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A JUVENTUDE, A EUROPA E O MAGREBE

Mapa 1.2 Migrações (e mobilidades) euro-mediterrânicas

1.2. Os desafios dos jovens da Europa e do Magrebe

1.2.1. Jovens, educação e diálogo entre culturas

1.2.2.1. Melhorar e aproximar os povos do Mediterrâneo

A Fundação Euro-Mediterrânica Anna Lindh para o Diálogo entre Culturas, criada em 2004 pela Conferência Ministerial de Haia85, surge como a primeira instituição comum do Processo de Barcelona com o intuito de melhorar o conhecimento recíproco e a aproximação dos povos das margens do Mediterrâneo e como resposta às necessidades do diálogo intercultural mediterrânico (Schoefthaler, 2006).

Constituindo-se como um dos poucos mecanismos de cooperação euro- mediterrânica bem-sucedidos, esta fundação consubstancia-se numa rede de organizações civis, de 43 países da área mediterrânica, implicadas na promoção do diálogo intercultural através do Mediterrâneo86. Tem vindo, deste modo, a desenvolver um trabalho de apoio junto da sociedade civil da área euro-mediterrânica nos domínios considerados prioritários suscetíveis de promover a capacidade dos indivíduos ou dos grupos em partilhar valores em comum e em viver juntos. O programa da Fundação

84 Cf. Nota 67.

85 Reuniu a Comissão Europeia e os Estados Europeus e Mediterrânicos associados ao Processo de

Barcelona. Para uma informação mais detalhada e atualizada, cf. o sítio Internet oficial da Fundação Euro-Mediterrânica Anna Lindh: http://www.euromedalex.org – Acesso em 28 de janeiro de 2011.

86 Existe nomeadamente uma rede portuguesa da Fundação Anna Lindh. Cf. o sítio Internet oficial:

73 centra-se em atividades consideradas como essenciais para o diálogo humano e social e com um impacto significativo sobre as perceções mútuas das populações provenientes de culturas e de religiões diferentes: Educação e Juventude; Cultura e Artes; Paz e Coexistência; Valores; Religião e Espiritualidade; Cidades e Migração; Medias (Anna Lindh Forum, 2010; Schoefthaler, 2006). Pretende, assim, agir como facilitadora dos intercâmbios socioculturais, como centro de análise para o estudo das dinâmicas interculturais na região e de recomendação para a ação social e política neste domínio. Publicou, em finais de 2010, o primeiro Relatório periódico sobre as Tendências Interculturais na região euro-mediterrânica (Claret e Aubarell, 2010). Este relatório consubstancia-se nos resultados de uma sondagem de opinião junto de uma amostra de 13.000 pessoas de treze países da região que deram os seus pontos de vista sobre as suas perceções de pessoas provenientes de outros países deste espaço, sobre as modalidades de interações entre elas, sobre os sistemas de valores das sociedades entre as duas margens do Mediterrâneo e sobre as expectativas perante um projeto comum em torno deste mar comum87.

É no seio desta instituição que se tem desenvolvido um conjunto de iniciativas concretas com vista a promover junto dos jovens uma interculturalidade marcada pelas referências mediterrânicas88. Entre essas iniciativas, referenciaremos três que nos merecem uma particular reflexão.

Uma primeira dessas iniciativas refere-se ao “Programa Educativo sobre a Diversidade Cultural” cujos objetivos são os de proporcionar aos jovens da área mediterrânica as competências necessárias para a participação no diálogo intercultural. Para isso, a cooperação entre escolas torna-se fundamental89.

87 Embora este Relatório tivesse surgido depois de termos elaborado o nosso questionário,

assumiu-se como um interessante e oportuno elemento de análise e de reflexão, em particular, por ir ao encontro de um dos objetivos deste estudo: a perceção do Mediterrâneo como referência cultural comum.

88 Para uma informação mais detalhada, cf. o sítio Internet oficial da Fundação Euro-Mediterrânica

Anna Lindh no seu domínio de ação Educação e Juventude: http://www.euromedalex.org – Acesso em 28 de janeiro de 2011.

74 Uma segunda iniciativa é o “Peace Bag for EuroMed Youth”90 cujo objetivo é desenvolver as capacidades dos jovens na consolidação da paz e do diálogo como ainda pôr em contacto diferentes organizações no seio de um conjunto intercultural para a paz na região euro-mediterrânica.

