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2. PROCEDIMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

2.4 A Etnografia e suas relações com as políticas públicas

Este subcapítulo aborda certos conceitos do campo do conhecimento da antropologia e da etnografia, de maneira a dar embasamento suficiente para a utilização do método etnográfico neste estudo. A experiência vivida pela autora, incluindo participação intensa nos processos de desenvolvimento, permitiu a escolha por esta estratégia metodológica de maneira a compreender os processos envolvidos na política de consorciamento do CIVAP e também de criação do PDEVP.

O método etnográfico de busca pela compreensão da vida de um objeto em análise é empregado tanto por antropólogos quanto sociólogos. Ambos os campos são de origem das ciências sociais, entretanto, de acordo Silva Júnior e Biase (2012), a antropologia buscou entender o “outro” e a partir do século XIX o próprio pesquisador se tornou objeto de estudo, e, a sociologia moderna, para Vidich e Lyman (2000), busca compreender não apenas as relações sociais e as condutas padronizadas da sociedade, mas também as bases de valores e atitudes da vida social o qual tal sociedade está imersa.

Para a realização desta tarefa, de acordo com Vidich e Lyman (2000) o sociólogo tem que: 1) ter a habilidade de entender e explicar a vida e as instituições sociais do mundo de sua própria vivência tanto quando do mundo o qual possui pouco conhecimento, sendo curioso quanto aos aspectos perceptíveis ou não aos olhos do sociólogo, de maneira que o permita ter identificação com o outro; 2) todo grupo social possui ideologias, crenças e comportamentos padronizados, é importante que o sociólogo possa se separar de tais conceitos de maneira que o permita incorporar um nível de entendimento o qual não era previsto anteriormente. O desafio do sociólogo ao fazer etnografia consiste não apenas de participar dos pensamentos e as ações do objeto, mas pela busca de uma compreensão do mesmo; e, 3) afastar-se, de maneira social e pessoal, de normas e valores dominantes o suficientemente necessário para poder analisá-los de maneira objetiva.

A etnografia é uma metodologia de natureza qualitativa, o qual permite, para Godoy (1995b, p. 28), “descrição dos eventos que ocorrem na vida de um grupo (com especial atenção para as estruturas sociais e o comportamento dos indivíduos enquanto membros do grupo) e a interpretação do significado desses eventos para a cultura do grupo”.

A noção de cultura como sendo possível de ser observada do objeto e descrita pelo investigador, de maneira a criar os significados e compreensões necessários para caracterizar suas relações, crenças e valores, é refutada por Wagner (2010) ao explicitar que a cultura do objeto em análise (investigação do antropólogo a campo) não pode ser definida e objetificada pelo pesquisador o qual possui sua própria cultura, mesmo participando intensamente nas relações e no dia-a-dia com o nativo. Desta maneira, a cultura que se busca identificar surge da “invenção” do pesquisador, não sendo jamais íntegra e fielmente a representação do objeto. Wagner (2010) explica ainda que, neste processo de “criação” da nova cultura estudada, a própria cultura do investigador se torna “visível” com o confronto da realidade do objeto, o qual até este momento era dada como “inconsciente” e vivida pelo pesquisador. Desta forma, uma cultura objetificada está entre os limiares e os confrontos entre as culturas do objeto (significada pelas crenças e valores do pesquisador) e a cultura do investigador (visível a partir do momento de confronto com uma realidade fora do seu mundo vivido).

Utilizar o método etnográfico em um estudo permite não apenas o viés da compreensão do objeto em análise, mas também, a ampliação do conhecimento de vida do pesquisador, se assim o mesmo se permitir usufruir da experiência etnográfica. Como explicita Magnani:

A etnografia é uma forma especial de operar em que o pesquisador entra em contato com o universo dos pesquisados e compartilha seu horizonte, não para permanecer lá ou mesmo para atestar a lógica de sua visão de mundo, mas para, seguindo-os até onde seja possível, numa verdadeira relação de troca, comparar suas próprias teorias com as deles e assim tentar sair com um modelo novo de entendimento ou, ao menos, com uma pista nova, não prevista anteriormente. (MAGNANI, 2009, p. 135).

