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A estrutura da Polícia Rodoviária Federal

2 A SEGURANÇA PÚBLICA DO BRASIL E A POLÍCIA MILITAR NA

2.3 A ESTRUTURA DAS INSTITUIÇÕES POLICIAIS CIVIS E AS DA POLÍCIA

2.3.2 A estrutura da Polícia Rodoviária Federal

Do mesmo modo que a Polícia Militar, a PRF (Polícia Rodoviária Federal) é uma instituição criada muito antes da publicação da Constituição Federal de 1988. Com sua existência datando de 24 de julho de 1928, através do Decreto nº 18. 323, a PRF fora uma instituição criada no intuito de realizar o policiamento das estradas brasileiras.

Esse patrulhamento de estradas fora de tal forma essencial para manter a segurança dos cidadãos brasileiros que a Lei Maior de 1988, através do seu art. 144, determinando que a PRF passasse a compor o Sistema Nacional de Segurança Pública,

recebeu definitivamente a função de Patrulhamento Ostensivo das Rodovias Federais do Brasil.

De acordo com Decreto nº 1.655, de 03 de outubro de 1995, que define as

competências da Polícia Rodoviária Federal, compete à PRF ―realizar o patrulhamento

ostensivo, executando operações relacionadas com a segurança pública, com o objetivo de preservar a ordem, a incolumidade das pessoas, o patrimônio da União e o de terceiros‖ (BRASIL, 1995, art. 1º, inc. I, s/i, grifos nossos).

Além do patrulhamento ostensivo, é função da PRF colaborar na prevenção e repressão aos crimes contra a vida, os costumes, o patrimônio, os furtos e roubos de veículos e bens, bem como o tráfico de entorpecentes e drogas afins (BRASIL, 1995, art. 1º, inc. x, s/i), o que só reforça a tese de que além da fiscalização das rodovias federais brasileiras, a PRF também tem um papel fundamental na prevenção e repressão dos crimes no Brasil.

Pelas definições acima, denota-se que a função da PRF é praticamente idêntica à realizada pela Polícia Militar no que concerne à preservação da ordem pública, posto que à PM cabe a manutenção da ordem pública através do mesmo tipo de policiamento ostensivo56, realizando as mesmas tarefas acima descritas, apenas restringindo sua atuação à unidade estadual a que pertence.

A Lei 9.654 de 1998 não deixa dúvidas quanto à identidade de funções em relação ao Policial Militar quando diz que ao Policial Rodoviário Federal cabem: as ―atividades de natureza policial envolvendo a fiscalização, patrulhamento e policiamento ostensivo [...]‖ (BRASIL, 1998, art. 2º, §1º, inc. IV, s/i), comprovando que ambas as instituições realizam a mesma função em suas jurisdições.

Inclusive, uma característica notória que realça a semelhança entre esses órgãos no sentido funcional é o uso de uniformes pela PRF tais quais os policiais militares utilizam nos Estados, tendo em vista que a Identificação de tais profissionais nas rodovias brasileiras é característica inerente do trabalho de patrulhamento ostensivo, o que só enfatiza a semelhança no trabalho dessas instituições.

Contudo, mesmo com funções idênticas executadas tanto pelo órgão federal (PRF) e o estadual (PM), as estruturas utilizadas para a execução do policiamento por cada órgão seguem filosofias de formação diferentes.

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Segundo o Decreto nº 88.777/1983, art. 2º, inc. 27: Policiamento Ostensivo quer dizer ação policial, exclusiva das Policias Militares em cujo emprego o homem ou a fração de tropa engajados sejam identificados

de relance, quer pela farda quer pelo equipamento, ou viatura, objetivando a manutenção da ordem pública

Primeiramente, a PRF realiza seu Curso de Formação Profissional para os ingressos na carreira de Patrulheiro, que necessita possuir, no mínimo Curso de Nível superior para concorrer a uma das vagas, sendo que tal curso possui uma duração de aproximadamente de 03 meses e possui uma carga horária de 760 horas-aula, curso este que mescla instruções, palestras e outras atividades, conforme matriz curricular abaixo:

DISCIPLINAS DO CURSO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL DA PRF

Fonte: Portal da Polícia Rodoviária Federal57

Pela descrição acima, o policial da PRF recebe um treinamento bastante semelhante ao ofertado aos policiais militares, posto que conforme o fluxograma de disciplinas do Curso de Formação de Soldados da Polícia Militar da Paraíba citado anteriormente, os Soldados em início de carreira da PMPB (que ingressam com a obrigação

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de possuir apenas nível médio) recebem uma formação de aproximadamente 1.270 horas, com um curso um pouco mais extenso com duração de aproximadamente 09 meses, pois o cargo federal exige do aluno nível superior e o da PM apenas nível médio.

Quanto às disciplinas trabalhadas na formação do Policial Rodoviário Federal, estas em muito se assemelham à formação do PM, considerando-se que disciplinas como Policiamento e fiscalização, Técnicas de Defesa Policial, Técnicas de Abordagem Policial, Uso Diferenciado da Força, Armamento e Tiro, Prática de Tiro, Enfrentamento ao Tráfico de Drogas, Inteligência Policial e Segurança Orgânica, etc., são conteúdos também exigidos na formação do policial militar.

Assim, ambas as instituições seguem a mesma linha de formação direcionada para a efetivação da segurança pública brasileira, pois diante de suas funções idênticas (patrulhamento/policiamento ostensivo), cada uma necessita receber os mesmos treinamentos para exercer suas atribuições, apenas uma exercendo seu trabalho na esfera federal e a outra nos Estados-Membros.

Ao serem verificadas as inovações inseridas pela Matriz Curricular Nacional para a melhoria do trabalho dos profissionais de segurança pública do Brasil, percebe-se novamente a identidade na formação quando disciplinas como Relações Humanas; Ética e a Atividade Profissional; Direitos Humanos e Cidadania; e Estado, Sociedade e Polícia, são conteúdos apresentados a ambas as formações (PRF e PM), de modo a tornar estes profissionais mais capacitados a exercerem suas funções com uma visão humanista.

Por tudo o que fora visto neste tópico, é perceptível que o Legislador Constituinte de 1988 realizou um grande equívoco ao manter uma estrutura militarizada a partir da instauração do Estado Democrático de Direito brasileiro.

A existência de tais instituições (PF e PRF) com mesmas atribuições que a Polícia Militar, realizando o mesmo trabalho, mas com filosofias de atuação totalmente diferentes, só comprova a ambiguidade de ainda ser uma Polícia Militar num Estado brasileiro em que a atuação policial pode e deve ser civil e que, inclusive, já o faz atravésdos órgãos supramencionados.

Segundo Luiz Eduardo Soares:

Polícias nada têm a ver com exércitos: são instituições destinadas a garantir

direitos e liberdades dos cidadãos, que estejam sendo violados ou na iminência de sê-lo, por meios pacíficos ou pelo uso comedido da força, associado à mediação de conflitos, nos marcos da legalidade e em estrita observância dos direitos humanos.

Por isso, qualquer projeto consequente de reforma das polícias militares, para

menos reativo e mais preventivo (fazendo-o apoiar-se no tripé diagnóstico- planejamento-avaliação), precisa começar advogando o rompimento do cordão

umbilical com o Exército (SOARES, L.2012, p.5, grifos nossos).

Assim, diante da possibilidade de reforma constitucional e da atuação policial através de um órgão civil, muitos autores já suscitam a ideia de mudança do Sistema de