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M ETODOLOGIA E CONTEXTO DA INVESTIGAÇÃO

1. A Investigação Qualitativa e o Estudo de Caso

No entender de Gil (1995: p. 27) "pode-se definir método como caminho para se chegar a determinado fim. E método científico como um conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos adaptados para se atingir o conhecimento". O estudo que aqui se apresenta baseia-se em metodologias qualitativas, uma vez que toma como ponto de partida as perspectivas dos actores e o significado que estes atribuem às várias questões formuladas.

A investigação de tipo qualitativo, segundo Bogdan e Biklen (1994), apresenta as seguintes características:

O investigador observa os factos sob a óptica de alguém interno à organização;

A investigação procura uma profunda compreensão do contexto da situação;

A pesquisa geralmente emprega mais de uma fonte de dados;

É descritiva e a palavra escrita assume especial importância, tanto para o registo de dados como para a disseminação dos resultados;

Os dados devem ser recolhidos em situação e complementados através da informação que se obtém por contacto directo. O contexto em que os dados são recolhidos é fundamental, dado que o comportamento humano é significativamente influenciado pela situação envolvente;

Privilegia o significado atribuído por diferentes pessoas, elucidando sobre a dinâmica interna das situações, muitas vezes invisível ao observador exterior.

Optou-se por uma investigação qualitativa por esta parecer mais adequada ao tema e objectivos do estudo, uma vez que se procuravam informações sobre as perspectivas dos actores relativamente aos processos de liderança, assim como, ao tipo de perfil de líder que a organização escolar deve apresentar. Este tipo de investigação pressupõe que o investigador reduza a distância entre a teoria e os

dados, entre o contexto e a acção usando a compreensão dos fenómenos, na sua globalidade e no seu contexto natural, através da sua descrição e interpretação. É privilegiada, essencialmente, a compreensão dos comportamentos a partir da perspectiva dos sujeitos da investigação, embora as experiências pessoais do investigador sejam elementos importantes na análise e compreensão dos factos estudados.

A focalização do paradigma qualitativo assume-se de grande importância pelo seu carácter "real", pois trata-se de uma modalidade de pesquisa cujo objectivo principal é descrever, analisar e compreender fenómenos nos contextos da acção concreta, ou seja, tomar conhecimento de quê? Com quem? Porquê? As possíveis dificuldades sentidas na utilização destas metodologias relacionam-se com o trabalho exaustivo necessário à recolha de dados e, principalmente, com o tempo dispendido na análise dos mesmos.

Tendo em conta a natureza do fenómeno em estudo - os processos de liderança e o perfil ou perfis de líderes em contexto escolar - optou-se por uma abordagem qualitativa, do tipo estudo de caso. O estudo foi desenvolvido no contexto de sete Escolas com ensino Secundário, que mais tarde se caracterizará, sendo, por isso, um estudo intensivo em organizações escolares específicas (ensino secundário).

De acordo com Gil (1991: p. 59), o estudo de caso apresenta algumas vantagens e limitações. As principais vantagens são as seguintes:

"1. O estímulo a novas descobertas:

2. A ênfase na totalidade - focaliza o problema como um todo, superando o problema comum em levantamentos em que a análise individual dá lugar à análise de traços;

3. A simplicidade dos procedimentos quando comparados com outras modalidades ".

A principal limitação do estudo de caso refere-se à dificuldade de generalização dos resultados obtidos, embora não seja essa a pretensão do presente estudo.

De acordo com Ferreira (2005), o estudo de caso consiste na análise da particularidade e da complexidade de um caso singular. Como sustenta Erickson (cit. in Ferreira, 2005), embora a descoberta de princípios universais da vida social não seja impossível, a manifestação desses princípios num dado meio é única, pelo que, a sua

descoberta só se poderá fazer após um estudo pormenorizado de casos particulares. O interesse do estudo de caso, incide, portanto, naquilo que ele tem de único, de particular e, mesmo que posteriormente se venham a verificar certas semelhanças com outros casos e/ou situações, o propósito do estudo de caso é analisar e compreender algo singular, que tenha um valor em si mesmo.

Entre as características do método de estudo de caso podem destacar-se as seguintes: visam a descoberta, enfatizam a interpretação em contexto, procuram descrever a realidade de forma completa e profunda, usam uma variedade de fontes de informação, revelam experiência da realidade e permitem generalizações naturalísticas, procuram representar os diferentes e às vezes conflituais pontos de vista presentes numa situação social e utilizam uma linguagem e uma forma mais acessível do que os outros relatórios de pesquisa (Ludke e André, cit. in Ferreira., 2005).

Existem, portanto, diferenças assinaláveis entre metodologias do tipo qualitativo, inseridas no paradigma interpretativo, e do tipo estatístico-experimental, inseridas no paradigma positivista. Contrariamente ao paradigma positivista em que assenta a investigação do tipo estatístico-experimental, o paradigma interpretativo em que se insere o estudo de caso etnográfico não tem em vista a verificação de regularidades, mas a análise de singularidades. Enquanto que o paradigma positivista postula a distinção entre o sujeito e o objecto de conhecimento, o paradigma interpretativo postula a interdependência do sujeito e do objecto, através de um trabalho de interacção entre o investigador e os demais actores sociais. Por outro lado e como refere Ferreira (2005) enquanto que o primeiro está orientado para a "prova" e para a generalização, o segundo está orientado para a "descoberta” e constitui-se como uma ciência do singular e do concreto.

No que respeita à recolha de dados da investigação, existem dispositivos que se utilizam para registar as observações ou facilitar o desenvolvimento do trabalho de pesquisa. Estes dispositivos podem ser diversos, desde questionários, observação participante e não participante, entrevistas estruturadas, semi-estruturadas e não estruturadas, declarações pessoais, histórias, comunicação não verbal, fotografias, documentos pessoais, recursos audiovisuais, métodos interactivos e não interactivos, etc. (Bogdan e Biklen, 1994).