Observa-se que a etnografia procura compor um objeto em estudo em um contexto integrado e complexo das relações analisadas, assim, Tedlock (2000) explicita que este método emprega o planejamento do estudo, o trabalho a campo e outros métodos de pesquisa de maneira a produzir descrições, interpretações e representações das relações humanas, além de permitir a inserção dos aspectos observados de tais relações em um contexto mais complexo e significativo. Deste modo, a etnografia está inserida, para Tedlock (2000, p. 455, tradução nossa), “entre a interioridade da autobiografia e a exterioridade da análise cultural”.

Ao considerar que a etnografia possui o momento da pesquisa a campo e de identificação dos aspectos a serem observados e compreendidos e que posteriormente seu

significado é incorporado à vida do investigador, ou até mesmo, modifica as relações com o objeto, podemos dizer que este método é, ao mesmo tempo, segundo Tedlock,

[...] processo e produto, sendo que em decorrência disto, a experiência a campo do etnógrafo é incorporado em sua vida, de maneira que todas suas interações envolvem escolhas morais. A experiência é significativa, sendo que, o comportamento humano é movido por este significado. (TEDLOCK, 2000, p. 455, tradução nossa).

O pesquisador constantemente se depara com o trabalho de afastar-se de suas crenças, valores e condutas da sociedade de maneira a favorecer a objetividade necessária para a realização da pesquisa, apesar de para muitos autores esta condição nunca será possível para o investigador. Tal processo proporciona ao etnógrafo não apenas a análise do “outro”, mas também a análise de si mesmo. Tal perspectiva proporciona novas reflexões do fazer etnográfico, o que para Vidich e Lyman (2000, p. 24): “we may suggest a different approach to ethnography and the use of qualitative methods, one that conceives the observer as possessing a self-identity that by definition is re-created in its relationship with the observed”.

Desta maneira, podemos dizer que o fazer etnográfico modifica a vida do pesquisador, para Wagner (2010) o contraste evidenciado entre sua experiência de vida e a invenção da cultura do nativo, permite que o investigador identifique novas possibilidades de viver e mudanças de sua personalidade, ou até mesmo reinventar a própria noção de cultura. Assim explicita Wagner (2010, p. 28): “o antropólogo é obrigado a incluir a si mesmo e seu próprio modo de vida em seu objeto de estudo, e investigar a si mesmo. Mais precisamente, já que falamos do total de capacidades de uma pessoa como "cultura", o antropólogo usa sua própria cultura para estudar outras, e para estudar a cultura em geral”.

Tais debates são favorecidos pelos aspectos do princípio da alteridade (colocar-se no lugar do outro, compreensão e respeito ao próximo) o qual o etnógrafo busca empregar em sua pesquisa e a reflexão que este processo gera ao pesquisador. De acordo com Silva Júnior e Biase:

O “colocar-se no lugar do outro” exige do antropólogo certo “abandono” de si mesmo, uma “desnaturalização” de suas próprias práticas e concepções, por meio de um processo de descentramento, no qual a objetividade é alcançada por uma espécie de transição entre subjetividades. A partir da relativização de suas próprias verdades, o antropólogo tem condições de não somente explicar, mas também compreender a sociedade a que se propõe estudar. (SILVA JÚNIOR; BIASE, 2012, p. 13, grifo do autor).

O emprego da metodologia etnográfica tem sido muito debatido em busca da compreensão dos processos envolvidos e da melhor maneira do fazer etnográfico, do trabalho

a campo e da escrita etnográfica. Neste ponto, o etnógrafo se depara com uma problemática: a questão das escalas na antropologia, o qual, se resumo pela seguinte pergunta exposta por Cesarino (2014, p. 20): “como a antropologia pode abordar fenômenos de alcance global, dado que seu método e o tipo de conhecimento construído a partir dele foram originalmente estruturados com base no estudo da escala local de pequenas comunidades face a face?”.

