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1.1 Redes sociais: a proposição sobre “laços fortes” no argumento de

1.1.3 A evolução das concepções sobre embeddedness

A intensidade de difusão do conceito de embeddedness, na literatura corrente, gerou, concomitantemente, uma grande variedade de usos e, muitas vezes, um certo distanciamento das concepções originais, sejam de Polanyi ou de Granovetter. Vários autores tentaram dotar o conceito de maior precisão. Tal tema é tratado por Hess (2004) que, reconhecendo o caráter, às vezes, fluido e ambíguo do conceito, procura “discutir os diferentes usos e sentidos do termo, colocando a questão de quem encontra-se embedded em quê” (p.167). Para este

autor, embeddedness significa “as relações sociais entre, ambos, atores econômicos e não econômicos (indivíduos ou grupos agregados de indivíduos, ou seja, organizações) e ação econômica inseridas/assentadas em estruturas sociais” (p.176).

O interesse despertado por tal tema, associado, eventualmente, à busca por maior precisão, motivou alguns autores a explorarem outros tipos possíveis de embeddedness ou, então, a identificarem possíveis categorias de embeddednes, existentes no interior do conceito original de Granovetter. Hess (2003:176), por exemplo, considera que existem três tipos de embeddedness: societal, de redes e territorial. Halinen & Törnroos (1998) identificam a presença de seis diferentes tipos: social, tecnológico, mercadológico, político, temporal e espacial. O conceito de embeddedness do mercado - que salienta que cada ator produtivo encontra-se embedded em certas condições específicas de mercado, associadas à natureza do produto ofertado, ao tipo de cliente servido, às condições das funções desempenhadas, aos condicionantes de um horizonte temporal e espacial no qual se situa a ação da empresa – pode ser considerado um exemplo da amplitude de utilização de tal conceito.

Zukin & DiMaggio (1990) buscam ampliar o conceito original de Granovetter, introduzindo, além dos mecanismos estruturais de embeddedness, já tratados por Granovetter – ou seja, a inserção das transações econômicas na lógica das relações sociais – também os mecanismos cognitivos, culturais e políticos, terminando, conseqüentemente, por reconhecer a existência de quatro tipos.

DiMaggio (1990; 1992; 1994) buscou incorporar, na discussão sobre embeddedness, a cultura. Para ele, a ação econômica encontra-se embedded não apenas na estrutura social, mas, também, na cultural. A “Economia”, para DiMaggio (1994:28), representa “um conjunto de relações e instituições de produção, troca e consumo”. Para este autor, a cultura pode afetar

comportamento econômico, influenciando a maneira como os atores definem seus interesses, restringindo ou condicionando tais interesses ou moldando a capacidade de um grupo para mobilizar ou definir seus objetivos de mobilização. Tais diferenças, na visão de DiMaggio, fazem mais do que simplesmente mediar influências materiais ou estruturais, como defendido por Granovetter. Certas crenças e normas não podem, simplesmente, ser consideradas como resultantes de localização estrutural, mas são forjadas, também, no interior de grupos de atores, capazes de romper as estruturas prévias. Tal proposição é importante, em face do nosso propósito, visto que destaca, de certa forma, o caráter dinâmico que podem possuir as redes sociais e a capacidade de alteração em um padrão vigente de configuração, pela atuação de atores - individuais ou coletivos – com capacidade de romper a estrutura existente, gerando novas conformações.

Avaliando as quatro dimensões de embeddedness elencadas por Zukin & DiMaggio (1990), Oinas (1997) identifica a ausência da dimensão espacial que, segundo ele, encontra-se, em geral, presente (1997:28). Para ele, os atores podem encontrar-se, simultaneamente, enraizados em vários conjuntos distintos de relações, de ordem e espacial e ou social. Pode existir, dessa maneira, algum tipo de hierarquia ou de relação de proeminência entre eles. Nesse contexto, certos conjuntos seriam mais propensos que outros em moldar o comportamento, seja como resultado de tradição – familiaridade cultural, escolhas individuais, preferências associadas a domínios culturais ou inclinação política ou necessidade econômica – associada à dependência de recursos. No caso das empresas, em particular, esta última necessidade exerce forte influência. O tema do embeddedness difundiu-se rapidamente nas análises econômicas e organizacionais (ver, por exemplo, Amin, 1993; Grabher, 1993a;b; Dosi & Malerba, 1996; Dacin et al., 1999; Malerba, 2005)

Salienta-se, no entanto, que diferentes tipos de embeddedness podem se reforçar mutuamente, como no caso de empresas situadas em um mesmo

território. As interfaces entre embeddedness e território vêm atraindo um número crescente de estudiosos e serão abordadas em seguir, dada a associação do tema com nosso interesse corrente, ou seja, o estudo das aglomerações produtivas.

Como já salientado no tópico que aborda o tema das aglomerações produtivas, o sentido de embeddedness concebido por Granovetter não realça, de maneira particular, as dimensões espaciais dos laços. O conceito, no entanto, difundiu-se, rapidamente, em várias abordagens regionais. Tal fato justifica-se, sobretudo considerando que pode existir uma correlação entre proximidade física e identidades cultural e emocional. Atores próximos (no sentido físico e ou cultural e ou emocional) gozarão, conseqüentemente, de laços mais densos. Da mesma maneira, atores distantes (no sentido físico, cultural e emocional) poderão gozar de conexões mais frouxas, podendo ser conectados por meio de laços fracos e pontes. Nesse ponto, deve-se concordar com os vários autores que vêm salientando a importância do tema do embeddedness espacial nas discussões sobre regiões e territórios. Muitos destes autores, no entanto, vêm assumindo que existe uma correlação direta entre proximidade física e capacidade de estabelecimento de relações de confiança entre os atores locais (ou, colocado de outra maneira, entre distância física e ausência de relações fortes), advindas com o embeddedness espacial. Tal fato nem sempre ocorre. Outros fatores são capazes de gerar ou estimular maior ou menor aproximação (ou, eventualmente, aversão) entre as pessoas, como é o caso, por exemplo, dos usos e costumes, de vinculações étnicas ou religiosas, de vários tipos de identidades compartilhadas. O território é tanto um lócus para o exercício da cooperação como também para a competição, o acirramento das disputas individuais e o surgimento de facções.