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2 A SEGURANÇA PÚBLICA DO BRASIL E A POLÍCIA MILITAR NA

2.4 CICLO COMPLETO DE POLÍCIA: A SOLUÇÃO PARA O SISTEMA DE

2.4.1 Policiamentos de Ciclo Completo no Mundo

2.4.1.4 Modelo Americano

Os Estados Unidos da América – EUA foi um país colonizado pela Inglaterra e, consequentemente, muitas de suas tradições e cultura advieram do povo inglês. Uma das filosofias inglesas adotadas pelos estadunidenses foi quanto ao seu sistema de segurança pública que seguiu o modelo anglo-saxão de descentralização das forças policiais, em que cada localidade tem a autonomia de formar o seu sistema de policiamento.

Com isso, hodiernamente, estima-se que nos Estados Unidos existam algo em torno de 18 mil polícias63, o que comprova a alta descentralização do comando do sistema de policiamento desse país.

No tocante à questão da competência territorial das polícias americanas, apesar dessa diversidade de instituições de segurança, é possível dividi-la em três níveis:

1) Federal, que tem como principais instituições: a) A Agência Federal de Investigação (Federal Bureau of Investigation – FBI, em inglês), que é uma polícia de estrutura civil e tem a competência de atuação nos crimes previstos em leis federais (como corrupção, tráfico de drogas, fraude bancária, etc.) ou que tenham repercussão interestadual (como combate ao crime organizado); e b) A Guarda Costeira dos EUA, que sendo uma polícia com estrutura militarizada (haja vista que a mesma faz parte do Ministério de Defesa Americano e, por isso, fazendo parte das forças armadas do país) tem a atribuição de patrulhamento e proteção dos rios e dos mares territoriais dos Estados Unidos da América, além da função de busca e salvamento no mar.

2) As Polícias Estaduais norte-americanas que, subordinadas aos governadores de cada estado (nos EUA são 52), têm como funções principais o patrulhamento de rodovias interestaduais, proteger a sede dos governos e o governador dos estados, além de fornecer treinamento aos integrantes das polícias municipais que não possuam estrutura própria de formação. Como sua atuação é mais direcionada à proteção das divisas estaduais, a ostensividade é uma característica marcante dessas polícias. Sendo assim, tal polícia possui vários aspectos militares em sua estrutura, como uniformes e viaturas ostensivas. Contudo, as polícias estaduais, ao realizar prisões em sua área de competência, têm autonomia para o encaminhamento do caso criminal para processamento na justiça, o que demonstra sua atuação em ―Ciclo Completo de Polícia‖.

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Informação disponível em: <http://www.fenapef.org.br/um-estudo-de-policia-comparada-brasil-e-estados- unidos-da-america>. Acesso em 19-05-2016.

3) As polícias municipais norte-americanas são estruturas de policiamento com jurisdição restrita aos municípios americanos a que pertencem. São polícias que, semelhantes às polícias estaduais, possuem algumas características militares em sua estrutura, como uniformes e viaturas ostensivas, além de alguns cargos possuírem nomenclaturas militares, como sargento, tenente, capitão, etc., não sendo uma constante em todos os municípios, visto que há localidades que definem os cargos policiais como Xerife, Sub-Xerife, Assistente do Xerife, etc.

Contudo, mesmo existindo algumas semelhanças que aparentemente trariam uma conotação de instituição com formação militarizada, as polícias municipais são instituições com estrutura civil e que realizam o chamado ―Ciclo Completo de Polícia‖, pois cuidam desde o policiamento ostensivo (com policiais uniformizados), até a investigação com os detetives (que usam roupas civis) e tendo competência para encaminhamento dos casos para o Judiciário.

Diante da diversidade de localidades (municípios, condados, distritos, etc.), o número de instituições policiais é imenso, variando a quantidade de policiais por unidade de acordo com a necessidade de cada local. Os crimes de sua competência também se alteram de acordo com as leis locais, pois diante da autonomia que cada Estado Americano possui na elaboração de suas leis, os tipos penais também se diversificam a depender da localidade do município.

Em relação à coordenação dessas polícias municipais, seus dirigentes são normalmente eleitos pela comunidade que, conforme o modelo inglês, fiscaliza o trabalho policial exigindo a prestação de contas da autoridade delegada ou do prefeito que é o ―chefe‖ dessa autoridade. Caso ocorra um aumento da criminalidade, o ―Xerife‖ ou ―Chefe de Polícia‖ local é convocado inclusive pelos grupos comunitários para que forneça explicações quanto às providências que serão tomadas para solucionar os problemas locais.

Assim, é perceptível que o modelo estadunidense seguiu algumas características do modelo inglês de segurança pública quanto à autonomia que cada localidade municipal tem para gerenciar sua própria estrutura de segurança pública, em que as autoridades estaduais e federais não possuem nenhuma ingerência direta sobre tais órgãos de segurança.

No entanto, o modelo americano fez algumas inovações quando delegou a uma polícia estadual a responsabilidade pela proteção das sedes dos governos estaduais e suas rodovias, assim como em relação às polícias federais que têm competência para atuar nos crimes de sua área de jurisdição legal, sem haver, contudo, intervenção de nenhuma esfera policial sobre a outra.

O que se pode concluir do modelo americano é que este se baseia em um conceito moderno de segurança pública, posto que a atuação policial seja voltada aos interesses da comunidade a que serve, onde esta fiscaliza e exige modificações no policiamento caso este não esteja em conformidade com o que a sociedade necessita.

Outra questão importante é que as polícias dos EUA que trabalham diretamente com a segurança pública são estruturas eminentemente civis, sendo que mesmo possuindo algumas características de cunho militar (como uniformes e patentes) tais atributos não modificam seu caráter de instituição civil.

Mesmo em um país onde o militarismo é um traço marcante de sua sociedade, dada a sua participação histórica nas grandes guerras mundiais e nos conflitos internacionais, a atuação militar em sociedade fica restrita às Forças Armadas do país, não havendo interesse por parte da sociedade em ter uma instituição militar para a realização da atividade policial cotidiana.

Destarte, com base nos modelos policiais vistos até o presente momento, é perceptível que nenhum deles possui relação direta com o modelo brasileiro. Mesmo aqueles que possuem forças militares na atuação policial (como o caso da França e Portugal), seus modelos não utilizam a polícia de estrutura militar como a sua principal força de atuação na segurança pública. Qual seria então o modelo que o Brasil poderia seguir para melhorar a sua segurança pública. É o que tentaremos discutir no próximo tópico.