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CAPÍTULO II – Elementos de experiências relevantes para angola: A Descentralização Tributária em

2.4 A Descentralização (Desconcentração) Tributária na China

2.4.5 Atribuição de Funções e Despesas

A reforma de 1994 não alterou as atribuições de responsabilidade praticadas antes de 1994. O sistema actual, tal como estabelecido na Constituição, é amplamente consistente com as práticas internacionais92: o governo central é responsável pelos serviços de todo o país,

incluindo a defesa nacional, as relações exteriores, o funcionamento e controle macroeconómico e coordenação do desenvolvimento económico, despesas de prospecção geológica e da dívida pública, etc. Os governos subnacionais são responsáveis por assegurar a maioria dos bens públicos e serviços, pelo desenvolvimento da economia local, e do funcionamento de várias instituições.

Na ausência de orientações específicas do governo central, as responsabilidades de despesas entre os governos subnacionais são deixadas ao critério de cada nível de governo. O governo de nível superior tem poder discricionário para determinar a atribuição de despesas do nível imediatamente inferior, ou seja, as províncias determinam as atribuições de cidades e municípios, os municípios determinam as atribuições das freguesias, tudo baseando no princípio da responsabilidade. As responsabilidades subnacionais exclusivas são, nomeadamente, de manutenção urbana e construção, protecção ambiental, abastecimento de água e serviços comunitários (incluindo segurança pública, educação e saúde). Todos os outros gastos do governo são compartilhados pelo centro e governos subnacionais.

Na prática a despesa pública é distribuída do seguinte modo: os governos subnacionais são responsáveis por 94% das despesas de funcionamento para a educação, 98% das despesas de funcionamento para a saúde, e 87% da segurança social e despesas com subsídios. A atribuição de responsabilidade hierárquica tem uma característica proeminente: os governos subnacionais, em especial nos níveis mais baixos, estão excessivamente sobrecarregados. Sendo a educação e saúde concentrados nos níveis mais baixos, “embora estes serviços públicos fossem mais apropriadamente atribuídos aos níveis central e provincial em relação aos efeitos de repercussão para a sociedade como um todo”93. A função redistributiva do governo através

da segurança social é administrada principalmente a nível provincial e do município, embora seja uma função comumente realizada pelo governo central, a fim de colher os benefícios da mutualização dos riscos e equalização. Por outro lado, a atribuição de responsabilidades é ambígua, dada a extensão de despesas.

92 Ibidem; ob.cit. Chunli Shen and Jing Jin and Heng‐fu Zou, 2012. 93 Ibidem ob.cit. Chunli Shen and Jing Jin and Heng‐fu Zou, 2012.

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2.4.6 O Poder Local e a Atribuição do Poder de Tributar 2.4.6.1 A Atribuição de Receitas

Na reforma fiscal de 1994, os impostos eram explicitamente definidos como impostos centrais, impostos partilhados e impostos locais. Os impostos usados para manter os objectivos nacionais eram atribuídos como impostos centrais; os impostos que poderiam ser interpretados como mais relevantes para o desenvolvimento económico eram atribuídos como impostos compartilhados, incluindo o imposto sobre o valor acrescentado, o imposto sobre as empresas, o imposto sobre vendas de títulos, imposto de rendimento pessoal; os impostos mais adequados para serem arrecadados e administrados pelos governos locais, como a manutenção urbana, os impostos sobre a utilização de terras aráveis e utilização do espaço urbano são atribuídos como os impostos locais. O Governo central efectuou algumas alterações na partilha de receitas entre o Governo central e os Governos subnacionais após a reforma de 1994: por exemplo em 2002 o Governo central e os Governos subnacionais compartilhavam imposto sobre o rendimento das empresas e o imposto sobre o rendimento pessoal numa proporção de 50‐50. A partir de 2003, a relação foi alterada para 60‐40 Centro‐Província94, actualmente

compartilham a base de incidência como descreveremos mais adiante.

