ao mesmo tempo. Quando a prioridade é colocada na teoria cai-se na posição idealista. O inverso também gera distorções, pois uma prática sem teoria não sabe o que pratica, propiciando o ativismo, o praticismo ou utilitarismo. (VEIGA, 2013, p. 18).

Na esteira das reflexões apontadas por Veiga, compreendo que trazer esse diálogo entre a realidade da educação, sob inspiração da teoria, é condição “indescartável” para formar professores críticos e comprometidos para atuarem em situações reais de ensino e aprendizagem. Entendo, ainda, que a disciplina Didática tem um papel medular nessa relação.

Dessa maneira, no próximo tópico, delinearei as visões dos alunos no início do semestre acerca da Didática, seus temas e sua importância para a formação do educador.