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O RGANIZAÇÃO ESCOLAR

5. As Teorias/Imagens Organizacionais da Escola

5.6. A Escola como Arena Política

A partir dos anos 70, surgem-nos teorias mais descritivas, mais críticas, que descrevem o funcionamento das organizações, através da existência de diversos jogos de interesses que as assolam diariamente. São os modelos micro políticos que vêem a escola como arena política, palco onde se disputam vários interesses e expectativas particulares. Como refere Barroso (1996: p. 10)

"desenvolve-se uma perspectiva crítica que põe em causa os critérios de uma pretensa racionalidade científica na definição das políticas e dos

processos de organização e administração das escolas, contrapondo uma abordagem sociopolítica, ideológica e cultural dos mesmos".

Costa (1996: p. 75) refere que

"da noção de objectivos organizacionais específicos (...) à noção de um poder fluído no interior e à volta das organizações sem objectivos precisos. De uma organização sem detentores de influência, passou-se a um tipo de organizações onde praticamente todos são agentes influentes; da visão da organização enquanto instrumento da sociedade chegou-se à visão de uma arena política".

Das citações acima referidas observa-se uma viragem clara na análise organizacional, a partir da consideração de elementos de natureza política. Nesta visão das organizações como arena política, recusam-se os elementos de racionalidade e a previsibilidade das imagens anteriores - quer a empresarial e a burocrática, quer a unidade dos objectivos e a visão consensual da teoria das Relações Humanas.

A escola considerada corno arena política, à luz dos modelos da ambiguidade, nomeadamente, dos modelos micro - políticos, é entendida por Costa (1996: pp. 78-79) como

"uma organização no interior da qual a tomada de decisões decorre de acordo com processos de confrontação e negociação tendo por base os interesses conflituantes e as estratégias de poder desencadeadas pelos diversos grupos (formalmente existentes e pontualmente coligados).". Trata-se de um modelo que surge a partir de várias investigações que, basicamente recusaram a concepção homogénea, racional e consensual e avançaram para uma visão heterogénea da organização, onde a incerteza e a divergência surgem como características dominantes.

A fundamentação teórica desta perspectiva revê-se, no âmbito da sociologia, nas teorias do conflito que se debruçam sobre as questões dos interesses dos diferentes grupos sociais e da dominação e divisão social; no âmbito da ciência política, nas questões da distribuição do poder nas comunidades que interferem nas decisões

políticas e, no âmbito da teoria organizacional, esta perspectiva baseia-se nos comportamentos dos grupos.

Situando-se, especificamente nas organizações escolares, nesta perspectiva Afonso (1993: p. 43) refere que

“a abordagem política concebe as escolas e os sistemas escolares como organizações políticas onde grupos distintos com interesses próprios entram em interacção com o objectivo de satisfazer esses interesses particulares, num contexto caracterizado pela diversidade dos objectivos, pela existência de conflitos abertos ou latentes, e pela luta por mais legitimidade e poder".

Por isso cada actor interveniente na organização escolar vai assumindo a sua postura, activa e interventiva, em função da leitura pessoal da realidade, da sua ideologia, dos seus interesses e da sua personalidade.

As organizações, concebidas como miniaturas dos sistemas políticos globais, são percepcionadas, como realidades sociais complexas onde os actores, situados no centro das contendas, e em função de interesses individuais ou grupais, estabelecem estratégias, mobilizam poderes e influências, desencadeiam situações de conflito, de coligação e de negociação tendo em conta a consecução dos seus objectivos (Costa, 1996: p. 78).

Neste novo modelo são admitidos como normal da organização, a conflitualidade de interesses (fonte de ruído e fricção, a evitar nos modelos clássicos iniciais), a luta pelo poder e os interesses, situados agora no interior e no exterior da escola. As decisões escolares formam-se, não numa base prescritiva, mas considerando como estratégico o fenómeno da negociação. Como palavras-chave caracterizadoras desta imagem, Costa (1996: p. 81) aponta quatro conceitos: os interesses, o conflito, o poder e a negociação.

Os modelos políticos afirmam-se como um conjunto de indicadores caracterizadores da organização escolar:

- a escola é um sistema político (em miniatura);

- pluralidade e heterogeneidade dos indivíduos e grupos na escola·, - conflitualidade de interesses e luta pelo poder;

- as decisões escolares formam-se na base da negociação; - reduzida tendência normativa;

- interesses, conflito, poder e negociação são palavras-chave.

Nesta imagem de arena política podemos observar a conflitualidade entre os seus pares que dá à escola um carácter de espaço de confronto.

Ao salientar a existência de conflitos entre os actores da organização, a concepção da escola como "arena política" dá sentido a esses mesmos conflitos.

Portanto, o modelo político de organização mobiliza temáticas que dão conta da diversidade de interesses e objectivos que presidem à acção dos actores, da sua exogeneidade ou endogeneidade, das diversas fontes de poder que coexistem na organização, da diversidade de influências e posicionamentos hierárquicos, da conflitualidade existente, dos processos de negociação, das estratégias de mobilização e/ou manipulação (condicionamento).

A escola é entendida como um sistema político, onde clientelas com interesses e estratégias díspares, interagem e influenciam os decisores de modo a obterem decisões e acções favoráveis.

Em síntese, poderemos dizer, como refere Alves (1995: p. 13) que a imagem da escola como arena política

"constitui-se a partir do reconhecimento de que são os interesses pessoais, profissionais, políticos das pessoas concretas que determinam as decisões e as acções da organização escolar, e que a diversidade de interesses tende a gerar conflitos, de que o poder é uma variável chave para compreender as lógicas da acção e de que a negociação é a dinâmica central da vida organizacional".

E Costa (1996: p. 73) caracteriza a escola como arena política com os seguintes indicadores: a escola é um sistema político em miniatura; há pluralidade e heterogeneidade de indivíduos e de grupos com objectivos próprios e posições hierárquicas distintas; há conflitualidade de interesses e consequente luta pelo poder; há interesses e a sua origem é no interior ou no exterior da própria organização; as decisões são organizacionais e os processos de negociação; interesses, conflito, poder e negociação como palavra-chave desta abordagem organizacional.