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3. A CONSTITUIÇÃO DO PLANO SOB O OLHAR ETNOGRÁFICO

3.1 O Consórcio Intermunicipal do Vale do Paranapanema (CIVAP)

Frente ao contexto apresentado anteriormente, foi criado o Consórcio Intermunicipal do Vale do Paranapanema (CIVAP) em 1985. Este consórcio é organizado e constituído na forma de associação pública, com personalidade jurídica de direito público, sem fins lucrativos, com autonomia administrativa, financeira e patrimonial, em consonância com as disposições emanadas da Lei Federal nº 11.107/05, Decreto Federal nº 6.017/07, Código Civil Brasileiro e demais legislações pertinentes e aplicáveis à espécie.

Figura 1 – Fachada da sede do CIVAP.

Segundo informações disponíveis no site do consórcio na internet (CIVAP, 2015a), o CIVAP foi inicialmente criado com o nome Consórcio Intermunicipal do Escritório da Região de Governo de Assis (CIERGA), em 12 de dezembro de 1985, sendo que suas ações visam: enfoque regional sustentável; integração dos municípios; busca de soluções globalizadas; e participação de forças vivas da sociedade regional, estadual e federal.

Até a última pesquisa no site do CIVAP (julho de 2015), integram ao consórcio os seguintes municípios: Assis, Borá, Campos Novos Paulista, Cândido Mota, Cruzália, Echaporã, Estância Turística de Paraguaçu Paulista, Florínea, João Ramalho, Ibirarema, Iepê, Lutécia, Maracaí, Nantes, Ocauçu, Oscar Bressane, Palmital, Parapuã, Pedrinhas Paulistas, Platina, Quatá, Rancharia, Santa Cruz do Rio Pardo, Taciba e Tarumã.

Figura 2 – Localização do CIVAP.

Fonte: Google Maps, 2015. Elaborado e alterado pela autora.

A estrutura organizacional do CIVAP, segundo o documento portifólio disponível em seu site (CIVAP, 2015b), é composta por um Conselho de Prefeitos (integrado pelos prefeitos dos municípios consorciado) e possui caráter deliberativo, por um Conselho Fiscal,

sendo seus representantes indicados pelos respectivos prefeitos, pelas Câmaras Temáticas, compostos por representantes das Secretarias e Diretorias Municipais dos municípios consorciados e possui caráter consultivo e por uma Diretoria Executiva, considerado o organismo operacional do Consórcio. De acordo com o estatuto do consórcio (CIVAP, 2008) cabe a Assembléia Geral (Conselho de Prefeitos, sendo que cada um possui um voto pessoal e intransferível, sendo atribuído ao presidente o Voto de Qualidade) eleger o representante legal do consórcio e deliberar sobre a indicação de seu Diretor Executivo. Os cargos estão organizados da seguinte maneira:

Figura 3 – Estrutura Organizacional do CIVAP e áreas de atuação.

Fonte: Portifólio, CIVAP, 2015b.

A população total da região compreendida pelos municípios do CIVAP é de 376.162 mil habitantes, a área territorial da região compreende 11.2895,025 km², sendo o município de Rancharia o maior dentre eles com 1.587,47 km² (CIVAP, 2015b). A região do CIVAP é caracterizada economicamente pela produção agrícola, principalmente pela

produção de cana de açúcar, soja e milho. Segundo dados levantados do SIDRA (Sistema IBGE de Recuperação Automática) referente ao ano de 2011 a produção de cana-de-açúcar, soja e milho dominam as plantações agrícolas locais, cerca de 93,10% do total de área plantada.

Os dados das duas tabelas abaixo mostram o Valor Adicionado, por setor de atividade econômica, Produto Interno Bruto total e per capita a preços correntes, sendo que a primeira tabela se refere ao ano de 2000 e a segunda ao ano de 2012.

Tabela 4 - Valor Adicionado total, por setores de atividade econômica, Produto Interno Bruto total e per capita a preços correntes, 2000.

