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CAPÍTULO V A Bolsa de Derivados do Porto (BDP)

5.3 O FUNCIONAMENTO DA BOLSA DE DERIVADOS DO PORTO

Para além do produto da realização dos títulos patrimoniais subscritos por membros e não membros no valor nominal de sete milhões de escudos, a Bolsa de Derivados do Porto tem como principais fontes de receitas as taxas de bolsa devidas pelos operadores de mercado, uma parcela do produto das taxas de realização de operações fora de bolsa, as prestações (ordinárias ou extraordinárias) devidas pelos seus associados, a venda de serviços (por exemplo, serviços de formação ou de apoio operacional) e produtos (como sejam publicações, estudos, boletins, obras ou outras

As especificações destes e outros contratos da Bolsa são apresentadas no Anexo 1.

edições) ao público em geral, os rendimentos decorrentes de aplicações financeiras dos seus recursos ou da sua participação em entidades autónomas e as comparticipações, subsídios ou donativos eventuais do Estado ou de outras entidades. Dentro desta última modalidade, mereceu especial destaque, até Junho de 1997, a prestação mensal efectuada pela Associação da Bolsa de Valores de Lisboa a título de indemnização decorrente do acordo de divisão da gestão do mercado à vista e do mercado a prazo entre as praças lisboeta e portuense.

A missão a que a Bolsa se propõe, descrita no relatório anual para 1996 como "a aposta no crescimento sustentado e equilibrado da respectiva bolsa e na fidelização dos respectivos membros e demais agentes" surge, assim, não apenas como objectivo por si só, mas também como condição necessária à sua sobrevivência. Só o desenvolvimento do mercado e a criação de níveis mínimos de liquidez permitem a sustentação da instituição. Paralelamente, a literatura financeira e a experiência internacional há muito vêm demonstrando a função económica dos derivados. E actualmente reconhecido a estes produtos um importante papel no encorajamento do investimento; na melhoria da competitividade dos agentes económicos; na redistribuição de fundos existentes nos mercados de capitais; na contribuição para a correcta formação dos preços dos activos subjacentes e na dinamização e no aumento de rentabilidade e liquidez dos mercados à vista.

A Bolsa depende, assim, simultaneamente de "patrocinadores" (nomeadamente, o Estado e outras entidades públicas) e clientes (seus associados e público em geral) para a sua subsistência, desenvolvendo um objectivo (a criação de um mercado de derivados) que beneficiará os mercados financeiros e, em última instância, a economia como um todo.

A Bolsa de Derivados do Porto, como entidade gestora do mercado de futuros português, é responsável pela definição do estatuto dos membros do mercado, das especificações técnicas dos produtos transaccionados, do sistema de negociação e dos mecanismos de segurança a ser implementados.

Membros do mercado

A BDP definiu duas categorias de membros: os negociadores e os compensadores. Os membros negociadores têm por função exclusiva a transacção de contratos de futuros e opções por conta de clientes. Os membros compensadores, para além de negociarem, participam no processo de constituição de garantias e de liquidação. Como tal, assumem responsabilidades acrescidas, competindo-lhes o papel de intermediários entre a Câmara de Compensação, os membros negociadores e os clientes finais.

Por via dos diferentes níveis de responsabilização, os requisitos de acesso a cada uma destas categorias são, obviamente, distintos. Um membro compensador obriga-se a responder perante a BDP em caso de incumprimento próprio, de clientes ou de membros negociadores a ele vinculados, enquanto um membro negociador apenas é responsável pelas operações realizadas pelos seus clientes. Daí que, para se ascender à categoria de compensador, seja necessário obedecer a uma série de condições, quer em termos financeiros, quer operacionais: 500 000 contos de capitais próprios; constituição de uma garantia permanente no montante mínimo de 20 000 contos; participação na Garantia Adicional de Compensação e detenção de uma estrutura que viabilize a sua actividade de compensação, ao nível da sua organização interna e dos procedimentos operacionais e de controlo de risco a adoptar.

Assim se justifica que apenas possam aceder à categoria de membros de mercado os Bancos, as Sociedades Financeiras de Corretagem, a Caixa Geral de Depósitos e a Caixa Económica Montepio Geral. As Sociedades Corretoras e de Investimento apenas podem actuar como membros negociadores.

