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A Estrutura do Sector Governamental Provincial e Municipal

Capítulo III ‐ A Situação de Angola e a Construção de Bases para a Descentralização

3.6 A Estrutura do Sector Governamental Provincial e Municipal

A Lei 17/10 de 29 de Julho, Lei da Organização e Funcionamento do Órgãos da Administração Local do Estado, define a natureza, atribuições, composição e estrutura orgânica de cada um dos níveis de administração local. De acordo com a referida Lei, a divisão político‐ administrativa dos Governos Locais é a seguinte: 18 Governos Provinciais, 163 Municípios e 532 Comunas. As três estratificações dos governos locais são hierarquicamente relacionadas e integradas no Governo Central.

3.6.1 O Governo Provincial

De acordo com o Lei 17/10, os Governos provinciais são órgãos desconcentrados do poder central que tem como função “promover e orientar o desenvolvimento socioeconómico, com base nos princípios e nas opções estratégicas definidos pelo Titular do Poder Executivo e no Plano Nacional, bem como assegurar a prestação dos serviços públicos da respectiva área geográfica.” O governo provincial tem uma serie de competências no domínio do planeamento e do orçamento, no domínio do desenvolvimento económico e local, no domínio do desenvolvimento social e cultural, no domínio da segurança pública e da polícia, no domínio do ambiente e no domínio da coordenação institucional. Cabe aos Governos Provinciais, desta forma, executar a política do governo central ao nível provincial, coordenar as representações do governo central no território (Direcções Provinciais e Delegações Provinciais), bem como supervisionar as administrações municipais e comunais e as autoridades tradicionais.

O Governador da Província, é nomeado pelo Presidente da República e é o representante do governo central na respectiva província. Os Vice‐Governadores, também nomeados pelo Presidente da República, têm a função de acompanhar, tratar e decidir assuntos nas áreas económica, político e social, serviços técnicos e infra‐estruturas. O Gabinete de Estudos, Planeamento e Estatísticas (GEPE) é o principal gabinete da estrutura provincial uma vez que é responsável pelo planeamento, programação e coordenação das actividades da província no âmbito da Administração do Estado. O Director do GEPE, nomeado pelo Governador, é quem, na realidade, tem o poder de realizar, de acordo com as orientações do Governador, toda a gestão fiscal no âmbito territorial. Neste sentido, cabe ao GEPE a preparação do orçamento, a elaboração da programação financeira e a execução da despesa tanto de sua aplicação directa

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quanto no que diz respeito aos seus órgãos subordinados, o que inclui as administrações municipais116.

Nos Governos Provinciais há uma reprodução da estrutura ministerial para cada área específica, denominadas Direcções Provinciais, que são responsáveis pela execução das políticas definidas centralmente. Os Directores Provinciais são nomeados pelo Governador, mediante parecer favorável do Ministério da Administração do Território, ouvido o Ministério da especialidade. As Direcções Provinciais dependem orgânica, administrativa e funcionalmente do governo da província e metodologicamente do órgão central de sua especialidade. Isso significa que há uma forte ligação entre os Directores Provinciais e os respectivos Ministérios especializados uma vez que são estes que definem a política, supervisionam e acompanham a execução das acções.

Os Ministérios das Finanças, Interior e Justiça, no entanto, permanecem com representações nas províncias, denominadas Delegações Provinciais, que dirigem e executam as atribuições e competências dos órgãos centrais de especialidade que representam na Província. Os seus representantes são nomeados por despacho conjunto do Ministro da Administração do Território e do Ministro do órgão central de especialidade, sob proposta do Governador da Província.

A Delegação Provincial de Finanças, por meio das repartições fiscais, tem como responsabilidade arrecadar os impostos cobrados a nível local que constam da Lei 30/10 de 9 de Abril, o Regime Financeiro Local, e funciona também como órgão consultivo dos governos provinciais no que diz respeito à elaboração do orçamento e execução dos gastos.

É importante ressaltar que embora a Lei 30/10 classifica os impostos recolhidos ao nível local como “Impostos Locais” os mesmos são depositados na Conta Única do Tesouro, retornando na proporção orçamentada para cada Província através do Orçamento Geral do Estado. Este processo encontra‐se descrito com mais detalhes ao longo deste trabalho.

3.6.2 As Administrações Municipais

As administrações municipais são órgãos desconcentrados do Governo Central com funções executivas no Município, respondendo directamente ao Governo da Província. De acordo com a Lei 17/10 as suas funções são as mesmas descritas para as províncias, sendo

116 Nas Províncias que ainda não estão interligadas ao Sistema de Gestão Financeira do Estado – SIGFE, a

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restritas ao território do respectivo município. A administração municipal tem como atribuição executar as deliberações do governo da província e as decisões do Governador no território municipal.

O Administrador do Município é nomeado pelo Governador ao qual está subordinado, mediante parecer favorável do Ministério da Administração do Território. O mesmo processo também ocorre com o Administrador Municipal Adjunto do Município.

O Conselho do Município é formado pelo Administrador Municipal que o preside, o Administrador Adjunto e os Chefes de Secções. Também podem integrar o Conselho Municipal as pessoas singulares ou colectivas quando convidadas pelo Administrador do Município, mas os seus integrantes não são remunerados.

De forma similar ao Governo Provincial, na estrutura das administrações municipais consta a Secção de Estudos, Planeamento e Estatística, dirigida por um Chefe de Secção, que formalmente tem como função elaborar estudos e análise sobre matérias compreendidas nas atribuições da administração municipal. No entanto, na prática a sua função resume‐se meramente a apresentar mensalmente ao GEPE do governo provincial as suas necessidades de bens e serviços, ou seja, despesas para a manutenção da administração municipal.

Esta secção também tem como responsabilidade preparar e apresentar ao GEPE provincial um plano de necessidades no que diz respeito aos serviços prestados à comunidade. Também nesse caso, em muitos municípios, o plano de necessidades é em grande medida uma réplica daquele apresentado no ano anterior. Desta forma, o chefe desta secção não actua directamente em nenhuma das etapas do ciclo de gestão fiscal, excepto minimamente na fase de levantamento das necessidades do município. Há também nas administrações municipais a reprodução da estrutura ministerial. A Secção Municipal dos Ministérios, como ela é denominada, deveria ser o serviço que dirige e executa as atribuições e competências do órgão provincial de especialidade que representa no Município. Na realidade, o papel da Secção Municipal é bastante reduzido devido à falta de capacidade institucional e a reduzida quantidade de técnicos. Existem municípios em que a secção é composta apenas pelo seu chefe.

As Administrações Municipais são unidades orçamentais do Estado tendo direito a uma parte do Orçamento Geral do Estado, mas integrado no nível provincial. Todo o recurso gerido pelas administrações municipais, provem do Governo Central por meio das quotas financeiras definidas pelo Ministério das Finanças para a Província. O quadro de funcionários das

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administrações municipais é bastante reduzido, além disso, são penalizados por uma dramática escassez de pessoal técnico.

3.6.3 As Comunas

As Comunas são órgãos desconcentrados do poder administrativo central na sua área geográfica que respondem pela sua actividade perante a administração municipal e correspondem ao nível mais baixo da estrutura subnacional. A comuna é dirigida pelo Administrador Comunal que é nomeado pelo Governador, ouvido o Ministério da Administração do Território.

As principais responsabilidades das comunas relacionam‐se com a organização e a manutenção dos serviços públicos básicos: recolha do lixo, manutenção da estrada, parques, cemitérios e lugares de mercado. Praticamente, os Administradores Comunais funcionam como porta‐vozes dos problemas quotidianos da comunidade às Administrações Municipais.