Municípios Valor Adicionado Impostos (em milhões de reais) PIB (2) (em milhões de reais) Agropecuária (em milhões de reais) Indústria (em milhões de reais)

Serviços (em milhões de reais) Total

(em milhões de reais)

Administração

pública Total (1)

Estado de São Paulo 4.905,43 113.036,22 29.341,14 240.585,41 358.527,06 65.634,26 424.161,31 Região CIVAP 219,48 588,87 275,66 1.497,16 2.305,51 216,00 2.521,52 Comparação* (%) 4,47% 0,52% 0,94% 0,62% 0,64% 0,33% 0,59%

Assis 6,12 74,37 64,72 428,30 508,79 49,10 557,89

Borá 1,25 0,78 1,35 3,02 5,05 0,19 5,24

Campos Novos Paulista 5,22 1,52 3,80 14,04 20,78 1,22 22,01 Cândido Mota 19,25 55,26 20,19 129,43 203,95 18,02 221,97 Cruzália 3,64 1,61 2,81 14,75 19,99 1,77 21,76 Echaporã 8,30 4,55 5,38 22,20 35,05 1,93 36,99 Florínea 13,22 8,02 3,48 25,60 46,85 3,96 50,81 Ibirarema 5,53 8,43 4,25 30,57 44,53 5,25 49,78 Iepê 5,80 3,02 5,89 22,52 31,33 2,03 33,36 João Ramalho 3,83 1,84 4,48 13,72 19,39 1,30 20,69 Lutécia 3,66 2,00 3,29 8,57 14,23 0,59 14,82 Maracaí 12,88 46,56 10,29 58,13 117,57 16,71 134,28 Nantes 3,63 1,45 1,83 5,95 11,03 0,51 11,54 Ocauçu 3,51 1,71 3,34 12,34 17,57 1,15 18,72 Oscar Bressane 1,28 2,08 2,70 7,15 10,51 0,65 11,16 Palmital 16,25 39,60 16,59 118,73 174,58 17,92 192,50 Paraguaçu Paulista 22,01 36,93 30,77 126,11 185,06 12,19 197,24 Parapuã 5,51 9,19 8,29 37,86 52,55 3,95 56,51 Pedrinhas Paulista 5,94 2,51 3,16 27,33 35,78 3,96 39,74 Platina 4,00 1,95 2,96 9,53 15,48 0,99 16,46 Quatá 8,91 32,91 9,44 36,92 78,74 6,31 85,05 Rancharia 11,46 43,83 24,21 104,39 159,67 13,67 173,35 Santa Cruz do Rio Pardo 30,02 84,93 26,86 180,10 295,04 29,81 324,86

Taciba 4,11 96,46 5,93 15,98 116,55 0,77 117,32

Tarumã 14,15 27,36 9,67 43,92 85,43 22,05 107,48

Fonte: Fundação Seade; Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 2000. * Comparação dos valores da região do CIVAP com os valores do Estado de São Paulo. (1) Inclui o VA da Administração Pública.

Tabela 5 - Valor Adicionado Total, por Setores de Atividade Econômica, Produto Interno Bruto Total e per capita a Preços Correntes, 2012.

Municípios Valor Adicionado Impostos (em milhões de reais) PIB (4) (em milhões de reais) Agropecuária (em milhões de reais) Indústria (em milhões de reais)

Serviços (em milhões de reais)

Total

(em milhões de reais)

Administração

Pública Total (3)