Os membros do mercado podem ainda assumir o estatuto de market makers. Os market makers comprometem-se a permanecer no mercado e a intervir sempre que para tal sejam solicitados. Desta forma, tornam-se imprescindíveis para a liquidez do mercado, quer directamente, quer indirectamente, pelo poder de atracção que detêm. Com excepção da Cisf Dealer, todos os market makers a actuar na BDP são Bancos (Banco Espírito Santo, Banco Mello, Banco Português do Atlântico, Banco Português de Investimento, Banco Torta & Açores, Caixa Geral de Depósitos e Central - Banco de Investimento).

Especificações técnicas

As características dos contratos que serão objecto de negociação (activo de base, data de expiração, etc) são padronizadas, e a sua definição é da responsabilidade da BDP. A única variável não definida é o preço, que resulta da negociação em bolsa entre os intervenientes no mercado.

Sistema de negociação

A BDP adoptou um sistema automático de negociação, baseado no sistema espanhol. O SEND (Sistema Electrónico de Negociação em Derivados) permite ter acesso, em tempo real, a volume de transacções, margens a depositar por titular e ganhos e perdas resultantes do fecho de posições, entre outros. Permite, ainda, simular o efeito de uma transacção potencial sobre o montante de margens a depositar. A actualização imediata e a formação de preços em contínuo permitem, assim, optimizar o processo de transacções e dotar o mercado de grande transparência.

Mecanismos de segurança

A segurança do mercado de derivados português é da responsabilidade da respectiva Câmara de Compensação, que assegura o registo, compensação, liquidação, encerramento e transferência de posições, a constituição de garantias, a realização de ajustes diários de ganhos e perdas e a implementação de outros procedimentos de controlo de risco. O Regulamento da BDP prevê a existência dos seguintes mecanismos de segurança:

• margens iniciais e extraordinárias

• limites máximos de variação de preços e limites operacionais • ajustes diários de ganhos e perdas

• garantia permanente

A margem inicial é o montante que o investidor deve ter depositado junto do membro do mercado com que opera, por cada nova posição que constitua na Bolsa.

O valor definido para as margens está relacionado com o limite máximo de variação diária de preços, fixado pela Bolsa para cada contrato. Isto é, em princípio o valor da margem deve ser tal que cubra o máximo das perdas em que cada investidor poderá

incorrer numa sessão normal de bolsa, em virtude de evoluções desfavoráveis dos preços. Quando a volatilidade do mercado origina variações de preços próximas desse máximo, a Câmara de Compensação pode solicitar o depósito de um montante adicional, a título extraordinário. Este procedimento de reforço da margem inicial abrange apenas os membros compensadores e visa prevenir a necessidade de assunção de riscos por parte da BDP.

Consoante a movimentação de preços tenha sido favorável/desfavorável, são efectuados movimentos de levantamento/depósito relativos a ganhos/perdas do contrato negociado pelo investidor. Designa-se este procedimento por "ajuste diário de ganhos e perdas", ou "liquidação diária" {marking-to-the-market). Os ganhos obtidos acima do nível da margem inicial podem ser sacados da conta pelo investidor; no caso de o investidor sofrer perdas, ele terá que efectuar novo(s) depósito(s), de modo a repor o saldo da conta ao nível da margem inicial.

Como reforço da segurança do mercado, são ainda impostos aos membros de mercado e clientes certos limites operacionais — por risco de crédito e de concentração de mercado. Estes limites visam, por um lado, prevenir o incumprimento de um membro de mercado, impondo que as posições que este detém sejam função inversa do seu nível de risco. Por outro, pretendem impedir a excessiva concentração de posições em aberto por parte de uma única entidade, o que teria consequências nefastas para a liquidez e transparência do mercado (por exemplo, um membro compensador não poderá deter, em condições normais, mais de 25% do total de posições abertas sobre um determinado contrato).

Em caso de incumprimento, que pode provir de um membro compensador, de um membro negociador ou de um cliente final, a BDP pode accionar uma série de procedimentos:

• fecho de posições do agente incumpridor e dos agentes com ele relacionados, se estiveram na origem do incumprimento;

• fecho de posições do agente incumpridor e transferência das posições dos agentes com ele relacionados, se não estiveram na origem do incumprimento;

• execução das garantias detidas pela BDP • suspensão/exclusão do membro

Os incumprimentos originados por membros negociadores/clientes finais são directamente imputáveis aos agentes com maior nível de responsabilidade com os quais tenham estabelecido relações de compensação, isto é, membros compensadores/negociadores.