Em contraste com o lado da despesa, o poder de tributação na China passou a residir no centro a partir de 1994. Os dois principais meios de controlar as receitas fiscais estão na determinação da taxa de imposto e na definição da base de incidência, ambas dimensões notavelmente centralizadas. Entretanto, os Governos subnacionais têm o poder de determinação das taxas de impostos menores, mas mesmo para estes só estão autorizados a fixar alíquotas de imposto dentro de um limite estabelecido.

As receitas locais na China provêm principalmente de cinco impostos compartilhados: imposto sobre o valor acrescentado, imposto de negócio, imposto de rendimento da empresa, imposto sobre o rendimento pessoal e imposto do selo. E também de impostos e taxas exclusivamente locais, nomeadamente: imposto sobre manutenção urbana e construção, imposto sobre imóveis, imposto agrícola95, imposto sobre o uso do solo urbano, imposto de

veículos e navios, taxas administrativas, tarifas e taxas diversas.

94 Zhang e Martinez‐Vazquez; China in the Global Economy Challenges for China's Public Spending, OECD

Publishing, 2006, pg.30.

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O Governo central compartilha com os Governos locais as seguintes receitas de impostos e do seguinte modo:

 IVA – Imposto sobre o valor acrescentado: 75% para o Governo central e 25% para os Governos locais;

 Imposto de negócio: o imposto profissional pago pela empresa de transporte ferroviário, a sede de vários bancos e companhias de seguros e os 3% adicional do imposto de negócio pago pelas empresas financeiras e de seguros pertence ao Governo central; o Imposto de Negócios arrecadados de outras empresas é atribuído aos Governos locais;

 Imposto sobre o rendimento da empresa: o imposto sobre o rendimento da empresa pago pelas empresas do governo central, bancos locais e instituições financeiras não‐ bancárias, o departamento de transporte ferroviário, bem como a sede de vários bancos e companhias de seguros pertence ao Governo Central; o imposto sobre o rendimento pago por outras empresas vai para os governos locais;

 Imposto sobre os recursos naturais: o Governo central mantém o imposto sobre os recursos naturais pago pelas empresas petrolíferas off-shore; o imposto sobre os recursos naturais proveniente de outras indústrias é atribuído aos Governos locais;

 Imposto de manutenção urbana e de construção: a parte do imposto pago pela empresa de transporte ferroviário, e pela sede de vários bancos e companhias de seguros pertence ao Governo central; a parcela paga por outras empresas vai para o Governo local;

 Imposto do selo: 88% da receita do Imposto do selo arrecadada sobre transações vai para o Governo central; os 12% restantes vão para os Governos locais.

É de notar que para fazer face às suas despesas correntes e de investimentos, os Governos locais chineses têm recorrido ao sistema de financiamentos de empréstimos (para além do sistema fiscal e parafiscal de arrecadação de receitas locais) embora a lei da reforma fiscal de 1994 proíba aos Governos locais de incorrerem em endividamentos, quer nacionais ou estrangeiros, excepto quando permitidos por lei. Os empréstimos locais podem ser categorizados em financiamento directo e de garantia de empréstimos, trata‐se de uma ilegalidade, mas na prática, a lei e os regulamentos dos empréstimos locais têm sido

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amplamente violados pelos Governos locais, levando muitos Governos subnacionais a níveis de endividamento preocupantes.

2.4.6 As Transferências Governamentais e a Equalização Financeira

As transferências fiscais centro‐província e província‐nível local são a fonte dominante de receitas dos Governos provinciais e locais na China, representando cerca de 67% das receitas provinciais, respondendo por mais da metade dos recursos fiscais locais. As transferências do Governo central na China podem ser classificadas em duas grandes categorias: transferências de finalidade geral e transferências de finalidade específica. O objectivo geral das transferências consiste em: i) Retorno de uma fracção das receitas à origem (província de colecta); ii) a transferência de equalização criada em 1995 como um esforço para aliviar o alargamento das disparidades regionais. A transferência de equalização foi chamada de "período de concessão transitória" até 2001 e então rebaptizada de “concessão de uso geral” desde 2002. As transferências específicas ditas, “transferências de propósito específico” incluem: i) os subsídios para salários; ii) os subsídios para a reforma tributária rural; iii) subvenções para regiões de minorias; iv) os subsídios Prio‐1994; v) outras transferências ad hoc96.