Estado de São Paulo 21.841,82 288.624,35 109.740,25 844.706,94 1.155.173,11 253.730,76 1.408.903,87 Total CIVAP 1.184,74 2.185,61 1.003,95 5.038,87 8.409,22 903,05 9.312,27 Comparação** (%) 5,42% 0,76% 0,91% 0,60% 0,73% 0,36% 0,66% Assis 40,29 266,26 241,07 1.285,93 1.592,47 167,50 1.759,97 Borá 9,65 18,57 4,81 17,06 45,28 4,48 49,77 Campos Novos Paulista 28,28 5,38 14,18 62,26 95,92 7,33 103,25 Cândido Mota 84,80 99,83 74,47 404,46 589,09 66,28 655,37 Cruzália 18,93 5,41 8,65 63,91 88,25 9,24 97,49 Echaporã 34,60 7,95 17,66 62,71 105,26 5,46 110,72 Florínea 31,32 19,09 10,91 91,65 142,06 16,06 158,12 Ibirarema 22,41 22,10 20,02 78,75 123,25 11,82 135,07 Iepê 54,99 14,45 23,38 119,42 188,86 14,80 203,66 João Ramalho 47,73 7,19 12,58 44,30 99,21 3,78 102,99 Lutécia 28,85 7,54 9,86 33,19 69,57 3,34 72,92 Maracaí 63,09 140,75 36,18 217,69 421,53 53,78 475,31 Nantes 31,53 15,05 10,66 58,59 105,18 9,22 114,40 Ocauçu 14,16 6,00 12,57 38,86 59,02 4,10 63,11 Oscar Bressane 9,99 3,99 9,01 24,22 38,20 1,79 40,00 Palmital 73,74 118,88 57,83 291,84 484,46 50,83 535,29 Paraguaçu Paulista 115,14 121,52 112,39 453,45 690,10 62,24 752,35 Parapuã 56,58 45,79 30,09 111,99 214,36 15,71 230,07 Pedrinhas Paulista 17,50 7,14 10,49 64,44 89,09 8,31 97,39 Platina 24,78 6,88 11,10 44,36 76,02 6,10 82,12 Quatá 61,48 126,12 34,34 137,45 325,05 33,34 358,38 Rancharia 142,33 417,24 76,74 453,14 1.012,71 118,73 1.131,45 Santa Cruz do Rio

Pardo 88,45 369,29 105,96 664,05 1.121,79 139,60 1.261,40

Taciba 37,63 219,84 20,92 69,00 326,47 6,48 332,94

Tarumã 46,48 113,36 38,09 146,17 306,02 82,74 388,75 Fonte: Fundação SEADE; Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 2012.

** Comparação dos valores da região do CIVAP com os valores do Estado de São Paulo. (3) Inclui o VA da Administração Pública.

(4) O PIB do Município é estimado somando os impostos ao VA total.

(5) O PIB per Capita foi calculado utilizando a população estimada pela Fundação Seade.

Verifica-se que a região apresentou crescimento maior do que o Estado de São Paulo no que se refere ao Valor Adicionado total. No entanto, é importante mencionar que a região apresenta baixa participação em relação ao valor adicionado total do Estado, de apenas 0,64% em 2000 e 0,73% em 2012, uma evolução de apenas 0,09% de representatividade no

Estado de São Paulo, o que deixa grande espaço para futuro crescimento (um acréscimo de aproximadamente 15% em relação à posição inicial de 2000).

O setor agropecuário é o principal setor da região do CIVAP e também o que possui maior representatividade de Valor Adicionado em relação à indústria e serviços ao comparar seus valores com os valores do Estado de São Paulo. Isto é, o setor agropecuário da região do CIVAP possui 5,42% de representatividade em relação ao Valor Adicionado do setor agropecuário do Estado de São Paulo, sendo que a indústria possui 0,76% e serviços possui 0,60%.

As indústrias instaladas na região são fortemente ligadas à transformação de produtos agrícolas produzidos na região, com destaque para as usinas e destilarias de açúcar e álcool, como Raízen, Ibéria do grupo Toledo e Agroterenas, para as indústrias que fazem armazenamento, seleção e revenda de grãos como Bela Agrícola e Coopermota. Em contrapartida, a região possui pouca representatividade nas exportações do Estado, de apenas 0,31% em 2014, o que representa um valor de exportações de US$ FOB 180.891.919 (SEADE, 2015).

A tabela 3 apresenta o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de todos os municípios pertencentes ao CIVAP e também a respectiva evolução do mesmo em dez anos.

Tabela 6 - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM).

Localidades 2000 2010 Variação média (%)

Assis 0,728 0,805 10,58%

Borá 0,649 0,746 14,95%

Campos Novos Paulista 0,592 0,706 19,26%

Cândido Mota 0,656 0,747 13,87% Cruzália 0,69 0,774 12,17% Echaporã 0,634 0,745 17,51% Florínia 0,642 0,713 11,06% Ibirarema 0,662 0,708 6,95% Iepê 0,644 0,736 14,29% João Ramalho 0,621 0,741 19,32% Lutécia 0,657 0,72 9,59% Maracaí 0,679 0,771 13,55% Nantes 0,629 0,714 13,51% Ocauçu 0,628 0,717 14,17% Oscar Bressane 0,684 0,749 9,50% Palmital 0,671 0,746 11,18% Paraguaçu Paulista 0,663 0,762 14,93%

