4.2 O poten ial quími o e a estabilidade em relação aos dopantes
4.2.2 A estabilidade das bordas do sistema grafeno/h-BN
A estabilidade energéti a das bordas de grafeno/h-BN das amostras pode ser analisada
por meio da omparação da energia de formação dos sistemas. Neste estudo, o poten ial
quími o para ada átomo onstituinte do sistema,
µB
,µC
eµN
, será obtido a partir dos materiais envolvidos no res imento das amostras gr:BN, de a ordo om a referên ia 11. Desta vez, os gases atmi os não serão onsiderados. Em seu lugar, as molé ulas na faseNH3
quando sujeito a diferentes ondições de temperatura e pressão. O poten ial quími o para as espé iesi
(B e N) pode ser es rito omo função da temperaturaT
e dapressãoP
. Dentro daaproximação dogás ideal [69℄,tem-se:µi(T, P ) = µi(T, Po) + kBT ln
P
Po
.
(4.6)O primeirotermo naEquação 4.6é denido para uma determinada temperatura epressão.
Para um gás ideal o poten ial quími o é expresso emtermos da energia livrede Gibbs
G
e pelo número de partí ulasN
namolé ula,de a ordo om a Equação 4.7:µ =
G
N.
(4.7)Pode-se separaro primeirotermodaEquação 4.6emduas partes, umaindependentede
temperatura e pressão, obtida do resultado DFT a partir da
Etotal
da molé ula isolada, e outra parte quein lui toda adependên ia deT
eP
de formaque:µi(T, Po) = Etotal+
1
N∆Gi(∆T, P0)
(4.8)∆Gi(∆T, P0) = [Hi(T, Po) − Hi(0, Po)] − T [Si(T, Po) − Si(0, Po)] .
Na expressão da energia de Gibbs éassumido
Po
= 1
atm, que é equivalentea100
kPa, e a varição daentalpia∆H
eentropia∆S
têmT = 0
omo referên ia.Os poten iais quími os de B e N não podem variar independentemente, pois eles são
rela ionados pela ondição de equilíbriotermodinâmi o,Equação4.9:
µB+ µN
= µBN.
(4.9)Nestetrabalho
µBN
éassumido omrespeitoaoborazine,poresseser onsideradoo omposto pre ursoremex esso noambiente.Ospoten iaisµB
eµN
são es olhidosdeformaaproduzir dois ambientes diferentes: um om ex esso de átomos de B e outro om ex esso de átomosde N. Se
µB
édado pelaEquação4.2,entãoµN
édado pelaequaçãoµN
= µBN
− µB
evi e e versa. O gásCH4
foi denido omo fonte dos átomosde C, logo:µC
= ECH4
− 2EH2.
(4.10)Também foi investigado o omportamento do poten ial quími o dependendo de
T
eP
, omo mostrado na Figura4.14. Os poten iaisµi
(Equação 4.6) foram al ulados usandoos valores tabelados [70℄ para∆H
e∆S
para a pressão padrão(1
atm).(a) (b)
( ) (d)
Figura4.14:Poten ialquími odependendodatemperatura epressãoparaosátomosde(a)Be(b)
N al ulados a partir das molé ulas:
N2
,N H3
,BH3
eB2H6
, respe tivamente. Também poten ial quími o para o ( ) dímero BN e (d) o átomoC, a partir deB3N3H6
eCH4
.similar entre si. O poten ial res e om o aumento da temperatura, enquanto o poten ial
forne ido por
N2
diminui.É importante dizer que a aproximação do gás real pelogás ideal introduz um erro negligen iávelna es ala de temperaturaepressão onsideradas [69℄.Uma vez que todos ospoten iaisquími os foramdenidos,a estabilidadeenergéti adas
élulas ontendo interfa e grafeno/h-BN pode ser investigada pormeio de ál uloDFT. Os
ál ulosderelaxaçãoforamrealizados omvetoresderedelivreseaenergiatotaldosistema
foi usada para obter aenergia de formação apartir daequação abaixo:
Ef
=
1
A(EBCN
− nCµC− nNµN
− nB(µBN
− µN)).
