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4 OS TEMAS DA DIDÁTICA

4.5 Tecnologias

nesta perspectiva para que não nos limitemos a uma transposição que não incorpora a especificidade destas realidades nem a uma mera tecnologização do ensino. Trabalhos realizados nesta direção têm provocado novas questões para a Didática. (CANDAU, 2001, p. 156).

Sob inspiração das reflexões de Candau, continuarei este texto, abordando outras temáticas importantes para a Didática, mas que ainda não são tão debatidas por esse campo investigativo. Inicio abordando a utilização das tecnologias.

4.5 Tecnologias

É notável que, no momento atual, as tecnologias digitais fazem parte da rotina de muitas pessoas. Bancos, supermercados e escolas, cada vez mais, aderem às facilidades proporcionadas pela utilização dessas ferramentas. Desde cedo, muitas crianças têm acesso à computadores, tablets, smartphones e outros equipamentos digitais, tornando a utilização desses equipamentos, algo natural dessa nova geração. Isso tudo, entretanto, não é novidade para os educadores. Escolas públicas e privadas incentivam essa utilização mediante programas e propagandas, defendendo a posição de que são instituições modernas e “antenadas” com a “sociedade do conhecimento”.

A influência exercida pelas tecnologias na sociedade e, consequentemente, na Educação, tanto formal quanto informal, é inegável. Essa realidade traz novos desafios para nós educadores e pode, dependendo, evidentemente, da forma como essa tecnologia for utilizada, trazer novas formas de interação e elaboração de conhecimento.

Na perspectiva da interatividade, o professor pode deixar de ser um transmissor de saberes para converter-se em formulador de problemas, provocador de interrogações, coordenador de equipes de trabalho, sistematizador de experiências e memória viva de uma educação que, em lugar de prender-se à transmissão, valoriza e possibilita o diálogo e a colaboração. (SILVA, 2005, p. 64).

Apesar de toda essa adequação da sociedade às tecnologias não ser algo tão novo, a discussão acerca de seu emprego para a Educação continua sendo necessária e atual. Com efeito, debater sobre sua utilização nos processos de ensino e aprendizagem é uma temática essencial para a Didática.

A importância do uso das tecnologias e o interesse que elas despertam nos educandos são quase um consenso entre os educadores. Apesar dessa constatação, alguns professores ainda têm receio em utilizá-la, queixando-se de que em algumas escolas os computadores ficam trancados em um laboratório e que não foram preparados para utilizar essas tecnologias em suas aulas.

Inserir-se na sociedade da informação não quer dizer apenas ter acesso à tecnologia de informação e comunicação (TIC), mas principalmente saber utilizar essa tecnologia para a busca e a seleção de informações que permitam a cada pessoa resolver os problemas do cotidiano, compreender o mundo e atuar na transformação de seu contexto. Assim, o uso da TIC com vistas à criação de uma rede de conhecimentos favorece a democratização do acesso à informação, a troca de informações e experiências, a compreensão crítica da realidade e o desenvolvimento humano, social, cultural e educacional. Tudo isso poderá levar à criação de uma sociedade mais justa e igualitária. (ALMEIDA, 2005, p. 71).

A preparação dos professores para essa utilização não se restringe ao acesso, que obviamente é “indescartável”, a essas tecnologias. Esse debate é bem mais complexo. Ter acesso e saber utilizar de maneira técnica os recursos tecnológicos é essencial, mas não é possível esquecer a importância da reflexão crítica dessa utilização. Destarte, torna-se fundamental refletir sobre a função social da escola que, como assevera Silva (2010, p. 190):

[...] não é simplesmente a socialização das novas gerações no contexto das novas tecnologias – a ‘alfabetização digital’ entendida num sentido restrito: gerar mão-de-obra para o mercado de trabalho cada vez mais informatizado –, mas a educação do sujeito em nosso tempo.

Essa compreensão é fundamental para que o emprego de recursos tecnológicos na educação não seja como sob a influência da tendência tecnicista, em que o professor era um coadjuvante no processo de ensino e de aprendizagem, tornando-se um simples executor de planos de aula preestabelecidos, sem poder exercer sua autonomia e onde a preocupação era apenas com a formação de mão de obra para o mercado de trabalho. Assim, há que se pensar na utilização das tecnologias como forma de inclusão dos cidadãos na sociedade e não de adaptação técnica e acrítica desses sujeitos.