Muito tem sido discutido a respeito da transição entre escalas, ou seja, explicar o global a partir do olhar localizado de um estudo, e sobre a maneira o qual as relações entre o etnógrafo e seus informantes são estabelecidas no desenvolvimento de uma pesquisa. Cesarino (2014) explica que existem diferentes formas de produção do conhecimento a partir do trabalho de campo etnográfico, diferentemente do tradicional posicionamento assimétrico e distante do pesquisador com relação o objeto como o estrutural-funcionalismo de Malinowski. Pesquisas que abordam tal problemática incluem a etnografia multissituada de George Marcus (1995), abordagem do tipo rede de Latour (2012) e Mosse (2006), dentre outros.

Já a teoria de Marilyn Strathern, outro exemplo de via analítica que estuda a problemática de escalas entre global e local, de acordo com Cesarino (2014), um primeiro problema apontado seria a assimetria existente entre o etnógrafo e os nativos e o segundo seria apenas registrar e descrever os dados observados a campo, em termos gerais, tanto a produção do conhecimento e o trabalho de campo fazem parte de uma mesma rede de relações, ou seja, o etnógrafo ao ir a campo, não está livre dos seus interesses e práticas próprias apesar de estar inserido nas mesmas escalas de redes tecidas pelos informantes. Assim, Strathern propõe que “nos voltemos para os modos como a própria produção de escalas e contextos ocorre na prática tanto dos atores no campo quanto dos antropólogos na academia” (CESARINO, 2014, p. 23, grifo do autor).

Entretanto, o processo da escrita etnográfica do trabalho a campo pode vir a ser problemático. Em certas pesquisas, a exemplo de como foi feito a partir da estrutura de Malinowski, o etnógrafo possui o que Cesarino (2014, p. 23) explica de “autoridade científica desenraizada (...), ou seja, um olhar que vê tudo mas que não está, ele mesmo, situado em lugar nenhum” e que ao voltar para gabinete (local de trabalho ou pesquisa sem ser a campo com o nativo) gera-se um distanciamento do pesquisador com o objeto de estudo, porém, existem estudos em que não há o total afastamento do etnógrafo e seus informantes e automaticamente o rompimento das relações do pesquisador com o objeto e aproximação com os pares na academia, sendo que o privilégio do pesquisador estaria na mediação entre “essas duas redes de relações: a produção do conhecimento academicamente legítimo e os processos empíricos que esse conhecimento constrói enquanto ‘objeto’” (CESARINO, 2014, p. 23).

Associado a problemática do afastamento do pesquisador está a questão do acesso dos informantes aos dados coletados e às informações produzidas no estudo. Existem casos em que os informantes não acessam o conhecimento produzido a partir da pesquisa a campo do etnógrafo, entretanto, existem outros que possuem os meios intelectuais suficientes para ler e criticar o pesquisador, o que, para Mosse (2006), desta forma é preciso que o antropólogo saiba lidar com as mudanças de relacionamento entre o trabalho de campo e a escrita: primeiro, na forma como a pesquisa a campo molda a escrita da experiência etnográfica, e, em segundo, em como a escrita em contrapartida altera a relação do pesquisador com os informantes, o que em muitas vezes pode gerar polêmicas e controvérsias entre o etnógrafo e o objeto. Ou seja, como explicita Cesarino:

Onde as distâncias relacionais entre etnógrafo e informantes são relativamente menores, fica mais difícil sustentar o privilégio epistemológico de definir unilateralmente quais escalas e contextos são relevantes para enquadrar as práticas destes últimos. E diante dessa impossibilidade de romper ou ignorar os laços sociais com os informantes ao passar do campo à academia (como fez Malinowski e tantos outros), o antropólogo pode ser chamado por eles a explicitar seu posicionamento nas redes que teceu entre campo e academia. Isso tem consequências importantes para o modo como o conhecimento antropológico é produzido: em especial, torna-se imperativo que as relações do campo sejam de alguma forma compostas com as relações acadêmicas, não (apenas) separadamente mas durante o próprio processo de produção de conhecimento através da escrita etnográfica. O desafio passa a ser como fazê-lo de modo legítimo e produtivo tanto para o campo quanto para o gabinete. (CESARINO, 2014, p. 24).