(4.11) A Equação 4.11 é a Equação 4.1 rees rita usando a ondição do equilíbrio termodinâmi oparaoB eN. Alémdisso, emvez de
nsub
(númerode átomossubstitu ionais),Ef
édividida porA
, que representa a área dasuper élula.O valorda energiade formação foi onvergidoom respeito aonúmerode pontos-K usadono ál ulode relaxaçãodas élulas,o ritériode
onvergên ia foi de
20
meV.Foramestudadas três onguraçõesdeinterfa eentreografenoeoh-BN:heterojunções,
heterojunções ommonova ân iaeaborda de pequenasilhas deh-BN noplanodografeno.
Nestes ál ulos foram utilizadassuper élulas retangulares de
96
átomos, om três arranjos de ligaçõesnas bordas da interfa e, estas super élulas podem ser vistas na Figura 4.15. Assuper élulas om ambas as ligações C-B e C-N na interfa e são apresentadas nas guras:
Figura4.15(a), a qual orresponde à onguração om borda BN-zigzag, e Figura 4.15(b),
em que a ilha de h-BN resulta na onguração
B5C86N5
. Outra super élula om somente ligaçõesC-NnabordaémostradanaFigura4.15( ),nestaguraa onguraçãodainterfa eé do tipo Klein estendido - EK [71℄ (sigla do inglês Extended Klein) para o grafeno, om a terminação da interfa e por átomos de N, portanto ela será referen iada omo EK-N.Para
o aso de ilhade h-BN om somente ligaçõesC-N nainterfa e a onguraçãoresultanteéa
B3C87N6
, omomostradonaFigura4.15(e) (mesmasuper élulamostradanaFigura4.9(b)). Outras duas super élulassimilaresàs des ritas anteriormente, porém somente om ligaçõesC-B na borda são mostradas nas Figuras 4.15(f) e 4.15(h). A primeira super élula possui
interfa e do tipo Klein estendido para o grafeno om terminação em átomos de B - EK-B,
e a segunda apresenta a ilhade h-BN no grafeno, a qual resulta na onguração
B6C87N3
(mesmasuper élulamostradanaFigura4.9(d)).Nestessistemas adaátomodeBouNpodeseligaraum átomode C, om umaouduasligaçõesdependendo dotipodainterfa e, omo
no asodas onguraçõesBN-zigzag ouEK, respe tivamente.Napresença de monova ân ia
é possível formar bordas om somente uma ligação para o átomo de B ou N na interfa e
do tipo Klein estendido. Por essa razão estruturas omo monova ân ia foram onsideradas
nessesestudos. Elassãodenominadas omo onguraçãoC/N
va
eC/B
va
,de a ordo omas
Figuras4.15(d)e4.15(g), parainterfa es omterminaçãodoátomoNeB, respe tivamente.
Na Figura4.15(d) nota-se queo omprimentodaligaçãoC-N (
1, 32
Å) próximo àva ân ia, pode ontribuir para a formação de pentágonos, os quais não foram impostos ini ialmentepara essa onguração. O mesmo não a onte e om va ân ia de C próxima à ligação C-B
(Figura4.15(g)), onde o omprimentodaligação émaior (
1, 57
Å).Como dis utido naseção 4.2,no ál ulo daenergiade formaçãodos sistemas mostrados
na Figura 4.15 pode-se onsiderar diferentes fontes para obter
µi
para B e N, além de que o valordeµi
pode variar om a temperatura epressãode a ordo om a Equação4.6.Neste trabalho, os efeitos de mudanças deT
eP
foram onsiderados apenas nos pre ursores na fase gasosa, enquanto esses efeitos foram negligen iadospara ossistemas gr:BN estudados.A Figura 4.16 mostra o resultado para a energia de formação omo função de
µN
, obtido para T=1300
K,a qualé muito próximadatemperaturade res imentodos lmesde BNGFigura 4.15: Estruturas utilizadas nos ál ulos da energia de formação das distintas interfa es
do sistema grafeno/h-BN: (a)BN-zigzag, (b) pequena ilha de h-BN
B5C86N5
, ( ) Klein estendido omterminação N:referido omoEK-N, (d)C/Nva
,(e)pequenailhadeh-BN
B3C87N6
,(f)Klein estendido omterminação B:referido omoEK-B,(g)C/Bva
e(h)pequenailhadeh-BN
B6C87N3
. Como men ionadonas Figura 4.9, as estruturas mostradas em (e) e (h)foram geradas através dométodo de resfriamento simulado [59℄.