2.4.6.1 Os Principais Programas de Transferência Gerais e Específicas

Restituição de Imposto (Tax Rebate): Com a reforma fiscal de 1994, o imposto sobre o valor acrescentado (IVA) e os impostos especiais de consumo foram centralizados, e um programa de restituições de impostos foi instituído, permitindo o retorno de uma fração dessas receitas para a província de origem. Em 2002, o imposto sobre o rendimento pessoal e o imposto sobre o rendimento das empresas também foram centralizados e um programa de desconto de imposto similar ao desconto de imposto de IVA foi instituído. A partir de 2002, todos os impostos de rendimento de empresas e rendimento pessoal foram compartilhados pelos governos centrais e provinciais, na proporção de 50% por 50%. Desde 2003, o compartilhamento central foi aumentado para 60%‐40%, como já referido.

As Concessões de Equalização: Em 1995, a primeira fórmula base para a concessão de transferência para equalização, (o assim chamado período concessão transitório até 2001) foi criado com vista à redução das disparidades fiscais regionais. O montante da transferência de equalização para uma província é determinado por três factores: a receita padrão da província,

96 Shah, Anwar/ Chunli Shen, The Reform of the Intergovernmental Transfer System to Achieve a

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as despesas padrão da província, o gap fiscal padrão provincial e o gap fiscal total. Embora a concessão de transferências para a equalização tem vindo a crescer rapidamente, o crescimento de transferências com fim específico ultrapassou o crescimento de transferências de equalização.

As Concessões Consignadas: Ao longo dos tempos tem aumentado em número e tamanho de transferências ad hoc para financiar diversos programas. Estas transferências têm sido atribuídas para fins específicos, tais como subsidio ao desenvolvimento agrícola, apoio à construção de infra‐estruturas baseadas em programas, apoio às regiões mais atrasadas, e financiamentos de emergência de catástrofes naturais. Como exemplo destas concessões temos: i) As Subvenções ad hoc para o Aumento dos Salários dos Funcionários Públicos: Quando o centro elevou a taxa de salário para os trabalhadores do sector público em 1999 e 2001, um subsídio especial foi criada em 1999 para apoiar a implementação desta política nas regiões oeste e central. Assim, a finalidade dessa transferência serviu para preencher a lacuna fiscal causada pela política central. O aumento salarial também foi acompanhado pela configuração de um sistema de bônus para os funcionários públicos a partir de 2001 (equivalente a um aumento aproximado de um mês de salários) e pelo estabelecimento de um sistema de subsídios para áreas remotas. Mais de 700 concelhos foram elegíveis para receber este subsídio. Além disso, as províncias confrontadas com dificuldades de pagar os salários dos professores em escolas primárias e secundárias rurais também foram compensadas pela presente transferência; ii) Os Subsídios para a Reforma Fiscal Rural: Esta transferência destina‐se a preencher a lacuna fiscal causada pela reforma tributária rural, a transferência foi criada em 2000 para promover a aplicação da política central de gradualmente abolir impostos agrícolas; Os Subsídios para Regiões de Minorias: A subvenção para regiões de minorias foi criada em 2000 a fim de apoiar o desenvolvimento económico das referidas regiões que têm geralmente um desempenho económico inferior às outras; Os subsídios Prio-1994: Os subsídios Prio‐1994 são os subsídios fixos contratados no âmbito do " Sistema Fiscal Contratante" durante o período 1988‐1993. A quantidade de transferências é aproximadamente igual ao déficit do orçamento local estimado (diferença entre as receitas e despesas) medido no ano base.

Desde a reforma de partilha fiscal de 1994, a tendência de “empurrar” as despesas para os níveis subnacionais inferiores de governo, sem fornecer apoio financeiro adequado, gerou um crescente gap fiscal e intensificou o stresse fiscal local, deixando os governos locais

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altamente dependentes das transferências fiscais a partir do nível superior para o cumprimento das suas despesas. Consequentemente, os serviços públicos básicos são geralmente subfinanciados no sector rural e nas regiões mais pobres.