Perante a isto, Mosse (2006) explicita que esta mudança na prática etnográfica não é apenas uma questão ética, mas sim epistemológica, pois o que o pesquisador sabe não é separado das relações existentes com o objeto em análise. O modo antropólogo de pesquisar está sendo questionado, pois o objeto já não é mais apenas de sua posse de interpretação, assim, “o relacionamento de campo persiste, a capacidade de fuga através da escrita está em questão, e as representações etnográficas se tornaram parte inevitável do mundo que é estudado” (MOSSE, 2006, p. 937, tradução nossa).

Nos últimos anos, podemos observar que o estudo etnográfico não se restringiu nos tradicionais campos da antropologia e sociologia. Esta metodologia passou a ser empregada em diferentes tipos de pesquisas como, de acordo com Tedlock (2000), estudos culturais, teoria literária, folclore, psicologia social, estudos em organizações, direito, dentre outras. Isto se deve, segundo Tedlock (2000) pelas características do método etnográfico de que ao estabelecer relações diretas ao objeto procurar compreender o mesmo e seus aspectos como: motivações, crenças e comportamentos.

No campo das políticas públicas, encontram-se estudos com influências da antropologia. De acordo com Okongwu e Mencher (2000), é relevante o crescimento da participação dos antropólogos nos estudos críticos da sociedade, de propor soluções que atendam as necessidades das populações locais, além de criar uma sinergia entre teoria e prática. O autor explicita ainda a importância dos antropólogos de não escreverem apenas a seus parceiros de academia, mas sim, de criar propostas críticas e positivas que dialoguem como os lideres políticos, os quais possuem poder de mudanças no mundo e a população.

De maneira a compreender o desenvolvimento de uma determinada nação, território ou região, diversos autores dedicaram estudos dentro da antropologia de modo a entender quais fatores estão envolvidos de maneira que determine o desenvolvimento de um determinado espaço ou população. Tal linha de pesquisa ficou conhecida como Antropologia do Desenvolvimento. Diversos autores deram exemplo de tais pesquisas como Mosse (2005), Vianna (2010), dentre outros.

Podemos observar que em muitos países desenvolvidos, o próprio processo histórico e cultural favoreceu o desenvolvimento da nação, por meio dos valores, crenças e comportamentos valorizados pelo mesmo. Birkner e Bazzanela (2013) trazem como exemplo as crenças e os comportamentos na história de populações que se respaldaram na ética protestante ao invés da católica e consequentemente os impactos que tais relações proporcionaram no mundo do trabalho, da economia e do capitalismo, o que implicava que, a primeira linha incentivava o trabalho como forma de devoção à Deus além de constantemente reinvestir seus lucros (acumulação de riquezas) na sua própria produção econômica por não poder gastá-los de maneira em vão e o segundo incentivava a contemplação, a oração e o desapego material dos fiéis como meio de salvação, sendo a acumulação de capital pecaminosa.

Para compreender o desenvolvimento, segundo Birkner e Bazzanela (2013)

Não há somente uma fórmula para o desenvolvimento, mas algumas condições políticas, educacionais e culturais que, devidamente tratadas ao longo do tempo, explicam o êxito de algumas sociedades. Sim, o fato é que algumas sociedades produzem mais estímulos que outras a fim de promover desenvolvimento. (BIRKNER; BAZZANELA, 2013, p. 42).

De maneira resumida, em regiões desenvolvidas, Rover; Birkber e Mussoi (2008) explicitam que, através dos estudos de Robert D. Putnam (1996) sobre o processo de descentralização na Itália nos anos 70, houve predomínio de aspectos culturais do conjunto de fatores de capital social composto por: solidariedade, cooperação, associativismo, confiança

interpessoal, diálogo e preocupação com a coisa pública. Os quais são aspectos, sob a ótica dos autores Birkner e Bazzanela (2013), que devem ser levados em consideração ou identificados nas sociedades em estudo de maneira a compreender o desenvolvimento e os aspectos culturais influenciando a economia e política.

O cenário de interações da antropologia com as políticas públicas e de exemplos de pesquisas da Antropologia do Desenvolvimento são um dos aspectos que possibilita o emprego da descrição etnográfica nesta dissertação, associada com a análise da política de consorciamento do CIVAP e da descrição das etapas para a criação do Plano de Desenvolvimento Econômico Local e Regional dos municípios do Vale do Paranapanema.