µN
foi obtida por meio da fração molar das mesmas. Esta fração variou de0, 1
(ambiente ri o em B) a1
(ambiente ri o emN).A energiade formação dos sistemastambémfoi obtidapara
µi(T = 0, P = 0)
, in luindo os poten iais quími os forne idos pelos sistemasα − N2
eα − B
. A Figura 4.17 mostra que o ál ulo da energia de formaçãoparaµN
emT = 0
apenas deslo a a faixa de energia ompreendida porµN
paravalores àdireita,eas urvasdeEf
nãodiferem muitodo ál ulo omT=1300
KapresentadonaFigura4.16.Neste último asoa in lusãode temperaturano sistema apenas favore e o ambiente ri o emB.Figura 4.16:Energiadeformação,
Ef
, omofunçãodopoten ial quími odeN,µN
,deheterojun- ções grafeno/h-BN e pequenas ilhas de h-BN in orporadas no grafeno. O valor máximo e mínimode
µN
representam dois ambientes diferentes; um ri o em N e outro ri o em B, a temperatura onsiderada para obtenção desses poten iais foi deT=1300
K.exemplo, linha em azul turquesa nas Figuras 4.16 e 4.17) são menos estáveis do que hete-
rojunções (linha em preto nas mesmas guras), por
66
meV/Å2
. As ilhas possuem menor
número de ligações B-N do que nas super élulas om heterojunções, esse número de liga-
ções B-N é inversamente propor ional ao valor da energia de formação quando o borazine
é usada omo referên ia. Formar dímeros B-N na fase sólida (juntamente om liberação
de gás hidrogênio) é mais estável do que ligações B-N no gás do omposto de borazine
(
∆Hf
= E
BN +H2
total
− Etotalborazine=−1.31
eV, omT=0
eP=0
). Pode-se notaraindaque no aso estequiométri o(mesmonúmerode C-BeC-N)oambientenãointerferenovalordaenergiade formação.
As Figuras 4.16 e 4.17 predizem que os sistemas om ligações C-N, omo o EK-N e o
B3C87N6
(linhasemvermelhoeroxo)sãomaisestáveisdoqueaqueles omligaçõesC-B,por exemplo,o EK-Be oB6C87N3
(linhas emazul es uroerosa) somenteemum ambienteri o emN.Emumambiente omex essodeNH3
(T=1300
K),adiferençaemenergiadeformação entre os sistemas om pequenas ilhasB3C87N6
eB6C87N3
é de9, 9
meV/Å2
, enquanto que
entre heterojunções EK-N e EK-B é de
18, 3
meV/Å2
. Para os mesmos sistemas em um
ambiente om ex esso do gás
N2
(T=1300
K) a diferença em energia é prati amente nula, ouseja, nesse ambienteos sistemassão igualmenteestáveis.Figura 4.17:Energiadeformação,
Ef
, omofunçãodopoten ial quími odeN,µN
,deheterojun- ções grafeno/h-BN e pequenas ilhas de h-BN in orporadas no grafeno. O valor máximo e mínimode
µN
representam doisambientes diferentes; umri o em Ne outro ri o emB, a temperatura on- siderada para obtenção desses poten iais foi de T=0
K. A faixa de energia ompreendida porµN
ontém os valores para os pre ursores mole ulares e no estado sólido, onsiderados neste trabalho.rando um ambiente ri o em N, está em perfeito a ordo om os resultados teóri os obtidos
por Berseneva [72℄ e olaboradores. Os resultados ab initio de Berseneva mostraram que quando os átomos de B e N são substituídos pelos átomos de C em uma nanoestrutura de
h-BN,aenergiadeformação, al uladaparaum ambienteri oemN(usando
N2
omofonte de N em T=0
K), é sempre menor quando mais átomos de B do que de N são substituídos porC.Dentre as onguraçõesestudadas,osautoresveri aramqueéenergeti amentemaisfavoráveldefeitos triangulares om terminaçõesemN om umgrande númerode átomosde
B ausentes na amadade h-BN.