Localidades 2000 2010 Variação média (%) Parapuã 0,625 0,737 17,92% Pedrinhas Paulista 0,73 0,774 6,03% Platina 0,564 0,719 27,48% Quatá 0,653 0,738 13,02% Rancharia 0,68 0,751 10,44%

Santa Cruz do Rio Pardo 0,672 0,762 13,39%

Taciba 0,621 0,723 16,43%

Tarumã 0,654 0,753 15,14%

Estado de São Paulo 0,702 0,783 11,54% Fonte: Fundação SEADE; Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 2000 e 2010.

O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) é um indicador que sintetiza três aspectos do desenvolvimento humano: vida longa e saudável, acesso a conhecimento e padrão de vida, traduzidos nas dimensões de longevidade, educação e renda, sendo que, quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento humano no município (SEADE, 2015). Interessante observar da tabela 3 que os municípios possuem valores considerados altos de IDHM e próximos do valor do Estado de São Paulo.

Com relação a informações das atividades de atuação do consórcio disponíveis em seu site (CIVAP, 2015a) e da observação e percepção da autora em contato com o consórcio ao longo do projeto (a partir do convívio com os envolvidos, as falas dos atores e as intenções “entre linhas”, dentre outros), evidencia-se no texto abaixo alguns aspectos de como os atores se comportam no consorciamento e dos interesses e questões que estão por trás dos processos.

De início, gostaria de discutir um ponto chave “o poder”. É de entendimento teórico e já exposto nos capítulos anteriores, que os consórcios surgem a partir de interesses e objetivos comuns, ou seja, articulação intermunicipal entre atores que estão interessados em resolverem problemas comuns e de maneira coletiva, juntar as forças em “nome” da região e não de seu interesse próprio. Visto que os consórcios são dirigidos pelos próprios prefeitos, é lógico se pensar que essa aliança deveria estaria além das disputas partidárias. Para analisar esse aspecto, segue a relação abaixo dos presidentes ao longo da história do CIVAP.

Tabela 7 – Relação dos presidentes do CIVAP, ano de presidência, município que é prefeito e partido político.

PRESIDENTE ANO MUNICÍPIO PARTIDO POLÍTICO

Manoel Possidônio 2015 Platina PR (Coligação: PSC / PR / PSB) Ricardo Pinheiro Santana 2014 Assis PSDB

Jairo da Costa e Silva 2013 Tarumã PSDB

Reinaldo Custódio da Silva 2012 Palmital PR (Coligação: PRB / PT / PMDB / PSC / PR / DEM / PHS / PSB)

PRESIDENTE ANO MUNICÍPIO PARTIDO POLÍTICO Jairo da Costa e Silva 2011 Tarumã PSDB

Marcelo de Souza Pecchio 2010 Quatá PDT (Coligação: PRB / PT / PTB / PR / DEM / PSB / PV)

Reinaldo Custódio da Silva 2009 Palmital PR (Coligação: PRB / PT / PMDB / PSC / PR / DEM / PHS / PSB)

Oscar Gozzi 2008 Tarumã PFL (Coligação: PTB / PSL / PPS / PFL / PSDB) Waldimir Coronado Antunes 2007 Ibirarema PSDB

Waldimir Coronado Antunes 2006 Ibirarema PSDB

Ezio Spera 2005 Assis PFL (Coligação: PMDB / PFL / PSB / PV) João Antonio A. Martines 2004 Oscar Bressane PFL

Edivaldo Hasegawa 2003 Estância Turística de

Paraguaçu Paulista PMDB (Coligação: PT / PTB / PMDB / PPS / PV / PRP)

Oscar Gozzi 2002 Tarumã PFL (Coligação: PPB / PTB / PL / PPS / PFL / PSB / PSDB)

Ida Franzoso de Souza 2001 Pedrinhas Paulista PSDB José Roberto Leão Rego 2000 Palmital PSDB Ida Franzoso de Souza 1999 Pedrinhas Paulista PSDB Ida Franzoso de Souza 1998 Pedrinhas Paulista PSDB

Carlos Arruda Garms 1997 Estância Turística de

Paraguaçu Paulista PFL

Oscar Gozzi 1996 Tarumã PFL (Coligação:PPB / PFL) José Santilli Sobrinho 1995 Assis PSDB

Aparecido Roberto Cidinho

de Lima 1994 Cândido Mota PMDB

3

Romeu Bolfarini 1989 Assis PTB4

José Santilli Sobrinho 1988 Assis PMDB José Santilli Sobrinho 1987 Assis PMDB José Santilli Sobrinho 1986 Assis PMDB José Santilli Sobrinho5 1985 Assis PMDB

Fonte: Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, SEADE, dentre outros, 2015. Tabela criada pela própria autora.