Ainda, sob a ótica de Wagner (2010) e o processo de “invenção” da cultura, se partimos do pressuposto de que a cultura do nativo não é possível de ser objetivada pelo pesquisador pelo mesmo possuir sua própria cultura e, portanto a experiência etnográfica sempre gerará uma “nova” cultura a partir da relação estabelecida em cada pesquisa e olhar escolhido, podemos então observar que para a descrição da cultura de um objeto indefere em termos da origem do pesquisador (antropólogo, sociólogo, ou de qualquer outra área da ciência).

A pesquisa etnográfica desenvolvida nesta dissertação apresenta diversos aspectos analíticos e críticos em comum com as questões apresentadas anteriormente ao longo do texto além dos aspectos e das condições de pesquisa que Mosse (2006), antropólogo e consultor em um projeto com uma tribo a oeste da Índia financiado pelo DFID (Britain´s Department of International Development), explicita em sua pesquisa de que a atual etnografia rompe com as relações tradicionais de pesquisa a campo, é necessariamente anti-social, sendo que o que o etnógrafo sabe, não se separa das relações com objeto em estudo e que com os avanços tecnológicos e o perfil de pesquisa e dos informantes que se busca fazer, estes podem vir a questionar os relatos etnográficos e as informações estabelecidas.

Ciente de tais limitações de pesquisa nesta dissertação, a escolha do método etnográfico ainda se apresenta como a melhor saída para a resolução das problemáticas deste estudo devido aos recursos analíticos proporcionados pela etnografia como a visão integrada do fenômeno que se estuda. Como orientações das práticas de estudo foram utilizadas os preceitos do método observação participante de Rosana Guber (2001).

A observação participante é um método utilizado para obtenção de informação por meio da participação direta do pesquisador com o objeto, ou seja, segundo Marconi e Lakatos (2003, p. 194), o pesquisador “se incorpora ao grupo, confunde-se com ele. Fica tão próximo quanto um membro do grupo que está estudando e participa das atividades normais deste”. O

trabalho de campo etnográfico para Guber (2001) não possui sistematicidade de pesquisa, o que para a mesma é visto como algo positivo por não fornecer especificidades de atividades ao pesquisador, além de se deparar com o dilema entre apenas a “observação” do objeto e/ou também a “participação” do pesquisador no cotidiano ou nos fenômenos do objeto em análise. Entretanto, na percepção de Guber (2001) em toda pesquisa não existe o papel do “puro observador”, ocorrendo em diferentes níveis a participação do mesmo nas relações com o objeto.

De maneira resumida, segundo Guber (2001), existem diferentes graus de relação entre a observação e a participação em um estudo, sendo que o nível de cada fator vai depender do pesquisador, do objeto e das relações estabelecidas entre eles no contexto da pesquisa, ou melhor, a pesquisa com foco na observação não interfere menos no campo das relações com o objeto do que a participação, o que explicita que o grau da relação entre os dois fatores não está no maior ou menor afastamento do investigador com o referente empírico, mas sim do papel do pesquisador com as relações culturalmente adequadas e possíveis. Sobre tal questão, Guber explicita que:

El participante pleno es el que oculta su rol de antropólogo desempeñando íntegramente alguno de los socio-culturalmente disponibles pues no podría adoptar un lugar alternativo. Esta opción implica un riesgo a la medida del involucrarmiento pues, de ser descubierto, el investigador debería abandonar el campo. El observador puro, en cambio, es quien se niega explícitamente a adoptar otro rol que no sea el propio; este desempeño es llevado al extremo de evitar todo pronunciamiento e incidencia activa en el contexto de observación. (GUBER, 2001, p. 29).

Por fim, a aproximação ou distanciamento do investigador com relação ao seu objeto problematiza a questão da objetividade da pesquisa e suas possibilidades. Apesar da preocupação e busca do pesquisador de afastar-se de sua cultura no fazer etnográfico, o mesmo possui conceitos, valores e comportamentos enraizados os quais irão influenciar as condutas, as observações, os pensamentos, as relações sociais com o objeto e até mesmo para a “invenção da nova cultura” do objeto. Perante a isto, Wagner (2010) defende que o pesquisador deve renunciar a ideia da “objetividade absoluta” em prol da compreensão da