A METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO
3.4. O inquérito por questionário: razões, interesse e modo de fazer
3.4.2. Para quê? Interesse
3.4.2.2. A estrutura do questionário
O questionário é composto por 36 perguntas sendo 35 fechadas e a restante, uma pergunta aberta (comentário) 217. Divide- se em quatro partes:
I. Os Jovens, o Magrebe e a Europa II. Os Jovens, a Escola e a Sociedade III. Os Jovens, a Cultura e o Mundo
IV. Os Jovens, o Magrebe, a Europa e o Mediterrâneo
A cada pergunta ou a um conjunto de perguntas, associámos objetivos específicos para melhor circunscrever o seu contributo para este estudo do ponto de vista das suas
216 Cf. Pergunta 36 do inquérito por questionário na sua versão portuguesa – Modelo do
Questionário em português - Questionário (PORTUGAL-EUROPA) – Anexo 2.
161 conclusões, recomendações ou pistas de investigação visto o seu caráter exploratório (Cf. Figura 3.3).
Quadro 3.3 - Áreas temáticas e objetivos específicos do questionário
Áreas temáticas Objetivos Perguntas
I - Os Jovens, o Magrebe e a Europa
Conhecimentos recíprocos e perceções mútuas
. Identificar e avaliar os conhecimentos mútuos sobre o
Magrebe e a Europa P.1., P.2. . Identificar a aquisição dos conhecimentos mútuos
sobre o Magrebe e a Europa (por país) P.3. . Identificar as áreas de conhecimentos mútuos sobre o
Magrebe e a Europa (por país) P.4. . Caracterizar os povos do Magrebe e da Europa P.5. . Identificar e avaliar a importância de um melhor
conhecimento mútuo dos países do Magrebe e da
Europa P.6., P.7., P.8. II – Os Jovens, a Escola e a Sociedade A escola como espaço social e cultural
. Identificar o papel da escola no conhecimento do outro através das preocupações, dos valores e interesses dos jovens do Magrebe e da Europa
P.9., P.10., P.11., P.12.,
P.13. . Avaliar a importância do conhecimento e do ensino
da língua árabe nas escolas europeias (a competência
plurilinguística) P.14.
III – Os Jovens, a Cultura e o Mundo
Os Jovens e a Interculturalidade
. Identificar e avaliar a importância de conhecer e aprender a cultura de um outro povo nomeadamente do
Magrebe e da Europa P.15., P.16., P.17. . Identificar e justificar a relevância e o significado da
interculturalidade na escola (a competência intercultural)
P.18., P.19., P.20., P.21. . Identificar e caracterizar as relações e perceções dos
jovens europeus sobre o Magrebe e o Islão e dos jovens magrebinos sobre a Europa/o Ocidente (a
estigmatização cultural) P.22., P.23. . Avaliar o papel da escola num melhor conhecimento
mútuo da vivência e da cultura dos jovens magrebinos
e dos jovens europeus P.24., P.25., P.26. IV – Os Jovens, o
Magrebe, a Europa e o Mediterrâneo
Os Jovens e o Mediterrâneo
. Identificar e caracterizar as representações sobre o Mediterrâneo e as relações entre os povos da margem
norte e sul do Mediterrâneo
P.27., P.28. . Identificar e avaliar o conhecimento da parceria euro-
mediterrânica como iniciativa de aproximação entre os países do norte e sul do Mediterrâneo
P.29., P.30., P.31., P.32.,
P.33. . Identificar e avaliar a importância de um melhor
conhecimento do Mediterrâneo (a identidade
mediterrânica) P.34., P.35. . Promover uma reflexão pessoal do jovem aluno sobre
a importância da interculturalidade (conhecimento e
compreensão interculturais) na escola P.36.
162 3.4.2.3. O processo de redação do questionário
Em virtude das diversas línguas dos países em estudo, o questionário foi redigido e apresentado em português, em francês218 e em espanhol219. Quanto à língua árabe, colocou-se, desde o início, a hipótese de redigir o questionário na respetiva língua para respeitar precisamente o que está por detrás da interculturalidade («pensar com o outro») e, consequentemente, agir em conformidade. Sondámos junto de responsáveis académicos de cada um dos países magrebinos: Marrocos, Argélia e Tunísia, no quadro da Escola de verão/Colóquio-Atelier de Tunes,220 a possibilidade de apresentarmos o questionário em língua árabe. Informados, por um lado, do facto de estarmos a aprender a língua árabe221 e, por outro lado, do facto de termos o questionário na versão francesa, recebemos orientações de que não seria necessária a tradução do questionário em árabe. Contudo, não apresentando por completo o inquérito por questionário, numa atitude intercultural de procurar «pensar com o outro», apresentamos, pelo menos, o seu texto introdutório em língua árabe222.
