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O RGANIZAÇÃO ESCOLAR

4. A Especificidade da Organização Escolar

A organização escolar é uma organização especial e peculiar, que se distingue de todas as outras pela sua especificidade. Esta organização trabalha para o futuro e para o desenvolvimento de todas as outras organizações, ao preparar os cidadãos, futuros profissionais. Barroso (1995: p. 22), ao caracterizar a escola como uma organização distinta, nos diz que se trata de

“uma organização social onde coabitam adultos, jovens, crianças e/ou adolescentes (...), uma organização com fins educativos. Isto é, se nós quiséssemos pensar em termos de produto de uma escola, ele não é o saber, não são os resultados escolares. O produto de uma escola é o crescimento dos alunos".

A organização escolar tem, portanto, uma missão "essencialmente pedagógica e educativa" (Costa, Mendes e Ventura 2000: p. 27). Estamos conscientes que as tarefas da escola não são fáceis, a luta que tem de travar com as normas e rotinas instituídas por um lado, e a pressão social por outro, transformam o desempenho da escola num exercício complexo.

A escola actual está “presa” a uma centralização administrativa. Azevedo (2003: p. 12) menciona que

"dependentes das orientações e normas dos serviços do Ministério da Educação, que tudo tendem a determinar minuciosamente e à priori. A administração educacional é, regra geral, muito centralista, burocrática, não concede autonomia real às escolas".

O mesmo autor refere-se ainda às leis existentes que são um dos grandes problemas das escolas, visto que vão

"enredando as organizações escolares numa teia legislativa e funcional esquizofrénica, em que as escolas acabam por ser as organizações (legalmente) mais capacitadas e ao mesmo tempo mais carregadas de

limitações, são tudo e são pouco, podem actuar em tudo e dificilmente podem inovar" (2003: p.15).

A sociedade actual exige que a instituição escolar dos nossos dias preste um serviço público na sua totalidade, ou seja, que oriente a educação para a saúde, que promova a educação ambiental e rodoviária, que ensine a educação sexual, e até, que dê educação aos seus alunos, etc., para além da instrução intelectual, transferindo para a instituição escola diversos mandatos sociais. Assim Nóvoa (1992; p. 14) refere que a escola

"Começou pela instrução, mas foi juntando a educação, a formação, o desenvolvimento pessoal e moral, a educação para a cidadania e os valores... Começou pelo cérebro, mas prolongou a sua acção ao corpo, à alma, aos sentimentos, às emoções, aos comportamentos... Começou pelas disciplinas, mas foi abrangendo a educação para a saúde e para a sexualidade...".

Azevedo (2003; p. 13) menciona que a

"a instituição escolar é como um cesto onde se tendem a colocar todos os ovos da construção do bem comum, da cidadania activa, da responsabilidade social. Elas [escolas] educam para a cidadania, para a liberdade, para a participação crítica na sociedade, para a responsabilidade, para a saúde, para a paz, educam o «sentido moral e a sensibilidade estética» ".

A escola tem um sentido de funcionalidade em que a sua finalidade é ter por missão a formação do ser humano, contribuindo através de um projecto digno para a comunidade envolvente.

Sergiovanni (2004; p. 91) remete-nos para a realidade da escola do século XXI, “Cabe às escolas muito mais que desenvolver competências básicas dos alunos e transmitir a cultura da sociedade. Elas são, também, responsáveis por ensinar hábitos mentais e hábitos emocionais". A escola meramente instrutiva não responde às

necessidades da sociedade actual, sobretudo se tivermos em linha de conta que se trata de um local de frequência obrigatória.

Guerra (2002; p. 41) refere que

"quando falamos de aprendizagem não nos limitamos somente à aquisição de novos conceitos ou ideais, mas também à assimilação de capacidades, competências e procedimentos encaminhados para a compreensão e melhoramento do mundo".