A partir da tabela 7, podemos observar que a maioria dos presidentes que assumiram o comando do Consórcio é do partido do PSDB ou de coligação do mesmo. Com aproximadamente 30 anos de existência do CIVAP (1985-2015), podemos notar que houve poucas presidências de partidos de oposição da maioria que vinha assumindo. Mesmo o partido do PMDB que assumiu algumas vezes, teve alguma ligação com o partido hegemônico nesse processo.

3

Em pesquisa na internet, não foi encontrado o partido político de Aparecido Roberto Cidinho de Lima especificamente durante o período do ano de 1994. Entretanto, a pesquisa aponta que historicamente, o político está ligado com o partido PMDB.

4

Em pesquisa na internet, não foi encontrado o partido político de Romeu Bolfarini especificamente durante o período do ano de 1989. Entretanto, nas eleições de 2004 e 1996 foi do partido PTB.

5 O político José Santilli Sobrinho é considerado um dos fundadores do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) no ano de 1988. Após atuar como prefeito do município de Assis em 1º de janeiro de 1997, não assumiu nenhum cargo político porém continuou atuando no politicamente no PSDB (informações retiradas do site da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, dezembro 2015).

Observa-se também que os municípios que assumiram a presidência foram em sua maioria os de maior influência e poder na região6, o que não necessariamente representa a vontade da maioria ou dos municípios sem hegemonia. A própria formação do CIVAP teve seus precursores em Assis, com o antigo prefeito José Santilli Sobrinho, sendo que inicialmente, ao invés de ser Consórcio Intermunicipal do Vale do Paranapanema (denominação a partir de novembro de 2000), o mesmo era denominado Consórcio Intermunicipal do Escritório da Região de Governo de Assis – CIERGA (CIVAP, 2015b).

Entretanto, visto que a participação dos prefeitos no consórcio e em suas atividades e eventos dependem do engajamento dos mesmos, percebi, durante o tempo que convivi no projeto, que muitos prefeitos não se dispõem ou não dão prioridades aos trabalhos do consórcio. A exemplo disto, em uma notícia divulgada no site do CIVAP em 09 de dezembro de 2014, a respeito do novo presidente do CIVAP para o ano de 2015, sendo eleito o prefeito de Platina, Manoel Possidônio, dos 25 municípios que compõem atualmente o Consórcio, compareceram apenas 13 prefeitos à Assembleia.

Um das principais políticas públicas implementadas pelo CIVAP foi a Farmácia de Manipulação de medicamentos mais acessível à população. Segundo dados do Portifólio:

Após estudos a equipe de obras da prefeitura de Tarumã elaborou um projeto arquitetônico, discutiu-o e adequou-o com a vigilância sanitária às normas vigentes. Também houve reunião com os secretários municipais de saúde para definir os 35 itens iniciais de produção. Posteriormente houve a seleção e contratação da equipe. Tarumã foi escolhido para sediar a farmácia em função de sua localização centralizada, que reduz gastos com o transporte, e também por ter cedido um espaço e equipe para a sua construção.A concepção da farmácia foi coletiva entre o colegiado de prefeitos (...). Dos 20 municípios do CIVAP/Saúde712 (doze) participam da Farmácia de Manipulação localizada no município de Tarumã, (Assis, Cândido Mota, Cruzália, Florínea, Ibirarema, Lutécia, Maracaí, Nantes, Palmital, Platina, Pedrinhas Paulista e Tarumã) representando 65% dos membros do consórcio. (CIVAP, 2015b, p. 28).

