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O RGANIZAÇÃO ESCOLAR

5. As Teorias/Imagens Organizacionais da Escola

5.4. A Escola como Cultura

A participação na vida escolar não é harmoniosa nem consensual. Apesar de toda a interacção que possa aí existir, existe sem dúvida, incertezas e falta de consenso na tomada de decisões e de opções. E isto acontece devido à falta de recursos, à diferença ideológica, à divergência de interesses e até devido às diferenças de personalidade entre os membros de toda a comunidade educativa.

Esta Teoria/Imagem baseia-se nas últimas teorias do campo dos Recursos Humanos, segundo os quais para que os intervenientes nas organizações desenvolvam um trabalho empenhado, motivado e envolvido é necessário que os mesmos ganhem uma “cultura de organização”, vendo a instituição como deles (Costa, 1996: p. 113).

Com uma origem marcadamente empresarial e desde a década de oitenta, a perspectiva cultural das organizações rapidamente se introduziu no contexto da análise organizacional da escola.

A compreensão da cultura organizacional de uma instituição é fundamental para interpretar o modo como as diversas estruturas se interligam e lidam com problemas e soluções. No entanto, e, apesar de ser tema de frequente investigação nos dias que correm (por se constatar o sucesso de determinadas organizações devido à sua ligação com culturas fortes), a noção de cultura organizacional está longe de encontrar consenso,

A filosofia subjacente a esta visão defende a procura e definição da especificidade e identidade de cada organização. Trata-se de uma imagem que foi beber as suas influências às empresas japonesas que alcançaram um enorme sucesso através de uma gestão baseada nestes pressupostos:

"O inesperado êxito manifestado pelas empresas japonesas [...] é usualmente entendido como o factor de arranque para o desenvolvimento da presente imagem organizacional [cultura organizacional], já que a

performance atingida por estas empresas foi atribuída essencialmente às características da especificidade cultural de cada uma dessas organizações de sucesso" (Costa, 1996: p. 110).

Esta teoria dá-nos conta de que cada empresa tem uma identidade própria, que a torna específica e distinta de todas as outras. Esta especificidade, que encontramos também nas organizações escolares, corresponde precisamente à noção de cultura que abarca a história da escola, o seu meio socio-económico, as crenças, as linguagens, os heróis, os rituais, as cerimónias, os valores. Todos estes vectores, bem articulados, definidos e defendidos dão origem a uma cultura forte que influenciará decisivamente o sucesso da escola.

Abordando a escola numa perspectiva organizacional temos de ter em conta a dimensão cultural, que emerge como novo paradigma das organizações. No entanto, é de salientar que, de uma maneira geral, os autores estão conscientes das dificuldades mas não escondem as enormes potencialidades heurísticas do conceito cultura quando se trata de o aplicar à escola como organização.

A transmissão cultural é vista como intergeracional, em que a cultura é transmitida de geração em geração por meio de socialização, e podendo essa transmissão cultural mudar na mesma geração ou acontecer a continuidade através das gerações.

A cultura aparece-nos, pois, como um processo de construção e reconstrução social permanentes. A cultura escolar é um sistema partilhado de representações, valores, crenças e modos de actuar que configuram, constroem e reconstroem a escola. Costa (1996; p. 107) defende ainda que as escolas desenvolvem a sua cultura organizacional própria.

Nesta abordagem podem ser apontados os seguintes aspectos:

- não só a escola é diferente das outras organizações, mas também, cada escola é diferente de qualquer outra escola;

- a especificidade da cada escola constitui a sua cultura que se traduz em diversas manifestações simbólicas, tais como: valores, crenças, linguagem, heróis, rituais, cerimónias (a escola é uma mini-sociedade);

- o líder deverá ser um "gestor de sentido" definindo a realidade organizacional através da articulação entre a visão da organização e os valores que a sustentam. A

preocupação constante do líder deverá ser canalizada para os aspectos simbólicos, já que a cultura pode ser não só utilizada como também alterada;

- a qualidade e o sucesso de cada organização escolar dependem do seu tipo de cultura: as escolas bem sucedidas são aquelas em que predominasse uma cultura forte entre os seus membros (identidade e valores partilhados).

Em contexto escolar, também pode não ser fácil encontrar uma definição consensual de cultura organizacional, o que pode dever-se ao carácter fortemente centralizador do sistema educativo, que impõe modelos únicos e uniformes que devem ser reproduzidos por cada escola. No entanto, cada escola é única, e normalmente auto- organiza-se de formas diversas, atendendo aos seus recursos, ambiente ou formas de interpretação dos normativos produzidos pelo poder central, o que implica uma enorme complexidade na organização das estruturas, dificultando a compreensão da sua cultura específica.

Uma das áreas temáticas mais divulgadas pelos defensores dos modelos culturais é a liderança. Há uma nova concepção de líderes organizacionais. Centrado prioritariamente na gestão do simbólico, o líder deve fazer da visão, da identidade e dos valores as suas indumentárias.

Haverá, assim, necessidade de um novo modelo de gestão da educação que apele ao desenvolvimento, em contexto organizacional, de projectos comunitariamente partilhados e suportados por "lideranças de visão".

A cultura organizacional é, assim, formada por decisões com um conjunto dinâmico e interactivo de opções filosóficas, de valores, de crenças políticas e culturais em partilha entre todos os membros do contexto educativo, numa sucessão de convergências e conflitos.

A escola é uma organização cultural, com toda a sua diversidade própria, gerindo o conflito de interesses, as lutas pelo poder e as estratégias dos grupos que actuam no seu interior ou que se relacionam com ela a partir do exterior, através de todo um poder de negociação e participação que envolva todos os membros da comunidade educativa.

Podemos assim afirmar que a escola tem sempre uma dimensão ou uma faceta cultural, pois dificilmente se consegue desligar da acção colectiva que lhe é inerente, ou seja, da partilha de valores que acontece diariamente e que define a sua própria identidade. A construção desta identidade leva, por sua vez, ao desenvolvimento de uma

cultura organizacional própria, onde são reconhecidos valores comuns específicos, objectivos comuns e dimensões construídas informalmente, muito importantes para a atribuição dos significados que os indivíduos dão às suas acções.

De acordo com Costa (1996: p. 109) podemos sintetizar alguns aspectos: cada escola é diferente de qualquer outra escola; a especificidade própria de cada escola constitui a sua cultura; a qualidade e o sucesso de cada organização depende do seu tipo de cultura; em termos de investigação, os defensores desta perspectiva apontam o seu objecto de estudo para o interior da cultura escolar; o gestor preocupa-se não só com os processos racionais de decisão mas também com a gestão do simbólico.