Tivemos, ainda, ocasião de dar espaço à língua árabe numa outra situação. Foi utilizada no próprio questionário em virtude da pergunta aberta P. 36 por alunos de uma das escolas secundárias de Rabat, o يرافغلا راد يبا ةيوناث – Lycée Abi Dar AlGhifari. A sua utilização surgiu depois de termos feito uma primeira saudação em língua árabe com a conhecida expressão: ك ي ع سلا (As-salaam-alaykum) complementada com uma apresentação pessoal em árabe223 e, no final, com um agradecimento e uma despedida
218 Cf. Modelo do Questionário em francês [Questionnaire (FRANCE-EUROPE)] – Anexo 2. A
versão francesa foi feita pelo autor visto que a língua francesa constituiu-se como a primeira língua na escola (Cf. Nota 19). Pedimos, no entanto, a Frédéric Turiel, professor de francês no Lycée Louis le
Grand em Paris, uma revisão da versão do autor.
219 Cf. Modelo do Questionário em espanhol [Cuestionario (ESPAÑA-EUROPA)] – Anexo 2.
Relativamente ao questionário na sua versão espanhola, também o autor o redigiu pessoalmente (pelo facto de ter estudado a língua espanhola e possuir consequentemente alguma facilidade na sua utilização quer escrita quer oral). Pedimos, contudo, a Valentín Cózar, professor de espanhol no Instituto Cervantes de Lisboa, uma respetiva revisão.
220 Cf. Nota 1.
221 No momento, frequentávamos o nível mais elevado (nível 6 – três anos), no Instituto de
Estudos Orientais da Universidade Católica Portuguesa, com a professora Margaret Werdian.
222 Cf. Modelo do Questionário em árabe - Questionnaire (MAROC-ALGÉRIE-TUNISIE-
MAGHREB) – Anexo 2.
223«.لاغتربلا - ةنوبشليف ع اج لا ي ف ذات لاا انأ .ون ي ب لا يم ا انأ ؟كلاحفيك » - «Como estão? O
163 em árabe224. Subsequentemente, elaborou-se uma conversa em francês sobre o facto de estarmos a aprender a língua árabe. Perante esta informação, sentiu-se, por parte dos alunos, uma manifesta satisfação e gratidão pelo nosso interesse em procurar expressar- nos em língua árabe. Esta situação acabou por provocar uma situação inesperada. Durante o processo de respostas ao questionário, alguns alunos de uma das turmas selecionadas (12º ano) da referida escola, questionaram-nos se podiam responder à respetiva pergunta P. 36 em língua árabe. A nossa resposta imediata foi afirmativa. Se apelámos para a sensibilização intercultural, esta passa por estimular «o outro» a expressar-se na língua que lhe permitisse melhor expor as suas ideias, em particular, quando se trata de uma pergunta onde se promove um processo de reflexão e de espírito crítico mais aprofundado em que a língua desempenha um papel de referência psicológica, identitária e cultural (Akkari, 2011; Moatassime, 2008).
Sendo o árabe a língua oficial do Magrebe, estes países vivem um bilinguismo árabe/francês que se traduz, na realidade, na necessidade de se conhecer as duas línguas embora sejam atribuídas a cada uma delas um estatuto particular em termos sociais, culturais e políticos (Akkari, 2011; Moatassime, 2008). A língua árabe é vista como a língua da identidade e da cultura enquanto a língua francesa é a língua da modernidade e do sucesso económico e social (Akkari, 2011; El Gherbi, 1993). E, de facto, é com a língua francesa que se converteu, durante o período da colonização do Magrebe (Argélia, 1830-1962; Tunísia, 1881-1956; Marrocos, 1912-1956), na única língua oficial, que se construíram todas as instituições públicas, e, em particular, a escola (Akkari, 2011). Naturalmente que não podemos esquecer, por um lado, uma outra importante componente linguística fundamentalmente oral que é o Berbere225 que, hoje em dia, volta a ganhar visibilidade. Há ainda que referenciar a crescente importância, por razões económicas e sociais, do inglês e do espanhol. Quanto ao português, não obstante o interesse dos jovens, que pudemos sentir pessoalmente, é uma língua que ainda não ganhou um estatuto de projeção económica, social ou cultural que pudesse motivar o seu estudo. Existe, aliás, um movimento de cooperação mútua entre Portugal
224 «! س لا ع ! ارك ش » – «Obrigado! Adeus!»
225 Segundo estimativas da distribuição das línguas no Magrebe, temos em Marrocos, 66% de
Arabófonos, 33% de Berberófonos e 12,5% de Francófonos; na Argélia, são 83% de Arabófonos, 17% de Berberófonos e 47% de Francófonos; na Tunísia, são 98% de Arabófonos, 2% de Berberófonos e 31,8% de Francófonos (Fonte: Akkari, 2010: 121).
164 e Espanha através do Institut des Etudes Hispano-Lusophones/IEHL (associada à
Université Mohammed V – Agdal) no sentido de se canalizar vontades no sentido de
promover as respetivas línguas226.