Observa-se que uma das principais políticas públicas para a região fortaleceu o poder hegemônica de um dos mais importantes municípios e de influência na região (Tarumã). Ainda, o texto mostra que a concepção da farmácia foi coletiva entre o colegiado dos prefeitos, entretanto, na sequência aponta que a farmácia teve participação de 65% dos membros consorciados. Apesar de que a princípio a farmácia foi apontada como uma boa

6 Observados a partir do contato a campo e de dados apresentados anteriormente nesta dissertação.

7 Parte do CIVAP voltado para as questões da saúde da região, ligado à farmácia de manipulação, SAMU, UPA, dentre outros. São consorciados ao CIVAP SAÚDEos municípios: Assis, Borá, Cândido Mota, Cruzália, Echaporã, Florínea, Ibirarema, Iepê, Lutécia, Maracaí, Nantes, Oscar Bressane, Palmital, Paraguaçu Paulista, Platina, Pedrinhas Paulista, Tarumã e o município de Itambaracá/PR).

solução na região, ideia criada em 1999, o atual presidente publicou a resolução n° 002/2015, de 06 de julho de 2015, dispondo o encerramento da mesma sob a alegação da não viabilidade econômica da farmácia, dentre outros motivos, incluindo a extinção dos empregos públicos do CIVAP/SAÚDE – projeto farmácia de manipulação.

Uma questão que sempre percorreu a equipe a campo na elaboração do PDEVP era qual a necessidade deste Plano uma vez que pouco tempo antes havia sido feito o Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável do Vale do Paranapanema, o qual já era considerado por alguns prefeitos, um bom plano. Esta foi uma pergunta que não foi facilmente respondida (se podemos dizer que chegamos a uma resposta). Concluímos (frente a dificuldade e receio dos entrevistados de responderem e em algumas falas explicadas de maneira indireta sobre o assunto) que os planos eram de governos diferentes, sendo que o primeiro plano (Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável) não trazia representatividade política para os presentes políticos ocupantes da presidência e dos cargos de diretoria.

Ao contrário dos apontamentos anteriores, o Projeto Eco.ValeVerde elaborado pelo CIVAP é um bom exemplo de trabalho que um consórcio deveria fazer a favor do coletivo. Este projeto, segundo o portifólio do consórcio (CIVAP, 2015b) é um trabalho em equipe, entre os municípios, para a solução de um problema em comum quanto ao recebimento de pneumáticos sem mais utilidade, eletroeletrônicos obsoletos e pilhas e baterias usadas, em um ponto único de entrega voluntária, para que posteriormente seja realizada a coleta pelas empresas habilitadas a destinação ambiental mais adequada. Anteriormente, os municípios, em sua grande maioria, possuíam dificuldades de descarte e armazenagem desses resíduos devido à baixa coleta dos mesmos.

Sendo assim, podemos fazer algumas reflexões e observações a respeito do que foi evidenciado até o momento. Se pelo lado positivo, alguns dos municípios de maior influência possuem melhor organização, maior quantidade de recursos e até mesmo melhor articulação interna e externa, por outro, a influência, o poder e a articulação destes municípios os “alimentam” neste processo, gerando mais influência, poder e articulação. É um círculo vicioso que se “auto-alimenta”.

Em termos de compreensão do desenvolvimento espacial do capitalismo proposto por Brandão (2007), a maneira como o CIVAP se articula não permite nivelar desigualdades socioeconômicas e diminuir as disparidades intermunicipais, o que favorece a polarização de alguns municípios (os mais privilegiados) sob os demais, concretizando a hegemonia de algumas cidades na região. Tal problemática impede a independência socioeconômica dos municípios mais carentes de recursos, ficando a mercê dos municípios mais desenvolvidos.

Em muitos municípios vivenciei a falta de preocupação com tal “injustiça” ou de muitos outros aspectos os quais prejudicam o seu desenvolvimento (o que não seria o ideal em termos de “autonomia” e ampliação dos horizontes desses municípios como explicita Brandão (2011)). Acredito ser natural que alguns municípios tomem a frente de um movimento, assim como o ser humano se comporta na sociedade, entretanto, visto que os recursos são de todos, e que apesar de dizer que favorece a região, em muitos momentos, favorece apenas os que estão no poder. É a polarização e hegemonia de alguns que os alimenta continuamente, mantendo-os onde estão e possibilitando pouco espaço e abertura para o novo.