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Capítulo III ‐ A Situação de Angola e a Construção de Bases para a Descentralização

3.11 Conclusões do Capítulo III

1. Angola já tem vindo a adoptar medidas no sentido da preparação de um modelo de descentralização financeira e fiscal com base na descentralização política. Nesta senda a Constituição da República de Angola de 2010, consagra um capítulo sobre as autarquias locais. O modelo municipal ou o Município constitui a tipologia de autarquia local adoptada, um modelo essencialmente de inspiração portuguesa e subsequentemente europeu.

2. Nos aspectos a ter em conta para a implementação da descentralização tributária em Angola, temos as características geopolíticas do país. Entre elas temos os desníveis de recursos naturais entre as províncias, os desníveis de desenvolvimento económico e social e a diversidade étnica. Neste última característica, em diversos países do mundo constitui uma justificação para a descentralização mas por outro lado constitui um motivo suficientemente forte de grande prudência e delicadeza no processo de descentralização para que não culmine numa desagregação da união nacional e identidade nacional.

3. Em 2011 deu‐se início a uma reforma tributária de carácter estrutural, com o principal objectivo de simplificar e modernizar o sistema tributário em Angola. Esta reforma não só pretende atingir o sistema tributário mas a administração tributária, revisão dos encargos parafiscais e estabelecimento de convenções internacionais para evitar a dupla tributação. Até ao momento no âmbito do sistema tributário temos a criação e lançamento do código geral tributário, código das execuções fiscais, regime geral das taxas, revisões aos códigos dos principais impostos, e um processo de modernização das metodologias de funcionamento da administração fiscal.

4. A nova e actual Constituição aprovada em 2010, na qual estabelece a existência de órgãos do poder local e autarquias locais, consagra, de forma genérica, o regime das finanças locais através do Princípio da Autonomia Local previsto no nº 2 do artigo 215º no qual uma parte dos recursos financeiros das autarquias locais devem ser provenientes de rendimentos e impostos locais, bem como a justa repartição dos recursos públicos entre o Estado e as autarquias com vista à equalização.

5. Consequentemente, vem a Lei 17/10 de 29 de Julho, Lei da Organização e do Funcionamento dos Órgãos da Administração Local do Estado, conferir aos Governos Provinciais e Administrações Municipais, uma maior autonomia na execução dos programas públicos.

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6. Entretanto, nessa atribuição de funções não há, a partida, qualquer distinção entre as funções provinciais, tratando‐se do nível regional, e as funções municipais, do nível local em sentido estrito. A problemática da atribuição de funções não só se basta aos critérios de atribuição vistos em teoria (critério tradição, critério da proximidade e critério da escala) mas também nas reais capacidades dos governos locais em administrar as funções atribuídas, dos recursos disponíveis para a execução das mesmas, e a capacidade de controlo da execução dessas funções.

7. De facto, no diploma sobre a atribuição de funções percebe‐se que não há uma clara divisão legal de competências entre os níveis de administração subnacional, bem como entre estes e o Governo central. De um modo geral, os ministérios sectoriais são responsáveis pelo planeamento, regulação, avaliação e fiscalização das políticas e os Governos provinciais são executores de alguns programas elaborados centralmente. O desenvolvimento desse modelo tem como base a existência das Direcções Provinciais dos ministérios.

8. No que se refere às receitas, cabe aos municípios arrecadarem as receitas parafiscais, enquanto que as receitas fiscais são arrecadadas pelas delegações provinciais das finanças, sendo todas entregues à Conta Única do Tesouro.

9. Apesar do preceituado no artigo 10º do Regime Financeiro Local em que as receitas dos principais impostos do regime geral são consignadas às administrações municipais, através dos governos provinciais. Pois, de acordo com o referido artigo estas receitas ao serem classificadas como consignadas deveriam ir para um fundo municipal sob a forma de crédito municipal. Não é o que acontece atendendo que no artigo 11º do mesmo diploma, vem consagrar que a definição do valor das transferências é da competência do Ministro do Planeamento, ouvidos os demais ministros, que propõe ao Presidente da República a fixação da percentagem da afectação aos orçamentos dos municípios, dos recursos provenientes dos impostos á eles consignados.

10. Trata‐se então de um critério ad hoc de partilha de receitas contrariando as teorias internacionais no qual a partilha de receitas deveria se orientar por critérios pré‐ estabelecidos e consagrados em regimes jurídicos.

11. Por outro lado, neste método de transferências das receitas municipais parece estar também incluída de forma implícita as transferências de equalização dos subníveis. Pois o

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artigo 11º reforça que as transferências definidas pelo ministro do planeamento deverão se basear em critério como a densidade populacional, incidência da pobreza, localização geográfica, acessibilidade e potencialidades económicas.

12. O referido diploma prevê ainda um sistema de partilha das receitas petrolíferas relativamente às províncias detentoras dos recursos, nomeadamente, Cabinda e Zaire, mas dependente do Orçamento Geral do Estado e um sistema de partilha das receitas dos diamantes que são atribuídas às Províncias da Lunda‐Norte, da Lunda‐Sul e do Moxico, em 10% do imposto de rendimento e 10% do imposto de produção (royalty).

13. A orientação e o controle são instrumentos fundamentais para o sucesso de um processo de descentralização, por isso não podem ser dispensados num regime jurídico sobre a descentralização.

14. O controlo pode ser entendido como um mecanismo de garante dos princípios fundamentais em estão alicerçados os Estados constitucionais modernos, através da subordinação dos seus órgãos à Constituição e à lei e a racionalidade da actuação do Estado, no que se refere à obtenção do máximo benefício social com mínimo custo social.

15. O controlo poderá se constituir em duas formas, designadamente, controlo da conformidade legislativa e controlo das contas do Estado. Ambas as formas deverão abranger tanto o nível central como os níveis subnacionais. O controlo reveste‐se ainda na forma de controlo interno e controlo externo.

16. Trata‐se de controlo interno, quando executado por órgãos internos à administração pública e de controlo externo, quando executado por órgãos do Estado exteriores à administração pública, como por exemplo os Auditores Gerais e órgãos jurisdicionais como o Tribunal de Contas. Estes órgãos são chamados de Instituições Superiores de Controlo (ISC). Existe ainda o controlo democrático realizado pelos cidadãos, sendo que este nos últimos tempos se tem revestido, geralmente, de um sentido demasiado demagógico e de difícil eficácia.

17. A forma de actuação destas instituições superiores de controlo pode ser caracterizada pelo controlo prévio e o controlo sucessivo. O controlo prévio é realizado no sentido da verificação da conformidade dos actos administrativos relativamente ao sistema normativo em vigor e a Constituição enquanto o controlo sucessivo consiste na realização de auditorias de natureza diversificada.

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