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UMA TEORIZAÇÃO INTERCULTURAL DA EDUCAÇÃO E DO MEDITERRÂNEO

2.2. O Mediterrâneo e a interculturalidade

2.2.3. O paradigma da pluralidade mediterrânica

Sendo o nosso território de análise, a área mediterrânica, o seu estudo impõe a necessidade de se promover o conhecimento da sua pluralidade social e cultural.

«El Mediterráneo es sin duda mucho más que un espacio geográfico; es – y siempre ha sido-, desde una perspectiva histórica, cultural y social, un espacio común de contacto y relación que no siempre responde a una lógica de conflicto. Un espacio que no es posible analizar y estudiar de una manera responsable y adecuada si no es partiendo de las múltiples similitudes que subyacen profundas e inherentes a nuestras culturas. Ver más allá de las diferencias formales para apreciar los paradigmas comunes en los que entroncan nuestras raíces socioculturales es un buen comienzo para encontrar un punto de partida común para expertos del Norte y del Sur. Este punto de partida se refiere a cuestiones tan básicas como la asunción por parte de Europa de que las influencias y aportaciones que han venido dándose entre las culturas mediterráneas responden a una lógica multidireccional, que el Mare Nostrum lo es por igual para el Norte, el Sur y el Este y que es de suma importancia asumir esta patrimonialidad en pie de igualdad. La necesidad de tomar conciencia de una mentalidad mediterránea común, compartida, no puede si no aproximar nuestras posiciones y puntos de vista y permitirnos avanzar substancialmente en la comprensión de nuestro espacio»152

(Florensa, 2007: 15-16).

151 Entendemos pertinente e útil deixar mais alguns esclarecimentos sobre esta palavra –

pluralidade – que podemos apreendê-lo sob dois sentidos complementares, por um lado, no seu sentido tradicional como a diversidade cultural que se observa em numerosas sociedades, e, por outro lado, no seu sentido moderno ou pós-moderno, remete para a fragmentação das sociedades atuais, caracterizadas pela concorrência entre grupos, o relativismo dos modos de pensar e a rejeição de qualquer hierarquização dos valores.

152 «O Mediterrâneo é, sem dúvida, muito mais do que um espaço geográfico; é – e sempre foi –, a

partir de uma perspetiva histórica, cultural e social, um espaço comum de contacto e de relacionamento que nem sempre respondem a uma lógica de conflito. Um espaço que não é possível analisar e estudar de forma responsável e adequada se não for partindo das múltiplas semelhanças que subjazem profundas e inerentes às nossas culturas. Ver para além das diferenças formais para apreciar os paradigmas comuns em que assentam as nossas raízes culturais é um bom começo para encontrar um ponto de partida comum para os especialistas do Norte e do Sul. Este ponto de partida refere-se a questões tão básicas como a assunção por parte da Europa de que as influências e contributos ocorridas entre as culturas mediterrânicas respondem a uma lógica multidimensional, que o Mare Nostrum é o mesmo para o Norte, o Sul e o Leste e que é de extrema importância assumir esta patrimonialidade em pé de igualdade. A necessidade de tomar consciência de uma mentalidade mediterrânica comum, partilhada, não pode senão

119 É na assunção da ideia de que o Mediterrâneo é «um espaço que não se pode analisar e estudar de uma forma responsável e adequada se não for partindo das múltiplas semelhanças que subjazem profundas e inerentes às nossas culturas (e) ver para além das diferenças formais para avaliar os paradigmas comuns nos quais se entroncam as nossas raízes socioculturais»153 que poderemos compreender a pertinência e o alcance global do «paradigma da pluralidade mediterrânica» no campo da educação intercultural. Trata-se, afinal, de «Pensar o Mediterrâneo e mediterraneizar o pensamento»154, no espírito do diálogo histórico do al-Andalus155, como um elemento estruturante orientador para os sistemas educativos de todos os países da área mediterrânica (Ahmed, 2001).

Este paradigma encontrará na Declaração do Processo de Barcelona156 a sua base de apoio na medida em que este processo procura acentuar a valorização das raízes comuns e o desenvolvimento dos recursos humanos no domínio cultural, isto é, a valorização intercultural. Uma valorização que se traduz em intercâmbios culturais, na aprendizagem das línguas, na aplicação de programas educativos e culturais respeitadores das identidades culturais, na aproximação entre as sociedades civis e o reforço dos instrumentos da cooperação descentralizada com vista a favorecer os intercâmbios entre diferentes atores do desenvolvimento (Martín, 2005).

Subsistem, contudo, resistências institucionais, sociais, culturais e humanas no diálogo entre as duas margens do Mediterrâneo. Uma perceção mais global e mais intercultural dos sistemas de valores e de representações que constituem o espaço euro- mediterrânico requer, um trabalho de atualização e/ou reformulação dos sistemas

aproximar as nossas posições e pontos de vista e permitir-nos avançar substancialmente na compreensão do nosso espaço», T. do a.

153 Cf. Nota 151. 154 Cf. Nota 15.

155 Cf. Parte I, Ponto 1.3.2.1. O valor da interculturalidade na Europa e no Magrebe: o al-Andalus. 156 Cf. Parte I, Ponto 1.1.3. Os desafios identitários e culturais. Declaração de Barcelona (Euro-

Med 1/95, 1995: 11): «Os participantes reconhecem que as tradições de cultura e de civilização em toda a região do Mediterrâneo, o diálogo entre essas culturas e os intercâmbios a nível humano, científico e tecnológico constituem um fator essencial para a aproximação dos respetivos povos, a promoção da compreensão entre eles e a melhoria do conhecimento recíproco»

120 educativos, dos seus programas e manuais escolares, das suas práticas pedagógicas e didáticas (Tawil, Akkari e Azami, 2010; Bertran, 2006).

O «paradigma da pluralidade mediterrânica», num contexto de um mundo global, pretende evidenciar a interculturalidade como um elemento de base dos povos e das culturas da área mediterrânica e para a pertinência de uma formação de base comum para todos os jovens nas condições atuais de diversidade económica, social e cultural (Bureau International d’Éducation, 2004). Não obstante os contextos diferenciados sobre os quais assentam as diferentes sociedades dos países em estudo, consideramos que este paradigma pode permitir apreender a interpretação de um conjunto de conceitos próprios ou comuns aos povos e culturas daquela área geográfica. Neste espaço, os contextos e as vivências geográficas, históricas, políticas, económicas, sociais, culturais e humanas são diferentes, mas não totalmente diferentes, e muito menos indiferentes.

A pertinência do «paradigma da pluralidade mediterrânica», ao evidenciar, por um lado, o pensamento complexo que permite apreender e saber conviver com os opostos (Morin, 1999) e, por outro lado, a perspetiva intercultural de pensar o diverso (Abdallah-Pretceille, 2006), sublinha o modo de conhecer, compreender e comunicar melhor entre indivíduos, sociedades e culturas.