Para o ambiente ri o em B, os resultados para a energia de formação mostram que
para todas asmolé ulasestudadas queforne em
µB
(em T=1300
K), sistemas om somente ligaçõesC-B nainterfa e são mais estáveis doque aqueles nos quais ambas asligaçõesC-Ne C-B estão presentes na interfa e ou somente ligações C-N. A diferença em energia é de
Ef
=14, 3
meV/Å2
entre EK-B(linha emazul es uro)eBN-zigzag (linhaempreto),quando
o gás de
BH3
é usado omo fonte de B. Para EK-B e EK-N a diferença em energia é de109, 6
meV/Å2
, onsiderando a mesma molé ula omo fonte. Para o gás da molé ula
B2H6
a onguração om ilha de BN,B6C87N3
(linha emrosa) é mais estável doque aB3C87N6
(lina emroxo) porEf
=39, 7
meV/Å2
(C/B
va
, linha em amarelo e C/B
va
, linha em verde) estudados, a presença da va ân ia
aumenta a energia de formação dos sistemas. Mas, ainda assim, os sistemas om ligações
C-Bsão maisestáveisdoque os om ligaçõesC-N,paraospoten iaisquími osavaliadosem
ambas astemperaturas; T=
0
e T=1300
K.QuandoµB
édado porα − B
,no aso das ilhas, as bordas ontendo somente ligaçõesC-B são mais estáveis doque asbordas om ambas asligaçõesousomenteligaçõesC-N.
Opoten ialquími otem um papelimportantepara aestabilidade das ligaçõesnainter-
fa e,porexemplo, para afaixa de energia dopoten ial quími oavaliado emT=
1300
K,em um ambienteri oemB, interfa es omligaçõesC-Bsão maisestáveisdoqueinterfa es omambas ligações C-B e C-N (borda zigzag) ou somente ligações C-N, enquanto que, em um
ambiente ri o em N, interfa es ontendo somente ligaçõesC-N são mais estáveis do que as
interfa es ontendo somente ligaçõesC-B. Porém, mesmo em um ambiente neutro, ouseja,
sem ex esso de átomos de B ou N, interfa es om ligações C-B são mais estáveis do que
as om C-N. Esses resultados on ordam om outros resultados teóri os e experimentais,
nos quaisligaçõesC-Bsão observadas nainterfa e de sistemasgrafeno/h-BN[9,73,74℄.No trabalhode Gao[9℄e olaboradores,alémde mostrarempor ál ulosdeprimeirosprin ípios e experimentalmente que ligações C-B são mais estáveis do que as C-N na interfa e, eles
também en ontraram que a borda zigzag (na qual só é permitido um tipo dessas ligações)
é mais estável doque a arm hair ( om ambas ligações C-B e C-N)na interfa e do sistema
grafeno/h-BN.
Se no res imentode gr:BNopre ursorparaosátomosdeB eNforoboranode amnia,
muitos dos átomosde B eN devem ser in orporadosna amostraemforma de dímeros.Em
baixatemperatura(que é oregime de interesse destetrabalho) a desidrogenação doborano
de amnia pode não o orrer. Isso é mostrado pelos resultados do fator de Boltzmann (ver
Figura4.13).AFigura4.13mostraquehámuitomaisfontedeN disponívelnoambientedo
quefontedeB,oquefavore eaformaçãode ligaçõesC-N.Essesresultadospodemexpli ara
ausên ia deligaçõesC-Bemmedidasde XPSe onsequentementeafaltadas ara terísti as
de B nos espe tro raio-X
1s
de C na referên ia 11. Embora a formação de ligações C-B e C-N nas bordas dos sistemas de gr:BN seja ondi ionada ao poten ial quími o envolvidonopro esso de res imento,osestudos realizados neste apítulomostramqueo espe trode
absorçãode raio-XdosátomosdeCdessasamostrasé apazderevelar seabordaéformada
por ligaçõesC-B ouC-N.Isto pode ser visto nas Figuras4.9(a)e 4.9( ).