A tecnologia é expressa como meio, instrumento, para colaborar no desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem. “Não é a tecnologia que vai resolver ou solucionar o problema educacional do Brasil. Poderá colaborar, no entanto, se for usada adequadamente, para o desenvolvimento educacional de

nossos estudantes” (MASETTO, 2000, p. 139). Isso porque o valor da tecnologia não está nela mesma, mas sim, no uso que dela se faz.

É possível usar um recurso inovador e reproduzir as mesmas atitudes, igual paradigma educacional tradicional pelo qual se foi formado. Dessa maneira, a utilização desse recurso, com fachada de modernidade, apenas remodela o velho em novos artefatos, sendo assim, uma utilização limitada (CORRÊA, 2003).

Utilizar as tecnologias é muito mais do que modernizar uma escola ou uma sala de aula. “Não se trata de simplesmente substituir o quadro-negro e o giz por algumas transparências, por vezes tecnicamente mal elaboradas ou até maravilhosamente construídas num power point, ou começar a usar um datashow” (MASETTO, 2000, p. 143). Essa modernização de velhas atitudes, não representa uma possibilidade, mas, uma limitação.

Qualquer recurso, seja ele tecnológico ou não, precisa ser escolhido de acordo com os objetivos de aprendizagem. As tecnologias podem ser empregados para dinamizar as aulas, estimular os alunos em pesquisas, assim como possibilita o compartilhamento de textos e trabalhos e a continuidade de discussões realizadas em sala, num outro horário, facilitando dessa maneira a interação do professor com os seus alunos e, também, dos alunos entre si.

Dessa forma, o papel do docente continua sendo essencial nos processos de ensino e aprendizagem, pois é ele que, de acordo com os objetivos almejados, poderá escolher o melhor recurso tecnológico a ser utilizado, assim como coordenar essa utilização. Para isso, é essencial, tratado linhas atrás, que o docente domine a utilização adequada dessas tecnologias, constatação sustentada por Kenski (2010, p. 106), ao asseverar que é preciso

[...] identificar quais as melhores maneiras de usar as tecnologias para abordar um determinado tema ou projeto específico ou refletir sobre eles, de maneira a aliar as especificidades do ‘suporte’ pedagógico (do qual não se exclui nem a clássica aula expositiva nem, muito menos, o livro) ao objetivo maior da qualidade de aprendizagem de seus alunos.

Neste contexto, a discussão sobre o emprego das tecnologias é essencial durante a formação do professor, para que haja uma reflexão crítica sobre a educação e os processos de ensino e aprendizagem. Nesse panorama, a Didática não esgota o assunto, que representa um tema amplo e complexo, mas possibilita a reflexão desse uso numa perspectiva crítica e emancipatória.

Da mesma forma, ainda inspirada nas considerações realizadas por Candau (2001, p. 154-155), observo que

[...] a (re)construção da didática nos últimos anos resgata e atualiza a perspectiva de uma visão contextualizada e multidimensional do processo pedagógico. Passa então a trabalhar as questões inerentes aos processos de ensino-aprendizagem articulando as contribuições de diferentes áreas de conhecimento [...] Portanto, hoje o desafio é, tendo presente a especificidade da didática, trabalhar a articulação com diferentes áreas do conhecimento. A evolução dos Endipes evidencia claramente este processo. Hoje eles se configuram como um fórum onde especialistas da área de educação e áreas afins interagem numa perspectiva multi e interdisciplinar para aprofundar nas questões da prática pedagógica e da formação de professores.

Ao postular a articulação com as diversificadas áreas do conhecimento, interpreto a Didática como devendo trabalhar numa perspectiva interdisciplinar. Essa articulação é defendida por outros estudiosos, como Fazenda (1993, 1994, 2006), Lenoir (2006), Libâneo (2003, 2012a, 2012b), Moraes (2005, 2008, 2015), Moran (2000), entre outros. Temática que será abordada no tópico seguinte.