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CAPÍTULO V A Bolsa de Derivados do Porto (BDP)

5.2 A EVOLUÇÃO DA BOLSA DE DERIVADOS DO PORTO

A Bolsa do Porto é uma instituição com mais de um século de existência, tendo sido inaugurada em Novembro de 1891 pelo Rei D. Carlos e a Rainha D. Amélia. Nas primeiras décadas da sua existência, a sua actividade foi incipiente, ao que não é estranho o facto de existirem, à época, apenas oito sociedades anónimas no nosso país.

É na década de 60 que se assiste, finalmente, a um maior desenvolvimento das transacções bolsistas, derivado dos inúmeros empréstimos obrigacionistas emitidos à data como forma de financiamento de projectos de investimento de grande envergadura. Esta rota ascendente atingiu o ponto mais alto em 1973, um período de relativa euforia especulativa, com a entrada dos pequenos investidores no mercado incentivada pelo Governo e pelos grandes grupos económicos. A crise petrolífera viria a pôr termo a este crescimento, embora, em Portugal, o principal evento tenha sido o 25 de Abril de 1974, que acarretou a suspensão de todas as transacções sobre valores mobiliários.

Só a 5 de Setembro de 1980 foram recomeçadas as sessões habituais, tendo a Bolsa do Porto contribuído decisivamente, ao longo de toda a década, para o renascimento

do mercado de capitais português. Várias foram as iniciativas inovadoras que partiram da praça portuense: a primeira Oferta Pública de Venda, o primeiro projecto de criação de um Mercado de Operações Firmes a Prazo e a primeira proposta de implementação de um Mercado de Futuros e Opções.

A Bolsa de Derivados do Porto (BDP) nasceu na sequência da apresentação, em Junho de 1993, de um projecto de criação de um mercado de derivados em Portugal ao Ministério das Finanças e à Comissão de Mercados de Valores Mobiliários (CMVM) por parte da então Bolsa de Valores nortenha50. Face ao aparecimento de uma proposta semelhante por parte da Bolsa de Valores de Lisboa (BVL), a CMVM decide-se pela repartição dos dois mercados: a gestão do mercado à vista passa a ser da exclusiva responsabilidade da BVL, enquanto o mercado de derivados fica a cargo da Bolsa de Valores do Porto. A BVP prescinde dos 35% de quota que detinha no mercado à vista, em troca da exploração dos mercados a prazo e de uma indemnização decorrente do período de transição e inactividade aliado à alteração das suas actividades.

O dia 31 de Maio de 1994 marca a realização da última sessão de bolsa à vista na cidade invicta. Nos dois anos seguintes, e antecipando o arranque do mercado, a BDP desenvolve, de forma incansável, esforços no sentido de "formar com particular atenção e cuidado os futuros intervenientes no mercado, no duplo eixo intermediários/investidores" para "as novas realidades, as novas oportunidades e, sem dúvida, os novos riscos"51 deste mercado. A divulgação junto do público em geral foi ainda assegurada pelo "estabelecimento de contactos intensivos com a imprensa", enquanto "contactos personalizados com instituições financeiras nacionais e internacionais"52 procuravam assegurar o nível de motivação necessário à sua participação no mercado. O enquadramento legal e a envolvente operacional são definidos e implementados, enquanto se desenham e testam os produtos de lançamento, com base nas necessidades dos agentes e nas especificidades dos mercados subjacentes.

50 Em Junho de 1991, tinha já sido apresentada uma outra proposta, no sentido da introdução de

Operações Firmes a Prazo na bolsa de valores, que foi alvo de não deferimento imediato.

51 Mensagem do Presidente do Conselho de Administração da BDP (1995)

A 20 de Junho de 1996, o novo mercado inicia as suas actividades com a transacção de dois contratos de futuros, um sobre o índice PSI-20 e outro sobre as Obrigações do Tesouro a 10 anos (OT-10)53. Portugal entrou, assim, na indústria internacional de derivados, ultrapassando os seus parceiros europeus, Grécia e Luxemburgo. Empresas e investidores portugueses passaram a dispor de novos instrumentos de cobertura de risco, especificamente virados para a realidade portuguesa.

A selecção destes produtos não foi casual. Em primeiro lugar, a opção por estes activos de base em particular relacionou-se com dois motivos fundamentais. Por um lado, impedimentos de natureza legal e operacional, que tornavam impossível a listagem de produtos oriundos de mercados que não obrigacionistas ou accionistas. Por outro, a experiência internacional demonstrava que os contratos sobre activos financeiros, em geral, e sobre taxas de juro e índices, em particular, eram os que apresentavam maior volume de negociação. Em segundo lugar, a escolha de contratos de futuros, e não opções, teve a a sua base no facto de os procedimentos de actuação associados aos futuros serem menos complexos do que no caso das opções, com tudo o que isso traz de vantajoso para um mercado que dá os primeiros passos e procura cativar investidores. A escolha destes contratos teve também em conta o tipo de utilizador a que se dirigem. Assim, procurou-se abarcar desde o investidor institucional (bancos, seguradoras) - mais atraído pelo Futuro OT-10 - até ao investidor particular - que prefere actuar com o Futuro PSI-20, dada a maior simplicidade que o caracteriza e os reduzidos custos que comporta.

O arranque da BDP veio colmatar uma importante lacuna existente no panorama financeiro português, contribuindo para o seu desenvolvimento e sofisticação.

De facto, a sua implementação revelava-se oportuna. Por um lado, o sucesso dos mercados de derivados em todo o mundo era bem demonstrativo do seu papel como dinamizador dos mercados à vista, em termos de liquidez, rentabilidade e correcta formação de preços. Por outro, o período de crescente inovação, globalização e desregulamentação que a economia vinha atravessando a nível internacional implicava maiores desafios competitivos para os agentes nacionais, impondo a diversificação de

Relatório Anual - 1996

estratégias e instrumentos financeiros ao seu alcance. O surgimento da BDP não só lhes possibilitou o acesso a produtos sofisticados de cobertura de risco e especulação, como também lhes assegurou a formação necessária para a sua aplicação eficiente.

Desde a abertura do mercado até 31 de Outubro de 1997, são transaccionados 1 430 763 contratos de futuros (PSI-20, OT-10 e o futuro sobre a taxa de juro Lisbor a 3 meses, entretanto lançado, em Setembro de 1996). Face a valores iniciais de 798 contratos (PSI-20), 1 419 contratos (OT-10) e 162 contratos (Lisbor 3 meses), são entretanto atingidos máximos de 11 075, 3 194 e 2 051 contratos, respectivamente.

Hoje, a BDP oferece já uma vasta gama de produtos, que inclui contratos de futuros sobre taxas de juro e sobre o mercado accionista, e ainda serviços de registo e liquidação de produtos over-the-counter (OTC). Os contratos de opções foram lançados em 1999. O potencial de crescimento do mercado, apesar de algum cepticismo com que tem sido acompanhado, aparenta níveis elevados. Por um lado, ao nível da intermediação, o processo de adaptação que ainda ultrapassa faz antever algum espaço de manobra para um maior empenhamento da sua parte em termos da distribuição de produtos derivados. Por outro lado, a quota de clientes finais representa, em 1997, 42% do volume negociado, um aumento substantivo face aos 12% registados em 1996. Simultaneamente, mantem-se em estudo a possibilidade de introdução, a longo prazo, de derivados sobre mercadorias.