Uma terceira iniciativa é a “Encyclopédie de l’humanisme méditerranéen en ligne”91 cujo objetivo é desenvolver um dicionário virtual que apresenta diferentes culturas nos lugares onde elas convergem (a perspetiva da dimensão intercultural do Mediterrâneo ou da interculturalidade mediterrânica). De facto, em determinados momentos da História, todas as grandes tradições culturais mediterrânicas, inspiradas pelo monoteísmo, elaboraram discursos sobre Deus, o Homem e a sociedade, através da promoção de certos modos de pensamento, de sistemas de reflexão e de exegeses hermenêuticas emprestados à Antiguidade grega. Este paradoxo das culturas monoteístas que pediram emprestadas a uma cultura pagã os seus modos de pensamento e de raciocínio alimentados de ceticismo fez surgir modelos originais de racionalismo e de humanismo entre os Judeus, os Cristãos e os Muçulmanos.

Ao nível propriamente dito da União Europeia, num espírito de complementaridade com a Fundação Anna Lindh, existe o programa de ação Euro-Med

Juventude92. Este programa regional, inserido na vertente social, cultural e humana da Parceria Euro-Mediterrânica, pretende promover a mobilidade dos jovens e a compreensão entre os povos através de três tipos de ações: Intercâmbios de jovens

Euro-Med, Serviço Voluntário Euro-Med e Formação e redes (visitas de estudo,

estágios e seminários, construção de parceria). Visa, deste modo, motivar os jovens em tornar-se verdadeiros atores no desenvolvimento da sua sociedade criando, ao mesmo tempo, relações entre os países da região e os seus homólogos europeus.

Na sua quarta edição, o programa Euro-Med Juventude (2010/2013), com o tema «Reduzir a distância entre a juventude», prossegue o intuito de estimular e encorajar a

90 Cf. o Projeto “Peace Bag for EuroMed Youth”: http://www.euromedalex.org/fr/fields/education-

youth/projets/peace-bag-euromed-youth – Acesso em 28 de janeiro de 2011.

91 Cf. o Projeto “Encyclopédie de l’humanisme méditerranéen en ligne”. Disponível em:

http://www.euromedalex.org/fr/fields/education-youth/projets/encyclop-die-de-lhumanisme-m-diterran- en-en-ligne – Acesso em 28 de janeiro de 2011.

92 Euro-Med Jeunesse/ Euro-Med Youth. Para uma informação mais detalhada e atualizada, cf. o

75 compreensão mútua entre os jovens da região euro-mediterrânica, combater os estereótipos e os preconceitos e promover a solidariedade entre os jovens sustentando a cidadania ativa. Pretende ainda contribuir para a elaboração de políticas de juventude nos países mediterrânicos parceiros. Para executar estes diferentes objetivos, coordenadores ao nível de cada país, no âmbito de “Unidades Euro-Med Juventude”, desenvolvem um trabalho de informação e promoção do referido programa com os respetivos apoios financeiros93.

Convém salientar que este programa complementa outras iniciativas da União Europeia em outros domínios pertinentes como a educação, a formação profissional e a participação cívica, sempre com o objetivo de apoiar os jovens em tempos de significativas mudanças nomeadamente políticas e sociais. Pensamos, em particular, no Mundo Árabe. São mais de 100 milhões os jovens na chamada região MENA (Middle

East and North Africa - Médio Oriente e Norte de África), com idades entre os 15 e os

29 anos94. Constituem um terço da população destes países e cerca de metade da população em idade de trabalhar. Significativo é, deste modo, o desafio deste programa de sensibilizar os jovens das duas margens do Mediterrâneo em promover o conhecimento mútuo. Mesmo sendo uma iniciativa financiada pela Europa, ela envolve diretamente estruturas juvenis de todos os países mediterrânicos parceiros.

Os jovens, geralmente, conhecem mal o passado, mas não por culpa sua. A responsabilidade encontra-se nos sistemas de valores e de representações coletivas veiculados pelos respetivos sistemas educativos que devem, nos dias de hoje, contribuir para desconstruir e diluir preconceitos e estereótipos95.

93 Cf. o Programa “Euro-Juventude IV” no respetivo sítio Internet oficial:

http://www.euromedyouth.net/Reduire-l-ecart-entre-la-jeunesse – Acesso em 28 de janeiro de 2011.

94 Para uma melhor informação sobre esta região, recomendamos o sítio Internet oficial da World

Bank, secção Countries, Middle East and North Africa (MENA): http://go.worldbank.org/7UEP77ZCB0 –

Acesso em 28 de janeiro de 2011.

95 Definido segundo Barata (2010: 213) como: «Categorizações especialmente rígidas relativas aos

grupos raciais.» A este propósito, sobre o mundo em versão estereótipos (um tanto caricaturado mas pertinente), cf. Mapping Stereotypes – The geography of prejudice. Disponível em:

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