A escola é uma organização aprendente onde se desenvolvem diversos conhecimentos e saberes. Professores, assistentes operacionais e alunos funcionam em interacção quotidiana, permitindo-lhes desenvolver diversos tipos de inteligência (académica, pedagógica, reflexiva, contextual, ética, emocional, etc.) A escola actual é uma organização especial, por isso deverá ter uma liderança especial e um líder específico, que não poderá ser uma mera serva das leis e normas instituídas, mas que deverá olhar para além do sistema legal vigente, para se transformar num exercício ético e moral, educativo e pedagógico, inovador e transformacional.

Azevedo (1996; p. 191) refere que

"as escolas são organizações que aprendem [...] que aprendem a recolher e a tratar a sua própria informação e a torná-la útil, que aprendem a promover o diálogo entre os vários intervenientes e interesses que conflituam na escola, que aprendem a identificar problemas, encontrar soluções e avaliá-las, que aprendem, quem diria!, como qualquer aluno, praticando, experimentando, cometendo erros, corrigindo".

A ser assim, a organização escolar possui especificidades próprias. As particularidades da escola provêm das suas características como realidade social, como comunidade e como organização.

A escola como organização específica apresenta várias dimensões com características diversificadas:

Matias Alves (1995: pp. 18-19) caracteriza a escola como organismo da seguinte maneira

“Natureza moral do trabalho que realiza, dado o carácter obrigatório e involuntário da frequência escolar e o estatuto de menoridade intelectual, afectiva e cívica, o que coloca os estudantes numa situação de dependência face aos professores, daqui emergindo o imperativo e a obrigação moral de a todos educar;

Alto nível de formação, autonomia e trabalho individual do professor, configurando-se uma prática singular, escassamente supervisionada e que escapa à orientação e controlo da autoridade e dos pares;

Vulnerabilidade face às exigências dos contextos legal, familiar, social que faz com que o trabalho educativo seja marcado pela ambiguidade, imprevisibilidade e incerteza;

Existência de uma estrutura hierárquica de autoridade, mas onde podem coexistir várias autoridades, poderes e contrapoderes e outras estruturas geradas pelas interacções humanas;

Subordinação formal ao cumprimento de objectivos predeterminados a nível das instâncias centrais, mas criação e cumprimento de outros objectivos e funções não previamente consignados;

Pluralidade e antagonismo de valores, interesses, preferências, inconsistência e/ou ambiguidade de objectivos quer supra, quer intradeterminados;

Divisão e hierarquização do trabalho;

Decisões e comportamentos ora determinados por regras e regulamentos heterónomos ora pelos múltiplos interesses em presença e pelas negociações e alianças estabelecidas entre os actores da organização; Participação fluida, convergente e divergente, formal e "anárquica"; Tipos de liderança múltiplos e pluri-referencializados”.

Podemos concluir que a escola é uma organização com alguma especificidade organizacional que a distingue de outras organizações, designadamente em termos da singularidade da sua missão, que é uma missão essencialmente pedagógica e educativa.

Nesta perspectiva, sendo a vertente pedagógica o centro de toda a sua acção, a escola não é só uma organização democrática, mas uma organização onde as práticas da democracia são objectivo da sua acção; não é só uma escola justa, mas uma organização onde há uma pedagogia da justiça; não é só uma organização aprendente, mas um contexto onde se pratica uma pedagogia da aprendizagem; não é só uma escola autónoma mas como escreve Lima (1992; p. 60) uma organização da pedagogia da autonomia. Ou seja os próprios modos da organização e os processos de gestão não deverão apresentar-se somente enquanto meios para o desenvolvimento da acção pedagógica mas constituírem-se eles próprios como objectos de acção pedagógica. Este posicionamento leva-nos, também, em termos de concepção da liderança nas organizações escolares, a equacionar a liderança não só como um meio para o desenvolvimento de uma acção pedagógica na escola, mas a conceber a própria liderança como objecto de acção pedagógica. A necessidade do enfoque dos líderes escolares se situar nas preocupações educativas e pedagógicas é revelador da atenção em relação ao que se passa na sala de aula no sentido de se desenvolver uma cultura onde o ensino e a aprendizagem prosperem.